segunda-feira, junho 12, 2006

O falso “paradoxo da produtividade” e o desemprego tecnológico

Um dos assuntos mais persistentes na área de tecnologia de informação é a polémica que cerca a famosa frase do prémio Nobel de economia de 1987, Robert M. Solow, assim formulada: “Vemos computadores por todo o lado, mas não o seu efeito nas estatísticas [de produtividade]”.Essa frase ficou conhecida como o enunciado do “paradoxo da produtividade”, que em outras palavras tenta “provar” que o investimento em computadores e software não passaria de uma espécie de modismo, caro, sem nenhum retorno e sem consequência nas empresas.Recentemente, Paul Strassmann, ilustre académico norte-americano, retomou o tema, só que desta vez com o cuidado de ressaltar que o crescimento da produtividade desses investimentos “não é visível” porque, salvo raras e honrosas excepções, “se investe erradamente neste campo”. Depois o autor, no melhor estilo dos livros de “auto-ajuda” empresarial, menciona “dez assassinos silenciosos da produtividade” e “dez erros clássicos” que seriam cometidos com frequência.Dos “dez assassinos silenciosos”, Strassmann enumera vários que simplesmente pertencem ao período “heróico” da informática, quando de fato não havia nenhuma preocupação em se obter resultados directos do investimento em TI. Os objectivos costumavam ser vagos. Falava-se em “modernização” e “novos horizontes” para a empresa.É dessa época, por exemplo os seguintes “assassinos”: · Decisões de investimento em tecnologias de informação mal tomadas, derivadas de avaliação económica deficiente ou nula. · Visão “deslumbrada” das tecnologias de informação, crendo que conduzem automaticamente a ganhos competitivos.· Resistência ideológica à mudança.· Frustração dos gestores nos resultados obtidos com a gestão da informação e com os sistemas de controlo de gestão. · Desapontamento dos gestores com os resultados efectivos dos sistemas de CRM (gestão da relação com o cliente) e de ERP (planeamento de recursos). · Frustração com o impacto real na redução ou eliminação de custos por parte dos investimentos em tecnologias de informação. · Funcionamento deficiente dos fornecedores de tecnologias de informação com impacto na produtividade da empresa cliente. Esses itens simplesmente pertencem ao passado de qualquer empresa que utilize TI á sério. Já os seguintes itens têm importância fundamental: · Falta de Recursos Humanos qualificados para tirar proveito dos investimentos. · Defasagem temporal no processo de aprendizagem e adaptação por parte dos Recursos Humanos à nova tecnologia. E é claro, o mais importante de todos: · Incapacidade de proceder à “reengenharia” dos processos de gestão e de produção e aos investimentos adicionais de índole organizacional. Já tivemos diversas oportunidades de esclarecer que a expressão “reengenharia” significa basicamente a utilização combinada de TI, telecomunicações e meios de transporte modernos com o objectivo fundamental de eliminar postos de trabalho.Citamos sempre os autores da “Bíblia” da reengenharia, Michael Hammer e James Champy: “O número crescente de pessoas no escalão intermediário do organograma – os gerentes funcionais ou de nível médio – foi um dos preços pagos pelas empresas pelos benefícios da fragmentação de seu trabalho em etapas simples e repetitivas e de sua organização hierárquica”.Também é proveitoso cita-los quando afirmam que: “...a tecnologia concede a pessoas generalistas o fácil acesso a informações anteriormente acessíveis aos especialistas. Estamos dizendo que, na reengenharia, a tecnologia da informação age como um capacitador essencial. Sem a tecnologia da informação, não haveria reengenharia de processos”. Em outras palavras, os computadores fornecem aos “generalistas”, um eufemismo para funcionários de baixo escalão (e salário idem) as informações que antes só estavam disponíveis aos “especialistas”, pertencentes à custosa classe de funcionários “no escalão intermediário” das empresas. Resumindo: Reengenharia é tornar “especialistas” (com altos salários) simplesmente redundantes (e portanto dispensáveis) com o auxílio de TI e substituí-los por “generalistas”. Os autores detalham o caso da Ford, onde técnicos e engenheiros são substituídos por “recebedores de produtos” que são apenas “ajudantes gerais”, trabalhando em docas para caminhões. Alem disso, Strassmann afirma que: “Os investimentos em tecnologias de informação deveriam submeter-se aos mesmos critérios de justificação que os demais investimentos - mas não [é assim]”. Na verdade Strassmann, tal como Solow, confunde o conceito de produtividade “fordista” com o mesmo conceito sob a óptica “toyotista”. No primeiro caso, produtividade é aumentar o número de peças fabricadas por um certo número de funcionários, com o objectivo de aumentar a produção e as vendas. No segundo caso, trata-se de fabricar o mesmo número de peças com um número muito menor de pessoal.Esse conceito, criado na Toyota, no Japão, e a muito absorvido pelos países ocidentais, não leva em conta aumentos de produção, mas tão-somente uma redução obsessiva de custos. E é ai que entra a tecnologia de informação.Nesse caso, não importa se um computador aumenta a “produtividade” de um empregado. O objectivo das redes informatizadas é servir de suporte aos vários processos de “enxugamento” dos quadros de pessoal das empresas. Assim como a “reengenharia” é inviável sem TI, o mesmo ocorre com outros processos tais como “Terceirização”, Downsizing”, ”Outsourcing”, fusões de empresas com “culturas” muito diferentes, etc. Nesses casos, as “estatísticas de produtividade” e os lucros mais do que atraentes, jamais são atribuídos aos sistemas informatizados. O crédito é todo dos “homens de visão”, cujas fotos sorridentes são mostradas nas revistas de negócios.

http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/

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