sábado, março 18, 2006

Como a Internet favorece a desobediência global

A guerra contra o capital tem propiciado aos diversos grupos anti globalização nos quais se incluem as mais diferentes organizações de esquerda, pacifistas de todas as matizes, ONGs especializadas em direitos humanos, ecologistas, sindicatos, anarquistas e colectivos de desobediência civil – uma experiência única, para testar o seu poder de organização e a sua capacidade de mobilizar a sociedade à contestação e a uma nova forma de militância.Os velhos manuais ensinavam que todo o acto traz, em si mesmo, a sua contradição; e os acontecimentos destes dias de insanidade, nos quais a globalização mostra a sua face mais cruel, têm demonstrado cabalmente essa verdade: a parcela da sociedade mundial que defende os valores da democracia participativa, da solidariedade, da justiça social, da igualdade e da paz caminha na direcção de mobilizar-se mundialmente, da mesma forma que o capital.Os processos de deliberação e decisão desses diversos actores, a busca criativa de meios para fomentar o conflito e evidenciar a lógica perversa do capital, a produção de gestos que se tornem símbolos capazes de se opor às mentiras e às falsificações da informação de massas, ou seja, essas novas e geniais formas de se fazer a guerrilha, têm encontrado na internet não apenas um meio de difusão de mensagens, mas, principalmente, um importante instrumento de organização e uma arma cujo poder de fogo ainda não foi completamente explorado.No momento em que os EUA comandam a militarização do capitalismo transnacional e acenam, para todos os que não pactuarem com sua política imperial, com o mesmo castigo que impõem ao Iraque, torna-se urgente o aprofundamento de uma globalização às avessas, empregando a nossa inteligência colectiva para congregarmos os nossos ideais na construção de uma cidadania globalizada, colocada acima das fronteiras dos Estados e dos exércitos.Várias organizações têm convocado, por exemplo, bombardeios virtuais. Com hora marcada e tendo determinado endereço de mail como objectivo, milhões de mensagens abarrotam o servidor escolhido, derrubando sites e paralisando os serviços de comunicação. Hackers têm invadido milhares de sites, incluindo nas páginas slogans pacifistas e palavras de oposição aos EUA e à guerra. Milhões de mensagens electónicas são trocadas a todo o momento, difundindo notícias de sites alternativos, análises críticas, mensagens pacifistas e convocações para actos públicos, passeatas e outras acções não violentas.Em todo o mundo, sites contra a guerra organizam boicotes, manifestações e os mais diferentes gestos de repúdio à violência norte-americana. E a sábia utilização conjugada do correio electrônico e do telemóvel concede uma agilidade sem precedentes às passeatas e às mobilizações.Contudo, a organização dos grupos anti globalização não se encerra na internet, pois o contacto pessoal, a presença humana, o acto concreto, o gesto de desobediência – nada disso pode e deve ser menosprezado. Ao contrário, a rede mundial de computadores agiliza, aperfeiçoa, renova a luta nas ruas. Manuais de acção não violenta, ensinando como preparar e organizar campanhas e diferentes acções, são distribuídos pela internet. E os novos guerrilheiros são preparados, também via internet, a dialogar com a polícia, a saber agir caso sejam vítimas da violência policial e, inclusive, de que maneira se comportar se forem presos.Os movimentos anti globalização aprenderam rapidamente e tão rápido quanto os Estados, que no ciberespaço as fronteiras são apenas miragens. E que a vulnerabilidade das instituições, dos oligopólios e dos governos está aberta a qualquer um que possua um computador, esteja conectado à internet e tenha um mínimo de capacidade inventiva.No momento em que os EUA utilizam o terrorismo como uma desculpa para internacionalizar os objectivos da sua política imperialista, torna-se urgente a criação de uma rede de opositores – uma rede de resistência e pacifismo, ancorada na internet e preparada para agir nas ruas.Nunca, em nenhum outro momento da história, a contestação e a luta por um novo mundo foram tão necessárias, tão criativas e, ao mesmo tempo, tão possíveis. É urgente semear a desobediência global. Sem dúvida.

http://resistir.info/brasil/desobediencia_global.html

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