O papel americano ao apoiar o assalto militar de Israel sobre o Líbano cai dentro de um padrão de tirania imperial, em que a história é reescrita a fim de se adequar às necessidades da América, enquanto a Europa mantem-se numa postura covarde.
O National Museum of American History faz parte da celebrada Smithsonian Institution em Washington, DC. Cercado por simulados edifícios greco-romanos com suas altivas colunas coríntias, águias exuberantes e profundidades cinzeladas, ele está no centro do Império, embora a própria palavra não esteja gravada em parte alguma. Isto é compreensível, pois os afins de Hitler e Mussolini são também orgulhosos imperialistas: numa "grande missão para libertar o mundo do mal" ("great mission to rid the world of evil"), como disse também o presidente Bush.Uma das exposições do museu é chamada "O preço das liberdades americanas na guerra". No espírito dos presépios de Grotto, este travesti de revisionismo ajuda-nos a entender como o silêncio e a omissão são apresentadas com tanto êxito em sociedades livres saturadas pelos media. Às mentes confusas das pessoas comuns, muitas delas crianças, é dispensada a mensagem orgulhosa de que a América sempre "construiu liberdade e democracia" — nomeadamente em Hiroshima e Nagasaki onde o bombardeamento atómico poupou "um milhão de vidas", e no Vietnam onde os cruzados da América estavam "determinados a travar a expansão comunista", e no Iraque onde as mesmas almas verdadeiras "empregaram ataques aéreos de precisão sem precedentes".As palavras "invasão" e "controvérsia" surgem apenas de modo fugaz; não há indício de que a "grande missão" tenha supervisionado, desde 1945, tentativas de derrubes de 50 governos, muitos deles democracias, juntamente com o esmagamento de movimentos populares que lutavam contra a tirania e com o bombardeamento de 30 países, provocando a perda de vidas inumeráveis. Na América Central, na década de 1980, exércitos de gangsters treinados e armados por Ronald Reagan ceifaram 300 mil pessoas; na Guatemala isto foi descrito pela ONU como genocídio. Nenhuma palavra acerca disto é expressa no presépio. Na verdade, graças a tais exibições, os americanos podem venerar a guerra, confortados pelos crimes dos outros e nada sabendo acerca dos seus próprios.Neste presépio não há lugar para a honesta People's History of the United States , de Howard Zinn, ou a revelação de I. F. Stone da verdade acerca daquilo que o museu chama "a guerra esquecida" na Coreia, ou a definição de Mark Twain de patriotismo como a necessidade de manter à mão"uma multidão de assassinos uniformizados, com custos pesados, para tomar à força fatias dos países de outro povo". Além disso, na Loja Preço da Liberdade (Price of Freedom Shop), você pode comprar o US Army Monopoly, e um "cobertor da nação agradecida" (grateful nation blanket) por apenas US$ 200. Os patrocinadores corporativos da exposição incluem a Sears Roebuck, o mamute do retalho. Entende-se.Compreender o poder da doutrinação em sociedade livres é também entender o poder subversivo da verdade que é suprimida. Durante a era Blair na Grã-Bretanha, revisionistas precoces do Império foram adoptados pelos media pró-guerra. Inspirados nas messiânicas afirmações da América de "vitória" na guerra fria, suas pseudo-histórias tentaram não só lavar o sangue viscoso da escravização, pilhagem, fome e genocídio que o imperialismo britânico ("o Império era uma força exemplar para o bem", Andrew Roberts) como também reabilitar convicções gladstonianas de superioridade e promover "a imposição dos valores ocidentais", como propôs Niall Ferguson.Ferguson saboreia "valores", um conceito untuoso que abrange tanto a barbárie do passado imperial como a brutalidade de hoje, manipulada pelo "livre" mercado. O novo código para raça e classe é "cultura". Assim, a eterna campanha de pirataria dos ricos e poderosos contra os pobres e fracos, especialmente aqueles com recursos naturais, tornou-se um "choque de civilizações". Desde que Francis Fukuyama escreveu seu disparate acerca do "fim da história" (posteriormente repudiado), a tarefa dos revisionistas e do jornalismo dito "de referência" foi popularizar o "novo" imperialismo, como na série War of the World de Ferguson, para o Channel 4, e nas suas frequentes aparições na BBC. Deste modo, o público é "amaciado" para a invasão predatória de países sob falsos pretextos, incluindo um não improvável ataque nuclear ao Irão, e a ascensão em Washington de um executivo ditatorial, como exigido pelo vice-presidente Cheney. Tão iminente é esta última que um Congresso indiferente quase certamente reverterá a recente decisão da Suprema Corte de proscrever os tribunais ilegais de Guantanamo. O juiz que redigiu a opinião da maioria — num tribunal superior o próprio Bush tem de submeter-se — fez ouvir o seu alarme através desta citação fundamental de James Madison: "A acumulação de todos os poderes, legislativo, executivo e judiciário, nas mesmas mãos, seja de um, uns poucos ou muitos, e seja ele hereditário, auto-nomeado ou eleito, pode correctamente ser declarado como a própria definição de tirania".A catástrofe no Médio Oriente é um produto desta tirania imperial. Trata-se claramente de uma operação ordenada pelos EUA, com o assalto a Gaza planeado há muito e a destruição de Leba como pretextos para uma campanha mais vasta com o objectivo de instalar fantoches americanos no Líbano, na Síria e finalmente no Irão. "Chegou a hora da liquidação", escreveu o historiador israelense Ilan Pappe; "agora o procurador (proxy) deverá salvar o Império em apuros".A propaganda acompanhante — o abuso da linguagem e a eterna hipocrisia — atingiram o seu nadir nas últimas semanas. Um soldado israelense integrante de uma força invasora foi capturado e mantido, legitimamente, como prisioneiro de guerra. Relatado como um "rapto", isto detonou ainda mais carnificina entre civis palestinos. A captura de dois civis palestinos dois dias antes da captura do soldado não interessava. Nem tão pouco o encarceramento de milhares de reféns palestinos em prisões israelenses, e a tortura de muitos deles, como documentado pela Amnistia. A estória do soldado raptado escamoteava qualquer investigação séria dos planos de Israel para tornar a invadir Gaza, da qual havia encenado uma falsa retirada. O facto e o significado do cessar fogo de 16 meses que o Hamas se auto-impôs foram perdidos em ninharias acerca do "reconhecimento de Israel", juntamente com o estado de terror em Gaza — o lançamento de uma bomba de 500 libras [227 kg] sobre um bloco residencial, o disparo de mais de 9000 munições de artilharia pesada sobre um dos lugares mais densamente povoados do mundo e o terrorismo nocturno com estrondos sónicos."Não quero ninguém a dormir à noite em Gaza", declarou o primeiro ministro israelense, Ehud Olmert. Em sua defesa, os palestinos dispararam um grupo de mísseis Qassam e mataram oito israelenses: o suficiente para assegurar a Israel a condição de vítima na BBC. Mesmo Jeremy Bowen montou um vergonhoso "equilíbrio", mencionando "duas narrativas". O equivalente histórico não está longe do bombardeamento nazi, com eliminação pela fome, do Gueto Judeu de Varsóvia. Tente imaginar isto descrito como "duas narrativas".A observar o desdobramento disto em Washington — estou hospedado num hotel dirigido pelo grupo evangélico "Cristãos por Israel", aparentemente em busca do êxtase — tenho ouvido apenas as mais grosseiras cantilenas colonialistas e nenhuma verdade. O Hezbollah, conforme a lenga-lenga de caricatura jornalística da América, é "armado e financiado pela Síria e pelo Irão", e assim eles apelam a um ataque àqueles países, enquanto permanecem silenciosos acerca do brinde diário de US$ 3 mil milhões de dólares em aviões, pequenas armas e bombas a um estado cujo desrespeito ao direito internacional regista o récord mundial. Nunca se menciona isto, nem tão pouco que o ascenso do Hamas foi uma resposta às atrocidades e humilhações que os palestinos têm sofrido há meio século, assim como o Hezbollah foi formado apenas como uma defesa contra a invasão assassina do Líbano por Ariel Sharon em 1982, a qual provocou 22 mil mortos. Nunca se menciona que Israel intervém à vontade, ilegalmente e brutalmente nos 22 por cento remanescentes da Palestina histórica, tendo demolido 11 mil lares e amuralhado o território separando as pessoas das suas terras agrícolas, das suas famílias, hospitais e escolas. Nunca se menciona que a ameaça à existência de Israel é uma ficção, e que o verdadeiro inimigo do seu povo não são os árabes e sim o sionismo e uma América imperial que cauciona o estado judeu como a antítese do judaísmo humano.SILÊNCIO DOS GOVERNOSA gigantesca injustiça cometida contra os palestinos é o cerne do assunto. Enquanto os governos europeus (com a honrosa excepção do suíço) permaneceram covardes, foi apenas o Hezbollah que veio em ajuda dos palestinos. Uma verdadeira vergonha. Não há "narrativas" nos media acerca da heróica postura palestina durante dois levantamentos, só com fisgas e pedras a maior parte do tempo. Os assassinos israelenses de Rachel Corrie e Tom Hurndall deixaram-nos absolutamente sós. Não é só o silêncio de todos os governos que é chocante. Num programa importante da BBC, Maureen Lipman, judia e promotora de boas causas selectivas, foi permitido que dissesse, sem qualquer desafio sério, que "a vida humana não é barata para os israelenses, e a vida humana do outro lado é realmente bastante barata..."Deixem Lipman ver as crianças de Gaza estendidas no chão após um bombardeio israelense, com os seus pais petrificados pela dor. Deixem-na observar como jovens palestinas — e ali há muitas delas — choram de dores quando o parto se verifica à noite no assento traseiro de um carro numa barreira de estrada israelense, tendo-lhe sido deliberadamente recusado o direito de passagem para um hospital. Deixem então Lipman ver o pai da criança carregar o recém nascido através de campos congelados até que ele se torne azul e morra.Penso que Orwell apanhou a coisa correctamente neste trecho de Mil novecentos e oitenta e quatro, um conto do império final:"E no endurecimento geral de perspectivas que se manifestava ... práticas que haviam sido há muito abandonadas — aprisionamento sem processo, utilização de prisioneiros de guerra como escravos, execuções públicas, tortura para extrair confissões ... e a deportação de populações inteiras — não só passaram a ser comuns outra vez como eram toleradas e até defendidas por pessoas que se consideravam esclarecidas e progressistas".
John Pilger
http://resistir.info/
O National Museum of American History faz parte da celebrada Smithsonian Institution em Washington, DC. Cercado por simulados edifícios greco-romanos com suas altivas colunas coríntias, águias exuberantes e profundidades cinzeladas, ele está no centro do Império, embora a própria palavra não esteja gravada em parte alguma. Isto é compreensível, pois os afins de Hitler e Mussolini são também orgulhosos imperialistas: numa "grande missão para libertar o mundo do mal" ("great mission to rid the world of evil"), como disse também o presidente Bush.Uma das exposições do museu é chamada "O preço das liberdades americanas na guerra". No espírito dos presépios de Grotto, este travesti de revisionismo ajuda-nos a entender como o silêncio e a omissão são apresentadas com tanto êxito em sociedades livres saturadas pelos media. Às mentes confusas das pessoas comuns, muitas delas crianças, é dispensada a mensagem orgulhosa de que a América sempre "construiu liberdade e democracia" — nomeadamente em Hiroshima e Nagasaki onde o bombardeamento atómico poupou "um milhão de vidas", e no Vietnam onde os cruzados da América estavam "determinados a travar a expansão comunista", e no Iraque onde as mesmas almas verdadeiras "empregaram ataques aéreos de precisão sem precedentes".As palavras "invasão" e "controvérsia" surgem apenas de modo fugaz; não há indício de que a "grande missão" tenha supervisionado, desde 1945, tentativas de derrubes de 50 governos, muitos deles democracias, juntamente com o esmagamento de movimentos populares que lutavam contra a tirania e com o bombardeamento de 30 países, provocando a perda de vidas inumeráveis. Na América Central, na década de 1980, exércitos de gangsters treinados e armados por Ronald Reagan ceifaram 300 mil pessoas; na Guatemala isto foi descrito pela ONU como genocídio. Nenhuma palavra acerca disto é expressa no presépio. Na verdade, graças a tais exibições, os americanos podem venerar a guerra, confortados pelos crimes dos outros e nada sabendo