terça-feira, janeiro 09, 2007

As Raízes Epistemológicas do Eduquês

Desculpem-me lá a insistência em torno da criatura, mas é que não posso largar o assunto sem passar por um dos gurus do movimento, o homem da epistemologia do paradigma emergente, do conhecimento global/local e grande mobilizador de subsídios para Observatórios e volumosos calhamaços sobre tudo e mais alguma coisa.
Porque a edição orginal tem quase 20 anos e é praticamente contemporânea da conclusão da minha licenciatura o que permitiu que lhe escapasse quase incólune. A par das leituras mal feitas do Foucault, este pequeno livrinho é responsável por alguns dos maiores disparates escritos nas Ciências Sociais, em nome do politicamente correcto nascido dos pseudo-complexos de culpa criados ou alimentados aparentemente por causa dos Descobrimentos e de termos sido os inventores da globalização. Sei lá…
Fiquemos com uma das inúmeras tiradas memoráveis destas poucas dezenas de páginas de formato médio, quase anualmente reeditadas e muito afamadas e citadas, neste particular sobre aquela dualidade do conhecimento que é a um tempo global e local, sendo que tudo é muito relativo e nada deve predominar sobre nada, excepto este discurso sobre todos os outros., o que não deia de ser paradoxal.
Mas sendo local, o conhecimento pós-moderno é também total, porque reconstitui os projectos cognitivos locais, salientando-lhes a sua exemplaridade, e por essa via transforma-os em pensamento total ilustrado. A ciência do paradigma emergente, sendo, como deixei acima, assumidamente analógica, é também assumidamente tradutora, ou seja, incentiva os conceitos e as teorias desenvolvidos localmente a emigrarem para outros lugares cognitivos, de modo a poderem ser utilizados fora do seu contexto de origem. Este procedimento, o que é reprimido por uma forma de conhecimento que concebe através da operacionalização e generaliza através da quantidade e da uniformização, será normal numa forma de conhecimento que concebe através da imaginação e generaliza através da qualidade e da exemplaridade.
O conhecimento pós-moderno, sendo total, não é determinístico, sendo local, não é descritivista. É um conhecimento sobre as condições da possibilidade. As condições da possibilidade da acção humana projectada no mundo a partir de um espaço-tempo local. Um conhecimento deste tipo é relativamente imetódico, constitui-se a partir de uma pluralidade metodológica. Cada método é uma linguagem e a realidade responde na língua em que é perguntada. Só uma constelação de métodos pode captar o silêncio que persiste em cada língua que pergunta. (B. S. Santos, Um Discurso sobre as Ciências, p. 48)
E eu que tinha lido o Contre la Méthode do Paul Feyerabend e até pensava que tinha gostado, ao ler coisas destas quase que me rendia ao positivismo, só por espírito de contradição.
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