sexta-feira, outubro 31, 2014

SAIR DO ARMÁRIO PARA O CLOSET

O presidente-executivo da Apple escreveu num artigo que ser gay foi um dos maiores presentes que Deus lhe deu. Eu nem sabia que ele era gay e na verdade nem nunca tinha pensado nisso, porque é um assunto que só devia interessar verdadeiramente ao Tim Cook e ao seu companheiro. Ou companheiros, pois ele também pode vir dizer mais qualquer coisinha sobre a sua vida, nomeadamente que é poligâmico.
Bom, mas se a sociedade já evoluiu o suficiente para se aceitar com a maior naturalidade a homossexualidade, então estes artigos do coração só atrapalham. A verdade é que se Tim Cook gostasse de mamas grandes, não escreveria com certeza que esse tinha sido um dos maiores presentes que Deus lhe dera. Ou se gostasse de camelos. Ou se gostasse de raparigas de leste. Ou também não vai dizer, esperamos todos, como gosta dos homens. Se com mais músculo, por exemplo.
A vida sexual de Tim Cook, como a de qualquer pessoa, não deve interessar a mais ninguém. Já em relação à família, sobretudo no caso de figuras públicas, é natural que possam ter alguma exposição. Mas tudo bem, vemos o Cook a chegar com o marido ou namorado e pronto, está certo.
O que não está certo são estes episódios de orgulho. É demasiado. Agora, por exemplo, dá-me vontade de dizer que na Apple o iPhone 6 já não é o único que dobra e se numa situação normal acharia a piada complicada, neste caso já a acho perfeitamente aceitável pois foi o próprio Tim que trouxe a sua vida privada para a praça pública. E não o devia ter feito, porque aceitar a homossexualidade com naturalidade é não a exibir como se fosse uma coisa extraterrestre.
Claro que o Tim acha que com isto libertou toda a comunidade, mas a mim parece-me que estas coisas só nos fazem recuar. Está em toda a imprensa e todo o mundo discute a sexualidade do presidente da Apple. Já devíamos estar na fase em que isso só interessava ao Tim Cook.
“Sim, mas os homossexuais ainda são muito discriminados” – dirão alguns. Pois claro que ainda são muito discriminados. E não deixarão de ser enquanto andarmos todos a discutir publicamente, a seu convite, a sua sexualidade e as suas preferências. Por exemplo, estou há alguns minutos a escrever sobre a sexualidade de Tim Cook. Isto não devia acontecer.
E só acontece porque o presidente da Apple disse que a homossexualidade foi um dos maiores presentes que Deus lhe deu. Agora imaginem que o presidente da Microsoft tinha dito “graças a Deus que gosto de mulheres”. Provavelmente, a esta hora, já se tinha demitido. Pois bem, vistas as coisas assim, a homossexualidade parece uma deficiência. E de quem é a culpa?