terça-feira, junho 23, 2015

Sobre a libertação da Grécia

– "A crença em que um carcereiro num campo de trabalhos forçados vai sancionar um dos prisioneiros expulsando-o desse mesmo campo é a estupidez acabada".


O caso é simples e conta-se em poucas linhas: apostado em negociar com a Alemanha, o Syriza apanhou pela frente a irredutibilidade alemã e começou a fazer concessões sucessivamente, temendo sair do euro, temendo sair da UE, temendo a fome, a miséria, o caos, os filhos que matariam mães e os pais que almoçariam filhos se deixasse de drapejar a obscena bandeira azul com estrelinhas sobre os céus de Atenas. Perante as cedências acumuladas, a reacção dos gregos não se fez esperar, desde logo dentro do Syriza: históricos como Manolis Glezos pediram desculpas por apelar ao voto em Tsipras; membros do Comité Central do Syriza, como Stathis Kouvelakis, vieram referir que de há muito vinham sendo denunciadas as ilusões europeístas da direcção de Tsipras; enquanto isso, o movimento sindical de classe da Grécia, organizado na central PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores), desenvolveu uma avassaladora ofensiva popular contra a capitulação do Syriza. Contam por dezenas as manifestações, as greves, com especial incidência no sector da saúde e da indústria; foram desenvolvidas formas de luta cada vez mais avançadas, de que a ocupação do Ministério das Finanças no passado dia 13 de Junho constituiu um exemplo importante. Ao mesmo tempo, é justo referir aqui o papel desempenhado por outra estrutura anticapitalista grega, a Conspiração das Células de Fogo, de raiz anarco-sindicalista, que invadiu e ocupou a sede nacional do Syriza e cujos activistas, em Abril, cercaram e procuraram agredir o ministro das Finanças, Yannis Varoufakis, à saída de um restaurante em Atenas.

 

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