quarta-feira, julho 01, 2015

Aprendamos a dançar sem medo


109 mil soldados para uma população de 10 milhões de habitantes. 10 militares por mil habitantes. É o país com o rácio mais alto da Europa (França tem 3,5, Espanha 2,5, Portugal 3,1). Nos últimos dez anos, 4% do PIB foi gasto na defesa, o dobro do que a NATO, sempre empenhada em pressionar aumentos orçamentais nesta área, recomenda. Dos países da NATO, somente os EUA gastam mais em percentagem do PIB. Neste mesmo tempo histórico, este país importou equipamento militar no valor de 12 mil milhões de euros. Entre 2005 e 2009 foi o quinto maior importador de armas do mundo. Nas suas fileiras conta com 1620 blindados, mais do que Alemanha, França e Itália juntas.
Este país é a Grécia e estes números foram revelados esta semana pelo “Público” espanhol. Mas há mais um dado particularmente relevante. Grande parte da despesa grega em armamento foi realizada com a Alemanha e França, 4 mil milhões e 3 mil milhões, respectivamente. Segundo o “Guardian”, em 2012, as vendas de armamento para a Grécia representavam 15% do total de exportações alemãs nestas áreas. Yorgos Papandréu, assessor do primeiro-ministro grego entre 2009 e 2011, declarou que ninguém lhes dizia para comprar armas, mas que a UE ficava sempre mais solícita se o fizessem.
O actual braço-de-ferro entre os donos disto tudo e a Grécia não é apenas decisivo para o povo grego. Se a Grécia claudica e aceita o acordo que a pretende vergar e castigar por ameaçar levantar a cabeça, perdemos todos. Se o povo grego rejeitar o acordo, abre-se uma frente que terá de ter correspondência, em Portugal, muito além dos ineficazes manifestos de militante solidariedade. Depois da Grécia, estamos na linha da frente deste plano de extorsão e empobrecimento. Passará por todos nós a decisão de continuar de cabeça baixa à espera dos novos cortes nas pensões/ordenados e aumentos do IVA, ou ganhar coragem e perder o medo.
Não há saídas fáceis. Todos os caminhos de fuga estão armadilhados, mas quanto mais nos deixarmos afundar neste buraco, mais dura será a saída.
(publicado ontem no jornal i)

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