Um poema de Jesus Sepúlveda (tradução minha)
Emília Cerqueira
UTOPIA
Imagina que te despojam
te deixam sem nada
desnudado da primavera
Imagina que te ris
e abandonas o trabalho a cúpula o nada
e descansas pela primavera
Imagina que te esqueces
e desaprendes tudo o que te faz
ser pato no meio do jardim
Imagina que não existe raça, ressentimento, medicina, religião
nem estado
que os cristais que te separam da arte se quebram e se esfumam lentamente
Mergulha fundo no que digo
Imagina que perdes o medo a língua a anorexia
que se acabam as armas o tédio a bulimia
e abraças o teu par
que recolhes o alimento das árvores
e cultivas o alimento
que te mantém são todo o inverno
Imagina ser livre
sem número nem fronteiras nem arquivos
que te tiram o peso e brotam os olhos
que abandonas o trabalho a cúpula o nada
que desaprendes o teu nome
e descansas tranquilo no meio do jardim
(De "Escrivania)
UTOPÍA
Figúrate que te despojan
te dejan sin nada
desnudo contra la primavera
Figúrate que te ríes
y abandonas el trabajo el domo la nada
y descansas frente a la primavera
Figúrate que te olvidas
y desaprendes todo tu entrenamiento
que anadeas como pato entremedio del huerto
Figúrate que no hay raza rencor remedio religión
ni estado
que los cristales que te separan del arte se trizan y borran lentamente
Fíjate bien en lo que digo
Figúrate que pierdes el miedo la lengua la anorexia
que se acaban las armas el tedio la bulimia
y abrazas a tu pareja
que recoges el alimento de los árboles
y cosechas el cultivo
que te mantiene sano todo el invierno
Figúrate ser libre
sin número ni fronteras ni archivos
que te despojan del peso y brotan tus ojos
que abandonas el trabajo el domo la nada
que desaprendes tu nombre
y descansas tranquilo en medio del huerto
Jesús Sepúlveda (Santiago de Chile, 1967). En su país se han publicado Lugar de origen (1987) y Hotel Marconi (1998), cuya reedición bilingüe español-inglés apareció en 2006. Es además autor de Correo negro (Buenos Aires, 2001) y Escrivania (México, 2003). En 2002 publicó en Argentina el ensayo ecolibertario El jardín de las peculiaridades, reeditado en inglés en 2005 (Los Angeles, California), y traducido recientemente al francés. Otros textos suyos han sido traducidos al portugués y al finlandés.
http://triplov.com/poesia/Poesia-Chilena/Jesus-Sepulveda/utopia.htm
SOBRE O JARDIM DAS PECULIARIDADES
Escrito pelo chileno anarquista Jesús Sepúlveda, "O Jardim das Peculiaridades" é um ensaio profundo de um anarquista do século 21. Publicado em castelhano e em Português, encara o neo-primitivismo, ou anarquia verde, como a melhor ferramenta para se lutar contra a mega globalização corporativa. Escrito sob a forma de apontamentos, numa prosa concisa, analisa cuidadosamente as deficiências da cultura pós-industrial e explora alternativas.
Como aperitivo isto...
..". O único fator comum a todas as peculiaridades que há na Terra é a ternura. O afeto é uma necessidade primária do ser humano. Sábio é entender então que sem carinho nem amor, não há revolução que seja possível."
