A crise da valorização real do capital transforma-se sempre também em crise do dinheiro. O dinheiro, porém, não existe imediatamente como dinheiro mundial, mas apenas como moeda com um determinado nome de dinheiro nacional. À medida em que o capital se expande em estruturas transnacionais vai-se tornando notória a contradição com o carácter de moeda nacional do dinheiro. O dólar, sendo moeda do comércio mundial e moeda de reserva mundial, permanece simultaneamente ligado aos USA, enquanto estado nacional. Porém, o fundamento para a sua função de moeda mundial na globalização já não é a posição dominante da economia nacional dos USA, mas apenas o seu papel como "poder garante" do capitalismo de crise planetário, em virtude da máquina militar sem concorrência, que de certa maneira constitui o "ouro" do dólar. Só por isso é que o capital dinheiro global excedente se desloca predominantemente para aplicações em dólares, como pretenso "porto seguro", financiando assim o transbordante déficit da balança de pagamentos dos USA. Mas esta constelação é precária, pois ameaça levar à queda do dólar e com ela à perda da função de dinheiro mundial, uma vez que o peso do sempre crescente déficit externo repercute-se no carácter nacional da moeda.
A crise do dólar que se desenha poderia sugerir uma futura ascensão do Euro ao papel de dinheiro mundial. Mas tal aparência é enganadora, pois é impossível à União Europeia assumir o papel de "poder garante" global. Nas condições de crise dominantes, uma máquina militar com as dimensões da dos USA seria infinanciável, mesmo num espaço de tempo histórico. E até os USA já há muito correm o risco de perder o controlo, como se vê não apenas no Iraque. Economicamente, a União Europeia não tem de facto nenhuma posição dominante própria, pelo contrário, está ligada à estrutura de déficit dos USA, com as suas exportações de capital e de mercadorias na globalização. Sobretudo, porém, o Euro é um produto artificial. A União Monetária não corresponde a nenhum estado nacional europeu. Não há aqui nenhuma vantagem face aos USA, apenas a contradição entre capital transnacional e espaço monetário assume aqui uma forma diferente.
A União Monetária Europeia ameaça levar à desintegração, em vez de à integração, porque foi apenas sobreposta a espaços funcionais estatais nacionais que continuam com níveis de produtividade diferentes. Os déficits explosivos na balança da pagamentos em Espanha, Grécia e Portugal, na ordem de 7 a 10% do PIB, já não podem ser amortecidos com a desvalorização cambial das moedas nacionais, porque estes países têm agora a mesma moeda que os países com superavit (sobretudo a RFA). Esboça-se um desastre semelhante ao da unificação alemã, onde os diferentes níveis de produtividade da RFA e da RDA foram compelidos a um tecto monetário comum. A consequência foi o conhecido e até hoje não dominado desastre da integração económica da Alemanha Oriental. No âmbito do espaço do Euro, porém, o problema não pode ser disfarçado com pagamentos-transferências, como no âmbito da RFA. Por isso, sob a pressão da globalização, a União Europeia está claramente à deriva. Os países do sul da Europa, na sua aflição, começam a desalavancar o mercado interno europeu com medidas de protecção nacional. Paralelamente à crise do dólar está à vista uma crise do Euro a curto prazo. No capitalismo de crise global, em última instância, é toda a função do dinheiro que soçobra, precisamente porque o meio dinheiro não consegue ser universal, mas continua ligado a espaços monetários delimitados.
Robert Kurz
http://obeco.planetaclix.pt/
A crise do dólar que se desenha poderia sugerir uma futura ascensão do Euro ao papel de dinheiro mundial. Mas tal aparência é enganadora, pois é impossível à União Europeia assumir o papel de "poder garante" global. Nas condições de crise dominantes, uma máquina militar com as dimensões da dos USA seria infinanciável, mesmo num espaço de tempo histórico. E até os USA já há muito correm o risco de perder o controlo, como se vê não apenas no Iraque. Economicamente, a União Europeia não tem de facto nenhuma posição dominante própria, pelo contrário, está ligada à estrutura de déficit dos USA, com as suas exportações de capital e de mercadorias na globalização. Sobretudo, porém, o Euro é um produto artificial. A União Monetária não corresponde a nenhum estado nacional europeu. Não há aqui nenhuma vantagem face aos USA, apenas a contradição entre capital transnacional e espaço monetário assume aqui uma forma diferente.
A União Monetária Europeia ameaça levar à desintegração, em vez de à integração, porque foi apenas sobreposta a espaços funcionais estatais nacionais que continuam com níveis de produtividade diferentes. Os déficits explosivos na balança da pagamentos em Espanha, Grécia e Portugal, na ordem de 7 a 10% do PIB, já não podem ser amortecidos com a desvalorização cambial das moedas nacionais, porque estes países têm agora a mesma moeda que os países com superavit (sobretudo a RFA). Esboça-se um desastre semelhante ao da unificação alemã, onde os diferentes níveis de produtividade da RFA e da RDA foram compelidos a um tecto monetário comum. A consequência foi o conhecido e até hoje não dominado desastre da integração económica da Alemanha Oriental. No âmbito do espaço do Euro, porém, o problema não pode ser disfarçado com pagamentos-transferências, como no âmbito da RFA. Por isso, sob a pressão da globalização, a União Europeia está claramente à deriva. Os países do sul da Europa, na sua aflição, começam a desalavancar o mercado interno europeu com medidas de protecção nacional. Paralelamente à crise do dólar está à vista uma crise do Euro a curto prazo. No capitalismo de crise global, em última instância, é toda a função do dinheiro que soçobra, precisamente porque o meio dinheiro não consegue ser universal, mas continua ligado a espaços monetários delimitados.
Robert Kurz
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