terça-feira, setembro 26, 2006

Petróleo: Subestimando a procura, superestimando a oferta

No fim de Agosto de cada ano, a Agência Internacional de Energia (IEA) actualiza os relatórios dos 15 anos anteriores com todas as últimas revisões. Não tive tempo para conferir e verificar quão grandes foram algumas revisões. O que me impressionou foram as mudanças em curso tanto na procura (a qual sempre foi encarada com uma grande dose de cepticismo, considerando-se serem improváveis novos crescimentos de qualquer magnitude) como na oferta não-OPEP a qual tem sido projectada para ascender no 4º trimestre do ano seguinte durante os últimos 15 anos. Em retrospectiva, o melhor meio de examinar as questões chave fundamentais é olhar cuidadosamente para as mudanças na oferta e procura global, e de onde vieram elas. Entre 1991 e 2005, a procura global por petróleo cresceu 16,5 milhões de barris/dia (mi. b/d). O mais espantoso é que a procura não-OPEP cresceu de 58,9 mi. b/d em 1991 para 79,8 mi. b/d em 2005. Por outras palavras, além do colapso não previsto da antiga União Soviética, a procura de petróleo do resto do mundo cresceu em 20,9 mi. b/d em apenas 14 anos (35%, 2,5% por ano) em contraposição às projecções de muitos sábios do petróleo de que o crescimento da procura certamente enfraqueceria. Nesse meio tempo, a oferta de petróleo não-OPEP, fora da antiga URSS, cresceu nestes mesmos 14 anos, mas apenas uns modestos 6,7 mi. b/d, de 31 para 37,7 mi. b/d. Isto é menos do que 0,5 mi. b/d. Demasiadas regiões importantes atingiram o pico e entraram em declínio. Se a antiga URSS não tivesse sido capaz de crescer de 10,4 para 11,6 mi. b/d e a OPEP de crescer de 25,6 para 34,2 mi. b/d, a economia mundial provavelmente teria estado em águas muito quentes. Olhando para a frente, se o crescimento da antiga URSS é modesto e o crescimento da OPEP verifica-se apenas num punhado de países, e é compensado pelos declínios — na Indonésia, na Venezuela, possivelmente na Nigéria, no Iraque, possivelmente no Irão e talvez na Arábia Saudita — será impossível tolerar quaisquer saltos significativos na procura, e certamente nenhum da magnitude daqueles que se verificaram nos últimos 14 anos. O mundo do petróleo transformou-se de um modo muito diferente daquele que os peritos da EIA, IEA, CERA, BP, EXXON e todos os outros pensaram. Tudo o que alguém precisa fazer é identificar estas grandes tendências do passado e fazer uma pequena quantidade de trabalho de casa para avaliar os números a fim de identificar as tendências chave. Tudo isto seria académico para o mundo se não estivéssemos a tratar de petróleo, o maior e o mais crítico recurso energético mundial. Como nós arrebentámos com o futuro será o assunto de muitos livros ao longo das próximas décadas!

Mais dados sobre a oferta e a procura (pelos editores da Peak Oil Review )
Uma vez que Matt Simmons sugeriu olhar para as tendências do passado quanto à oferta e à procura, aqui está uma retrospectiva de 10 anos dos maiores ganhadores e perdedores na oferta global de petróleo. Também anexamos as tendências de consumo interno destes mesmos países. O que nos contam os dados:
 O ganho na oferta total da Rússia e da China foi compensado pelo consumo interno acrescido daqueles dois países. No essencial, o ganho da Rússia foi engolido pela China. Note-se que o consumo interno da Rússia está a ganhar terreno mais rapidamente do que os números dos últimos 10 anos indicariam.
 Os 10 países com maiores declínios duplicaram o impacto daqueles declínios pelos aumentos dos seus consumos internos num montante igual ao do seu declínio.
 Um dos ganhadores, o Iraque, seria uma aposta muito questionável [tentar] repetir o seu ganho, o qual reflectiu a transição do Iraque de exportador sob embargo em 1995 para exportador dilacerado pela guerra hoje.
 Dois dos principais países em declínio na última década — a Colômbia e a Austrália — caíram 0,5 milhão de b/d adicionais após os seus picos (em 1999 e 2001, respectivamente). Assim, a soma relativamente modesta desta comparação de 1995 para 2005 esconde as suas estórias verdadeiras de esgotamento.
 Notámos que durante a próxima década pelo menos três dos Grandes Ganhadores da década passada — Rússia, México e China — atingirão o pico petrolífero e entrarão em declínio. Isso é projectado por muitos analistas (inclusive as próprias agências destes países). Possuídos por conflitos políticos, o Iraque e a Nigéria são incógnitas. Serão os cinco jogadores remanescentes — Arábia Saudita, Casaquistão, Canadá, Brasil e Catar — capazes de gerar grandes aumentos durante a próxima década?
Matthew Simmons
http://resistir.info/

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