sexta-feira, maio 01, 2015

Fuga de depósitos e banqueiros anarquistas

Varoufakis e a mulher foram atacados num restaurante por militantes (alegadamente) anarquistas. Diz o jornal The telegraph, no seu site, que o ataque se ficou a dever à situação descrita no gráfico abaixo (ver o gráfico da notícia, em que os números são mais claros).


O Telegraph não fornece nenhum dado ou razão para pensar que os agressores fossem, de facto, anarquistas preocupados com a fuga de depósitos. No entanto, o mais importante na notícia são os dados citados no gráfico com base no Banco da Grécia e na Bloomberg, que permitem traçar a história da fuga de depósitos desde 2010, ano em que se iniciou a intervenção da Troika. Nesse primeiro momento, saíram da Grécia cerca de 87 mil milhões de euros. Seguiu-se um período de recuperação após a reestruturação da dívida grega de março/abril de 2012 e uma estabilização até ao impasse negocial que agora se verifica e durante o qual saíram mais 24 mil milhões.
Durante todo este período, os depósitos caíram para cerca de 60% do seu valor no início de 2010. Esse valor mostra bem a dimensão da crise bancária grega, mas também as suas origens. Um primeiro movimento de fuga no contexto da recessão económica que o país enfrentou nos primeiros anos do ajustamento, uma recuperação baseada na esperança (ilusória) de que a reestruturação de 2012 fosse suficiente para devolver a dívida a uma trajetória de sustentabilidade e, mais recentemente, uma nova queda associada certamente à incerteza quanto ao desfecho das negociações entre governo grego e o Eurogrupo e quanto à própria permanência do país na moeda única. Em todo o caso, a fuga de depósitos é um expoente grave da crise bancária grega e, ao contrário da imagem que é frequentemente transmitida, é tudo menos recente.