Quando a injustiça se torna lei, a resistência torna-se um dever! I write the verse and I find the rhyme I listen to the rhythm but the heartbeat`s mine. Por trás de uma grande fortuna está um grande crime-Honoré de Balzac. Este blog é a continuação de www.franciscotrindade.com que foi criado em 11/2000.35000 posts em 10 anos. Contacto: franciscotrindade4@gmail.com ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS
quinta-feira, dezembro 31, 2009
Os bispos e os referendos
Andaram os bispos portugueses 48 anos em paz, sem preocupações com a democracia, com direito a báculo e mitra apenas com autorização de Salazar, indiferentes aos crimes da ditadura e à guerra colonial, e tornaram-se agora os paladinos da democracia directa.
Todos os dias saltam prelados a agitar a mitra contra os casamentos homossexuais, a brandir o báculo contra o aborto, a perorar sobre a família, como se disso tivessem alguma experiência. Disparam ave-marias e salve-rainhas contra os “inimigos da moral e dos bons costumes” e, finalmente, exigem um referendo sobre matéria que fez parte da campanha eleitoral e dos conselhos pios aos eleitores para se afastarem de partidos que, na sua pitoresca linguagem, são contra a família.
Os bispos, que impedem a interrupção voluntária do celibato aos padres, em nome de uma decisão que lhes aumenta o poder, estão agora na vanguarda da defesa da família e da reprodução. Por que motivo não referendam, entre os padres, o celibato?
Com que legitimidade exigem a uma beata, amiga do peito e da missa, que decida sobre direitos de quem não vai à missa nem frequenta os sacramentos? Que dêem normas de conduta aos crentes é um direito, que exijam a outros que se rejam pelas normas pias é um acto prepotente e uma manifestação totalitária.
É altura de se dedicarem ao breviário e deixarem os políticos decidir em paz. Não têm, nesse campo, grande autoridade nem bons exemplos. E arriscam-se a perguntas incómodas.
Todos os dias saltam prelados a agitar a mitra contra os casamentos homossexuais, a brandir o báculo contra o aborto, a perorar sobre a família, como se disso tivessem alguma experiência. Disparam ave-marias e salve-rainhas contra os “inimigos da moral e dos bons costumes” e, finalmente, exigem um referendo sobre matéria que fez parte da campanha eleitoral e dos conselhos pios aos eleitores para se afastarem de partidos que, na sua pitoresca linguagem, são contra a família.
Os bispos, que impedem a interrupção voluntária do celibato aos padres, em nome de uma decisão que lhes aumenta o poder, estão agora na vanguarda da defesa da família e da reprodução. Por que motivo não referendam, entre os padres, o celibato?
Com que legitimidade exigem a uma beata, amiga do peito e da missa, que decida sobre direitos de quem não vai à missa nem frequenta os sacramentos? Que dêem normas de conduta aos crentes é um direito, que exijam a outros que se rejam pelas normas pias é um acto prepotente e uma manifestação totalitária.
É altura de se dedicarem ao breviário e deixarem os políticos decidir em paz. Não têm, nesse campo, grande autoridade nem bons exemplos. E arriscam-se a perguntas incómodas.
APAGÕES: DESINFORMAÇÃO POR OMISSÃO
O ocultamento das realidades nos media que se dizem "referência" faz-se também por omissões e eufemismos. É exemplar este título do Público: Investimento feito pela EDP em nova rede e na conservação da existente tem vindo a abrandar . Fosse esse um jornal honesto e desejoso de esclarecer os seus leitores deveria titular: "Após a privatização a EDP cortou drasticamente os custos de manutenção e conservação da rede". E poderia acrescentar que assim é para aumentar a cotação das acções da EDP na bolsa e para permitir que a mesma faça investimentos de milhares de milhões de euros em centrais eólicas nos... Estados Unidos. E finalmente poderia chegar à conclusão de ordem geral de que as privatizações dos serviços públicos conduziram e conduzem a uma pioria da qualidade de serviço e a um agravamento dos custos para os seus clientes. Será esperar demais uma notícia assim?
quarta-feira, dezembro 30, 2009
O NEGRO E O VERMELHO
Sanção moral e solidariedade social
Em virtude da solidariedade moral que une os homens, é raro que um acto de prevaricação seja completamente isolado e que o prevaricador não tenha por cúmplice, directo ou indirecto, a sociedade e as suas instituições. Somos todos, uns mais outros menos, culpados uns para com os outros, e o que diz Job não é verdadeiro: pecador perante Deus, estou inocente perante os homens. Nesta comunidade de consciência, sendo a Justiça reciproca, é-o também a sanção; a reparação deve comportar-se do mesmo modo. Quais são as causas, os pretextos, se tal quisermos, que arrastaram o acusado? Que injustiça, que tolerância, que favor o provocou? Que mau exemplo lhe foi dado? Que omissão, que contradição do legislador atormentou a sua alma? De que ofensas, - seja da parte da sociedade, seja da parte dos particulares - se lamenta ele? Quais as vantagens, dependentes da vontade pública, de que não goza?... Eis o que o juiz de instrução deve investigar, com tanto cuidado como as próprias circunstâncias do crime ou delito... (Justice, Sanction morale.)
2. - REALISMO SOCIAL E AGENTES DA MORAL
Tendo sido apresentado o homem, a família, a sociedade, um ser colectivo, sexual e individual dotado de razão, de consciência e de amor, cujo destino é instruir-se através da experiência, aperfeiçoar-se pela reflexão e criar a sua subsistência pelo trabalho:
Organizar as forças deste ser... tal é o problema. (Idée Gén. de la Révol., 7.º estudo.)
Quando se tiver visto como, na espécie humana, o indivíduo e a sociedade, indivisivelmente unidos, formam no entanto dois seres distintos, ambos pensantes, actuantes e progressivos, e como o primeiro recebe uma parte das suas ideias do segundo e exerce, por sua vez, uma influência sobre ele; quando dermos conta deste dualismo... que compõe a existência colectiva e as existências individuais... teremos a ciência progressiva... terminando toda a teosofia na moral. (Phil. du Prog, 2e lettre.)
Em virtude da solidariedade moral que une os homens, é raro que um acto de prevaricação seja completamente isolado e que o prevaricador não tenha por cúmplice, directo ou indirecto, a sociedade e as suas instituições. Somos todos, uns mais outros menos, culpados uns para com os outros, e o que diz Job não é verdadeiro: pecador perante Deus, estou inocente perante os homens. Nesta comunidade de consciência, sendo a Justiça reciproca, é-o também a sanção; a reparação deve comportar-se do mesmo modo. Quais são as causas, os pretextos, se tal quisermos, que arrastaram o acusado? Que injustiça, que tolerância, que favor o provocou? Que mau exemplo lhe foi dado? Que omissão, que contradição do legislador atormentou a sua alma? De que ofensas, - seja da parte da sociedade, seja da parte dos particulares - se lamenta ele? Quais as vantagens, dependentes da vontade pública, de que não goza?... Eis o que o juiz de instrução deve investigar, com tanto cuidado como as próprias circunstâncias do crime ou delito... (Justice, Sanction morale.)
2. - REALISMO SOCIAL E AGENTES DA MORAL
Tendo sido apresentado o homem, a família, a sociedade, um ser colectivo, sexual e individual dotado de razão, de consciência e de amor, cujo destino é instruir-se através da experiência, aperfeiçoar-se pela reflexão e criar a sua subsistência pelo trabalho:
Organizar as forças deste ser... tal é o problema. (Idée Gén. de la Révol., 7.º estudo.)
Quando se tiver visto como, na espécie humana, o indivíduo e a sociedade, indivisivelmente unidos, formam no entanto dois seres distintos, ambos pensantes, actuantes e progressivos, e como o primeiro recebe uma parte das suas ideias do segundo e exerce, por sua vez, uma influência sobre ele; quando dermos conta deste dualismo... que compõe a existência colectiva e as existências individuais... teremos a ciência progressiva... terminando toda a teosofia na moral. (Phil. du Prog, 2e lettre.)
Nenhum como 2009
“Never a Year Like ‘09″, mais uma engraçada animação sobre o ano que está para terminar.
Climategate: a incompreensão do não-aquecimento actual
Os ditos cientistas do IPCC apanhados no Climategate não sabem explicar o que se está a passar desde 1998. De facto, como o índice “temperatura média global” deixou de aumentar, apesar do crescimento contínuo da concentração do CO2, lá vai por água abaixo a tese do global warming.
Paz e amor para todos menos para mim
Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não é
O Natal é tempo de paz, tempo de amor, tempo de lamentar a existência de pessoas como eu. Não admira que seja uma época que toda a gente aprecia. No dia que assinala o nascimento do salvador, o cardeal-patriarca não resistiu a lembrar que há quem não tenha salvação possível. Acaba por ser uma observação animadora. Se alguma coisa pode transtornar quem mereceu um lugar no paraíso é o facto de haver fila para entrar. Pois bem, eu serei menos um a obstruir os portões do céu: na homilia da missa de 25 de Dezembro, D. José Policarpo saudou os judeus e todos os que acreditam num Deus único - mas, ostensivamente, não me saudou a mim, que sou ateu. Os judeus acreditam tanto como eu que o menino cujo aniversário se celebrava é o filho de Deus. No entanto, receberam uma saudação. Para mim, nem um caridoso aceno de cabeça.
O ateísmo tem sido, para mim e para tantos outros incréus, a luz que me tem conduzido na vida. Às vezes fraquejo, em momentos de obscuridade e de dúvida, mas, mesmo sendo incapaz de provar a inexistência de Deus, tenho conseguido manter a fé - uma fé íntima fundada numa peregrinação que tem a grandeza e a humildade da longa caminhada da vida - em que Ele não exista. Todos os dias busco a não-existência do Senhor com renovada crença, ciente de que a Sua inexistência é misteriosa demais para que eu a tenha inventado.
É certo que o mesmo D. José Policarpo já havia dito que o ateísmo era o maior drama da humanidade - acima da fome, da guerra e do próprio time-sharing. Fê-lo, porém, em data menos misericordiosa. Sonegar saudações no Natal é particularmente cruel. O anátema mais duro é o que é lançado no tempo do perdão. Estou habituado a receber anátemas e garanto aos menos experientes que os anátemas natalícios são os que aleijam mais. Em todo o caso, no fundo eu sei bem que não sou digno de ser saudado. Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não o é. Alguém, munido de um aparelho próprio, mediu a profundidade das convicções e deliberou que as do crente são mais fundas que as do ateu. Quando alguém diz acreditar em Deus, está a exprimir legitimamente a sua fé; quando um ateu ousa afirmar que não acredita, está a agredir as convicções dos crentes. Ser crente é merecedor de respeito, ser ateu é um crime contra a humanidade. Ainda assim, esperava ter sido saudado. Eu não acredito em Cristo, mas sempre acreditei nos cristãos. É a primeira vez que vejo um deles recusar ao menos uma saudação a um pecador.
As justificações do costume
Caminha: mais 174 no desemprego
A têxtil Regency, empresa multinacional há duas décadas instalada em Caminha e a maior empregadora do concelho, produzia e exportava fatos de homem. Decidiu, recentemente, pedir a insolvência e terminar a produção já no dia 31 de Dezembro. Com esta decisão, são mais 174 trabalhadores (na sua maioria mulheres) muito provavelmente atirados para o desemprego. A administração da fábrica alega a concorrência da Ásia e do Leste, a falta de encomendas e as dificuldades económico-financeiras. As justificações do costume.
Esta é a mulher mais rica de angola e portugal
Uma mulher que venceu a vida a pulso com muito trabalho e honestidade e competência... Ah!
Lembrem-se da frase que encabeça este blogue:
"Por trás de uma grande fortuna está um grande crime".
Honoré de Balzac
“Quotas são um incentivo” terá dito a ministra rindo desalmadamente
“Não há mérito sem quotas”. Esta frase foi proferida num acalorado debate televisivo sobre a avaliação do desempenho docente pela então Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.
