Finalmente os professores decidiram sair à rua e fazer ouvir a sua voz. E saíram à rua num protesto espontâneo auto-organizado e convocado por sms e e-mail sem a mediação de partidos ou sindicatos. Foram mais de dois mil no Porto, nas Caldas da Rainha e em Leiria. Estão de parabéns porque expressaram a sua indignação contra um governo e uma politica educativa que os vem humilhando desde há três anos.
O que se ouvia em surdina foi agora dito de viva voz. Que já não conseguem ensinar, que ocupam o seu tempo a discutir decretos-lei, circulares e outras aberrações que nas escolas e os mandam continuamente criar e preencher grelhas que não servem para nada.
Os professores disseram de viva voz que estão a sem tempo para ensinar e que estão impedidos de preparar aulas porque os obrigam a permanecer nas escolas onde os querem a tempo inteiro apenas para os ocupar em tarefas de pseudo-gestão e pseudo-avaliação em reuniões que nada tem de pedagógico mas se destinam única e exclusivamente a ocupá-los com disparates.
Finalmente os professores perceberam que estão a ser objecto de uma reforma que os pretende subalternizar nas escolas e que pretende ao mesmo tempo transformar a escola num espécie de loja de conveniência que irá servir para tudo menos para ensinar que é a única coisa que realmente a escola deve fazer.
Na perspectiva deste governo a escola deve deixar de ser aquilo que sempre foi para se transformar-se numa loja de conveniência. Uma loja de conveniência onde se depositam os alunos, onde estes se entretêm, almoçam e jantam se necessário, onde a autarquia promove parcerias para tudo e mais alguma coisa com as mais diversas organizações da comunidade e onde com elas organiza uma miríade de actividades que podem ir desde campeonatos desportivos e cursos rápidos de novas oportunidades até ateliers de corte e costura ou de cabeleireiro para beneficiários do rendimento mínimo e desempregados.
Foi para transformar as escolas nestas lojas de conveniência que o governo criou um modelo de gestão que retira aos professores o comando da escola e o entrega a autarcas e representantes da comunidade sob o comando de um gestor de confiança política. É esta a verdade. O governo quer transformar a escola noutra coisa.
Dai que tenha primeiro espezinhado e desmoralizado os professores para agora mais facilmente os subalternizar e poder transformar a escola nessa outra coisa, cuja missão primeira, já não é ensinar e preparar as gerações mais novas. E foi porque nem os partidos nem os sindicatos disseram esta verdade fundamental que os professores hoje saíram à rua à revelia deles.
Estão de parabéns os professores. Que venham mais e mais destes protestos. É necessário dizer basta.
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