segunda-feira, outubro 18, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

6. Proudhon galanteador de Napoleão III

Esta calúnia situa-se precisamente ao nível dos graffiti dos urinóis. Com efeito, o número de anos que Proudhon passou em prisão ou no exílio a partir de 1848 e no regime de Badinguet chegaria para demonstrar a inutilidade de tais asserções. Mas se Proudhon encontrou com efeito, o princípe Napoleão bem mais socializante que Napoleão III, sempre se afirmou um adversário resoluto de Badinguet. “ Não tem, não terá, adversário mais determinado que eu”, escrevia a Napoleão III numa carta onde lhe pedia para deixar sair um dos seus livros: “A Revolução Demonstrada pelo Golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851”.
Estas calúnias estimularam uma interpretação extremamente tendenciosa deste livro de Proudhon. Pretendeu-se que este livro fazia a apologia do regime plebiscitário de Badinguet. Nada disso, e o que Proudhon queria demonstrar era que o regime estava condenado pois favorecia o nascimento do capitalismo e portanto a socialização da produção, era criador inconsciente da contradição cada vez mais exacerbada entre produção social e usufruto capitalista dos frutos desta produção. Relembremos que Proudhon, enfim, foi expulso da Câmara dos Deputados e condenado a três anos de prisão por ter anunciado que o Principe-Presidente tentaria um golpe de Estado. Por um azar cómico, Proudhon beneficiaria nesse dia do seu direito de saída semanal, regime, nesse tempo, comum a todos os detidos políticos.
Durante todo o reino de Napoleão III, Proudhon não deixou de denunciar o conluio do regime com os grupos capitalistas, assumidos na época pelos representantes destacados da escola Saint-Simonista. Proudhon elevou-se com veemência, fundando-se em análises precisas do ponto de vista económico e financeiro, contra as concessões de Serviços Públicos (caminhos de ferro, vias navigáveis, canais...) a grupos privados (na sua “Teoria do Imposto” no seu “Manual dum Especulador na Bolsa”, etc).
Este tipo de acusação destinada a desacreditar um homem na sua pessoa, fazendo a economia dum estudo racional sobre o seu pensamento, lembra-
-me os boatos montados contra Bakunine a propósito da sua confissão ao Czar. Bakunine empregava um estilo adornado, arrependido, servil que por um lado nada provou, visto que a confissão passou primeiramente pelo torniquete dos bolcheviques, e por outro lado justifica-se: o que seríamos capazes de dizer para sair, a fim de retomar o combate revolucionário, das masmorras da fortaleza de Pedro e Paulo? Não se devia usar o estilo literário próprio, nesse tempo, na Rússia, sobretudo na linguagem administrativa?

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