Até se compreende que os aumentos de salário mínimo não são fáceis. E até se compreende que neste aumento, não se se conseguiu ir mais longe. Mas celebrar um aumento de 20€ como se fosse a inauguração do canal do Suez é, a todos os níveis, ridículo, porque 20€ não é nada, ainda que para quem recebe o salário mínimo faça diferença. Mas faz diferença porque quem ganha o salário mínimo e depende dele, é pobre. Ou seja, quando 20€ por mês fazem muita diferença para quem os recebe, alguma coisa está mal.
Mas parece que não. Parece que se tirou estas pessoas da forca com esta vintena. O clima é de euforia, quando devia ser de lamento. Apareceram junto dos pacotes de leite, como quem conseguiu mais uns quantos por mês para tantas famílias. É vergonhoso. Não propriamente o aumento. Mas o festejo.
Esta negociação só prova que a miséria continua. No salário mínimo, no salário assim-assim, no salário médio, no salário razoável, em todos os salários. Menos nos de topo, claro. Só aí é que estamos em linha com os países mais ricos. Sim, ao nível do topo, ganha-se como se ganha nos países mais ricos. E os carros também são os mesmos. Os preços das refeições também andam ela por ela. Só mesmo nos salários dos trabalhadores é que há um enorme fosso.
E porquê? Vontade política, apenas. O salário mínimo na Irlanda é hoje de 1462 euros porque houve essa estratégia. Durante a crise, o salário mínimo desceu, mas já voltou ao seu nível. Os políticos podiam ter mantido o valor da crise, com a desculpa das dificuldades e da necessidade de apoiar a economia. Seria perfeitamente aceitável, pelo menos aos olhos dos portugueses, que já ouviram todas as desculpas. Mas não. Há outra cultura. A Irlanda já repôs o nível salarial.
Por cá, não só estamos muito longe daqueles valores, como se faz uma festa com 20€ de aumento. Os políticos aparecem como heróis. Vinte euros de aumento do salário mínimo, que fica em 505 euros. 589 se contabilizarmos os 14 meses, que não são pagos em toda a Europa.
Uma vergonha, que é ainda maior por se perceber que os governantes não têm consciência dela e ficam satisfeitos mesmo quando se constata que a miséria dos portugueses se está a consolidar.
505 euros não é um salário é um subsídio, porque para além das despesas mais básicas, pouco sobrará. Ora, isso não é um ordenado. Isso é dar ao trabalhador um tecto, comida e roupa lavada. A única diferença é que se lhe dá o dinheiro para ele escolher onde quer dormir, o que quer comer e se não lavar a roupa ainda pode ir ao cinema.
É uma miséria. Que pelos vistos está para durar. Mas ao menos não se faça uma festa.