acerca dos seus próprios.Neste presépio não há lugar para a honesta People's History of the United States , de Howard Zinn, ou a revelação de I. F. Stone da verdade acerca daquilo que o museu chama "a guerra esquecida" na Coreia, ou a definição de Mark Twain de patriotismo como a necessidade de manter à mão"uma multidão de assassinos uniformizados, com custos pesados, para tomar à força fatias dos países de outro povo". Além disso, na Loja Preço da Liberdade (Price of Freedom Shop), você pode comprar o US Army Monopoly, e um "cobertor da nação agradecida" (grateful nation blanket) por apenas US$ 200. Os patrocinadores corporativos da exposição incluem a Sears Roebuck, o mamute do retalho. Entende-se.Compreender o poder da doutrinação em sociedade livres é também entender o poder subversivo da verdade que é suprimida. Durante a era Blair na Grã-Bretanha, revisionistas precoces do Império foram adoptados pelos media pró-guerra. Inspirados nas messiânicas afirmações da América de "vitória" na guerra fria, suas pseudo-histórias tentaram não só lavar o sangue viscoso da escravização, pilhagem, fome e genocídio que o imperialismo britânico ("o Império era uma força exemplar para o bem", Andrew Roberts) como também reabilitar convicções gladstonianas de superioridade e promover "a imposição dos valores ocidentais", como propôs Niall Ferguson.Ferguson saboreia "valores", um conceito untuoso que abrange tanto a barbárie do passado imperial como a brutalidade de hoje, manipulada pelo "livre" mercado. O novo código para raça e classe é "cultura". Assim, a eterna campanha de pirataria dos ricos e poderosos contra os pobres e fracos, especialmente aqueles com recursos naturais, tornou-se um "choque de civilizações". Desde que Francis Fukuyama escreveu seu disparate acerca do "fim da história" (posteriormente repudiado), a tarefa dos revisionistas e do jornalismo dito "de referência" foi popularizar o "novo" imperialismo, como na série War of the World de Ferguson, para o Channel 4, e nas suas frequentes aparições na BBC. Deste modo, o público é "amaciado" para a invasão predatória de países sob falsos pretextos, incluindo um não improvável ataque nuclear ao Irão, e a ascensão em Washington de um executivo ditatorial, como exigido pelo vice-presidente Cheney. Tão iminente é esta última que um Congresso indiferente quase certamente reverterá a recente decisão da Suprema Corte de proscrever os tribunais ilegais de Guantanamo. O juiz que redigiu a opinião da maioria — num tribunal superior o próprio Bush tem de submeter-se — fez ouvir o seu alarme através desta citação fundamental de James Madison: "A acumulação de todos os poderes, legislativo, executivo e judiciário, nas mesmas mãos, seja de um, uns poucos ou muitos, e seja ele hereditário, auto-nomeado ou eleito, pode correctamente ser declarado como a própria definição de tirania".A catástrofe no Médio Oriente é um produto desta tirania imperial. Trata-se claramente de uma operação ordenada pelos EUA, com o assalto a Gaza planeado há muito e a destruição de Leba como pretextos para uma campanha mais vasta com o objectivo de instalar fantoches americanos no Líbano, na Síria e finalmente no Irão. "Chegou a hora da liquidação", escreveu o historiador israelense Ilan Pappe; "agora o procurador (proxy) deverá salvar o Império em apuros".A propaganda acompanhante — o abuso da linguagem e a eterna hipocrisia — atingiram o seu nadir nas últimas semanas. Um soldado israelense integrante de uma força invasora foi capturado e mantido, legitimamente, como prisioneiro de guerra. Relatado como um "rapto", isto detonou ainda mais carnificina entre civis palestinos. A captura de dois civis palestinos dois dias antes da captura do soldado não interessava. Nem tão pouco o encarceramento de milhares de reféns palestinos em prisões israelenses, e a tortura de muitos deles, como documentado pela Amnistia. A estória do soldado raptado escamoteava qualquer investigação séria dos planos de Israel para tornar a invadir Gaza, da qual havia encenado uma falsa retirada. O facto e o significado do cessar fogo de 16 meses que o Hamas se auto-impôs foram perdidos em ninharias acerca do "reconhecimento de