sexta-feira, julho 07, 2006

Guantánamo não é o problema

Entre os aliados dos Estados Unidos, inúmeras vozes se levantam para pedir o encerramento do campo de Guantánamo após o anúncio do suicídio de três prisioneiros. Esta reivindicação suscita vários comentários:
As autoridades estadunidenses tinham instalado nos anos 70 duas escolas de tortura onde formavam os quadros repressivos das ditaduras aliadas. A primeira, designada School of Americas, estava situada na base dos EUA no Panamá. Constantin Costa-Gavras denunciou­‑a no seu famoso filme Estado de sítio. A segunda, conhecida sob o nome de Political Warfare Cadres Academy, estava instalada em Taiwan. No início do século XXI, as mesmas autoridades estadunidenses reconstituíram este dispositivo criando duas escolas idênticas, a primeira em Bagram no Afeganistão, e a segunda em Guantánamo.
Embora a tortura seja negada pela imprensa dominante, apesar de uma acumulação de testemunhos, ninguém ignora o arbítrio que reina nestas prisões. Portanto, não se compreende porque seria necessário fechar uma e não a outra.
No entanto, na NATO, cada qual se esforça por pensar que a administração Bush “democratizou” o Afeganistão e que é legítimo enviar para lá tropas para apoiar o regime de Hamid Karzai, apesar de um levantamento popular geral e permanente. Guantánamo é um local ilegalmente ocupado pelos Estados Unidos no território cubano, enquanto Bagram é uma base da NATO instalada no quadro de uma vulgar operação colonial disfarçada de resposta legítima na sequência do 11 de Setembro.
O problema de fundo não é evidentemente o de tal ou tal centro de detenção, mas o dos direitos humanos. Neste plano, a administração Bush criou todo um aparelho jurídico que lhe permite eximir­‑se tanto do direito estadunidense como do direito internacional.
Contudo, os Aliados dos Estados Unidos não exigem o respeito pelo direito internacional, sendo entendido que isso os levaria inexoravelmente a interrogar-se sobre a evolução do direito interno estadunidense. Contentam­‑se pois em pedir que se deixe de fazer tudo isso em público, que lhes seja deixada a ilusão confortável de compartilhar “valores comuns” com os seus cruéis protectores de Washington.

Thierry Meyssan
http://infoalternativa.org/mundo/mundo160.htm

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