segunda-feira, abril 03, 2006

A essência real da publicidade

Nas últimas décadas, muitos pensadores e activistas bem intencionados têm difundido ou aceite a ideia de que o conflito de classe de certa forma desvaneceu-se ou foi descentrado nas nações estado mais ricas. Como os trabalhadores nestes países têm perdido cada vez mais poder, e como vastas ondas de riqueza espalharam-se em torno na forma de automóveis, centros comerciais e um universo de mercadorias acessíveis inimagináveis, muita gente que em outros aspectos é bastante simpática levantou os braços diante da insistência de que a luta de classe continua sempre a ser o problema central num mundo capitalista. Quando os sindicatos asfixiam-se e os trabalhadores compram e rezam e vêem televisão ao invés de combaterem o poder, quem poderia ainda apostar naquele velho cavalo morto?Os capitalistas nunca cessaram a sua luta de classe a partir de cima e, na nossa época da corporação capitalista, um grande número de fenómenos "populares" e de "tempos livres" no primeiro mundo estão imersos em elaborados esforços empresariais concebidos para alcançar o objectivo final de toda a dominação da classe alta: fazer com que os pensamentos e comportamentos das pessoas comuns reforcem o poder e o privilégio da classe dominante.Hoje, o exemplo fundamental desta aplicação da luta de classe a partir de cima na vida fora do emprego é a profissão e a prática do marketing dos grandes negócios. Só nos Estados Unidos, é agora um esforço da ordem dos 2 milhões de milhões de dólares por ano. Isto equivale aproximadamente a todos os gastos do governo dos Estados Unidos.A premissa principal do marketing dos grandes negócios é a percepção, articulada claramente pela primeira na década de 1920, de que a perspectiva dos utilizadores de produtos também conhecidos como consumidores são, nas suas horas fora do emprego, susceptíveis de serem influenciadas pela administração científica racional e voltada para a busca do lucro.Não é por acaso que um dos primeiros líderes corporativos que reconheceram e principiaram a publicitar este facto não foi outro senão Taylor o pai da administração científica. Isto não deveria ser surpreendente, uma vez que agora sabemos como o marketing corporativo nada menos que uma tentativa de estender as técnicas de trabalho taylorianas às esferas em que os utilizadores em perspectiva dos produtos tomam as suas decisões de compra e desenvolvem os seus hábitos de utilização de produtos.Na profissão do marketing, a prossecução deste núcleo de actividades tayloristas é directamente análoga ao que durante longo tempo os engenheiros fizeram no local de trabalho com as tarefas rotineiras dos empregados corporativos. Assim como os engenheiros industriais cronometram e fotografam os pormenores dos desempenhos físicos e mentais dos trabalhadores nas suas tarefas, o marketing dos grandes negócios desdobra exércitos de peritos para efectuar marketing de investigação, cujo propósito é registar os desempenhos físicos e mentais dos compradores de produtos em perspectiva.Tal como os engenheiros industriais e os administradores de pessoal corporativos verificam então como mudar lucrativamente instruções e ambientes de trabalho existentes, da mesma forma peritos em marketing e administradores corporativos verificam a seguir como melhorar lucrativamente instruções e ambientes dos "consumidores". Finalmente, a vasta e cada vez mais rapidamente crescente universo dos eventos de marketing, promoções, publicidade, esforços de relações públicas e pacotes de produtos representam, da perspectiva dos cidadãos comuns, exactamente a mesma coisa que o lugar de trabalho taylorizado: uma armadilha concebida pela classe dominante, na qual nós não capitalistas não podemos deixar de entrar, se pretendermos viver.Existe uma mini indústria dedicada a ensinar às pessoas como ler os significados dos anúncios dos grandes negócios. Isto certamente é uma qualificação vital para a cidadania. Ver a verdadeira intenção e o método de um criador de publicidade permite-lhe fazer melhores escolhas pessoais e políticas. Infelizmente, muitos dos académicos e activistas que se especializam no conhecimento dos media tendem a obscurecer, ao invés de clarificar, a finalidade ulterior das imagens que tentam criticar. Os pretensos críticos remexem lamaçais de palavreado acerca da cultura do consumidor, fábulas de abundância, mapas metafóricos e assemelhados nas suas infindáveis exegeses de publicidades, mas o único e exclusivo propósito de qualquer publicidade do capitalismo corporativo é alterar o comportamento da audiência alvo em favor do resultado final do anunciador isto é, em favor da riqueza dos accionistas da firma. A publicidade não é nada mais nada menos do que uma nova forma de um empreendimento com 6000 anos de antiguidade: a coerção de classe a partir de cima.
http://resistir.info/mreview/marketing_front.html

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