sexta-feira, março 28, 2008

A parcela do PIB transferida para o estrangeiro aumentou 43 vezes entre 1996 e 2007 — em 2007 atingiu os 7.332,8 milhões de euros

O pensamento económico neoliberal dominante, ou os "fundamentalistas do mercado" como lhes chama o especulador George Soros no seu recente livro A era da falibilidade , vêem no investimento estrangeiro em Portugal e no investimento português no estrangeiro só aspectos positivos. Mas para além destes, que se encontram amplamente divulgados na literatura neoliberal (criação de emprego; subcontratação para empresas nacionais; aumento da produção e das exportações; internacionalização das empresas portuguesas, etc), também existem efeitos económicos negativos, para além dos sociais provocados pelas deslocalizações e dos políticos determinados pelo domínio de importantes sectores da economia nacional pelo capital estrangeiro, que são sistematicamente ignorados ou mesmo deliberadamente omitidos, para os quais este estudo procura chamar a atenção.

Em 2007, segundo o Banco de Portugal, o valor dos investimentos portugueses no estrangeiro atingiu 5.185 milhões de euros, enquanto o valor dos investimentos estrangeiros em Portugal foi de 3.689 milhões de euros. Portanto, o saldo foi negativo, tendo atingido o elevado montante de -1.469 milhões de euros.

No período compreendido entre 1996 e 2007, o stock de investimento (investimento acumulado) directo português no estrangeiro aumentou 13,8 vezes pois passou de 3.275 milhões de euros para 40.155 milhões de euros, enquanto o stock de investimento directo estrangeiro em Portugal cresceu apenas 4 vezes pois passou de 16.473 milhões de euros para 61.481 milhões de euros. É fácil de concluir que o esforço português com tal dimensão naturalmente teve efeitos no crescimento da economia portuguesa, uma economia carente de investimento para se poder modernizar e para criar emprego.

Para além dos fluxos de investimentos, interessa também ter presente que investimentos estrangeiros em Portugal geram saídas de rendimentos, e investimentos portugueses no estrangeiro geram entradas de rendimentos. E o saldo tem sido altamente negativo para Portugal. Entre 2005 e 2007, o saldo negativo da Balança de Rendimentos de investimentos aumentou 80,1%, pois passou de -3.834,1 milhões de euros para -6.906,5 milhões de euros.

Associada a toda a esta situação, e também como consequência dela, a parcela da riqueza liquida transferida para o estrangeiro que se obtém subtraindo ao PIB (valor da riqueza criada anualmente no País) o valor do PNB (riqueza que fica disponível em Portugal e que se obtém somando ao PIB os "rendimentos primários recebidos do resto do mundo" e subtraindo os "rendimentos primários pagos ao resto do mundo") aumentou, entre 1995 e 2007, 43 vezes pois passou de -168,8 milhões de euros para -7.332,8 milhões de euros. No entanto, foi com o governo de Sócrates que a transferência de riqueza para o estrangeiro mais cresceu, pois o saldo negativo passou, entre 2004 e 2007, de -2.275,3 milhões de euros para -7.332,8 milhões de euros.

Segundo o Eurostat o PIB por habitante português em PPC correspondeu, em 2005, apenas a 75,5% do PIB por habitante médio da UE27; em 2006, a 74,6%; e, em 2007, a 74%. E a previsão do Eurostat para 2008 é que o PIB "per-capita" português corresponda apenas a 72,5% do PIB médio por habitante comunitário. No entanto, mesmo este valor não fica disponível internamente para os portugueses. E isto porque uma parte do PIB português, ou seja, da riqueza criada anualmente no nosso País é transferida para o estrangeiro sob a forma de rendimentos. E é o PNB (Produto Nacional Bruto) e não o PIB que mede a parte de riqueza criada anualmente que fica disponível para os portugueses. Se se dividir o valor do PIB de 2007 pela população total residente em Portugal obtém-se 15.287 euros por habitante, mas se dividir o PNB pela mesma população já se obtém 14.596 euros, ou seja, menos 691 euros por habitante, o que significa que o que fica internamente disponível no País é inferior em 4,5% ao valor do PIB por habitante.
Eugénio Rosa
http://resistir.info/e_rosa/transf_exterior.html

Sem comentários: