Linda-a-Velha, 14 de Janeiro de 1989
"Se uma resposta não pode ser posta em palavras, também o não pode a pergunta.O enigma não existe.Se pode de todo fazer uma pergunta, então também se pode respondê-la."
WITTGENSTEINTractatus Logico-Philosophicus - prop. 6.50
ANARQUISMO E ATITUDE FILOSÓFICA
No dia 7 do corrente e a propósito dum comentário crítico que formulei da legenda "Emídio Santana (82) líder anarquista", o Expresso publicou juntamente com excertos da minha carta, uma resposta que na minha dupla qualidade de libertário e de professor de Filosofia, me merece uma tomada de posição.
Dizia a nota que "no Expresso acreditamos numa ideia que faz parte do senso comum: a de que, desde os primórdios da humanidade, certas figuras emergem naturalmente, pelos seus dotes de liderança e influência, de entre as comunidades a que pertencem." Espanta-me apesar de tudo e muito significativo que um jornal de dimensão nacional como o Expresso, faça a apologia do não crítico, do não relativo em suma, do passivo ou como dizia Voltaire "senso comum significa apenas o bom senso, razão grosseira, razão começada, primeira noção das coisas ordinárias."
É comumente aceite o princípio apresentado pelo Expresso, mas é por esse motivo que o devemos apresentar com força justificativa? Terá algum sentido para um jornal que se declara independente, analítico, crítico, que se dispõe em interrogar a realidade nas suas multiplicas vertentes, que a partida aceite os preconceitos do homem comum que apesar de tudo têm força ideológica? Nesse sentido o Expresso deveria continuar a defender certas ideias do senso comum como por exemplo, aquela que era afirmada por muitas pessoas que nunca o homem poderia alguma vez chegar à lua, ou aquela que dizia em tempos idos que a lua era feita de queijo, ou ainda aquela ideia que associa obrigatoriamente ao parto sensações de dor só para de alguns exemplos. Se o senso comum é o conjunto das opiniões professadas numa questão pelo "comum" dos homens, isso não significa que possa ter "força de lei" até porque o conhecimento científico nunca recorre ao senso comum. Por isso Bergson afirmava que "o senso comum é cheio de prejuízos".
Resumindo, o Expresso não tem uma atitude crítica e reflexiva ao defender posições só porque elas constituem ideias que fazem parte do senso comum. "O objectivo da Filosofia" dizia Wittgenstein no seu tractatus, "é a clarificação lógica dos pensamentos". Nesse sentido acrescentava "a filosofia não é uma doutrina, mas uma actividade." Embora não seja a única é uma dimensão fundamental e neste sentido a filosofia apresenta-se como actividade crítica e reflectiva, porque superação do senso comum.
P.S.
Juntamente com a minha carta sobre Emídio Santana seguiu outra sobre uma crítica musical do Jornalista João Lisboa a propósito de Peter Hammill. No entanto esta não foi publicada ao contrário daquela. Gostaria sinceramente de saber porquê? Teria sido obra de algum lápis azul, obviamente maroto?
Censurada no Expresso
"Se uma resposta não pode ser posta em palavras, também o não pode a pergunta.O enigma não existe.Se pode de todo fazer uma pergunta, então também se pode respondê-la."
WITTGENSTEINTractatus Logico-Philosophicus - prop. 6.50
ANARQUISMO E ATITUDE FILOSÓFICA
No dia 7 do corrente e a propósito dum comentário crítico que formulei da legenda "Emídio Santana (82) líder anarquista", o Expresso publicou juntamente com excertos da minha carta, uma resposta que na minha dupla qualidade de libertário e de professor de Filosofia, me merece uma tomada de posição.
Dizia a nota que "no Expresso acreditamos numa ideia que faz parte do senso comum: a de que, desde os primórdios da humanidade, certas figuras emergem naturalmente, pelos seus dotes de liderança e influência, de entre as comunidades a que pertencem." Espanta-me apesar de tudo e muito significativo que um jornal de dimensão nacional como o Expresso, faça a apologia do não crítico, do não relativo em suma, do passivo ou como dizia Voltaire "senso comum significa apenas o bom senso, razão grosseira, razão começada, primeira noção das coisas ordinárias."
É comumente aceite o princípio apresentado pelo Expresso, mas é por esse motivo que o devemos apresentar com força justificativa? Terá algum sentido para um jornal que se declara independente, analítico, crítico, que se dispõe em interrogar a realidade nas suas multiplicas vertentes, que a partida aceite os preconceitos do homem comum que apesar de tudo têm força ideológica? Nesse sentido o Expresso deveria continuar a defender certas ideias do senso comum como por exemplo, aquela que era afirmada por muitas pessoas que nunca o homem poderia alguma vez chegar à lua, ou aquela que dizia em tempos idos que a lua era feita de queijo, ou ainda aquela ideia que associa obrigatoriamente ao parto sensações de dor só para de alguns exemplos. Se o senso comum é o conjunto das opiniões professadas numa questão pelo "comum" dos homens, isso não significa que possa ter "força de lei" até porque o conhecimento científico nunca recorre ao senso comum. Por isso Bergson afirmava que "o senso comum é cheio de prejuízos".
Resumindo, o Expresso não tem uma atitude crítica e reflexiva ao defender posições só porque elas constituem ideias que fazem parte do senso comum. "O objectivo da Filosofia" dizia Wittgenstein no seu tractatus, "é a clarificação lógica dos pensamentos". Nesse sentido acrescentava "a filosofia não é uma doutrina, mas uma actividade." Embora não seja a única é uma dimensão fundamental e neste sentido a filosofia apresenta-se como actividade crítica e reflectiva, porque superação do senso comum.
P.S.
Juntamente com a minha carta sobre Emídio Santana seguiu outra sobre uma crítica musical do Jornalista João Lisboa a propósito de Peter Hammill. No entanto esta não foi publicada ao contrário daquela. Gostaria sinceramente de saber porquê? Teria sido obra de algum lápis azul, obviamente maroto?
Censurada no Expresso
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