Jornalista: O homem que temos hoje connosco não tem por hábito guardar as suas opiniões para si próprio. Opôs-se com determinação à invasão do Iraque e actualmente defende que o ataque do Hezbollah contra Israel se justifica; o deputado do Respect (um partido político) de Bethnal Green (Londres) está connosco no nosso estúdio no centro de Londres. Boa noite… ou aliás, bom dia Sr. Galloway. Como é que justifica o seu apoio ao Hezbollah e ao seu líder, Cheikh Hassan Nasrallah? Deputado Galloway: Que disparate! Que absurdo! Que maneira tão estúpida de expor o assunto e que pergunta tão falsa e idiota! Há 24 anos, no dia do nascimento da minha filha – acabo de celebrar o seu 24º aniversário – corria eu para o hospital (para a ver nascer) por entre uma enorme manifestação em Londres contra a invasão e a ocupação israelense do Líbano. Israel invadiu e ocupou o Líbano durante toda a vida da minha filha de 24 anos. O Hezbollah faz parte da resistência nacional do Líbano e tenta expulsar – tendo afastado com sucesso a maioria dos israelenses das suas terras em 2000 – Israel do resto das suas terras e resgatar milhares de prisioneiros libaneses que foram sequestrados por Israel nos termos da sua ocupação ilegal do Líbano. É Israel que ocupa o Líbano, é Israel que ataca o Líbano, não é o Líbano que ataca Israel. Vocês acabam de passar uma reportagem em que 10 soldados se apressam a invadir o Líbano e pedem-nos para chorar o resultado da operação, como se se tratasse de um crime de guerra (NdT: os soldados israelenses são mortos). Israel está a invadir o Líbano e matou 30 vezes mais civis libaneses… Jornalista: (tentando interrompê-lo) Você acaba de identificar… Deputado Galloway: (tomando de novo a palavra com vigor) …que não foram mortos em Israel. Parece-me que deveria ser você a justificar o preconceito evidente que está escrito em todas as linhas do seu rosto e inscrito em todas as nuances da sua voz e que obstrui todas as perguntas que faz. Jornalista: Você tocou na questão essencial, não é assim? Quando diz que o Hezbollah foi criado nos anos 80 para se livrar dos soldados israelenses que estavam presentes no solo libanês, e como disse agora (NdT: ela faz questão de realçar) isso foi feito, também, já em 2000… Deputado Galloway: Não, isso não foi feito… Jornalista: (interrompendo) …Então, isso foi um fracasso… Deputado Galloway: Não, isso não foi feito, e esse é um aspecto essencial que vocês escondem aos vossos telespectadores. Israel foi obrigado a deixar uma grande parte do Sul do Líbano em 2000, mas continua a ocupar parte do Líbano desde 2000… Jornalista: (interrompendo) …O objecto de uma recente resolução da ONU são terras de cultivo… Deputado Galloway: (continuando) … Milhares de prisioneiros foram sequestrados por Israel, e o Hezbollah, bem como o Governo libanês querem que eles sejam libertados… Jornalista: (interrompendo) … Falei há instantes com o porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros israelense e ele disse que três libaneses foram “capturados”, talvez você prefira este termo, e que serão levados perante um juiz num tribunal. Deputado Galloway: Por favor! Tente fazer a sua memória recuar além de 4 semanas! Eu estou-lhe a falar de milhares de prisioneiros sequestrados durante os 18 anos de ocupação ilegal do Sul do Líbano por Israel. São esses prisioneiros que devem ser libertados em troca dos soldados israelenses que foram capturados no início desta nova etapa da crise. Jornalista: Posso questioná-lo sobre uma reportagem que saiu no Sunday Telegraph em que se afirma que o Irão deu ao Hezbollah mísseis de longo alcance capazes de atingir qualquer parte de Israel? O Irão, que segundo esse deputado iraniano, ajudou a fundar o Hezbollah… esse deputado disse ainda que o Irão deu autorização à organização para atingir Tel-Aviv… Acha que pode culpar Israel por querer destruir esses mísseis? Deputado Galloway: Mas é incrível! Isso é completamente absurdo! Os Estados Unidos deram a Israel mísseis que podem atingir, não apenas qualquer cidade do Líbano, mas sim qualquer cidade em todo o mundo árabe incluindo o Irão. Por que razão terão os Estados Unidos direito de dar mísseis de longo alcance, incluindo centenas de cabeças nucleares, a Israel, e o Irão não pode ser autorizado a fornecer mísseis? … Jornalista: (interrompendo) … Porque os estão a dar a uma organização terrorista! Deputado Galloway: Mas ela não é uma organização terrorista, a não ser na visão da SKY (News), do The Times, do The Sun (ele é interrompido) … Jornalista: Não, não, isso não é assim… Desculpe, mas vou ter de o interromper Sr. Galloway… Deputado Galloway: (ele continua) … do The News of the World de Rupert Murdoch. O Hezbollah não é uma organização terrorista, é Israel que é um Estado terrorista! Jornalista: É uma organização terrorista, sim. Mas aqueles que são terroristas para uns, são combatentes da liberdade para outros… isso já sabe! Aos olhos da maior parte das pessoas, eles são considerados terroristas… Deputado Galloway: Não. Eles não são! Jornalista: Eles tinham escolha, não é assim? Diga-se a verdade, eles tinham opção, tal como o IRA, de fazer política… Deputado Galloway: Não, não, não, isso não tem nada a ver com o IRA! Escute Ana, você tem razão, você tem razão… Jornalista: (interrompendo-o) O que eu estou a dizer é que eles tinham uma opção: fazer política, eles já têm dois ministros no Governo… Deputado Galloway: Não vamos mais discutir este assunto! Ana, você tem