quinta-feira, setembro 21, 2006

Editores pró-Israel até mesmo na Al-Jazeera!

Acerca da influência sionista na Al-Jazeera International e na Al-Jazeera/English.net. Por outras palavras: "Matam os palestinos e matam a notícia da matança".
Quando a televisão pan-árabe por satélite da Al-Jazeera, com sede no Qatar, anunciou dois anos atrás planos para lançar a Al-Jazeera International (AJI), em inglês, muitas pessoas por todo o mundo esperaram que o novo canal por satélite proporcionaria uma alternativa genuína aos notoriamente enviesados media ocidentais, os quais muitas vezes operam sob uma certa influência sionista. O novo canal, cujo lançamento foi adiado várias vezes por muitas razões, proporcionará tanto a perspectiva regional como global para uma audiência potencial de centenas de milhões de falantes do inglês. O AJI é o primeiro canal de notícias do mundo em língua inglesa a ter sede no Médio Oriente, com a gestão do noticiário a rodar em torno de centro de difusão em Atenas, Doha, Londres, Washington DC e Kuala Lumpur. O AJI já atraiu um certo número de notáveis no mundo da TV, incluindo pessoas como Sir David Frost e Riz Khan. Contudo, parece que o desapontamento pode estar à espera de muitos daqueles que esperavam um canal mundial de TV que fosse razoável e objectivo e especialmente livre da habitual visão do mundo anglo-americano (e israelense). De facto, há ominosos sinais a mostrar que simpatizantes pró-israelenses, alguns deles com antecedentes na BBC, já estão a tentar controlar as políticas editoriais do novo canal, sempre sob o pretexto do profissionalismo e dos padrões jornalísticos. Este redactor, que tem estado a trabalhar para a aljazeera.net/English (a qual foi agora incorporada à AJI) descobriu por acaso esforços de alguns editores superiores ocidentais do AJI para minimizar e evitar tanto quanto possível a publicação de artigos, especialmente notícias e histórias de reportagem, que retratassem Israel sob luz negativa e expusessem as práticas da ocupação israelense contra o povo palestino. Esta tendência tornou-se bastante evidente ultimamente. O Aljazeera.net/English, por exemplo, deixou de relatar importantes notícias de Israel tais como a admissão por um oficial militar de Israel de que a Força Aérea Israelense despejara mais de um milhão de micro-bombas de fragmentação (cluster bomblets) sobre o Líbano durante a recente guerra com o Hezbollah. Analogamente, uma matéria que citava Eifi Eitam, chefe de um partido israelense de extrema direita, a apelar à expulsão dos palestinos dos territórios ocupados, foi relegada sem ir ao ar, mesmo depois de a AJI ser notificada do assunto. Há dúzias, se não centenas, de exemplos semelhantes, todos a mostrarem que a AJI está ao par e deliberadamente evita a cobertura séria das dificuldades palestinas, especialmente e sua secção de reportagem na qual abundam toda espécie de notícias a cobrir vários, incluindo bizarros, assuntos e acontecimentos. No princípio deste ano, um dos editores pró-israelense desdenhosamente rejeitou uma reportagem de sentido humano sobre uma estudante palestina da Universidade Al-Najah, em Nablus, que perdeu o seu olho direito devido a uma bala de borracha israelense durante o seu trajecto do campus para casa. O editor senior, Vince Ryan, argumentou que o assunto não era uma prioridade e que posteriormente a aljazeera.net/English prepararia uma cobertura mais abrangente de casos semelhantes. A promessa da cobertura, naturalmente, nunca foi concretizada. Finalmente, graças a intensa argumentação deste redactor, o artigo, um dos melhores que já escrevi, foi publicado (ver "Rubber Bullets Menace West Bank, aljazeera.net/English") [a versão original e a versão mais forte da reportagem de Khalid estão publicadas aqui ]. Ryan aparentemente nunca perdoou a minha "audácia" como evidencia o seu comportamento