segunda-feira, abril 27, 2015

O MEDO DO CONHECIMENTO



Filosofia na academia

Sublinhei a influência que as ideias construtivistas exercem actualmente sobre as humanidades e as ciências sociais. Contudo, há uma disciplina de humanidades em que a influência dessas ideias é muito fraca, que é a própria filosofia, pelo menos tal como é normalmente praticada nos departamentos de filosofia analítica no mundo de língua inglesa.

Isto não significa que essas ideias não tenham recebido apoio de filósofos analíticos. Pelo contrário, em sua defesa, poderíamos citar uma boa parte dos filósofos mais proeminentes desta tradição — por exemplo, Ludwig Wittgenstein, Rudolf Carnap, Richard Rorty, Thomas Kuhn, Hilary Putnam e Nelson Goodman. Estes filósofos, por sua vez, poderiam evocar alguns precedentes intelectuais importantes.

Immanuel Kant negava que o mundo, na medida em que o podemos conhecer, pudesse ser independente dos conceitos segundo os quais o apreendemos. David Hume questionava o nosso direito de pensar que existe apenas um conjunto correcto de princípios epistémicos que captam aquilo que faz uma crença ser racionalmente sustentada. E Friedrich Nietzsche pode ser lido como questionando se alguma vez somos realmente levados à crença por meio de provas, em oposição a outros motivos não epistémicos — interesse próprio ou ideologia — que podem agir sobre nós.

No entanto, apesar de todo o seu passado intelectual distinto e de toda a atenção que receberam nos tempos recentes, é justo dizer que estas concepções anti‑objectivistas da verdade e da racionalidade não são geralmente aceites nos departamentos normais de filosofia no mundo de língua inglesa.

O resultado foi um afastamento progressivo da filosofia académica em relação ao resto das humanidades e das ciências sociais, levando a níveis de acrimónia e de tensão nas universidades americanas que mereceram o nome de «guerras da ciência».

Os académicos simpatizantes do pós‑modernismo queixam‑se de que a defesa da revisão das concepções tradicionais do conhecimento é esmagadoramente clara desde há muito tempo e que só a intransigência habitual da ortodoxia estabelecida pode explicar a resistência com que estas novas ideias têm sido recebidas. Os tradicionalistas, por outro lado, têm ignorado impacientemente os seus colegas inclinados para a filosofia nas humanidades e nas ciências sociais mais por considerações de correcção política do que por verdadeiras considerações filosóficas.


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