ou
"A ternura é um modo de vida oposto à automatização do relógio e do trabalho forçado. A robotização é um meio de morte oposto à libertação do tempo e do lazer, que permitem ao carinho crescer como um galho saudável na horta de todos e assim estender seu aroma entre os seres vivos que habitam o jardim planetário. A globalização, pelo contrário, impõe um molde automatizador ao nosso jardim. Manifesta-se num processo triplo, que compreende a expansão imperial do capital, a padronização mundial através do controle econômico das empresas multinacionais e a domesticação do solo por meio da monocultura, destruindo a diversidade natural e pavimentando a terra. Sua ganância atenta contra todo ciclo natural. O solo é a pele e a carne que cobre nosso planeta. "
ou
"A poesia e a arte evitam a padronização da peculiaridade. A linguagem artística sugere, em vez de descrever compreensivamente, a presença imediata do ser. A arte e a poesia desfazem a redução a que o controle intelectual submete, e permitem que seus cultivadores adquiram parte da totalidade. A este devir se chama autenticidade ou voz própria, ou seja, o genuíno que existe em cada qual. Dita autenticidade não é senão a peculiaridade de cada ser: aquilo que se opõe à sua padronização, expressa – entre outras formas – por meio da reificacão do eu. Pensar, por exemplo, que se é uma imagem projetada num espelho, ou acreditar na combinação formal e pictórica de um retrato, ou na imagem reproduzida por meios mecânicos – a fotografia, o vídeo ou o celulóide – representa o distanciamento alienante entre a realidade do ser e a consciência cartesiana reificadora a que o mundo civilizado submete. As imagens como construções ideológicas mediadoras das relações humanas constitui o que Guy Debord cedo chamou de “a sociedade do espetáculo”. Desde então, o mundo se tem conglomerado como um enxame de abelhas ao redor de centros panópticos de domesticação: a tv, Hollywood, a fama. Sem contar a vigilância e o controle. As imagens levam em massa os indivíduos a verem-se a si mesmos como sujeitos individuais. Isto é, como seres indivisíveis, únicos e monolíticos, ignorando com isso sua flexibilidade, sua pluralidade e sua multiplicidade. Esta última trilogia é a que conforma a peculiaridade inata de cada ser."
ou
"9.
O Estado existe porque se territorializa. Isto é, materializa-se mediante sua expansão colonizadora territorial. Tal expansão se leva a cabo por meio da desterritorialização forçada dos habitantes originários das terras, de que o Estado se foi apropriando. Toda apropriação implica mobilizar a força militar que o Estado possa exercer a fim de ampliar ou manter seu domínio. Isto significou guerras e genocídios. O Estado também tem seus especialistas que escrevem a história. Assim, encobrem fatos, justificam suas atrocidades e obrigam as novas gerações a repetirem as ladainhas sem sentido da narrativa oficial que escrevem os especialistas.
A educação, portanto, não é senão a institucionalização dos campos de adestramento e domesticação onde as crianças e os jovens perpetuam o sistema dominante. Ali aderem à ordem simbólica e começam seu processo de coisificação. Nestes campos – ou escolas de doutrinamento social – se reproduz a ideologia que dá legitimidade ao sistema. Os novos membros da sociedade internalizam a falsa consciência que bombeia como um pulmão artificial, a fim de que todos repitam com mais ou menos eficácia o mesmo discurso. Sua idéia é que todos digam, sonhem e pensem que este é o melhor dos mundos possíveis. E que se tem falhas, isso não importa porque dá pra melhorar. Pensar o contrário é militar nas filas do anarquismo, cair na loucura ou chamar a insurreição. A padronização obriga o sujeito a escolher entre a mercantilização ou a esquizofrenia. Não há saída fora deste molde binário. Nesta sociedade preferir o jardim ao cimento é visto com desconfiança. E dependendo de quem ocupe o poder de turno, essa preferência pode custar a vida. Quando o sistema ruge e as cabeças se desprendem do rebanho, surgem com eficiência criminosa os cárceres, os golpes de Estado, os alinhamentos, as bombas lacrimogêneas, as forças repressivas, a guerra etc. Enquanto isso ocorre, o Estado reforça a propaganda radiofônica, televisiva e jornalística. Assim se materializa na mente dos indivíduos.
Os Estados nacionais atualmente congregam seus aparelhos repressivos – policiais e militares – para proteger as companhias multinacionais que expandem um modo de vida de padronização baseado na redução humana a unidades econômicas de produção e consumo. Com isto se produz um novo tipo de territorialização e escravidão trabalhista. A tecnologia e os bens de que um grupo minoritário da população mundial usufrui são manufaturados em galpões de fábricas que operam com a lógica da exploração. As escolas e as fábricas são centros de controle impostos pelos Estados. Para abolir o Estado temos que abolir as fábricas e as escolas. O autoritarismo que a ordem civilizadora reproduz nestas instituições é o responsável pelos extermínios étnicos, pelos genocídios políticos e pela exploração social. Para construir um mundo sem hierarquias, nem cárceres, nem propaganda, nem golpes militares, devemos varrer o Estado. E depende de nós apagá-lo da face da terra.
10.
Qualquer tentativa de padronizar a vida é uma forma de dominação que impõe um modelo alienante sobre nós. A colonização européia e a transnacionalização norte-americana impõem padrões padronizadores sobre as diferenças e as peculiaridades do planeta e da gente. Cada padrão padronizador é o subproduto do planejamento estatal e empresarial que opera em termos temporais-lineares: a progressão para metas macropadronizadoras que privam de toda liberdade. A colonização impulsionada pelo chamado mundo civilizado anula a peculiaridade da natureza – pessoas, animais, vegetação, solo etc. – e destrói a liberdade da vida. Defender-se contra estas perpetrações é uma vontade vital que requer pensar – com imaginação e audácia – um mundo diferente. Por isso, à falta de centros educacionais, bem-vinda seja a educação personalizada: de um a uma, de uma a um e todos ao mesmo tempo. Se a metade do mundo transfere sua sabedoria à outra metade, não há por que desejar campos autoritários de padronização.
A educação institucional reproduz nas novas gerações a falsa idéia de que este é o melhor dos mundos possíveis, ou ao menos, o sistema que melhor funciona, sem importar suas falências. Assim, o processo de normalização do conhecimento por meio dos textos escritos – em detrimento da oralidade – não é senão o processo de padronização de uma verdadeira percepção do mundo. Em tal sentido, a educação tem uma função ideológica: reproduzir um discurso padronizador estabelecido pelas regras do Estado. Se auto-legitima por meio da coincidência que fabrica entre o poder e o conhecimento. Vale dizer, entre o controle estatal e o campo profissional dos experientes. Por isso, a apropriação de um não existe sem a apropriação de outro e vice-versa. Só quando os grupos humanos vivem organicamente em comunidades e cultivam o alimento necessário a fim de desfrutar do lazer liberador num estado de carnaval permanente e de apreciação estética prolongada a educação formal – assim também como a exploração de noventa por cento da população humana e a destruição do planeta – não serão cabidas na realidade.
O fiador da repressão destrutiva é o Estado. E depende de nós desmaterializá-lo."
Podem ler a versão on-ine de " O Jardim das Peculiaridades" em
http://ervadaninha.sarava.org/jardimpeculiar.html
Emília Cerqueira
Emília Cerqueira
UTOPIA
Imagina que te despojam
te deixam sem nada
desnudado da primavera
Imagina que te ris
e abandonas o trabalho a cúpula o nada
e descansas pela primavera
Imagina que te esqueces
e desaprendes tudo o que te faz
ser pato no meio do jardim
Imagina que não existe raça, ressentimento, medicina, religião
nem estado
que os cristais que te separam da arte se quebram e se esfumam lentamente
Mergulha fundo no que digo
Imagina que perdes o medo a língua a anorexia
que se acabam as armas o tédio a bulimia
e abraças o teu par
que recolhes o alimento das árvores
e cultivas o alimento
que te mantém são todo o inverno
Imagina ser livre
sem número nem fronteiras nem arquivos
que te tiram o peso e brotam os olhos
que abandonas o trabalho a cúpula o nada
que desaprendes o teu nome
e descansas tranquilo no meio do jardim
(De "Escrivania)
UTOPÍA
Figúrate que te despojan
te dejan sin nada
desnudo contra la primavera
Figúrate que te ríes
y abandonas el trabajo el domo la nada
y descansas frente a la primavera
Figúrate que te olvidas
y desaprendes todo tu entrenamiento
que anadeas como pato entremedio del huerto
Figúrate que no hay raza rencor remedio religión
ni estado
que los cristales que te separan del arte se trizan y borran lentamente
Fíjate bien en lo que digo
Figúrate que pierdes el miedo la lengua la anorexia
que se acaban las armas el tedio la bulimia
y abrazas a tu pareja
que recoges el alimento de los árboles
y cosechas el cultivo
que te mantiene sano todo el invierno
Figúrate ser libre
sin número ni fronteras ni archivos
que te despojan del peso y brotan tus ojos
que abandonas el trabajo el domo la nada
que desaprendes tu nombre
y descansas tranquilo en medio del huerto
Jesús Sepúlveda (Santiago de Chile, 1967). En su país se han publicado Lugar de origen (1987) y Hotel Marconi (1998), cuya reedición bilingüe español-inglés apareció en 2006. Es además autor de Correo negro (Buenos Aires, 2001) y Escrivania (México, 2003). En 2002 publicó en Argentina el ensayo ecolibertario El jardín de las peculiaridades, reeditado en inglés en 2005 (Los Angeles, California), y traducido recientemente al francés. Otros textos suyos han sido traducidos al portugués y al finlandés.
