A decadência ética e ideológica do Partido dos Trabalhadores é uma conseqüência direta do brutal enfraquecimento da classe trabalhadora brasileira e do enorme estreitamento da margem de manobra do Estado nacional.
É inegável que o Partido dos Trabalhadores, outrora o maior defensor da “ética na política”, sofreu transformações enormes em suas estratégias e práticas. Já dissemos que a “direita” agora o condena justamente pelas práticas que sempre a caracterizaram.
A “esquerda” ainda “autêntica” acusa o PT de trair seus princípios e se bandear para o lado dos “neoliberais” e outras correntes contrárias aos interesses da “classe trabalhadora”. Por que isso teria ocorrido?
Sabemos que o PT tem origem na classe operária da região do ABC Paulista. Tratava-se na época, de um grupo bastante privilegiado do proletariado brasileiro. Eram liderados pelos empregados das montadoras de veículos, que por sua vez, tinham os melhores salários e os maiores benefícios do país.
O “esquema teórico” do PT foi elaborado por D. Paulo Evaristo Arns e implementado pelo seu mais fiel discípulo dentro das hostes da então promissora ala da “teologia da libertação” da igreja católica. Tratava-se do “Fei Beto”.
O partido se baseava no que passou a ser conhecido como “marxismo de sacristia”. Era uma versão não revolucionária das teorias socialistas então em voga, mas que procurava efetivamente incorporar trabalhadores de verdade, ao invés dos eternos intelectuais formadores de “vanguardas” dos partidos marxistas tradicionais.
A verdade é que o partido de fato já nasceu liderado por operários, com destaque para Luiz Inácio da Silva, o “Lula”. Recebeu logo o apoio entusiástico da “ala esquerda” da igreja católica, especialmente das Comunidades Eclesiais de Base, as “CEBs”.
Por essa época “ser do PT” era um risco considerável. Apesar da abertura “lenta, segura e gradual” do regime militar, ainda se podia ser preso como “subversivo”, ou no mínimo, perder o emprego e ter muita dificuldade em conseguir outro.
Isso atraiu para o partido uma militância selecionada. Apenas as pessoas realmente engajadas num projeto político sério aderiam. Para os eternos aproveitadores, escroques e vigaristas, sempre presentes na política, o PT era um “péssimo negócio”.
Mas ao contrário das agremiações de esquerda tradicionais, que não passavam de devaneios de intelectuais burgueses entediados, o PT tinha poder de verdade, baseado em seu íntimo relacionamento com as lideranças sindicais realmente representativas das “classes trabalhadoras”.
Essas “classes trabalhadoras” como já vimos, era a elite do proletariado nacional. Podiam “parar” o país com suas greves, e em algumas ocasiões, de fato chegaram bem perto de fazer de fato isso. Era um poder que não podia ser negligenciado.
A esse poder “de classe”, veio juntar-se o poder cada vez maior “de Estado”, à medida que o PT conseguia mais e mais vitórias eleitorais. Aos poucos, câmaras de vereadores, prefeituras, assembléias legislativas e até governos estaduais passavam a ser “território petista”.
Esse poder logo atraiu uma enorme massa de “assessores” que, aos poucos, iniciaram as novas “estrelas” petistas nas necessárias manobras entre o fisiologismo, o nepotismo, o favorecimento de empresas e interesses de “amigos”, e o que é mais importante: Na arte da apropriação das generosas tetas do erário publico, eterna fonte de riqueza e poder das elites brasileiras.
Mas em longo prazo, se o PT crescia como partido político vitorioso nas urnas, viu todas as suas bases de sustentação “ideológicas” ruírem de forma espetacular. Quase que simultaneamente, inicio-se um irreversível processo de decadência do poder de barganha dos sindicatos, por conta da reestruturação da produção capitalista.
As novas tecnologias de automação e métodos gerenciais “japoneses”, devastaram justamente as categorias profissionais das industrias mais modernas. Os sindicatos de metalúrgicos, “berço” do PT, foram reduzidos ao papel de meros mediadores por ocasião das dispensas maciças de empregados.
As novas tecnologias de informação e telecomunicações, por sua vez, devastaram as categorias dos bancários e dos empregados no comércio varejista. Apenas os sindicatos ligados aos ineficientes e arcaicos (mas ignorados) serviços públicos puderam resistir.
O segundo golpe veio da derrocada do “socialismo real”. Embora o PT nunca tenha se proclamado “comunista” e nem ao menos “revolucionário”, o fato é que a “grife” de partido de esquerda perdeu instantaneamente o seu valor. Estrelinhas vermelhas e bonés do Che tornaram-se rapidamente “démodé”.
O terceiro e último golpe veio da guinada conservadora da igreja católica. Aos poucos o papa João Paulo II foi deixando claro que a “teologia da libertação” não era de forma alguma bem vinda. D. Paulo teve sua “área de influencia” muito reduzida, até fisicamente, com o “desdobramento” da cúria metropolitana em várias unidades, todas preenchidas por “conservadores” nomeados pelo papa.
O decidido crescimento dos “movimentos carismáticos” e outras formas de “teologia da prosperidade”, mais em sintonia com a economia de mercado, e a volta às crendices medievais da Igreja, no campo comportamental, esvaziou consideravelmente as CEBs.
Isso gerou um enorme paradoxo. Justamente quando o PT “chegou lá”. Quando Lula se elegeu presidente, o PT tinha deixado de ter qualquer base ideológica. O que explica primeiro, a manutenção rígida da política econômica nos moldes antes denunciados como “neoliberais”, e depois a inércia que se apoderou de praticamente todos os setores do governo do PT.
Sem rumo, o partido acabou por ceder ao “pragmatismo”. Essa nova doutrina mostrou ser nada mais que o exercício do poder pelo poder. E para isso, era necessário “jogar” pelas regras a muito estabelecidas pela política brasileira. O resto foi mera conseqüência.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
É inegável que o Partido dos Trabalhadores, outrora o maior defensor da “ética na política”, sofreu transformações enormes em suas estratégias e práticas. Já dissemos que a “direita” agora o condena justamente pelas práticas que sempre a caracterizaram.
A “esquerda” ainda “autêntica” acusa o PT de trair seus princípios e se bandear para o lado dos “neoliberais” e outras correntes contrárias aos interesses da “classe trabalhadora”. Por que isso teria ocorrido?
Sabemos que o PT tem origem na classe operária da região do ABC Paulista. Tratava-se na época, de um grupo bastante privilegiado do proletariado brasileiro. Eram liderados pelos empregados das montadoras de veículos, que por sua vez, tinham os melhores salários e os maiores benefícios do país.
O “esquema teórico” do PT foi elaborado por D. Paulo Evaristo Arns e implementado pelo seu mais fiel discípulo dentro das hostes da então promissora ala da “teologia da libertação” da igreja católica. Tratava-se do “Fei Beto”.
O partido se baseava no que passou a ser conhecido como “marxismo de sacristia”. Era uma versão não revolucionária das teorias socialistas então em voga, mas que procurava efetivamente incorporar trabalhadores de verdade, ao invés dos eternos intelectuais formadores de “vanguardas” dos partidos marxistas tradicionais.
A verdade é que o partido de fato já nasceu liderado por operários, com destaque para Luiz Inácio da Silva, o “Lula”. Recebeu logo o apoio entusiástico da “ala esquerda” da igreja católica, especialmente das Comunidades Eclesiais de Base, as “CEBs”.
Por essa época “ser do PT” era um risco considerável. Apesar da abertura “lenta, segura e gradual” do regime militar, ainda se podia ser preso como “subversivo”, ou no mínimo, perder o emprego e ter muita dificuldade em conseguir outro.