posterior. Na terceira semana de Junho deste ano, submeti um artigo sobre crianças palestinas e menores mortos pelo exército israelense e grupos para-militares de colonos judeus. O artigo estava baseado em informação estatística divulgada pelo Ministério da Saúde palestino. Entretanto, ao invés de me agradecer pelo artigo, Ryan, mal viu o artigo, e sem lhe dar um segundo pensamento, escreveu-me que eu estava a mentir e que a informação contida no artigo era falsa. O seu tom vingativo e nervoso era contundente e o volume de voz também. Incapaz de argumentar com o homem, que a propósito nunca aceitou nem mesmo uma única proposta para um artigo de reportagem que ele considerasse como "anti-israelense" (propus-lhe numerosas ideias de notícias e peças de reportagem), voltei-me para Russel Merryman, Editor Chefe para a Web e serviços nos Novos Media na AJI, que é provavelmente o mais pró-israelense operacional na AJI de hoje. Contudo, ao invés de tratar o assunto profissionalmente, Merryman lançou uma arenga contra mim, acusando-me de falta de profissionalismo e de violar a ética profissional da al-Jazeera. Ele argumentou que empregar termos tais como "mártires", mesmo entre aspas, era não profissional (a maior parte dos media árabes empregam a palavra em relação aos palestinos mortos pelo exército israelense). É este mesmo homem que prontamente publica citações de porta-vozes do exército israelense e de líderes judeus caluniando os palestinos como "terroristas, assassinos e criminosos". Descobrindo que não tinha justificações contra mim, Merryman recorreu a tácticas diversionistas, acusando-me de criar confusão e agitação na aljazeera.net (a partir da Cisjordania — as autoridades israelense de ocupação proibiram-me mesmo de sair da Cisjordania). E após uma breve troca de emails ele disse-me que eu estava despedido. Já escrevi mais de 300 peças para a aljazeera.net/English, provavelmente mais do que qualquer outra pessoa, e nunca realmente encontrei qualquer problema com os anteriores editores da aljazeera.net. Na verdade, o próprio Merryman, quando começou a trabalhar com a aljazeera.net em 2005, louvou o meu profissionalismo e experiência como jornalista. Não sei com certeza porque Merryman comportou-se desse modo. É muito possível que ele tenha sido pressionado ou seduzido por algum dos seus amigos sionistas a garantir que artigos "anti-israelenses" seriam rejeitados. Mas tenho as minhas suspeitas, as quais estou certo de que serão justificadas um dia. Pode ser que ele quisesse fazer da cobertura AJI do conflito palestino-israelense uma cópia a papel químico daquela da BBC onde passou vários anos como produtor, apresentador e editor de notícias. Isto na verdade seria um desastre total. Foi devido à cobertura da BBC da ocupação israelense da Palestina, pelo menos em parte, que a maioria dos jovens britânicos chega a pensar que os palestinos eram "os colonos" e que os judeus eram as vítimas da "violência colonizadora palestina", como foi revelado num inquérito britânico de opinião uns poucos anos atrás. Sim, naturalmente, é importante ser neutro e imparcial quando se cobrem conflitos internacionais. Mas é ainda mais importante ser honesto quando se trata de conflitos assimétricos onde um lado é ocupado e oprimido e o outro é o ocupante e opressor. Finalmente, embora algo tardiamente, a administração da Al-Jazeera tornou-se consciente (não sei em que medida) do silencioso mas real lobby pro-israelense que estava a montar-se de modo tranquilo e firme dentro da AJI. Esta montagem tinha duas manifestações principais: neutralizar correspondentes palestinos de Israel e dos territórios palestinos ocupados e a confiança intensa nos relatos da agência de notícias americana, a Associated Press, encarada por muitos como agência de notícias de Israel. É desnecessário dizer que os relatos desta