IX
Seria artificial limitar as influências de Proudhon aos movimentos revolucionários e operários. Ele que se revelou “revolucionário mas não desordeiro” acredita mais na acção organizada de um verdadeiro “reformismo revolucionário” que num romantismo desorganizado da “acção revolucionária”. Também, ao lado destes movimentos revolucionários reclamando-se unilateralmente de Proudhon, esteve constantemente a desenvolver-se uma corrente reformista e até mesmo uma corrente tradicionalista. A inflação das duplas antinómicas da sua descendência contrastada parece bem sublinhar esta dualidade: sindicalismo e socialismo reformistas ou revolucionários, federalismo e regionalismo de direita ou de esquerda, trabalhismo e adeptos da participação, anarquismo e partidários da auto-gestão, etc. Entretanto, nestas oposições muitas vezes corrompidas por estas falaciosas anexações, surgem, com efeito distinto, os dois elementos sempre agrupados com o evolucionismo revo-
lucionário de Proudhon: necessidade absoluta das transformações contínuas (“a revolução perma-
nente”) e recusa da violência arbitrária, sentido do tempo (“as revoluções duram séculos”). Desde logo, “anatemizadas de frente, as ideias proudhonianas foram filtradas pouco a pouco pela sociedade moderna” (Sainte-Beuve).
Este gerador reconhecido da sociologia moderna, do pragmatismo, do solidarismo, do personalismo, das teorias do direito social, preveu, há um século, o desenvolvimento efectivo da civilização industrial. Pressentiu a divisão do mundo em blocos económicos e em blocos políticos, o risco de guerra total, a emancipação da Algéria e do Terceiro Mundo, a oposição entre países desenvolvidos e países sub-desenvolvidos, a revolução russa, o “culto da personalidade”, o “comunismo ditatorial”, a “guerra social”, a constituição de um capitalismo internacional, o despertar da China, o prodigioso desenvolvimento da legislação do trabalho, a “era das federações”, a sociedade de consumo. Inspirou a criação da sociedade das Nações, a Comunidade europeia, o regionalismo moderno, as correntes de reforma das empresas (participação, autogestão), da agricultura (cooperativismo, agricultura de grupo), da distribuição (cooperativas de consumo), do crédito (bancos populares, crédito mútuo) e uma grande parte das reformas pedagógicas modernas (universidades autónomas, promoção social, educação permanente, ligação universidades-empresas). E pode-se ainda evocar a sua influência sobre o realismo na arte, e sobre numerosos escritores, entre os quais Proust, Bernanos e Camus.
Hoje em dia, em França, o pensamento de Proudhon não tem organização oficial, mas suscita numerosos centros de reflexão e de acção, e de vigorosas admirações (o mais importante é sem dúvida a Société Proudhon sediada em Paris e à qual pertence o autor deste livro). Alguns universitários ou nomes políticos foram por ele influenciados. Uma reedição comentada das suas obras completas foi empreendida sem ter sido ainda concluída e alguns programas políticos e sindicalistas retomam actualmente temas tipicamente proudhonianos.
Assim o pensamento pluralista de Proudhon adquire cada vez mais um singular poder de realização. Proudhon, mais de um século após a sua morte, parece escrever para o nosso futuro. Poder da personalidade, intensidade da obra crítica, realismo da obra positiva, multiplicidade e permanência das influências exercidas, tudo designa em Proudhon um génio inovador.
Seria artificial limitar as influências de Proudhon aos movimentos revolucionários e operários. Ele que se revelou “revolucionário mas não desordeiro” acredita mais na acção organizada de um verdadeiro “reformismo revolucionário” que num romantismo desorganizado da “acção revolucionária”. Também, ao lado destes movimentos revolucionários reclamando-se unilateralmente de Proudhon, esteve constantemente a desenvolver-se uma corrente reformista e até mesmo uma corrente tradicionalista. A inflação das duplas antinómicas da sua descendência contrastada parece bem sublinhar esta dualidade: sindicalismo e socialismo reformistas ou revolucionários, federalismo e regionalismo de direita ou de esquerda, trabalhismo e adeptos da participação, anarquismo e partidários da auto-gestão, etc. Entretanto, nestas oposições muitas vezes corrompidas por estas falaciosas anexações, surgem, com efeito distinto, os dois elementos sempre agrupados com o evolucionismo revo-
lucionário de Proudhon: necessidade absoluta das transformações contínuas (“a revolução perma-
nente”) e recusa da violência arbitrária, sentido do tempo (“as revoluções duram séculos”). Desde logo, “anatemizadas de frente, as ideias proudhonianas foram filtradas pouco a pouco pela sociedade moderna” (Sainte-Beuve).
Este gerador reconhecido da sociologia moderna, do pragmatismo, do solidarismo, do personalismo, das teorias do direito social, preveu, há um século, o desenvolvimento efectivo da civilização industrial. Pressentiu a divisão do mundo em blocos económicos e em blocos políticos, o risco de guerra total, a emancipação da Algéria e do Terceiro Mundo, a oposição entre países desenvolvidos e países sub-desenvolvidos, a revolução russa, o “culto da personalidade”, o “comunismo ditatorial”, a “guerra social”, a constituição de um capitalismo internacional, o despertar da China, o prodigioso desenvolvimento da legislação do trabalho, a “era das federações”, a sociedade de consumo. Inspirou a criação da sociedade das Nações, a Comunidade europeia, o regionalismo moderno, as correntes de reforma das empresas (participação, autogestão), da agricultura (cooperativismo, agricultura de grupo), da distribuição (cooperativas de consumo), do crédito (bancos populares, crédito mútuo) e uma grande parte das reformas pedagógicas modernas (universidades autónomas, promoção social, educação permanente, ligação universidades-empresas). E pode-se ainda evocar a sua influência sobre o realismo na arte, e sobre numerosos escritores, entre os quais Proust, Bernanos e Camus.
Hoje em dia, em França, o pensamento de Proudhon não tem organização oficial, mas suscita numerosos centros de reflexão e de acção, e de vigorosas admirações (o mais importante é sem dúvida a Société Proudhon sediada em Paris e à qual pertence o autor deste livro). Alguns universitários ou nomes políticos foram por ele influenciados. Uma reedição comentada das suas obras completas foi empreendida sem ter sido ainda concluída e alguns programas políticos e sindicalistas retomam actualmente temas tipicamente proudhonianos.
Assim o pensamento pluralista de Proudhon adquire cada vez mais um singular poder de realização. Proudhon, mais de um século após a sua morte, parece escrever para o nosso futuro. Poder da personalidade, intensidade da obra crítica, realismo da obra positiva, multiplicidade e permanência das influências exercidas, tudo designa em Proudhon um génio inovador.
Sem comentários:
Enviar um comentário