A posição da sua sucessora não destoa: "Do ponto de vista científico, considera-se que as quotas são um incentivo ao profissional para ir mais longe", terá afirmado. E, nessa convicção, "deixou claro que não abdicará da sua imposição para aceder às menções de mérito".
Muito bem, como responsável máxima da tutela, pode impor tais quotas: será uma decisão política, burocrática, administrativa, mas não será uma decisão científica.
E não será uma decisão científica porque, para o ser, teríamos de dispor de evidências empíricas claras de que as quotas, quando integradas num sistema de avaliação do desempenho docente, se relacionam com o estímulo que os professores sentem para melhorarem o seu ensino.
A posição da sua sucessora não destoa: "Do ponto de vista científico, considera-se que as quotas são um incentivo ao profissional para ir mais longe", terá afirmado. E, nessa convicção, "deixou claro que não abdicará da sua imposição para aceder às menções de mérito".
Muito bem, como responsável máxima da tutela, pode impor tais quotas: será uma decisão política, burocrática, administrativa, mas não será uma decisão científica.
E não será uma decisão científica porque, para o ser, teríamos de dispor de evidências empíricas claras de que as quotas, quando integradas num sistema de avaliação do desempenho docente, se relacionam com o estímulo que os professores sentem para melhorarem o seu ensino.
Como estoirar 13,888.88 € por dia
Quando em breve lhe disserem que são precisos mais impostos para tapar o buraco causado pela "crise", lembre-se do dinheiro queimado nos estádios, nos computadores, no solar, na publicidade, no TGV, na RTP, na Carris, na Refer, na CP, no Metro de Lisboa, nas Minas de Aljustrel, no Alqueva, na Madeira, na maior campanha de vacinação que alguma vez fizemos, no ... bom já me fartei da lista. Lembre-se disso tudo e tome nota de quem lhe está a enfiar o barrete. Lá para Abril dará jeito recordar.
terça-feira, dezembro 29, 2009
O NEGRO E O VERMELHO
A moral, realidade social
Imanência e realidade da justiça na humanidade, tal é o grande ensinamento... A moral... expressão da liberdade e da dignidade humana, existe por si própria; ela não depende de nenhum princípio; domina toda a doutrina, toda a teoria...
É no comando da vossa consciência que deveis procurar a garantia das vossas ideias e até a prova da vossa certeza...
A justiça é em vós ao mesmo tempo realidade e pensamento soberano... (La Guerre et la Paix, concl. geral.)
A moral - e a sua correlativa, a estética - é coisa sui generis: nao é um produto do pensamento puro ou da razão, como a teologia... É uma revelação que a sociedade, o colectivo, faz ao homem, ao individuo. - Torna-se impossível deduzir a moral, quer da higiene, quer da economia, quer da metafísiea ou teodiceia, como o fizeram, sucessivamente, os materialistas, os utilitaristas, os cristãos dogmátieos, tais como Bossuet, etc. A moral resulta doutra coisa. Esta outra coisa, a que uns chamam consciência, outros razão prática, etc., é, para mim, a essência social, o ser colectivo que nos contém e que nos penetra e que, pela sua influência, pelas suas reve,lações, completa a constituição da nossa alma...
Não cometam essa grande imoralidade de fazer da moral uma coisa noológica. Seriam forçados, mais tarde ou mais cedo, a reconhecer que essa pretensa moral não tem, nem principio, nem valor, nem objectivo, nem função. (Lettre à Cournot, 31 de Outubro de 1853.)
C. Estética e moral social
Aquilo que a moral revela à consciência sob a forma de normas, a estética, tem por objectivo mostrá-la aos sentidos sob a forma de imagens... São dois aspectos da nossa educação, ao mesmo tempo sensíveis e intelectuais, que se tocam na consciência e que só diferem no órgão ou na faculdade que lhes serve de veículo. Aperfeiçoar-se pela justiça... desenvolvendo-a na sua verdade íntegra, tal é o objectivo indicado ao homem pela moral. Aperfeiçoar-se pela Arte, depurando incessantemente, à semelhança da nossa alma, as formas que nos rodeiam, tal é o objectivo da estética. (Philos. du Prog., 2e lettre.)
