domingo, agosto 01, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

CAPÍTULO VI

Villafranca: Política Contraditória

Napoleão III tinha prometido fazer recuar a Áustria até ao Adriático: tudo prova que a sua intenção era sincera. Como foi ele impedido de cumprir a sua promessa? Porquê parou ele depois de Solferino? Não se disse tudo a esse respeito; mas ressalta dos documentos e dos factos que a verdadeira causa foi a perspectiva dessa Itália unitária que se levantava diante dele. Em lugar de atrair o chefe do exército francês mediante manifestações federais que o teriam tranquilizado, nada foi negligenciado do que poderia desencorajᬠlo, inquietando¬o, ferindo¬o com declarações que teriam certamente repelido um menos paciente que ele. Eu direi a coisa como ela se me apresenta; em lugar de aceitar libertar a Itália até ao Adriá¬tico em condições que teriam feito da Península pelo menos uma federação de monarquias constitucionais enquanto se esperava que ela se tornasse uma federação de repúblicas, preferiu¬ se enviar para casa o emancipador da Itália; arranjar numa potência rival, a Inglaterra, um outro aliado; deixar Veneza sob o jugo da Áustria; ofender pela guerra à Santa Sé o mundo católico, salvo a acusar seguidamente de inconsequente, de des¬peito escondido, de ambição decepcionada, o Imperador dos France¬ses. Eis a origem do tratado de Villafranca. Aqueles que o provocaram terão feito prova de inteligência, e a sua táctica terá sido oportuna?...
No entanto, ao assinar o tratado de Villafranca, e ao estipular uma con¬federação dos Estados italianos, Napoleão III oferecia ainda a sua garantia; ele impunha à Áustria a sua mediação Vítoriosa. Era caso para a democracia reconhecer a falta cometida, falta que poderia não ser irreparável. Mas a presunção dos tribunos fica surda aos advertimentos. Mazzini, que inicialmente se tinha mantido de lado, toma sobre ele a recu¬sa em nome do partido popular. Exorta Vítor- Emanuel a apossar¬ se da Itália; ele oferece¬lhe a este preço o seu concurso: Ousai, Sire, escreve¬lhe ele, e Mazzini é seu!... Poder¬se¬ia melhor fazer entender que, desde que lhe dêem a unidade, essência da monarquia, a pretensa Democracia está satisfeita; que a unidade lhe serve como base de princípio, de dou¬trina, de Direito e de moral; que ela é toda a sua política? Assim é sempre a república, sempre a liberdade que se elimina em proveito da casa de Sabóia e em troca de um sistema burguês. E a que pretexto? Sob o pretexto de que, enquanto a Itália não for unificada, ela será incapaz de subsistir, exposta às incursões do Gaulês e do Germano.
Parece no entanto que o exército que tinha vencido em Solferino e em Magenta, que a nação que se declarava irmã da Itália, podia representar uma caução respeitável, e que se à solidez dessa garantia se viesse juntar uma política liberal e reparadora, a existência da confederação italiana no seio da Europa tornava¬se num facto irrevogável. Parece, digo ainda, que as mais simples conveniências prescreviam a uma nacionalidade tão pouco segura dela própria que se abstivesse de toda a desconfiança em relação a um aliado que não pedia pelos seus trabalhos senão uma rectificação de fronteira do lado dos Alpes. Mas isso ter¬se¬ia parecido demasiado com uma repú¬blica de trabalho e de paz: a democracia italiana tinha projectos mais grandiosos, ela tinha pressa de mostrar a sua ingratidão.
Diz¬ se como desculpa que o mais importante era afastar os príncipes, destronar o Papa e o rei de Nápoles que o tratado de Villafranca tinha mantido, e que, secretamente de acordo com a Áustria, teriam voltado as forças da confederação contra as liberdades públicas.

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