domingo, setembro 24, 2006

Bagdade e as "info guerras" (II)

Na primeira parte desta entrevista, o Capitão Eric May, um antigo oficial do Exército dos EUA, deu-nos uma visão daquilo que ele considera ser um dos mais manhosos encobrimentos de todos os tempos: a Batalha de Bagdade, principalmente a batalha pelo aeroporto. Também referiu que estamos, neste momento, num processo de condução de uma "info guerra", que irá eventualmente alterar o modo como os principais meios de comunicação podem ser manipulados, pelo governo dos EUA. O artigo de hoje entra em mais detalhe sobre os pontos focados pelo Capitão May, na primeira parte da entrevista. ML: Explique detalhadamente, por favor, aquilo que entende por "info guerra" e em que tipo de campo de batalha irá ela ser travada. CM: É óbvio que estamos numa "info guerra". Quando Eisenhower avisou sobre o complexo militar/industrial, podia ter dito, em termos orwellianos, o complexo militar/industrial/media. As "info guerras" são produzidas por coisas como a manipulação da captura de Saddam. Lembro-me de várias companhias de comunicação resmungarem, porque a história contada pela administração dos EUA estava a cair por terra. Em todas as histórias que discutimos, a informação foi manipulada. Se ouvirem o Rumsfeld, ele diz sempre, "Nós precisamos vencer a guerra da propaganda e também a guerra informativa". Guerra informativa não é mais do que "info guerra". No entanto, ninguém quer admitir que está a decorrer uma "info guerra", pois desse modo, torna-se claro que temos aqui uma situação de deslealdade. ML: Como é que pode ser encoberto o número de baixas dos EUA, na Batalha de Bagdade? Como é que poderiam fazer desaparecer quatro ou cinco centenas de soldados? CM: Esse constituiu o primeiro nível da minha investigação sobre a Batalha de Bagdade. Depois de assistir à CNN a 4 de Abril de 2003, eu passei um par de semanas a fazer análise televisiva. Depois, decidi que iria a Fort Stewart, na Georgia, onde é a base da Terceira de Infantaria e do 3/7 de Cavalaria. Quando lá cheguei, confirmei imediatamente a existência da Batalha de Bagdade, com o capelão, que também me disse que a Constituição está no tanque de guerra. Estavam a encobrir o que queriam. Controlam o que as pessoas sentem, vêm e fazem. Apercebi-me também que decorria um encobrimento na base militar. No final do Verão, soube-se que as viúvas estavam a sentir-se incomodadas e foram-lhes dados cocktails de fármacos psicotrópicos. Havia um bloqueio às notícias. Quando eles (Terceira Divisão de Infantaria) finalmente voltaram, vieram numa espécie de comboio da meia-noite. Havia muitos mais feridos do que os que o hospital conseguia acomodar. Dormiam em campo aberto. A razão para isso, acredito eu, era manter todos os que tinham estado na Batalha de Bagdade, no mesmo quartel, para conseguirem controlar toda a informação. Entre os sobreviventes e seus próximos, havia uma tentativa de forçar o silêncio. Eu costumo dizer que foram amordaçados e drogados. Em Janeiro de 2004, consegui que uma jornalista "freelance", vinda de Nova Iorque, me viesse ajudar a completar a história. Ela descobriu que houve cerca de 100 visitas "pela porta das traseiras", o que significa que o oficial responsável por comunicar as baixas, aparecia e informava a viúva do que tinha acontecido. Estavam a pegar nas mulheres e tirá-las da cidade, a partir do quartel. Calculou que houvessem cerca de 100 viúvas de guerra: É sabido que um em cada três soldados, é casado. Isso batia certo com o que eu imaginava: entre 300 e 500 mortos em combate. Pouco tempo depois de ela começar a investigação, foi ameaçada de morte. Talvez tenhamos 500 baixas. Parece uma enorme quantidade. O que acontece é que temos 500 caixões a irem para 500 diferentes estações de comboio, em 500 diferentes cidades e pequenas vilas. Ninguém envia um cartão a dizer que há mais 499. Quem recebe um, sabe que tem um militar morto. Mas ninguém pensa que o seu militar é apenas uma parte de uma grande batalha. É o elefante da verdade. Cada pessoa tem uma sensação. Toda a gente recebe um pedaço do elefante, sem perceber que é uma parte de um grande animal. Esconder a contagem de mortos não é nada difícil de fazer. O que é preciso é não relatar que houve uma grande batalha. Fizeram o mesmo na batalha de Fallujah, ambas foram encobertas. É fácil de perceber o que aconteceu em Fallujah. O mesmo que na Batalha de Bagdade. O que disseram às pessoas não teve nada a ver com a carnificina que estava a acontecer. Pararam a contagem de mortos dos EUA. Não é possível ter combates urbanos, rua-a-rua, e ter apenas dois mortos por dia. As coisas não se passam assim. Houve grandes operações militares em Fallujah. ML: Se George Bush declarou a vitória a 1 de Maio de 2003, porque é que ainda há combates em Bagdade? CM: Uma coisa que temos de perceber é que está a decorrer, neste momento, uma Batalha de Bagdade. Está a ser encoberta. Está escondida por baixo da história maior, que é a guerra israelense no Líbano. Como um exemplo do que acontece