quinta-feira, outubro 09, 2014

Um Nobel contado em cinco parágrafos. "Tenho sempre a impressão de escrever o mesmo livro"


Prepare-se: vai ouvir falar dele nas próximas horas. Repetidamente. Elogiosamente. Mais ou menos profundamente. Patrick Modiano é Nobel da Literatura e pop star durante 365 dias.
Ele tem 69 anos, mas só existe há 48. Patrick Modiano: "Até aos 21 anos, não temos existência". A dele elevou-se e ampliou-se: é Nobel. Os livros vão vender-se mais, os jornais vão contá-lo - nasceu em 1945, vive acolá, ganhou isto e foi-lhe atribuído aquilo - e o que ele pensa, proferiu, anotou e viveu será pesquisado e republicado e exaltado ou exagerado.
A Academia sueca gaba-lhe a formosura. "Escreve livros elegantes. Curtos." Modiano observa nele o singular - "livro" amputado do S plural. "Tenho sempre a impressão de escrever o mesmo livro. De cada vez que começo um, esqueço, como por amnésia, os anteriores, e as mesmas cenas retornam."
Antes de existir aos 21, Modiano foi criança mais espantada que as outras. "Normalmente, as crianças, mesmo aquelas que são infelizes, são coerentes. No meu caso, não foi nada assim. Havia sempre coisas e pessoas enigmáticas à minha volta."
Em adulto, experimentou irresponsavelmente o enigma da política. "De facto, nunca votei, exceto para as presidenciais de 2007. Nessa altura, senti que havia um mundo a mudar. Tenho, perante as minhas crianças, remorso e vergonha da minha irresponsabilidade. Mas tenho uma espécie de alergia, uma desconfiança instintiva da política e dos homens políticos." 
É nos livros - ou no livro que é sempre o mesmo - que ele se isola das alergias todas. "A escrita é um trabalho onde se está completamente desconectado, sempre só."