Edwin Dimter Bianchi não esperava nada daquilo, passados todos estes 30 anos de esquecimento. Pode ser, também, que sempre estivesse à espera deste dia. Como todas as manhãs Edwin seguiu a sua rotina em direcção ao seu local de trabalho, como chefe de um departamento de controle de superintendência da AFP em Santiago do Chile. Quando lá chegou deu os bons dias, tomou um café, falou com os colegas, e seguindo as hierarquias ocupou, com um certo desdém, a sua secretária.Foi então que o som dos batuques se começou a ouvir. De princípio, o ruído era imperceptível, longínquo, como se viessem de um passado remoto, ainda que insistente e resistente. Mas a verdade é que o murmúrio ia crescendo. Tambores e mais tambores acompanham os cantos que se escutavam desde o passeio da avenida. O estrondo parou à porta do edifício do ministério do trabalho. Edwin começou então a suar rios de recordações. Ouvia gritos e choros. As vozes tornaram-se muito nítidas. Eles estavam ali.Edwin Dimter Bianchi ouviu claramente como gritavam o seu nome, alto e bom som, entre refrões e contratempos. Um autêntico clamor.Quem trabalhava por perto começou a olhá-lo como nunca o havia feito. Os gritos e os cantos daquele numeroso grupo, armado de tambores e cartazes, alertava também os transeuntes e todos os funcionários do ministério. E todos eles ficaram a saber que alí estava «O Príncipe». Anos a fio gozando do maior anonimato como um incógnito e cinzento funcionário não impediram a sua identificação e localização. Haviam-no descoberto.Edwin Dimter Bianchi, «o príncipe», é recordado por muitos pela sua crueldade quando, por ocasião do golpe de estado militar de 1973, esteve no Estádio do Chile durante aqueles dias. Foi Edwin Dimter Bianchi, «o princípe», que assassinou Victor Jara depois de o ter torturado ao longo de várias horas. Victor Jara recebeu então quarenta e quatro tiros. Desde então, os tribunais nada fizeram. Mas as gentes não esquecem. E Edwin Dimter sabe agora que a sua tranquilidade, tal como a sua impunidade, acabaram. Desmascararam-no.As mãos de Victor Jara perseguem-no e lançam-no ao inferno. Que se foda.
Abel Ortiz
Acabou a impunidade tranquila para o sádico assassino do músico Victor Jara!
No passado dia 25 de Maio de 2006, 5ª feira, cerca de 300 pessoas, assistiram à FUNA do ano ( ver a explicação abaixo sobre o que é a FUNA).
Este ano o visado foi o assassino do cantor Victor Jara. Recorde-se que este músico chileno foi preso, torturado e assassinado no Estádio de Santiago do Chile, aquando do golpe militar de Pinochet em 1973 que instaurou uma ditadura sanguinária.
Segundo constam testemunhas presentes Victor Jara foi vítima de torturas cruéis: cortaram-lhe as mãos como vingança pelo facto do músico continuar a tocar a sua guitarra, mesmo depois de ter sido detido e preso dentro do Estádio convertido em enorme campo de detenção pelos militares golpistas.
Não contentes pelos seus actos, os torturadores de Victor Jara alvejaram-no com 44 tiros. O executor deste assassínio foi Edwin Minter Bianchi, também conhecido por «príncipe» e que na altura dos acontecimento era tenente do exército, e tinha a máxima confiança dos generais golpistas.
Durante décadas, Edwin Dimter conseguiu esconder a sua identidade, graças ao encobrimento dos seus antigos camaradas de armas.
Nenhum dos 5 mil presos, que foram encerrados no Estádio do Chile logo depois do golpe de estado militar de Pinochet de 1973, esqueceram, no entanto, esta sinistra figura que não hesitou em alvejar com 44 tiros Victor Jara, músico chileno muito popular, cujas canções se tornaram mundialmente conhecidas.Era conhecido pela sua presunção e vanglória e não se cansava de insultar e provocar os prisioneiros. Tinha ingressado em 1979 na escola militar juntamente com Armando Fernández Larios, Augusto Pinochet Hiriart y Óscar Izurieta Ferrer. Logo depois seguiria para o Panamá com mais de 100 oficiais chilenos a fim de receber um «curso de aperfeiçoamento» na Escola das Américas, controlada pelas forças armadas dos Estados Unidos.Em 1985 entrou para o Ministério das Obras Públicas e começou, incógnito, a fazer carreira de funcionário público sempre gozando da maior impunidade.O assassino trabalha hoje no Ministério do Trabalho como chefe do departamento de controle das instituições de superintendência da AFP, num edifício situado na avenida Huerfanos 1273, e tem como e-mail edimte@safp.cl e os seus telefones são 7530400, e 7530401
LA FUNA
LA FUNA procura desmascarar as caras e as historias das personagens que, durante a ditadura no Chile, foram responsáveis pelos sequestros, detenções, torturas, crimes e desaparecimentos, violando os direitos de milhares de chilenos e que, entretanto., se integraram no quotidiano como qualquer cidadão, gozando de liberdada graças à impunidade que se auto-outorgam.
LA FUNA tem como objectivo realizar «visitas» aos criminosos e aos torturadores quer em sua casa quer no seu local de trabalho, visitas que são acompanhadas com muito ruído de batuques e danças, cartazes e lenços, panfletos e improvisações, de forma a que os colegas de trabalho ou os vizinhos do visado passem a conhecer o que este fez contra os chilenos e chilenas durante a ditadura.
Esquecer significa pôr de lado, minimizar os actos de violência política, permitir e promover que tais actos continuem a acontecer. Todo aquele que esquece torna-se com a sua indiferença cúmplice dos crimes.
LA FUNA existe para derrotar o esquecimento, superar a indiferença social, acabar com a impunidade e defender a Verdade, a Justiça e a verdadeira Democracia.Queremos reconstruir a história do que se passou a fim de transformar o presente e entregar aos que vierem um futuro digno para se viver.
A melhor homeagem aos que caíram é continuar a lutar por aquilo que aqueles companheiros deram a vida.
Se não há Justiça, há FUNA !!!
A melhor homenagem é continuar a combater
Para os torturadores, assassinos e seus cúmplices:
Nem esquecimento, nem perdão!
Vientos del pueblo ( de Victor Jara)
Vientos del pueblo
De nuevo quieren manchar
mi tierra con sangre obrera
los que hablan de libertad
y tienen las manos negras
los que quieren dividir
a la madre de sus hijos
y quieren reconstruir
la cruz que arrastrara Cristo.
Quieren ocultar la infamia
que legaron desde siglos,
pero el color de asesinos
no borrarán de su cara
ya fueron miles y miles
los que entregaron su sangre
y en caudales generosos
multiplicaron los panes.
Ahora quiero vivir
junto a mi hijo y mi hermano
la primavera que todos
vamos construyendo a diario
no me asusta la amenaza
patrones de la miseria
la estrella de la esperanza
continuará siendo nuestra.
Vientos del pueblo me llaman
vientos del pueblo me llevan
me esparcen el corazón
y me aventan la garganta
así cantará el poeta
mientras el alma me suene
por los caminos del pueblo
desde ahora y para siempre.
Victor Jara
http://www.patriagrande.net/chile/victor.jara
http://www.nuevacancion.net/victor
Retirado de: http://pimentanegra.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário