Tudo isto para sublinhar a rapidez com que, enquanto uma esquerda desunida e desorganizada chora a morte dos seus ensaiando discursos contra um atentado contra a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, as direitas, organizadas, se mobilizaram para se servirem do massacre de ontem para capitalizarem apoios limitando-o à sua dimensão criminal e distorcendo-o na sua dimensão étnica. E não foi apenas um crime nem foi apenas um ataque às liberdades atrás citadas. O terrorismo, quer o islâmico, quer aquele que é fomentado pela senhora Le Pen, nasce da segregação social, da falta de oportunidades, do desemprego, da pobreza, da falta de instrução e de Cultura que geram a incapacidade de percepcionar muito mais do que a simplificação de um mundo em que apenas existe um “nós”e um “eles” que se confrontam numa disputa da qual, tal como a restante comunidade, sempre saem a perder. E então quem ganha?
Vamos até à Grécia. Os gregos decidirão no final deste mês se querem continuar a deixar-se empobrecer para fortuna de uma estrita minoria que tem beneficiado da venda ao desbarato de tudo o que é público. O responsável máximo do Governo corrupto que lhes tem dado cabo das vidas é Antonis Samaras, simultaneamente o candidato da troika que tem servido à revelia do interesse nacional do seu país. Também comentou o atentado de Paris num comício da campanha eleitoral. Grande patriota. “Hoje em Paris, houve um massacre com pelo menos doze mortos. E aqui alguns encorajam mais a imigração ilegal e prometem a naturalização. (...) O Syriza está noutro planeta, quer dar a nacionalidade massivamente, o acesso a cuidados de saúde e apoio social a todos os imigrantes ilegais”. O discurso é em tudo igual ao de Marine Le Pen. A irresponsabilidade e o interesse em alimentar clivagens sociais para chegar ao poder também. E note-se bem que, lá como cá, quem enriqueceu com a austeridade selectiva – terrorismo social – é uma pequena minoria sem expressão para garantir uma vitória eleitoral. O candidato da troika dirigia-se àqueles a quem o seu terrorismo de Estado tudo roubou. Ele sabe, os senhores terroristas sabem, que Se o poder para prosseguir o saque ao país lhe for devolvido será com o voto dos pobres. E que o voto dos pobres se conquista empregando a linguagem do medo.