razão, aquele que é um terrorista para uns, é um combatente da paz para outros… No entanto, não tem razão quando diz que aos olhos da maior parte das pessoas, o Hezbollah é terrorista. Aos olhos da maior parte das pessoas, Israel é um Estado terrorista, e é isso que você não consegue compreender… e que está na origem do vosso preconceito urdido em todas as vossas reportagens e em todas as perguntas que me fez nesta entrevista. Jornalista: …Posso lhe fazer uma pergunta? … Eu fazia alusão ao IRA e ao Sinn Fein que decidiram abraçar a política; o Hezbollah tinha a oportunidade de abraçar a política, eles já têm dois ministros no Governo, muito bem vistos no Sul… Deputado Galloway: (ele interrompe-a) Mas o que é que está a dizer? Eles já fazem parte da política! São pessoas do Sul do Líbano… Jornalista: Era o que eu estava a dizer… Escute-me! Eu dizia que eles já têm dois ministros no Governo. Por que razão é que eles capturaram e mataram dois soldados israelenses na fronteira? Certamente isso representa um fracasso na ambição que eles têm de se tornarem uma força política no interior do Líbano democrático… Deputado Galloway: Porque Israel ocupa o país deles e detém milhares dos seus compatriotas, como reféns sequestrados, nos seus calabouços. É muito simples de compreender, a não ser que pense através de um relógio que remonta a apenas quatro semanas… Se você soubesse, e você já é suficientemente crescida para estar mais bem informada, que as origens destes conflitos não remontam a quatro semanas, nem a quatro anos, nem a catorze anos, mas a vários decénios. Vocês querem que as pessoas acreditem que a crise se iniciou quando o relógio começou a trabalhar na SKY News… Jornalista: Não, não é assim… Deputado Galloway: …Felizmente, os libaneses estão mais bem informados. Jornalista: Queria fazer-lhe uma última pergunta. Acha que as quatro semanas, como referiu, os 26 dias do conflito, retardaram as ambições do Hezbollah… Deputado Galloway: (Galloway sorri) O Hezbollah está prestes a ganhar a guerra! Jornalista: … Deixe-me terminar, deixe-me terminar, deixa-me terminar, ou não? Há um grande número de soldados irsraelenses na fronteira, e eles (o Hezbollah) pretendem ser uma boa organização política para construir um governo libanês democrático com uma (…) que deixou igualmente um estado independente, isso também perpetrou as agressões… Deputado Galloway: Que pergunta idiota! Como você é tola! O Hezbollah está prestes a ganhar a guerra! Pode ver isso na segunda metade do ecrã! Jornalista: Essa não é a minha pergunta! Deputado Galloway : O Hezbollah é hoje mais popular no Líbano entre os cristãos, os sunitas, os xiitas, entre todos os árabes, entre todos os muçulmanos, como nunca foi antes! Foi Israel que perdeu a guerra, e com ele, Bush e Blair, por terem organizado esta guerra politicamente. Eles perderam do ponto de vista político. Esta é uma derrota para Bush, para Blair e para Israel, só você é que não vê isso! Jornalista: Deixe-me retomar a minha pergunta de há pouco… não acha que é um fracasso, dado que o Hezbollah foi criado para retirar os soldados israelenses do território libanês, que agora ele tenha mais soldados israelenses no território libanês do que há vinte dias atrás? Deputado Galloway: Em todo o caso, parece-me que eles estão a receber uma boa sova sagrada na outra parte do ecrã que estou a ver. Talvez você não consiga ver, mas eu estou a ver que eles estão a ser bem fustigados nesta guerra… Se isso é uma vitória, não sei o que se pareceria com uma derrota… A verdade é que este conflito se vai perpetuar. As resoluções das Nações Unidas não regulamentam nada. Não dão nada ao Líbano, não dão nada aos prisioneiros das masmorras israelenses, e como um dos meus pares já chamou a atenção, Israel acaba de capturar ainda mais personalidades políticas palestinianas: ministros, deputados e milhares de outros continuam retidos nos calabouços israelenses, e esta guerra vai continuar até que se chegue a um acordo, e esse acordo significa a retirada de Israel de todos os territórios usurpados que ele ocupa actualmente desde a guerra de 1967, a libertação de todos os prisioneiros políticos, bem como um Estado palestiniano tendo por capital Jerusalém Este. Não há justiça, não há paz! Não ficará sem trabalho tão de pressa, enquanto jornalista, em Jerusalém, acredite! Jornalista : Como de costume, o Sr. Galloway provocou uma enorme reacção via e-mail, tanto a favor como contra si. Vamos acabar por aqui, mas devo dizer-lhe que muitas pessoas acharam as suas declarações chocantes, pois encontram-se ainda a enterrar os seus mortos, ouviram-no dizer que isto era uma boa fustigação sagrada… Deputado Galloway: Vocês estão-se nas tintas! Vocês querem lá saber disso! Vocês não sabem nada das famílias palestinas. Vocês nem sequer sabem que elas existem! Dê-me um único nome de um único membro daquela família de sete pessoas que foram massacradas na praia de Gaza por um navio de guerra israelense! Vocês nem os nomes delas sabem, mas sabem perfeitamente todos os nomes de cada soldado israelense que foi feito prisioneiro durante este conflito, porque acreditam, consciente ou inconscientemente, que o sangue israelense é mais importante do que o sangue dos libaneses ou dos palestinianos. É essa a verdade, mas o discernimento dos vossos telespectadores já o sabe.
Por Georges Galloway
entrevistado pela Sky NewsPor Georges Galloway
http://resistir.info/
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