quarta-feira, fevereiro 11, 2015

QUESTÕES SOBRE EDUCAÇÃO FÍSICA

“É preciso criar a adoração dos músculos” (João de Almada Negreiros, 1893-1970).

Agradeço e pretendo dar alguma respostas a questões  levantadas  num comentário anónimo insito no meu post aqui publicado:  “”A Educação Física e a Ignorância de Nuno Crato” (10/02/2015 às 16:32).

Eu próprio, que sou do "métier", me interrogo, por vezes,  sobre a crisma da nomenclatura Educação Física  para Motricidade Humana e, com isso dando azo  à criação de uma faculdade da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Motricidade Humana,  que comemora,  com pompa e circunstância  e em herança honrosa, o “75.º Aniversário” da Criação  do Instituto Nacional de Educação Física (23 de Janeiro de 1940), instituto de ensino superior em que se formaram os primeiros professores de Educação Física portugueses.

Vivia-se  então o início de uma década em que a Educação Física englobava a Ginástica (de Pehr Henri Ling, 1776-1830), os Jogos e os Desportos. Recordo que a Ginástica de Ling , adoptada, até certa altura,   oficialmente em Portugal,  teve como origem a Suécia, país escandinavo peocupado um elevado nível de alcoolismo da sua população e, como tal,  procurando na ginástica um forma de o combater.  Aliás,  a  Cinesiterapia, teve, por seu turno, a sua etiologia na ginástica de Ling  destinada   a alcançar  um bom índice postural ou mesmo a corrigir uma má postura dos  alunos em ambiente escolar.

Aqui chegado, num temática polémica, “ipso facto”, que está longe de ser consensual, entendo que a Educação Física deve  ter  o mesmo peso avaliativo que as outras disciplinas (ditas) intelectuais. O próprio Jean-Jacques Rousseau, reconhecia no século  XVIII: “Quereis cultivar a inteligência do vosso aluno? Cultivai as forças que a inteligência vai mobilizar. Exercitai-lhe permanentemente o corpo;  feito homem pelo vigor físico, em breve, o será também pela razão” .

Bem eu sei que esta perspectiva poderá  desagradar  aos progenitores de  gorduchos ou enfezados eusebiozinhos  habituados “a memorizar todas as coisa do saber”,  que se acotevelam para entrar nas faculdades de Medicina preocupados pouco com a sua saúde e mais com proventos profissionais futuros de uma profissão com um estatuto social  e económico  diferente dos outros licenciados universitários por  lidar com a doença e serem a esperança na sua cura!

A avaliação dos alunos na disciplina de Educação Física - sem pôr em causa o  valioso papel educativo do Desporto, enquanto escola de virtudes e de “fair-play”-  em meu entender, deveria ser fundamentada, com maior objectividade,  numa caderneta,  de que constasse uma bateria de testes físicos, facilmente  mensuráveis,  que acompanhasse a evolução do aluno durante o seu percurso escolar. “ Que venham sugestões melhores  e, sobretudo, soluções que levem a malfadada Educação Física a  libertar-se do estigma de parente pobre do sistema educativo português por se tratar de uma questão de inquestionável interesse nacional. 

Aliás,  o próprio  John Kennedy, ao tempo senador dos Estados Unidos, o reconheceu com rara felicidade : “A aptidão física não é apenas uma das mais importantes chaves para se ter um organismo sadio, é a base da actividade intelectual criativa e dinâmica. A relação entre a saúde do corpo e as actividades da mente é subtil e complexa. Ainda falta muito para ser entendida. Os gregos, porém, ensinaram-nos que a inteligência e a habilidade só podem funcionar no auge da sua capacidade se o corpo estiver sadio e forte; que os espíritos fortes e as mentes confiantes geralmente habitam corpos sadios”.

 E por favor, não me venham com a desculpa esfarrapada de que há alunos que não têm habilidade para a disciplina de Educação Física. Outros há que dizem não terem vocação, por exemplo, para a Matemática, facto que não invalida que sejam avaliados nesta disciplina e a respectiva classificação  conte para o acesso aos cursos universitários mais disputados. Ou seja, é tudo uma questão de bons e salutares hábitos!