terça-feira, setembro 26, 2006

O impacto da agressão israelense na agricultura libanesa

O Comité dos Engenheiros do Partido Comunista Libanês efectuou em 30 de Agosto uma conferência de imprensa sobre "O Impacto da agressão israelense na agricultura e as medidas a tomar", com a presença dos representantes do Ministério da Agricultura do Líbano, da Ordem dos Engenheiros e dos responsáveis pelo Rio Litani. O engenheiro agrónomo Fakhr Dakroub, ex-perito do "Plano Verde", apresentou um estudo baseado nos relatórios feitos por vários engenheiros agrónomos após uma investigação no terreno. Apresentamos aqui uma vista exaustiva deste estudo feita sob o título: "Primeira avaliação das perdas causadas pela agressão israelense contra o Líbano / 12 de Julho - 14 de Agosto de 2006". As perdas devidas à agressão conduzida por Israel contra a agricultura no Líbano são enormes e catastróficas, tanto no plano da agricultura como no plano da produção animal (ovinos, bovinos, aves e produtos leiteiros). Elas ultrapassaram de longe aquelas provocadas pela agressão de 1982 e resultaram numa regressão, quantitativa e qualitativa, da produção que podemos resumir como se segue:
I. As perdas directas O período no qual a agressão teve lugar é de produção máxima no plano agrícola. Eis porque as perdas verificaram-se sobretudo nos campos cultivados, que os agricultores ficaram impossibilitados de encaminhar aos mercados. Por outro lado, os produtos colhidos deterioraram-se, seja porque as câmaras frigoríficas foram bombardeadas seja devido aos cortes de corrente ou, ainda, porque as estradas e as pontes destruídas não permitiram o encaminhamento dos géneros nem para os mercados internos vem para o exterior. Podemos apresentar uma avaliação, quase final, das perdas directas neste sector muito importante para a maioria dos libaneses: 1. As árvores frutíferas:
 Toda a produção de bananas neste ano e no ano seguinte deteriorou-se numa superfície de mais de 3000 hectares. A causa foram os bombardeamentos das canalizações de água (particulares e publicas) em Kasmieh-Ras al Aïn.
 As laranjas tipo "Valência" sofreram perdas de 30 mil toneladas e os limões uma perda de 20 mil toneladas.
 As batatas no sector montanhoso, cuja recolha começa no começo de Setembro, sofreram perdas essenciais porque as operações agrícolas que deviam ser feitas no mês de Julho, sobretudo a irrigação, eram impossíveis. Isto vai influenciar a qualidade, assim como a quantidade, da produção e, em consequência, as possibilidades de exportar este género essencial.
 A viticultura cultivada nas regiões das planícies, cuja recolha geralmente começa no fim de Julho - princípio de Agosto, está totalmente deteriorada (cerca de 3000 toneladas). Quanto à viticultura tardia, ela sofreu grandes danos, sobretudo nas regiões da Békaa do Centro e do Oeste.
 A catástrofe mais drástica afectou as pêras, os pêssegos e as ameixas que os agricultores não puderam colher, sobretudo após o massacre da aldeia d0Al-Qaa, na Békaa Norte. As perdas neste sector elevam-se a mais de 8000 toneladas para as peras (e outro tanto para as ameixas) e 16 mil toneladas para os pêssegos. 2. As tuberosas (batatas, alho, cebola): A batata estava prestes a ser recolhida na Békaa. O atraso, devido aos raidas da aviação israelense, pôs fim a mais de 95 mil toneladas. Da mesma forma, a produção das cebolas foi destruída pela metade. 3. As culturas industrializadas: A beterraba, e sobretudo o tabaco, sofreram perdas pesadas, sobretudo nas regiões bombardeadas da Békaa, de Nabatieh e do Sul (umas 15 mil toneladas de folhas de tabaco). 4. As flores e as plantas de interior: Quase toda a colheita está prejudicada. 5. As culturas em estufas: Os desgastes foram directos (bombardeamentos) e indirectos (cortes de água e impossibilidade de fazer os serviços necessários à manutenção). 6. As cocurbitáceas: Mais de 800 hectares de melancias, 200 hectares de melões e 500 hectares de pepinos e tomates foram destruídos. 7. As gramíneas e os legumes: Foram inteiramente destruídas, sobretudo no Sul (mais de 30 mil hectares). II. As perdas indirectas Elas têm várias causas e podem estender-se durante dois ou mais anos:
 A ausência de luta contra os micróbios e a deterioração de uma certa parte das culturas no interior do próprio solo.
 A impossibilidade de proceder à fertilização ou ainda à eliminação de ervas daninhas e ao cultivo do solo.
 A ausência da irrigação, sobretudo nos campos de bananeiras e nas estufas, e a destruição dos canais de irrigação.
 O envenenamento do solo pelas bombas de fósforo e pelas bombas contendo produtos químicos, e fala-se mesmo de urânio.
 O encerramento das fábricas de produtos alimentares, seja devido aos bombardeamentos ou à partida de uma parte da mão-de-obra.
 A destruição das câmaras frigoríficas pelos aviões israelenses.
 A destruição das bombas de água, dos poços artesianos, dos milhares de tractores e camiões. Estas perdas não podem ser realmente contabilizadas senão dentro de uma ou duas semanas. III. As perdas do sector de produção animal
 Mais de 6000 cabeças de bovinos pereceram nas regiões de Nabatieh, do Sul e da Békaa do Centro (avaliadas em cerca de 10 milhões de dólares).
 Mais de 15 milhões de perdas no sector das aves (destruição das quintas, morte das aves, perdas de produtos e de máquinas).
 No sector da pesca, conta-se a perda de mais de 650 barcos, 6000 filetes. Sem esquecer a poluição, devido ao bombardeamento dos reservatórios de fuel oil da central termoeléctrica de Jieh que fez com que o seu conteúdo vertesse para o mar, ou a destruição das instalações piscícolas (trutas e outros peixes de água doce) na ribeira de Oronte, no norte do país. IV. Os canais de irrigação da bacia do Rio Litani e dos outros rios Todo o projecto de irrigação de Kasmieh foi destruído, assim como aquele de Qarawn, na Békaa Oeste, e as bombas destas duas instalações. A estimativa das perdas eleva-se a 23 milhões de dólares. V. As perdas As primeiras estimativas daquilo que foi recenseado até o momento pelos engenheiros do PCL dão os seguintes resultados (que também comparámos com aqueles obtidos pelo Ministério da Agricultura e pela "Federação dos Agricultores de Citrinos e de Árvores Frutíferas do Sul do Líbano"):
Quanto às perdas indirectas: Elas são avaliadas em cerca de 150 milhões de dólares, que aumentam a cada dia devido ao bloqueio imposto ao Líbano pelos israelenses. VI. As medidas a tomar 1. Criar uma caixa para proteger a produção agrícola das consequências das catástrofes naturais e das guerras. O PCL havia, há mais de 40 anos, incluído esta medida no seu programa agrícola, após o terceiro congresso. 2. Implementar uma mudança temporária no calendário agrícola com os países árabes. Finalidade: proteger a produção agrícola libanesa, por um lado, e, por outro, pedir a certos países árabes (Arábia Saudita e os países do Golfo arábico, a Síria e a Jordânia) que facilitem a entrada dos produtos libaneses como uma das formas de ajuda e de assistência ao Líbano. 3. Pedir aos bancos e às sociedades agrícolas que atrasem por pelo menos um ano, e sem a exigência de qualquer juro, as dívidas dos agricultores 4. Compensar os agricultores, em espécie e em natureza, conforme os domínios e na base de factures reais, a fim de dar a cada um aquilo que lhe compete. 5. Por em suspenso as cláusulas referentes ao acordo agrícola árabe, ao partenariato com a Europa e os acordos internacionais. 6. Preparar uma conferência visando salvar o sector agrícola libanês, mas também para lhe dar um novo impulso, sob o patrocínio do Estado e com a participação de todos os intervenientes. 7. Abrir a Segurança Social aos agricultores e criar uma empresa visando garanti-los contra as catástrofes naturais e os perigos militares. 8. Criar mercados em todos os lugares principais dos cantões e das regiões.
Fakhr Dakroub
http://resistir.info/

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