O que é a arte e qual é o seu destino social?
Uma representação idealista da natureza e de nos proprios, com fim ao aperfeiçoamento fisico e moral da nossa espécie... (Du Principe de l'Art, cap. XII.)
O objectivo da Arte é ensinar-nos a juntar o agradável ao útil, em todas as coisas da nossa existência, e, através disso, contribuir para a nossa dignidade. (Du Principe de l'Art, cap. XXIII.)
A Arte, isto é, a procura do belo, a perfeição do verdadeiro no homem, na mulher e nos filhos; nas ideias, discursos, acções; nos produtos: tal é a última evolução do trabalhador... A estética e, acima da estética, a moral: eis a pedra angular do edifício económico. (Contr. Écon., cap. XIII.)
A Arte, como a literatura, é a expressão da sociedade, e quando não existe para o seu aperfeiçoamento, existe para a sua ruina. (Pr. Art., cap. X.) A Arte deve participar no movimento da sociedade, provocá-lo e segui-lo. Foi por ter menosprezado este destino da Arte, por o ter reduzido somente à expressão duma idealidade quimérica, que a Grécia perdeu a compensação das coisas e o ceptro das ideias. (Philos. du Prog., 2e lettre.)
É possível uma estética, uma teoria da arte?
- A Arte é a própria liberdade, restabelecendo à sua vontade, e em virtude da sua própria glória, a fenomenalidade das coisas, executando variações s;obre o tema concreto da natureza.
- A Arte, assim como a liberdade, tem pois como matéria o homem e as coisas; como objectivo, reproduzi-los ultrapassando-os; como fim último, a justiça. Para decidir da beleza das coisas - noutros termos: para as idealizar - é preciso conhecer as relações entre as coisas... o ideal é dado pelo real; ele tem a sua base, a sua causa, a sua força de desenvolvimento, no real.
- A Arte é solidária com a ciência e a justiça: eleva-se com elas e declina ao mesmo tempo que elas. (Justice, Prog. et Décadence.)
Imanência e realidade da justiça na humanidade, tal é o grande ensinamento... A moral... expressão da liberdade e da dignidade humana, existe por si própria; ela não depende de nenhum princípio; domina toda a doutrina, toda a teoria...
É no comando da vossa consciência que deveis procurar a garantia das vossas ideias e até a prova da vossa certeza...
A justiça é em vós ao mesmo tempo realidade e pensamento soberano... (La Guerre et la Paix, concl. geral.)
A moral - e a sua correlativa, a estética - é coisa sui generis: nao é um produto do pensamento puro ou da razão, como a teologia... É uma revelação que a sociedade, o colectivo, faz ao homem, ao individuo. - Torna-se impossível deduzir a moral, quer da higiene, quer da economia, quer da metafísiea ou teodiceia, como o fizeram, sucessivamente, os materialistas, os utilitaristas, os cristãos dogmátieos, tais como Bossuet, etc. A moral resulta doutra coisa. Esta outra coisa, a que uns chamam consciência, outros razão prática, etc., é, para mim, a essência social, o ser colectivo que nos contém e que nos penetra e que, pela sua influência, pelas suas reve,lações, completa a constituição da nossa alma...
Não cometam essa grande imoralidade de fazer da moral uma coisa noológica. Seriam forçados, mais tarde ou mais cedo, a reconhecer que essa pretensa moral não tem, nem principio, nem valor, nem objectivo, nem função. (Lettre à Cournot, 31 de Outubro de 1853.)
