quinta-feira, maio 20, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

Com efeito que sofismas, que obstinação de preconceitos se sustentariam perante a simplicidade dessas proposições.
I. - A posse individual (l) é a condição da vida social; cinco mil anos de propriedade o demonstram: a propriedade é o suicídio da sociedade. A posse está no direito; a propriedade é contra o direito. Suprimam a propriedade conservando a posse; e apenas por essa modificação no princípio modificareis tudo nas leis, no governo, na economia, nas instituições: expulsareis o mal da terra.
II. - Sendo igual para todos o direito de ocupar, a posse varia com o número de possuidores; a propriedade não pode formar-se.
III. - Sendo o efeito do trabalho também o mesmo para todos a propriedade perde-se pela exploração estranha e pelo arrendamento.
IV. - Resultando necessariamente todo o trabalho humano de uma força colectiva toda a propriedade se torna, pela mesma razão, colectiva e indivisível: em termos mais precisos, o trabalho destrói a propriedade.
V. - Sendo toda a capacidade trabalhadora assim como todo o instrumento de trabalho um capital acumulado, é injustiça e roubo uma propriedade colectiva, a desigualdade de tratamento e de riqueza, sob pretexto de desigualdade de capacidades.
VI. - O comércio tem por condições necessárias a liberdade dos contratantes e a equivalência dos produtos trocados: ora tendo o valor por expressão a soma de tempo e despesa que cada produto custa e sendo a liberdade inviolável, os trabalhadores ficam necessariamente iguais em salários como são em direitos e deveres.
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(1) A posse individual não é obstáculo à grande cultura e à unidade de exploração. Se não falei dos inconvenientes da divisão em parcelas é porque julguei inútil repetir, depois de tantas outras, o que para toda a gente deve ser uma verdade adquirida. Mas surpreende-me que os economistas, que tão bem fizeram ressaltar as misérias da pequena cultura, não tenham visto que o princípio está todo na propriedade, sobretudo que não tenham sentido que o seu projecto de mobilizar o solo é um princípio de abolição de propriedade.

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