quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Era uma casa muito engraçada

Era uma casa muito engraçada, daquelas com tecto, três andares, uma escada íngreme e uma máquina de lavar a louça. A cozinha ficava no piso térreo. Era engraçada sobretudo porque, num aperto daqueles, a escada foi vendida e o novo dono instalou-lhe um contador de passagens. Recebia uns cêntimos por cada uma. E um dia a máquina pifou. Quando o dono da escada soube, começou imediatamente a convencer alguns habitantes da casa que o melhor seria instalarem a nova máquina no piso superior. Claro que não fazia sentido nenhum andarem com a louça escada acima e escada abaixo sempre que precisassem de lavá-la, ainda por cima com um custo a acrescer ao incómodo, mas nada que não se consiga quando há um dono de escada que reserva parte da renda garantida pela instalação da máquina no local que lhe maximiza os proveitos e a oferece em segredo e a título de prémio a dois ou três dos mais ilustres da casa se estes conseguirem convencer os restantes de que uma casa engraçada ainda fica mais engraçadinha com a cozinha no rés-do-chão e a máquina de lavar loiça no telhado. E quem diz escada, diz ponte. E quem diz cêntimos, diz milhões em portagens e diz adeus competitividade da economia portuguesa. E quem diz máquina de lavar loiça, diz terminal de contentores. PSD e PS disputam a condução do processo da instalação de um novo terminal de contentores num local que obriga a que mais de metade da carga carregada e descarregada atravesse uma das pontes sobre o Tejo. António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa anunciado em Badajoz no fim-de-semana passado como, favas contadas, próximo Primeiro-ministro de Portugal, assinará hoje pelas 12 horas um “acordo institucional” com a Câmara Municipal do Barreiro e a Administração do Porto de Lisboa para a construção do novo terminal num local com estas características, o Barreiro. Se o actual Governo não conseguir fechar o negócio da concessão de mais uma renda garantida por 100 anos antes do final do mandato, na ausência do mais que improvável levantamento popular capaz de estragá-lo, serão as eleições de daqui a oito meses que revelarão se os restantes habitantes desta casa já tão tremendamente engraçada continuarão a permitir as máquinas de lavar que nos têm custado o destino. Segundo Dados Divulgados Hoje Pelo Eurostat, Os Encargos Com Parcerias Público-Privadas (Ppp) Em Portugal Valem 5,12% Da Riqueza Nacional, O Segundo Valor Mais Alto Entre Os Países Membros Da União Europeia Lado A Lado Com Chipre E Logo A Seguir À Grécia.

DAQUI