Israel", juntamente com o estado de terror em Gaza — o lançamento de uma bomba de 500 libras [227 kg] sobre um bloco residencial, o disparo de mais de 9000 munições de artilharia pesada sobre um dos lugares mais densamente povoados do mundo e o terrorismo nocturno com estrondos sónicos."Não quero ninguém a dormir à noite em Gaza", declarou o primeiro ministro israelense, Ehud Olmert. Em sua defesa, os palestinos dispararam um grupo de mísseis Qassam e mataram oito israelenses: o suficiente para assegurar a Israel a condição de vítima na BBC. Mesmo Jeremy Bowen montou um vergonhoso "equilíbrio", mencionando "duas narrativas". O equivalente histórico não está longe do bombardeamento nazi, com eliminação pela fome, do Gueto Judeu de Varsóvia. Tente imaginar isto descrito como "duas narrativas".A observar o desdobramento disto em Washington — estou hospedado num hotel dirigido pelo grupo evangélico "Cristãos por Israel", aparentemente em busca do êxtase — tenho ouvido apenas as mais grosseiras cantilenas colonialistas e nenhuma verdade. O Hezbollah, conforme a lenga-lenga de caricatura jornalística da América, é "armado e financiado pela Síria e pelo Irão", e assim eles apelam a um ataque àqueles países, enquanto permanecem silenciosos acerca do brinde diário de US$ 3 mil milhões de dólares em aviões, pequenas armas e bombas a um estado cujo desrespeito ao direito internacional regista o récord mundial. Nunca se menciona isto, nem tão pouco que o ascenso do Hamas foi uma resposta às atrocidades e humilhações que os palestinos têm sofrido há meio século, assim como o Hezbollah foi formado apenas como uma defesa contra a invasão assassina do Líbano por Ariel Sharon em 1982, a qual provocou 22 mil mortos. Nunca se menciona que Israel intervém à vontade, ilegalmente e brutalmente nos 22 por cento remanescentes da Palestina histórica, tendo demolido 11 mil lares e amuralhado o território separando as pessoas das suas terras agrícolas, das suas famílias, hospitais e escolas. Nunca se menciona que a ameaça à existência de Israel é uma ficção, e que o verdadeiro inimigo do seu povo não são os árabes e sim o sionismo e uma América imperial que cauciona o estado judeu como a antítese do judaísmo humano.SILÊNCIO DOS GOVERNOSA gigantesca injustiça cometida contra os palestinos é o cerne do assunto. Enquanto os governos europeus (com a honrosa excepção do suíço) permaneceram covardes, foi apenas o Hezbollah que veio em ajuda dos palestinos. Uma verdadeira vergonha. Não há "narrativas" nos media acerca da heróica postura palestina durante dois levantamentos, só com fisgas e pedras a maior parte do tempo. Os assassinos israelenses de Rachel Corrie e Tom Hurndall deixaram-nos absolutamente sós. Não é só o silêncio de todos os governos que é chocante. Num programa importante da BBC, Maureen Lipman, judia e promotora de boas causas selectivas, foi permitido que dissesse, sem qualquer desafio sério, que "a vida humana não é barata para os israelenses, e a vida humana do outro lado é realmente bastante barata..."Deixem Lipman ver as crianças de Gaza estendidas no chão após um bombardeio israelense, com os seus pais petrificados pela dor. Deixem-na observar como jovens palestinas — e ali há muitas delas — choram de dores quando o parto se verifica à noite no assento traseiro de um carro numa barreira de estrada israelense, tendo-lhe sido deliberadamente recusado o direito de passagem para um hospital. Deixem então Lipman ver o pai da criança carregar o recém nascido através de campos congelados até que ele se torne azul e morra.Penso que Orwell apanhou a coisa correctamente neste trecho de Mil novecentos e oitenta e quatro, um conto do império final:"E no endurecimento geral de perspectivas que se manifestava ... práticas que haviam sido há muito abandonadas — aprisionamento sem processo, utilização de prisioneiros de guerra como escravos, execuções públicas, tortura para extrair confissões ... e a deportação de populações inteiras — não só passaram a ser comuns outra vez como eram toleradas e até defendidas por pessoas que se consideravam esclarecidas e progressistas".
John Pilger
http://resistir.info/
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