quinta-feira, agosto 31, 2006

"N", a palavra impronunciável Recuperar as companhias de petróleo!

Nacionalizar a indústria petrolífera deveria ser a doutrina de qualquer movimento político progressista. A evidência do envolvimento da indústria na invasão do Iraque, assim como sua óbvia cumplicidade na corrupção do sistema político deveria proporcionar a prova exaustiva de que os gigantes do petróleo são um perigo claro e presente para a democracia e precisam ser colocados sob o controle do estado. Numa era de escassez de petróleo não podemos mais nos dar ao luxo de permitir que um punhado de plutocratas corporativos decidam o destino da economia global. Os capitães da indústria deliberadamente fecharam refinarias para reduzir a produção e aumentar os seus lucros. Eles despejaram enormes cargas de dinheiro dentro do sistema político para assegurar que o congresso e o executivo cumpram suas directivas. Actualmente, não há nem uma polegada de luz entre a sala da administração da Exxon e o número 1600 da Av. Pennsylvania. Eles operam a partir exactamente do mesmo roteiro. A indústria do petróleo é a beneficiária primária da guerra de Bush no Iraque. Os executivos da indústria tinham um lugar à mesa quando Dick Cheney cinzelou os campos de petróleo do Iraque para distribuição futura entre as elites corporativas da América. Requerimentos ao abrigo do Freedom of Information proporcionaram "documentos editados do Cheney Energy Policy group. Um destes era um mapa mostrando áreas de concessão (lease areas) onde estava planeada perfuração de petróleo (no Iraque). Um outro consistia numa lista de 40 companhias petrolíferas de 30 países que precisavam permitir permissão para furar no Iraque de Saddam Hussein. O problema para os EUA e a Grã-Bretanha era que as suas companhias de petróleo estavam ausentes desta lista dos que podiam obter concessões. Os EUA e o Reino Unidos ficariam então excluídos daquilo que era claramente um dos maiores prémios materiais da história mundial" ("The CFR Debates" Lawerence Shoup; Z Magazine March 2006) Isto explica porque a indústria apoiou um petroleiro espalhafatoso do Texas que não demonstrava interesse pela política nem aptidão para a liderança. Bush tornou-se o cavalo de Tróia para executar uma agenda que substituiria as reservas sauditas em diminuição pelas segundas maiores reservas do mundo, e ao mesmo tempo, convenientemente, removeria a França e a Rússia da lista dos competidores. Mais de 2400 soldados e 100 mil iraquianos sacrificaram suas vidas no altar da especulação corporativa. Bush espalhou sua guerra da energia através da Ásia Central e do Médio Orientou, aumentando em quatro vezes os incidentes de terrorismo . A classe média americana está a ser esmagada pelos preços em ascensão da gasolina e pelas malfeitorias do governo enquanto prósperos magnatas do petróleo depositam nos bancos os maiores lucros da história. Não será tempo de repensarmos o sistema económico? Qualquer um que tenha observado os mercados de futuros sabe que o actual sistema está condenado. Hoje em dia, qualquer guerrilheiro insatisfeito pode, com uma Kalashnikov, tomar um oleoduto e remeter os preços do petróleo para o céu. Bush apenas agravou este problema com a preparação de combate em relação ao Irão. Sua retórica provocou uma erosão da confiança no mercado e pôs os preços nas estações de serviço em ascensão. E isto é apenas o princípio. A administração está determinada a levar a guerra a todo o lugar onde possa ser obtido petróleo, incitando uma resistência global que poderia persistir ao longo do século. Isto parece ser a guerra que Bush e Cheney ambicionam, embora seus objectivos sejam habilmente escondidos por trás da fachada da guerra ao terror. Como pode o mercado sobreviver a este tipo de volatilidade, especialmente quando o Tio Sam está a criar milhares de novos terroristas com toda invasão equivocada? O novo relatório do Departamento de Estado confirma que a resistência à política externa da América está a aumentar a violência exponencialmente. O neoliberalismo "esmaga e captura" de Bush está a transformar o mundo numa zona de fogo-livre colocando vidas e recursos vitais em risco. O sistema está irremediavelmente quebrado e precisa "democratizar-se" de modo a que a energia possa ser distribuída mais igualitariamente de acordo com a necessidades básicas de cada um. Se todos precisam ter acesso à energia para manter um padrão de vida mínimo, então deveríamos reconhecer o petróleo como um direito humano básico tal como a água e a alimentação. Deveria haver organismos regulamentadores para assegurar que a distribuição fosse equitativa e não concedida arbitrariamente aos lances mais elevados. Não há nenhum modo de o sistema actual poder fazer este ajustamento quando a disponibilidade de energia barata está rapidamente a desaparecer. Estamos a enfrentar um futuro de abastecimentos declinantes e procuras crescentes. Podemos tanto cooperar a um nível nacional e internacional, criando as instituições apropriadas para uma distribuição justa, ou continuar com o "modelo Bush" de intervenção militar e confusão implacável. A crença em que a "mão invisível" do mercado irá guiar-nos seguramente para a outra margem não tem sentido. Não existe "mercado livre" no negócio do petróleo; isto é um mito completo. A extracção de petróleo no Iraque é conduzida a ponta de armas, a forma final de coerção. Cada barril que deixa o país foi roubado por meio da força militar. Será esta nossa visão do futuro ou será possível a cooperação? A principal fonte de energia do mundo não deveria ser confiada a oligarcas corporativos cujo único interesse é se encherem de dinheiro. Os recursos do mundo não são a província única do "lance mais alto". Precisamos de uma abordagem inteiramente nova para a política da energia; uma visão que previna abastecimentos minguantes, conservação, e a ameaça da mudança climática. O caminho pela frente não tem de estar coberto com os cadáveres dos que combatem para defender seus países da exploração. Há um outro caminho. É possível para os povos e as nações trabalharem em conjunto pelo bem comum. E, afinal de contas, precisamos apenas olhar para o Iraque, Afeganistão e Nigéria para ver a lúgubre alternativa.
Mike Whitney
http://resistir.info/

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