quando se transmite propaganda em vez da história, a verdade perde-se. Disseram ao público americano que tínhamos conquistado Bagdade de uma forma mais fácil do que realmente tinha acontecido, como se fosse uma simples caminhada, mas na realidade não foi. Agora o público americano foi enganado. É como um truque de magia: quando seguimos o mágico, ficamos perdidos. O mágico tem controlo sobre nós. Os media são um truque de magia. Aquela televisão é uma caixa, e a artimanha que sai dela, diz-nos que estamos a reforçar as tropas em redor de Bagdade, de forma a reconquistarmos a cidade. A gritante questão deveria ser, "Que diabo! Quer dizer que perdemos Bagdade?". Temos estado a perder Bagdade desde que lá chegamos. ML: Falou com algum iraquiano, participante na Batalha de Bagdade? CM: Um par de jornalistas que esteve em Bagdade falou devidamente com pessoas que regressavam da batalha. A coisa mais extrema que ouvi foi que a Batalha de Bagdade começou no aeroporto, com as forças dos EUA e serem esmagadas. Terá sido uma troca de fogo de seis horas, a curta distância, e a minha ideia é que o nosso lado começou a ficar sem munições e alguém decidiu passar ao nuclear. Isto parece ser universalmente aceite por toda a gente, excepto pelos americanos. Evidentemente, o que se passou foi que os militares dos EUA se abrigaram nas suas protecções, que impedem a transmissão de radiação, e foi usado algum tipo de armamento nuclear no aeroporto de Bagdade. Desde aí, a doutrina norte-americana em termos de batalhas, foi revista, para permitir aos comandantes fazer exactamente aquele tipo de coisas, que eu tenho deduzido a partir das minhas fontes, terem sido feitas no aeroporto de Bagdade. Por outras palavras, reajustaram retroactivamente a sua doutrina. De qualquer forma, a questão nuclear é uma coisa bastante peculiar, nesta guerra. Já passamos a usar o urânio empobrecido. Isso, de algum modo, torna esta, uma guerra nuclear. Claro que se percebe porque é que a Batalha de Bagdade tinha de ser encoberta. Como é que se vai para uma guerra a dizer que vamos remover um perigoso louco, porque ele tem armas de destruição em massa, e nós próprios as levamos? ML: Na sua opinião, os EUA fizeram algo de positivo ao derrubar Saddam Hussein e o seu governo? CM: Se se lembra do primeiro ano da guerra, os comentadores diziam aos que eram contra, "Afinal, o que está a dizer? Está a querer dizer que eles estariam melhor se o Saddam estivesse no poder?". Isso era algo que calava qualquer um, porque um ano depois, ainda toda a gente acreditava no mito de que nós libertámos os iraquianos. Neste momento, a razão por que já não perguntam isso, é que já ficou bem transparente a qualquer um, excepto a um clone Republicano, que eles estavam muito melhor quando o Saddam estava no poder. ML: Pensa que, algum dia, a verdade chegará aos media de referência, sobre a Batalha de Bagdade? CM: Os media de referência parecem ser irrelevantes. Condenaram-se a si mesmos. Fazem parte de um pacto Faustiano quando se colocam por trás de uma guerra que é sobre petróleo e Israel. Eles concordaram tornar-se agentes infiltrados. O que pode ser mais vergonhoso do que um infiltrado? Não são media que forneçam informação relevante. São uma operação de propaganda que fornece racionalização. É isto que nos leva ao termo "info guerra". Agora, a informação relevante e importante vem daquilo a que poderíamos chamar, "media clandestinos". Chamem-lhes media alternativos ou o que quiserem. O que significa é que dois rapazes, como eu e tu, que ambos temos capacidade para estar em qualquer um dos programas televisivos, a falar do que estamos a falar, não podemos ir à televisão deles, por isso, fazemo-lo através deste meio alternativo. As melhores entrevistas que se podem fazer estão disponíveis fora do sistema dos grandes meios de comunicação. O talento mostrado, pelas pessoas que não estão ligadas a esse sistema, para fazerem um trabalho de qualidade, indica que o sistema irá inevitavelmente falir. Eu comparo com a hierarquia católica, depois da criação da máquina de impressão. A Internet, para nós, tornou-se na nossa máquina de impressão da "info guerra". A informação não pode ser totalmente controlada. Se tu dizes. "Eu sou o guardião e vou fechar esta grande porta", a Internet faz com que a informação deslize pelas suas frinchas. Aquilo a que chamamos media, eu chamo colaboracionistas. Todos os colaboracionistas, ao longo da história, tiveram a mesma sorte. Eles perderam toda a reputação e dignidade, depois da vitória do lado certo. Só nessa altura, quando os media forem expostos, é que a verdadeira história do Iraque será escrita. Estás a escrever uma agora. Eventualmente, surgirá o reconhecimento da Batalha de Bagdade e da Batalha de Fallujah. Estes assuntos estão a ser abafados neste momento, porque a muito frágil "Liga Bush" ainda tem controlo sobre os igualmente frágeis, media infiltrados. Isso não pode durar muito.

Malcom Lagauche
http://resistir.info/

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