Isso atraiu para o partido uma militância selecionada. Apenas as pessoas realmente engajadas num projeto político sério aderiam. Para os eternos aproveitadores, escroques e vigaristas, sempre presentes na política, o PT era um “péssimo negócio”.
Mas ao contrário das agremiações de esquerda tradicionais, que não passavam de devaneios de intelectuais burgueses entediados, o PT tinha poder de verdade, baseado em seu íntimo relacionamento com as lideranças sindicais realmente representativas das “classes trabalhadoras”.
Essas “classes trabalhadoras” como já vimos, era a elite do proletariado nacional. Podiam “parar” o país com suas greves, e em algumas ocasiões, de fato chegaram bem perto de fazer de fato isso. Era um poder que não podia ser negligenciado.
A esse poder “de classe”, veio juntar-se o poder cada vez maior “de Estado”, à medida que o PT conseguia mais e mais vitórias eleitorais. Aos poucos, câmaras de vereadores, prefeituras, assembléias legislativas e até governos estaduais passavam a ser “território petista”.
Esse poder logo atraiu uma enorme massa de “assessores” que, aos poucos, iniciaram as novas “estrelas” petistas nas necessárias manobras entre o fisiologismo, o nepotismo, o favorecimento de empresas e interesses de “amigos”, e o que é mais importante: Na arte da apropriação das generosas tetas do erário publico, eterna fonte de riqueza e poder das elites brasileiras.
Mas em longo prazo, se o PT crescia como partido político vitorioso nas urnas, viu todas as suas bases de sustentação “ideológicas” ruírem de forma espetacular. Quase que simultaneamente, inicio-se um irreversível processo de decadência do poder de barganha dos sindicatos, por conta da reestruturação da produção capitalista.
As novas tecnologias de automação e métodos gerenciais “japoneses”, devastaram justamente as categorias profissionais das industrias mais modernas. Os sindicatos de metalúrgicos, “berço” do PT, foram reduzidos ao papel de meros mediadores por ocasião das dispensas maciças de empregados.
As novas tecnologias de informação e telecomunicações, por sua vez, devastaram as categorias dos bancários e dos empregados no comércio varejista. Apenas os sindicatos ligados aos ineficientes e arcaicos (mas ignorados) serviços públicos puderam resistir.
O segundo golpe veio da derrocada do “socialismo real”. Embora o PT nunca tenha se proclamado “comunista” e nem ao menos “revolucionário”, o fato é que a “grife” de partido de esquerda perdeu instantaneamente o seu valor. Estrelinhas vermelhas e bonés do Che tornaram-se rapidamente “démodé”.
O terceiro e último golpe veio da guinada conservadora da igreja católica. Aos poucos o papa João Paulo II foi deixando claro que a “teologia da libertação” não era de forma alguma bem vinda. D. Paulo teve sua “área de influencia” muito reduzida, até fisicamente, com o “desdobramento” da cúria metropolitana em várias unidades, todas preenchidas por “conservadores” nomeados pelo papa.
O decidido crescimento dos “movimentos carismáticos” e outras formas de “teologia da prosperidade”, mais em sintonia com a economia de mercado, e a volta às crendices medievais da Igreja, no campo comportamental, esvaziou consideravelmente as CEBs.
Isso gerou um enorme paradoxo. Justamente quando o PT “chegou lá”. Quando Lula se elegeu presidente, o PT tinha deixado de ter qualquer base ideológica. O que explica primeiro, a manutenção rígida da política econômica nos moldes antes denunciados como “neoliberais”, e depois a inércia que se apoderou de praticamente todos os setores do governo do PT.
Sem rumo, o partido acabou por ceder ao “pragmatismo”. Essa nova doutrina mostrou ser nada mais que o exercício do poder pelo poder. E para isso, era necessário “jogar” pelas regras a muito estabelecidas pela política brasileira. O resto foi mera conseqüência.
http://lauromonteclaro.sites.uol.com.br/
Sem comentários:
Enviar um comentário