http://triplov.com/poesia/Poesia-Chilena/Jesus-Sepulveda/utopia.htm
SOBRE O JARDIM DAS PECULIARIDADES
Escrito pelo chileno anarquista Jesús Sepúlveda, "O Jardim das Peculiaridades" é um ensaio profundo de um anarquista do século 21. Publicado em castelhano e em Português, encara o neo-primitivismo, ou anarquia verde, como a melhor ferramenta para se lutar contra a mega globalização corporativa. Escrito sob a forma de apontamentos, numa prosa concisa, analisa cuidadosamente as deficiências da cultura pós-industrial e explora alternativas.
Como aperitivo isto...
..". O único fator comum a todas as peculiaridades que há na Terra é a ternura. O afeto é uma necessidade primária do ser humano. Sábio é entender então que sem carinho nem amor, não há revolução que seja possível."
ou
"A ternura é um modo de vida oposto à automatização do relógio e do trabalho forçado. A robotização é um meio de morte oposto à libertação do tempo e do lazer, que permitem ao carinho crescer como um galho saudável na horta de todos e assim estender seu aroma entre os seres vivos que habitam o jardim planetário. A globalização, pelo contrário, impõe um molde automatizador ao nosso jardim. Manifesta-se num processo triplo, que compreende a expansão imperial do capital, a padronização mundial através do controle econômico das empresas multinacionais e a domesticação do solo por meio da monocultura, destruindo a diversidade natural e pavimentando a terra. Sua ganância atenta contra todo ciclo natural. O solo é a pele e a carne que cobre nosso planeta. "
ou
"A poesia e a arte evitam a padronização da peculiaridade. A linguagem artística sugere, em vez de descrever compreensivamente, a presença imediata do ser. A arte e a poesia desfazem a redução a que o controle intelectual submete, e permitem que seus cultivadores adquiram parte da totalidade. A este devir se chama autenticidade ou voz própria, ou seja, o genuíno que existe em cada qual. Dita autenticidade não é senão a peculiaridade de cada ser: aquilo que se opõe à sua padronização, expressa – entre outras formas – por meio da reificacão do eu. Pensar, por exemplo, que se é uma imagem projetada num espelho, ou acreditar na combinação formal e pictórica de um retrato, ou na imagem reproduzida por meios mecânicos – a fotografia, o vídeo ou o celulóide – representa o distanciamento alienante entre a realidade do ser e a consciência cartesiana reificadora a que o mundo civilizado submete. As imagens como construções ideológicas mediadoras das relações humanas constitui o que Guy Debord cedo chamou de “a sociedade do espetáculo”. Desde então, o mundo se tem conglomerado como um enxame de abelhas ao redor de centros panópticos de domesticação: a tv, Hollywood, a fama. Sem contar a vigilância e o controle. As imagens levam em massa os indivíduos a verem-se a si mesmos como sujeitos individuais. Isto é, como seres indivisíveis, únicos e monolíticos, ignorando com isso sua flexibilidade, sua pluralidade e sua multiplicidade. Esta última trilogia é a que conforma a peculiaridade inata de cada ser."
ou
"9.
O Estado existe porque se territorializa. Isto é, materializa-se mediante sua expansão colonizadora territorial. Tal expansão se leva a cabo por meio da desterritorialização forçada dos habitantes originários das terras, de que o Estado se foi apropriando. Toda apropriação implica mobilizar a força militar que o Estado possa exercer a fim de ampliar ou manter seu domínio. Isto significou guerras e genocídios. O Estado também tem seus especialistas que escrevem a história. Assim, encobrem fatos, justificam suas atrocidades e obrigam as novas gerações a repetirem as ladainhas sem sentido da narrativa oficial que escrevem os especialistas.
