O PS e o Governo chumbaram ontem uma proposta da extrema-esquerda que pretendia revogar a decisão de acabar com o 4.º e 5.º escalões do abono de família e da majoração de 25% nos escalões mais baixos. Esta foi a segunda oportunidade - a primeira foi quando ainda estavam a desenhar o Orçamento - de mostrar que Estado Social não significa apenas escolas pintadas, saúde “tendencialmente” gratuita, estradas novas e pontos de abastecimento de carros eléctricos.
Sim, porque o Governo que recusou ontem rever a decisão de cortar no abono de família - uma despesa que representa, salvo erro, 250 milhões de euros - é o mesmo Governo que mantém a aposta na mobilidade eléctrica, não apenas enquanto conceito - que isso até lhe ficaria bem -, mas investindo dinheiro público num projecto que nem do ponto de vista da redução das emissões de CO2 se pode considerar social.
Para além disso, e como investir numa rede de carregamento não chega para convencer os entusiastas do petróleo, haverá também isenções e benefícios fiscais para os pioneiros da mobilidade eléctrica.
Ou seja, em tempos de crise, o Estado deixa de subsidiar o nascimento de pessoas, mas não deixa de subsidiar o nascimento de carros eléctricos. As famílias portuguesas podem esperar, mas a mobilidade eléctrica não.
Entrar no espírito do Governo e perceber estas apostas não é fácil. Em épocas áureas de crescimento económico seria mais fácil, mas mesmo aí parece que estes investimentos cabem mais às marcas do que aos governos, até porque estes podem sempre incentivar o desenvolvimento tecnológico através do agravamento da tributação dos veículos mais poluentes.
Meter mãos à obra em projectos específicos que, ademais, não oferecem garantia - ainda ninguém arrisca dizer que o futuro são carros eléctricos a carregar no meio da rua - não me parece boa escolha, sobretudo quando se está a cortar naquilo que é verdadeiramente essencial, nomeadamente no apoio às famílias.
Dir-me-ão - os mais rigorosos com números - que os valores de que falamos quando confrontamos abono de família e mobilidade eléctrica não são comparáveis. Pode bem ser verdade, mas a previsão de despesa com o Ministério da Economia no Orçamento Geral do Estado para 2011 chega aos 476 milhões de euros, donde se exclui outras fontes de financiamento, nomeadamente comunitárias. Quantos destes milhões não são tiros no escuro, como a mobilidade eléctrica?
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