Estamos presos porque temos razão, sempre a temos tido, e da mesma maneira que temos direito à vida, também temos direito à morte. O direito supremo a decidir conscientemente o que fazer com os nossos corpos neste conflito interminável.
A nossa proposta para vocês...
Peñi, Lamguien; Amigos; Amigas; setores sociais verdadeiramente progressistas; irmãos libertários, trabalhadores e estudantes; Povo anti-sistema e contestatário; homens sinceros e belas mulheres conscientes:
Juntar-se à nossa luta num bloco amplo de participação; procurar nessa luta o fortalecimento de propostas próprias que os identifiquem, utilizar este tempo de protesto para encontrar os amigos de que nos priva o consumismo e o individualismo egoísta; incentivar ao compromisso social para desmascarar estes tiranos que se disfarçam de humildes e que por todos os meios pretendem convencer-nos de que a sua tirania é necessária, atingir as entranhas deste sistema para construir com as nossas próprias mãos o futuro que merecemos. Não desanimem, pois isto muda a qualquer momento, o único que não muda é o inimigo.
A nossa vida vale menos que uma casa, todas as nossas vidas juntas têm menos importância que um caminhão que faz fumaça, o futuro da gente pobre é traçado no Banco Mundial e no FMI. Assim o têm dito os que continuam a zombar de nós ao aumentar a pena de Walter Ramírez em “Três Anos” de pena agravada.
Continuaremos gritando o contrário, absolutamente tudo ao contrário.
A prisão é por agora o nosso espaço de aprendizagem, por isso os incentivamos a melhorar os métodos de luta, a NÃO subestimar o inimigo, a estudar para lutar, vencer o medo e a passividade.
O patronato através de um “alto executivo” da CORPARAUCANIA, Diego Benavente, declarou que “o Capital é covarde”, pois não permanece onde existe conflito social. Nada mais acertado porque para além de covarde o capital é tão Criminal como os seus porta-vozes.
Vejam a total ausência de escrúpulos destes amigos da infâmia já que ao mesmo tempo em que insistem em dizer que estamos “comendo” nesta greve da fome interpõem um recurso “de proteção” para nos obrigarem à alimentação intravenosa. Pondo a descoberto a imoralidade do governo e a cumplicidade de muita gente com o poder desumanizante.
Por outro lado, os agentes da direita não se cansam de repetir que “somos todos iguais perante a lei” que “nada está acima do estado de direito”, que as “instituições funcionam” e todos os outros inúmeros discursos fascistas elaborados para justificar a injustiça sobre o nosso Povo. Bem, concretamente somos 33 prisioneiros Mapuche apresentados a um juiz antes de qualquer investigação e presos sem direito a que se presuma sequer a nossa inocência, embora os assassinos de Lemún e Katrileo nunca tenham conhecido a prisão e nunca para lá irão, pelo contrário andam com as mesmas armas com que têm matado gente pobre.
Nenhum governo tem almejado abordar de forma séria o nosso percurso histórico e a solução mais diplomática sempre tem sido a técnica da enrolação e a militarização do nosso território. Manobras evasivas para manter a situação sem diálogo político são realizadas pelo atual governo, pois a única coisa que faz é comprimir ainda mais uma situação que necessita de descompressão e que, caso não a haja, significará a existência de custos que ambos os lados terão que enfrentar. Com esta ação de dignidade estamos pedindo ao governo para fazer uso da razão, com esta greve de fome - que é uma peça mais nesta “pacificação” nunca acabada (assim como o foram até à bem pouco tempo os “parlamentos” no território Mapuche) - tentamos tingir com um pouco de humanidade um governo e um sistema que não a têm.
Segundo a lei antiterrorista, um dos objetivos do terrorismo é “impor e arrancar resoluções à autoridade”, bem, este é um caso disso. Apliquem com rigor a lei e digam então que esta é uma “greve terrorista”, mas então como chamarão ao fato de terem protegido uma testemunha que confessou ter cometido dois ataques terroristas, e a mantêm em liberdade enquanto mantêm uma grande quantidade de mapuches inocentes presos?
Ao procurar ocultar o caráter da nossa luta e da nossa condição de presos políticos, o que se tem feito é, pelo contrário, mostrar o caráter político das nossas reivindicações já que a lei antiterrorista é uma lei política, de inspiração e motivações explicitamente políticas. Por outro lado o que ridiculariza o governo e o fragiliza ainda mais, perante os seus erros, é que temos sido sempre nós a tomar a iniciativa: a lição a tirar disto é que, ao contrário dos governos que desprezam a vida e a sua própria história, nós estamos nos encarregando dela e a amamos tanto que arriscamos a vida nesta privação voluntária de alimentos.
Em suma, o que sentimos é muita raiva e impotência pelas injustiças deste obsoleto sistema, mas como um preso não é só um número nem uma fábrica de ódio também sentimos muito Amor e carinho pelo nosso povo e por todos os nossos irmãos que decidiram perder o medo. Amor, afeto e ternura pelos nossos filhos dos quais temos saudades, e também por todos os meninos e meninas mapuche, porque com a nossa dor e sacrifício proclamamos a esperança no seu futuro.
Como já afirmamos, a intenção de fundo da nossa mobilização carcerária é contribuir para se atingir a unidade mínima no seio do Povo Mapuche e do seu movimento, mas também queremos incentivar indiretamente à unidade dos chilenos pobres e desprotegidos na sua luta contra o sistema econômico, já que o Estado garante a dos ricos, nosso inimigo comum. Para o nosso povo Mapuche significaria uma unidade necessária e permanente que a longo prazo nos garantisse a defesa dos direitos recuperados neste processo. Atentemos nos orgulhos sectários que nos impedem de concretizar alianças estratégicas e que contribuem para a lógica autoritária de “dividir para governar”.
Estivemos demasiado tempo observando-nos à distância como se fossemos estranhos ou inimigos enquanto o poder fortalecia a dominação. Unidade para lutar. Unidade para vencer. Unidade para redescobrir a nossa força.
O dever moral dos poderosos - que através das sucessivas gerações nos tem vindo a impor estes problemas - é assumir a responsabilidade e resolver isto. Veremos em que medida é efetivo e conseqüente o estafado discurso de amor ao próximo ou como disse um porta-voz dos ricos: “Agosto é o mês da solidariedade”.
Que ninguém se ponha de lado, aqui são todos responsáveis, o Estado, a igreja (que tem erguido as suas capelas sobre sangue mapuche) e os humanitaristas que reinventam cárceres e estratégias de policiamento
Os Presos Políticos Mapuche, a partir do presídio de Temuco, a partir da sua greve da fome, fazemos um apelo para se juntar à luta social nos seus setores, para apoiar o nosso movimento que é a expressão do repúdio pela crueldade do capitalismo e dos seus representantes, pela indolência de tantos que lá para 2014 estarão às portas das nossas casas pedindo-nos o voto. Apelamos, numa convocatória ampla, ao reencontro com os seus irmãos de luta. Chegou a hora.
Irmãos mapuche, Amem-se, reproduzam-se, tenham muitos filhos mapuche, recuperem, lutem e continuem amando-se.
Irmãos winkas pobres e solidários, unam-se, fortaleçam as vossas lutas, golpeiem de todos os lados o poder que os oprime, reclamem o que lhes pertence e conseqüentemente amem-se muito e sejam sementes de gerações de solidariedade.
21 de agosto de 2010
Presos Políticos Mapuche
Cárcere de Temuco
Em greve de fome há 41 dias
Tradução > Liberdade à Solta
agência de notícias anarquistas-ana
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