agência, cujos gabinetes em Jerusalém são dotados de pessoal extremamente pro-israelense, judeus americanos fanáticos, nunca perde uma oportunidade de recordar aos leitores que o Hamas foi uma organização palestina e que os combatentes da resistência palestina eram realmente terroristas. A AP nunca recorda a máxima eterna que o terrorista de alguém é o combatente da liberdade de outro e que o próprio Israel também é encarado por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo como um estado terrorista por excelência. Procurando rectificar a situação antes de ser demasiado tarde, administradores de topo da Al-Jazeera nomearam Ibrahim Hilal, um jornalista egípcio capaz, para garantir que a AJI não se afastasse demasiado das políticas do canal mãe em língua árabe. Hilal, sob instruções do administrador-geral da Al-Jazeera, Waddah Khanfar, pediu a Merryman para reinstalar-me como correspondente na Palestina. Merryman cumpriu, mas a contra-gosto. Em 18 de Julho Merryman enviou-me uma mensagem concisa e condescendente a exigir que eu lhe pedisse desculpas (não sei do que) e a advertir que o meu desempenho seria monitorado com atenção. Ele disse que me encarregaria de escrever algumas peças, mas que ele e apenas ele decidiria quando e como. Na realidade ele nunca me pediu para escrever uma única peça, apesar das numerosas notícias dignas de nota que se verificam na Palestina. Propus-lhe que eu preparasse algumas reportagens sobre a situação em Gaza, a luta pelo poder entre o Hamas e o Fatah e como Israel estava a impedir palestinos de terem acesso a alimentos e trabalho. Ele nem mesmo respondeu a estas mensagens. Na semana passada Merryman decidiu mudar todas as regras que regem as políticas editoriais do aljazeera.net/English. As novas regras garantem que "estórias indesejáveis", como reportagens que expõem a brutalidade e o racismo israelense contra os palestinos ou aquelas que retratam Israel como uma entidade assemelhada aos nazis, não teriam abrigo no aljazeera.net. Merryman de facto já pôs esta política em prática. Durante os últimos três ou quatro meses nem uma única reportagem acerca da perseguição israelense aos palestinos, a qual ultimamente assumiu proporções quase genocidas, apareceu no sítio web em inglês da Al-Jazeera. Isto acontece enquanto no sítio abunda toda espécie de reportagens acerca das vítimas do Katrina e assuntos estranhos semelhantes. Merryman afirma que recebeu autorização plena do director geral da Al-Jazeera, Waddah Khanfar, garantindo-lhe autoridade plena para decidir o que é publicado no sítio web em inglês da Al-Jazeera. Tenho tentado comunicar minhas preocupações acerca desta grave tendência que agora permeia por toda a AJI a responsáveis de topo da Al-Jazeera, alguns dos quais manifestaram abertamente sua frustração e exasperação quanto a isso. Um responsável deu-me a entender que "Merryman vê com absoluto desprezo o modo como o canal em árabe é dirigido". Um outro disse-me que "este homem e os seus amigos querem tornar a Al-Jazeera numa outra Fox News ou mesmo num outro Jerusalem Post ". Este último é o principal jornal em inglês da extrema direita de Israel, que muitos liberais consideram como um porta-voz dos colonos judeus. Estou certo de que este artigo assinará o meu afastamento da Al-Jazeera. Contudo, estou disposto a sacrificar os meus próprios interesses pessoais e a perder o grosso dos meus rendimentos na esperança de que os responsáveis da Al-Jazeera, particularmente o presidente Hamad bin Thamer al-Thani e o Director Administrador Waddah Khanfar venham a abrir os seus olhos e a garantir que a Al-Jazeera International não se torne uma nova arma nas mãos dos inimigos dos árabes e dos muçulmanos. Pelo amor de Deus, não os deixem sequestrar a Al-Jazeera sob o disfarce da ética jornalística.
Khalid Amayreh
http://resistir.info/

Sem comentários: