quinta-feira, novembro 06, 2014

Pedro descobre o chocolate

Era uma vez um menino que fez um bolo de chocolate, a seguir pô-lo no chão, a seguir pisou-o, a seguir olhou para a cor da marca  de chocolate que ficou na sola do sapato, a seguir cheirou o pedaço de chocolate que ficou na sola do sapato, a seguir retirou com o dedo um pedacinho do pedacinho de chocolate que ficou na sola do sapato  e levou-o à boca para lhe confirmar o sabor e, finalmente, a seguir concluiu que aquilo era mesmo chocolate. Esta provavelmente já conhecem, mas também não era esta a história que hoje vos queria contar, embora seja muito parecida.  

A de hoje é a história de um Governo que aprofundou a austeridade e completou o trabalho do seu antecessor na destruição de empresas e emprego, que produziu um desespero tal que expulsou mais de 300 mil portugueses que emigraram para fora da taxa de desemprego, fez o mesmo a mais 59158, que também varreu das mesmas estatísticas obrigando-os a trabalhar em organismos públicos sem direito a salário ou a férias para poderem receber o subsídio de desemprego conquistado através dos seus próprios descontos, e, numa bela manhã de Outono, mandou o seu ministro do desemprego à rádio pública  comunicar a sua fantástica descoberta: as descidas na taxa de desemprego dos últimos meses fazem do caso português uma excepção que conseguiu contrariar os manuais de economia que dizem que só há criação de emprego quando a taxa de crescimento está acima dos 2% ao ano.

Essa bela manhã de Outono foi hoje. Ao número mediático não faltou sequer o especialista do costume, recrutado numa das Universidades do costume, a do Porto, para aparecer no noticiário logo a seguir a dar toda a razão ao senhor Ministro em vez de lhe explicar que aquilo que acabava de pisar não era chocolate, que a taxa de desemprego não tem baixado devido à criação de emprego e sim devido ao que se lê acima, mais 126 milhões torrados para desviar dezenas de milhar de pessoas das estatísticas do desemprego para cursos de formação sobre o empreendedorismo da pipoca, mais 263 mil trabalhadores que contra a sua vontade não encontram um trabalho a tempo inteiro, entre outras batotas. Para aparecerem na rádio e na televisão, estes “especialistas” dos nossos dias até lambem solas de sapato. Que lhe(s) faça bom proveito. Era trampa.