Nestes últimos dias, aproveitando a divulgação dos dados do Eurostat sobre o desemprego nos países das UE que inclui Portugal, os media têm matraqueado os portugueses com a diminuição do desemprego em Portugal, que os atingidos não sentem pois continuam a não encontrar emprego. Quem se dê ao trabalho de analisar com atenção os dados oficiais sobre o desemprego e o emprego, não poderá de estranhar um estranho paradoxo que é o seguinte: por um lado, os dados oficiais do desemprego são todos diferentes embora com um ponto comum que é a diminuição; e, por outro lado, embora oficialmente o desemprego esteja a diminuir, o emprego não aumenta; pelo contrário, até diminuiu. Mas observem-se os dados do quadro 1, que são os dados oficiais sobre o desemprego e o emprego em Portugal.
Segundo o Eurostat, entre Maio de 2013 e Maio de 2014, a taxa de desemprego em Portugal diminuiu de 16,9% para 14,3%; de acordo com os dados divulgados pelo INE, entre o 1º Trim.2013 e o 1º Trimestre de 2014, a taxa de desemprego baixou de 17,5% para 15,1%.
Em valor absoluto também se observa idêntica tendência nos dados oficiais sobre o desemprego. Segundo o Eurostat, entre Maio de 2013 e Maio de 2014, o número de desempregados em Portugal desceu de 881.000 para 736.000. De acordo com o INE, entre o 1º Trim.2013 e o 1º Trim.2014, o número de desempregados diminuiu de 926.800 para 788.100; e, finalmente, o IEFP divulgou que, entre Maio de 2013 e Maio de 2014, o número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego baixou de 703.205 para 636.410. O que não deixa de ser estranho em todos estes números é que apesar do desemprego oficial diminuir o emprego não aumenta. Segundo dados do INE, entre o 4º Trimestre de 2013 e o 1º Trimestre de 2014, o emprego até diminuiu em 41.100, pois passou de 4.468.000 para 4.426.900 como consta também do quadro 1. Mas são estes os dados do desemprego que a propaganda oficial utiliza na sua tentativa de manipulação da opinião pública procurando convencer os portugueses que a situação do país está a melhorar, que os media acriticamente divulgam, e que por isso interessa esclarecer de uma forma objetiva.
COMO É QUE O GOVERNO PODE DIMINUIR ARTIFICIALMENTE O DESEMPREGO OFICIAL
Para responder a essa questão observe-se o quadro 2 que contém o número de desempregados "ocupados" no mês de Abril de 2014 segundo o IEFP, por tipos de ocupação.
Em Abril de 2014, segundo o IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), 30.193 estavam em "trabalho socialmente necessário, 92.376 estavam "ocupados" em ações de formação e 39.299 em estágios profissionais, o que dá 161.868. Se estes desempregados, por estarem na situação de "ocupados", não forem considerados nas estatísticas oficiais como desempregados, o desemprego oficial em Portugal baixa significativamente.
O CRESCIMENTO RÁPIDO DO NÚMERO DE DESEMPREGADOS NA SITUAÇÃO DE "OCUPADOS" DESDE JANEIRO DE 2013
Vejamos agora qual tem sido a evolução no último ano do número de desempregados "ocupados". O quadro 3 (dados do IEFP), mostra o que aconteceu entre Jan.2013/Abril.2014.
Entre Jan.2013 e Abril.2014, o número de desempregados na situação de "ocupados" aumentou de 78.679 para 169.408. Em valor absoluto cresceu em 90.729, e em percentagem subiu 115,3% Assim, se se excluir dos números oficiais de desemprego os desempregados que estão na situação de "ocupados", e aumentando o número destes, consegue-se baixar artificialmente o desemprego oficial. Para que o leitor fique com uma ideia ainda mais clara do impacto que poderia ter na taxa de desemprego oficial observe o quadro 4, onde consta a taxa de desemprego do INE e a que se obtém incluindo os desempregados que estão na situação de "ocupados".
Como mostra o quadro, se incluirmos os desempregados "ocupados" a taxa de desemprego no lugar de diminuir, como acontece com a taxa oficial, até aumenta nos últimos três trimestres e é superior à oficial: 3ºTrim.2013: 17,7%; 4ºTrim.2013: 18%; 1ºTrim.2014: 18,2%. Se juntarmos a isto a emigração em massa de portugueses na idade mais ativa por não encontrarem emprego em Portugal (só no 1ºTrim.2014 emigraram 61,7 mil com idade até aos 34 anos), é fácil de compreender por que razão o desemprego oficial diminuiu. Por esta razão colocamos diretamente esta questão ao INE. E a resposta que obtivemos foi a seguinte:
(1) Os desempregados que estejam em Contratos Emprego Inserção e Contratos Emprego Inserção+ (antigos POC) promovidos pelo IEFP são considerados como empregados;
(2) Os estagiários são também considerados como empregados (talvez seja por isso que o governo pretende diminuir o período de estágio de 12 meses para 9 meses, pois assim aumenta o seu número);
(3) Os desempregados que estejam em ações de formação profissional são considerados como desempregados ou inativos consoante o cumprimento dos critérios associados a cada conceito (por ex., se não tiverem procurado emprego no período de referência do inquérito, ou não estiverem disponíveis para começar a trabalhar imediatamente não são considerados desempregados).
Desta forma, transformam-se desempregados em empregados, ou desempregados deixam de ser considerados desempregados. E assim se reduz o desemprego oficial.
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