sexta-feira, novembro 24, 2006

Preparar-se-ão novas violências com a "iniciativa do Fitr"?

Desde que presidente da Câmara, Nabih Berri, lançou "a iniciativa do Fitr" [1] , apelando a novas consultas entre a maioria harirista e a oposição dirigida por Aun e pelo Hezbollah, os comentários sobre as consequências do fracasso duma tal iniciativa sucedem-se rapidamente. Estes comentários baseiam-se na verdade, segundo a qual os novos desenvolvimentos na região, especialmente no Iraque e na Palestina, não podem deixar de se repercutir na situação, já de si instável, do Líbano. País que vive as consequências da dramática agressão levada a cabo pelas tropas israelenses mas também as da vitória do Hezbollah contra essas mesmas tropas assim como contra os Estados Unidos, verdadeiros instigadores da agressão. Eis porque a ordem do dia destas consultas tem feito correr muita tinta e tem suscitado comentários quotidianos da parte de todos os partidos da classe política libanesa, tanto no poder como na oposição… Sem esquecer as capitais das grandes potências e dos países árabes visitadas por delegações que tentaram atrair a benevolência de tal ou tal governo para com reclamações tais como, para uns, a necessidade de mudar de presidente da república, para outros, alargar o governo a fim de recuperar a terça parte que garanta a sua participação nos assuntos de Estado. E eis porque o fracasso destas consultas e a demissão dos ministros xiitas levaram os libaneses a perguntar-se se a crise política iria agravar-se e transformar-se em confrontos violentos entre os dois partidos constituídos em 2004, no seguimento da resolução 1559 do Conselho de Segurança, e separados de novo pela resolução 1701, a qual permite, com todas as facilidades, a violação da soberania libanesa pelas tropas israelenses. De mais a mais, porque os protestos da Finul não deram em nada, tanto no plano da retirada israelense da aldeia de Al-Ghajar como no das "passeatas" da aviação israelense sobre o território nacional libanês. Entretanto, George W. Bush e a sua equipa continuam as suas ameaças e navios de guerra americanos continuam a reunir-se, não só nas bases disseminadas por todo o Mediterrâneo, mas também diante do litoral libanês. E, ao mesmo tempo que o tom sobe e que os "beligerantes" ameaçam-se mutuamente esperando as decisões da reunião governamental encarregada de estudar o projecto do "tribunal internacional" para tratar do caso do assassínio do ex-primeiro ministro Rafic Hariri, os cenários multiplicam-se, ao som de tambores chamando a ajuntamentos próximos nas grandes praças do centro de Beirute. Cenários esses:
A criação dum novo governo segundo "novos critérios" ainda por precisar.
A aprovação do projecto dum tribunal internacional sem ter em conta a demissão dos ministros xiitas em representação do movimento Amal, presidido por Berri, e do Hezbollah.
Um movimento de greves, e sobretudo, de manifestações da parte da oposição, até à demissão de Fuad Saniura e do seu governo.
O regresso à mesa de negociações a partir de quarta-feira, data do regresso de Nabih Berri da sua viagem ao Irão, para estudar as possibilidades dum consenso que resolveria ao mesmo tempo os problemas do governo e da presidências da república e que poria um ponto final no esquema duma nova lei eleitoral.
Estes cenários continuam no entanto bastante vazios, sobretudo visto que as verdadeiras causas da crise latente não são evocadas: o regime político baseado em quotas confessionais e que fazem das grandes confissões políticas do país entidades autónomas, Estados no seio do Estado. Isto faz que todas as soluções propostas não sejam baseadas numa visão global que tenha em consideração os interesses nacionais, mas na reconciliação entre visões confessionais, tendo em conta os interesses partidários de tal ou tal "emir" ou chefe cristão ou muçulmano… Assim, estão os libaneses sujeitos a dividir-se sobre tudo, uma vez que os interesses dos seus chefes podem mudar com o tempo tal como as suas alianças e a tutela exterior que os apoia. E é isso que se vê actualmente no resultado de certas confrontações no conflito árabo-isrealense, ou, melhor, palestino-israelense. Ou ainda sobre o conceito de independência e soberania do país, a tal ponto que alguns não vejam nenhum inconveniente em que os americanos (e os seus aliados da NATO) se imiscuam nos assuntos interiores libaneses. Tal qual outros antes deles, os quais, para preservarem os seus interesses, chegaram a apelar seja à Síria seja a Israel sob a divisa: "para salvar o nosso país, estamos prontos a pactuar com o próprio diabo"! Pensamos que, em resposta a tudo o que se diz e se prepara, a solução certa reside numa mudança radical: a separação entre as confissões religiosas e políticas e o Estado e a aprovação das reformas necessárias no plano político, a começar por uma lei eleitoral baseada na proporcionalidade. Pensamos também que o povo libanês deve recusar as "reformas" económicas preconizadas pelo governo libanês sob o nome de "Paris 3" e que as pressões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional não fazem mais que privatizar os serviços essenciais e aumentar os impostos indirectos, ou seja, facilitar a implantação duma república das bananas no Líbano. Pensamos, enfim, que estas mudanças, tanto políticas como económicas, poderão ser o ponto de partida para a criação duma pátria libanesa onde a guerra civil, sempre latente, não terá mais lugar e será banida para todo o sempre da terminologia política libanesa. [1] Fitr, em árabe, significa "romper o jejum". É um feriado que assinala o fim do Ramadão
Marie Nassif-Debs
http://resistir.info/

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