terça-feira, julho 04, 2006

Banca portuguesa está sólida e rentável, sobretudo à custa do endividamento das famílias

Relatório de Estabilidade Financeira
Banca respira saúde

A rendibilidade dos capitais próprios da Banca tem vindo a subir desde 2002, atingindo os 16,9 por cento em 2005A Banca portuguesa está sólida e rentável, sobretudo à custa do endividamento das famílias que, apesar da conjuntura económica desfavorável, continuam a consumir muito para além do rendimento disponível. Esta é uma das principais conclusões do Relatório de Estabilidade Financeira, da autoria do Banco de Portugal, que analisa o estado do sistema bancário português.Segundo a autoridade de supervisão, presidida por Vítor Constâncio, as instituições de crédito estão preparadas para enfrentar os choques que podem advir de uma subida das taxas de juro e de uma flutuação do preços dos seus activos graças à aplicação das novas regras internacionais de contabilidade (IAS).As famílias portuguesas são as segundas mais endividadas da Europa logo a seguir à Holanda. Em 2005, estima-se que o rácio de endividamento dos particulares tenha atingido os 117 por cento do rendimento disponível, muito impulsionado pelos empréstimos para a compra de habitação. Os bancos estão a adequar as condições dos empréstimos às dificuldades que as famílias enfrentam. Aplicam-se ‘spreads’ mais favoráveis, permitem-se diferimentos de capital para o final dos empréstimos, ou realizam-se créditos em condições mais favoráveis.Pela primeira vez desde 2001, os encargos com juros em percentagem do rendimento disponível aumentou.Trata-se de um sinal importante em relação à evolução das taxas de juros que começaram a aumentar no último trimestre de 2005. Este cenário de subida do preço do dinheiro, embora mitigado pelas novas condições proporcionadas pelos bancos, não evitará um aumento do incumprimento por parte das famílias, uma vez que podem promover níveis de despesa que se poderão revelar não sustentáveis.O relatório chama a atenção para o facto de o fenómeno do incumprimento bancário afectar, de uma forma mais significativa, as famílias mais endividadas, aquelas com rendimentos tendencialmente mais baixos e com maior propensão a transitar para uma situação de desemprego, e ainda todos os devedores mais recentes, uma vez que entraram no mercado beneficiando, não só dos reduzidos níveis de taxa de juro, mas também de condições contratuais extremamente favoráveis que os bancos têm vindo a introduzir nos seus produtos.Desta forma, estes devedores estarão numa posição negocial mais frágil para alterarem as condições dos empréstimos, estando mais expostos aos movimentos de subidas das taxas de juro, como as que têm vindo a ocorrer desde o final de 2005.

ECONOMIA DE BAIXO CRESCIMENTO

A economia portuguesa conhecerá um regime de baixo crescimento no futuro próximo, prevê o Banco de Portugal na análise que integra o relatório anual de estabilidade financeira, ontem divulgado. A previsão de um regime de baixo crescimento “e a consequente fraca criação de emprego” é atribuída a razões de natureza estrutural, as quais deverão ser agravadas por factores conjunturais, como a tendência de subida das taxas de juro.Por ser “em larga medida de natureza estrutural”, este baixo crescimento “tenderá a persistir no futuro próximo”. O documento, divulgado um dia depois de Vítor Constâncio ter sido reconduzido no cargo de governador da instituição, explica a actual situação com a capacidade limitada de reacção da economia a vários choques externos e internos.“O baixo crescimento da economia portuguesa nos últimos anos resultou da combinação de um conjunto de choques de origem externa e interna com uma capacidade limitada da economia reagir a esses choques”, afirma o Banco de Portugal.Por sua vez, esta capacidade limitada é vista como decorrente de “deficiências no funcionamento dos mercados de trabalho e de produto e na dotação de capital físico e humano”.Daqueles choques são particularizados a integração económica global, o aumento do preço do petróleo, a desaceleração da actividade da área do euro após 2000, o aumento da carga fiscal e, ainda, nos anos mais recentes, a incerteza sobre a forma como serão corrigidos os principais desequilíbrios da economia, em particular o elevado défice estrutural das contas públicas.

NÚMEROS

11 409 milhões - Era o valor do Fundo de Pensões do sistema bancário no final de 2005, que abrangia praticamente todos os trabalhadores do sector. 94,1 por cento - Endividamento (em percentagem do PIB) das empresas portuguesas à Banca. É o valor mais alto da área do euro logo seguida pela Holanda com 90,2 por cento.13,6 por cento - Percentagem dos devedores em incumprimento, no final de 2005, no que se refere a empresas com valores de crédito superiores a um milhão de euros. 1978 milhões - Gastos gerais administrativos realizados pelos mais importantes bancos comerciais em 2005. Registou-se um aumento de 4,6 por cento face ao registado em 2004.53 milhões - Ganhos resultantes da reavaliação cambial de reservas monetárias detidas pelas instituições de crédito. Registou-se uma diminuição de 74,5 por cento face a 2004.

LISTA DOS PAÍSES EUROPEUS ONDE AS FAMÍLIAS SE ENCONTRAM MAIS ENDIVIDADAS (EM PERCENTAGEM DO PIB)

Holanda 109,7% (2004)
Portugal 84,2% (2005)
Espanha 72,3% (2005)
Alemanha 70,3% (2004)
Áustria 53,8% (2005)
França 44,4% (2005)
Bélgica 43,1% (2005)
Finlândia 40,7% (2004)
Grécia 38,4% (2005)
Itália 30,8% (2005)
Área do euro 55%

COMO TEM EVOLUÍDO O NEGÓCIO BANCÁRIO TOTAL DO DINHEIRO QUE TEM A BANCA (em base consolidada)

ACTIVO: 272 411 milhões de euros (2004) / 305 363 milhões de euros (2005)
PASSIVO: 258 386 milhões de euros (2004) / 287 674 milhões de euros (2005)

O NEGÓCIO Juros e rendimentos similares: 12 622 milhões de euros (2004) / 13 975 milhões de euros (2005)
Rendimentos de serviços e comissões: 1923 milhões de euros (2004) / 2213 milhões de euros (2005)
Custos com pessoal: 3667 milhões de euros (2004) / 3301 milhões de euros (2005)
Imposto sobre os lucros do exercício: 228 milhões de euros (2004) / 402 milhões de euros (2005)
Resultado líquido: 1284 milhões de euros (2004) / 2202 milhões de euros (2005)

EVOLUÇÃO DO CRÉDITO

Empréstimos concedidos pelos bancos aos particulares (em percentagem do activo, em base consolidada): 48,5% (1999) / 51,9% (2000) / 52,9% (2001) / 57% (2002) / 54,8% (2003) / 54,9% (2004) / 55% (2004 / novas regras de contabilidade) / 52,8% (2005 / novas regras de contabilidade)
Endividamento dos particulares (em percentagem do rendimento disponível): 76% (1999) / 85% (2000) / 90% (2001) / 97% (2002) / 104% (2003) / 110% (2004) / 117% (2005 / novas regras de contabilidade)
Endividamento das empresas em percentagem do PIB: 76% (1999) / 83% (2000) / 91% (2001) / 93% (2002) / 96% (2003) / 97% (2004) / 100% (2005 / novas regras de contabilidade)
Crédito e juros vencidos(em percentagem do crédito sobre clientes): 2,2% (2000) / 2,2% (2001) / 2,3% (2002) / 2,4% (2003) / 2% (2004) / 1,8% (2004 / novas regras de contabilidade) / 1,8% (2005 / novas regras de contabilidade)
Incumprimento no crédito a particulares (em percentagem do crédito concedido): 2,1% (1999) / 1,8% (2000) / 2% (2001) / 2,1% (2002) / 2,4% (2003) / 2,2% (2004) / 2% (2005 /novas regras de contabilidade)
Incumprimento no crédito a empresas (em percentagem do crédito concedido): 3,2% (1999) / 2,5% (2000) / 2,4% (2001) / 2,4% (2002) / 2,2% (2003) / 1,7% (2004) / 1,7% (2005 / novas regras de contabilidade)
EVOLUÇÃO ANUAL DO MALPARADO
Particulares: 0,22% (1999) / 0,27 % (2000) / 0,43% (2001) / 0,38% (2002) / 0,58% (2003) / 0,21% (2004) / 0,22% (2005 / novas regras de contabilidade)
Endividamento dos particulares (em percentagem do rendimento disponível):-0,01% (1999) / 0,34% (2000) / 0,74% (2001) / 0,76% (2002)/ 0,56% (2003) / 0,52% (2004) / 0,60% (2005 / novas regras de contabilidade)

correiomanha.pt/noticia.asp?id=206006&idselect=181&idCanal=181&p=0

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