As pessoas, as políticas, o emprego, o crescimento económico, a repartição desigual dos sacrifícios, a injustiça que manterá longe de qualquer crise o sector financeiro, os fornecedores de pareceres pagos a peso de ouro, as grandes fortunas e as transacções com paraísos fiscais, os submarinos e negociatas afins, as parcerias público-privadas que enriquecem clientelas. Nada disto interessava. O importante era garantir a aprovação de um Orçamento, fosse ele qual fosse: os mercados assim o exigiam, os mercados estão de olho em nós, se nos portarmos como eles querem, os mercados vão diminuir a sua margem de lucro no dinheiro que obtêm junto do BCE a 1 por cento e fazem o favor de nos emprestarem a um preço 500 e tal por cento mais caro do que o seu preço de custo. Sim, porque os mercados têm o enriquecimento fácil como direito adquirido. Os mercados, os mercados, os mercados. Exigem. As pessoas aceitam que lhes tirem e retirem. E quem lhes tira e retira sabe que pode contar com o seu voto.
Depois de uma maratona de folclore que ainda não acabou, o exigido Orçamento, garantido à partida por satisfazer os interesses representados por ambas as partes presentes na dita negociação, apesar de martelado, lá se anunciou assegurado. Dezanove minutos depois da hora certa, com direito a fotografia no telemóvel de um detentor de pensões de reforma superiores a 10 mil euros e tudo. Supostamente, os mercados rejubilariam e baixariam imediatamente o juro da dívida portuguesa.
Mas não. Os tais mercados voltaram a fazer das suas e o juro da dívida soberana portuguesa a dez anos aproximou-se do máximo histórico, ultrapassando os 6,2 por cento (624 por cento de margem relativamente ao valor que o BCE – um BCE que não compra dívida aos Estados - lhes cobra pela cedência dessa liquidez).
Foi então, como sempre tem sido, a hora dos adivinhos brilharem. Eles sentem o pulso aos mercados. O que foi desta vez? Eles é que sabem. Têm a resposta sempre na ponta da língua. Não é difícil. Basta seguir a cartilha e escolher: falta de estabilidade política, demasiados direitos laborais, salários demasiado altos, contribuições para a Segurança Social que devem baixar para empresas com responsabilidade social facultativa, privatização de serviços públicos, cortes salariais aos servidores do Estado, cortes nas prestações sociais, etc, etc.
As explicações aparecem surgidas do nada, como por magia. Se, desta vez, um dos pontos acima não for utilizado, fica a aguardar vez para uma próxima em que se torne necessário consultar o oráculo. O neoliberalismo cavou uma crise sem precedentes que se transformou na sua oportunidade de ouro para fazerem do mundo o que sempre quiseram e nunca puderam. Aquela cantiga dos mercados veio mesmo a calhar. É um sucesso de popularidade. Não há ninguém que não saiba cantarolar o hino da resignação. Agradecimentos a uma comunicação social intoxicante e alinhada.
Antes, discutiam-se políticas e o seu impacto nas vidas das pessoas. Gradualmente, isso mudou. Hoje, as políticas tomam o pulso ao hipotético e cedem a supostas exigências dos mercados. As pessoas deixaram de contar: aceitaram deixar de contar. Os detentores do poder sentem plena liberdade para dar largas à sua imaginação.
Depois de uma maratona de folclore que ainda não acabou, o exigido Orçamento, garantido à partida por satisfazer os interesses representados por ambas as partes presentes na dita negociação, apesar de martelado, lá se anunciou assegurado. Dezanove minutos depois da hora certa, com direito a fotografia no telemóvel de um detentor de pensões de reforma superiores a 10 mil euros e tudo. Supostamente, os mercados rejubilariam e baixariam imediatamente o juro da dívida portuguesa.
Mas não. Os tais mercados voltaram a fazer das suas e o juro da dívida soberana portuguesa a dez anos aproximou-se do máximo histórico, ultrapassando os 6,2 por cento (624 por cento de margem relativamente ao valor que o BCE – um BCE que não compra dívida aos Estados - lhes cobra pela cedência dessa liquidez).
Foi então, como sempre tem sido, a hora dos adivinhos brilharem. Eles sentem o pulso aos mercados. O que foi desta vez? Eles é que sabem. Têm a resposta sempre na ponta da língua. Não é difícil. Basta seguir a cartilha e escolher: falta de estabilidade política, demasiados direitos laborais, salários demasiado altos, contribuições para a Segurança Social que devem baixar para empresas com responsabilidade social facultativa, privatização de serviços públicos, cortes salariais aos servidores do Estado, cortes nas prestações sociais, etc, etc.
As explicações aparecem surgidas do nada, como por magia. Se, desta vez, um dos pontos acima não for utilizado, fica a aguardar vez para uma próxima em que se torne necessário consultar o oráculo. O neoliberalismo cavou uma crise sem precedentes que se transformou na sua oportunidade de ouro para fazerem do mundo o que sempre quiseram e nunca puderam. Aquela cantiga dos mercados veio mesmo a calhar. É um sucesso de popularidade. Não há ninguém que não saiba cantarolar o hino da resignação. Agradecimentos a uma comunicação social intoxicante e alinhada.
Antes, discutiam-se políticas e o seu impacto nas vidas das pessoas. Gradualmente, isso mudou. Hoje, as políticas tomam o pulso ao hipotético e cedem a supostas exigências dos mercados. As pessoas deixaram de contar: aceitaram deixar de contar. Os detentores do poder sentem plena liberdade para dar largas à sua imaginação.
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