"Podia muito bem acontecer que cada palavra,
literalmente cada uma das palavras dos livros de História
fosse pura fantasia, incluindo as coisas
que as pessoas acreditavam sem hesitar."
George Orwell, 1984.
Dois textos que escrevi recentemente para este blogue (aqui e aqui) e outros que escrevei antes podem dar a entender que sou contra a entrada de novas tecnologias na escola. Não é o caso.
As novas tecnologias (os computadores, por exemplo), são como as antigas tecnologias (um livro, por exemplo): meios para ensinar e para aprender.
Mas, como é por demais sabido, os meios não se podem confundir com os fins.
E são os fins, não os meios, o cerne da discussão educativa. Nesta medida, as tecnologias, sejam elas novas ou antigas, decorrem dos fins, servem a sua concretização, são da ordem do instrumental.
Efectivamente, a grande questão que tem ocupado a mente dos filósofos da educação, e que não pode, em circunstância alguma, ser alienada é a seguinte: que tipo de pessoas queremos deixar para o futuro.
Como o leitor pensará, as respostas não foram sempre as que mais beneficiam as próprias pessoas, a sociedade a que pertencem e a humanidade como um todo; muitas respostas tiveram o sentido contrário, ainda que fossem apresentadas como imaculadas.
Assim, até ao presente, as tecnologias postas ao serviço da educação serviram ambas as respostas. E, portanto, as que agora temos por "novas", não constituem excepção. Podem ser "boas" ou "más" em função dos propósitos que lhe estão subjacentes.
O que afirmo é fácil de perceber se tomarmos por referência os manuais escolares. Múltiplos estudos que têm incidido sobre eles, sobretudo depois dos anos sessenta do passado século, denunciam o doutrinamento político, religioso e outros que absorvem, a ideologia de classe, de género, de cultura, etc. que veiculam; a escolha nada inocente de textos, de imagens, de perguntas que fazem...
Tudo nos (antigos) manuais parece condenável. Em contrapartida, tudo nos computadores, nos programas e acessos que permitem, é apresentado como perfeito.
Esta leitura enviesada dá a entender que desde que se disponha de novas tecnologias, a educação (que educação?) está garantida. E põe-se, dogmaticamente, um ponto final no assunto.
É preciso ter a coragem de tirar esse ponto final e dizer, desassombradamente, que as novas tecnologias não constituam um bem em si. É preciso perceber que fins últimos as justificam.
Porém, aqui deparamo-nos com um enorme problema: grande parte dos textos de instâncias internacionais e nacionais com responsabilidades educativas que incidem sobre as novas tecnologias omitem esses fins, ou apresentam objectivos triviais como se de fins se tratasse, ou misturam os fins com os meios numa trama ininteligível.
Desta maneira, é impossível discutir o que quer que seja. Vence não quem tem razão com base em conhecimento, mas quem tem mais força.
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