A educação, portanto, não é senão a institucionalização dos campos de adestramento e domesticação onde as crianças e os jovens perpetuam o sistema dominante. Ali aderem à ordem simbólica e começam seu processo de coisificação. Nestes campos – ou escolas de doutrinamento social – se reproduz a ideologia que dá legitimidade ao sistema. Os novos membros da sociedade internalizam a falsa consciência que bombeia como um pulmão artificial, a fim de que todos repitam com mais ou menos eficácia o mesmo discurso. Sua idéia é que todos digam, sonhem e pensem que este é o melhor dos mundos possíveis. E que se tem falhas, isso não importa porque dá pra melhorar. Pensar o contrário é militar nas filas do anarquismo, cair na loucura ou chamar a insurreição. A padronização obriga o sujeito a escolher entre a mercantilização ou a esquizofrenia. Não há saída fora deste molde binário. Nesta sociedade preferir o jardim ao cimento é visto com desconfiança. E dependendo de quem ocupe o poder de turno, essa preferência pode custar a vida. Quando o sistema ruge e as cabeças se desprendem do rebanho, surgem com eficiência criminosa os cárceres, os golpes de Estado, os alinhamentos, as bombas lacrimogêneas, as forças repressivas, a guerra etc. Enquanto isso ocorre, o Estado reforça a propaganda radiofônica, televisiva e jornalística. Assim se materializa na mente dos indivíduos.
Os Estados nacionais atualmente congregam seus aparelhos repressivos – policiais e militares – para proteger as companhias multinacionais que expandem um modo de vida de padronização baseado na redução humana a unidades econômicas de produção e consumo. Com isto se produz um novo tipo de territorialização e escravidão trabalhista. A tecnologia e os bens de que um grupo minoritário da população mundial usufrui são manufaturados em galpões de fábricas que operam com a lógica da exploração. As escolas e as fábricas são centros de controle impostos pelos Estados. Para abolir o Estado temos que abolir as fábricas e as escolas. O autoritarismo que a ordem civilizadora reproduz nestas instituições é o responsável pelos extermínios étnicos, pelos genocídios políticos e pela exploração social. Para construir um mundo sem hierarquias, nem cárceres, nem propaganda, nem golpes militares, devemos varrer o Estado. E depende de nós apagá-lo da face da terra.
10.
Qualquer tentativa de padronizar a vida é uma forma de dominação que impõe um modelo alienante sobre nós. A colonização européia e a transnacionalização norte-americana impõem padrões padronizadores sobre as diferenças e as peculiaridades do planeta e da gente. Cada padrão padronizador é o subproduto do planejamento estatal e empresarial que opera em termos temporais-lineares: a progressão para metas macropadronizadoras que privam de toda liberdade. A colonização impulsionada pelo chamado mundo civilizado anula a peculiaridade da natureza – pessoas, animais, vegetação, solo etc. – e destrói a liberdade da vida. Defender-se contra estas perpetrações é uma vontade vital que requer pensar – com imaginação e audácia – um mundo diferente. Por isso, à falta de centros educacionais, bem-vinda seja a educação personalizada: de um a uma, de uma a um e todos ao mesmo tempo. Se a metade do mundo transfere sua sabedoria à outra metade, não há por que desejar campos autoritários de padronização.
A educação institucional reproduz nas novas gerações a falsa idéia de que este é o melhor dos mundos possíveis, ou ao menos, o sistema que melhor funciona, sem importar suas falências. Assim, o processo de normalização do conhecimento por meio dos textos escritos – em detrimento da oralidade – não é senão o processo de padronização de uma verdadeira percepção do mundo. Em tal sentido, a educação tem uma função ideológica: reproduzir um discurso padronizador estabelecido pelas regras do Estado. Se auto-legitima por meio da coincidência que fabrica entre o poder e o conhecimento. Vale dizer, entre o controle estatal e o campo profissional dos experientes. Por isso, a apropriação de um não existe sem a apropriação de outro e vice-versa. Só quando os grupos humanos vivem organicamente em comunidades e cultivam o alimento necessário a fim de desfrutar do lazer liberador num estado de carnaval permanente e de apreciação estética prolongada a educação formal – assim também como a exploração de noventa por cento da população humana e a destruição do planeta – não serão cabidas na realidade.
O fiador da repressão destrutiva é o Estado. E depende de nós desmaterializá-lo."
Podem ler a versão on-ine de " O Jardim das Peculiaridades" em
http://ervadaninha.sarava.org/jardimpeculiar.html
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