C. Estética e moral social
Aquilo que a moral revela à consciência sob a forma de normas, a estética, tem por objectivo mostrá-la aos sentidos sob a forma de imagens... São dois aspectos da nossa educação, ao mesmo tempo sensíveis e intelectuais, que se tocam na consciência e que só diferem no órgão ou na faculdade que lhes serve de veículo. Aperfeiçoar-se pela justiça... desenvolvendo-a na sua verdade íntegra, tal é o objectivo indicado ao homem pela moral. Aperfeiçoar-se pela Arte, depurando incessantemente, à semelhança da nossa alma, as formas que nos rodeiam, tal é o objectivo da estética. (Philos. du Prog., 2e lettre.)
O que é a arte e qual é o seu destino social?
Uma representação idealista da natureza e de nos proprios, com fim ao aperfeiçoamento fisico e moral da nossa espécie... (Du Principe de l'Art, cap. XII.)
O objectivo da Arte é ensinar-nos a juntar o agradável ao útil, em todas as coisas da nossa existência, e, através disso, contribuir para a nossa dignidade. (Du Principe de l'Art, cap. XXIII.)
A Arte, isto é, a procura do belo, a perfeição do verdadeiro no homem, na mulher e nos filhos; nas ideias, discursos, acções; nos produtos: tal é a última evolução do trabalhador... A estética e, acima da estética, a moral: eis a pedra angular do edifício económico. (Contr. Écon., cap. XIII.)
A Arte, como a literatura, é a expressão da sociedade, e quando não existe para o seu aperfeiçoamento, existe para a sua ruina. (Pr. Art., cap. X.) A Arte deve participar no movimento da sociedade, provocá-lo e segui-lo. Foi por ter menosprezado este destino da Arte, por o ter reduzido somente à expressão duma idealidade quimérica, que a Grécia perdeu a compensação das coisas e o ceptro das ideias. (Philos. du Prog., 2e lettre.)
É possível uma estética, uma teoria da arte?
- A Arte é a própria liberdade, restabelecendo à sua vontade, e em virtude da sua própria glória, a fenomenalidade das coisas, executando variações s;obre o tema concreto da natureza.
- A Arte, assim como a liberdade, tem pois como matéria o homem e as coisas; como objectivo, reproduzi-los ultrapassando-os; como fim último, a justiça. Para decidir da beleza das coisas - noutros termos: para as idealizar - é preciso conhecer as relações entre as coisas... o ideal é dado pelo real; ele tem a sua base, a sua causa, a sua força de desenvolvimento, no real.
- A Arte é solidária com a ciência e a justiça: eleva-se com elas e declina ao mesmo tempo que elas. (Justice, Prog. et Décadence.)
(N)O Dicionário de História de Portugal, de Joel Serrão, lemos isto: «[Nun’Alvares] exigia sempre uma disciplina rigorosa e o exacto cumprimento das suas ordens; se isso não sucedia tornava-se bravo como um leão, chegando a matar os cavalos e a ferir os corpos dos descuidados, se eram pessoas de mais pequena condição».
Entenderam: «se eram pessoas de mais baixa condição».
Cavaco Silva, ao integrar a comissão de honra da canonização, disse que «pode ser um exemplo para os portugueses». Eu diria que exemplos desses já temos de sobra: uma Justiça que condena os pobres e absolve os ricos; os trabalhadores pagam impostos enquanto os políticos e suas famílias acumulam milhões com a corrupção, os banqueiros a apropriarem-se dos dinheiros dos clientes…
Entenderam: «se eram pessoas de mais baixa condição».
Cavaco Silva, ao integrar a comissão de honra da canonização, disse que «pode ser um exemplo para os portugueses». Eu diria que exemplos desses já temos de sobra: uma Justiça que condena os pobres e absolve os ricos; os trabalhadores pagam impostos enquanto os políticos e suas famílias acumulam milhões com a corrupção, os banqueiros a apropriarem-se dos dinheiros dos clientes…
O NEGRO E O VERMELHO
REALISMO MORAL E REALISMO SOCIAL
1. - MORAL E REALISMO MORAL
Expliquei na teoria, que tentei apresentar, do progresso, como o progresso tinha o seu princípio na justiça, e como, fora da justiça, qualquer outro desenvolvimento político, económico, literário, filosófico, se tornaria subversivo e dissolvente, e ainda, como o ideal nos fôra dado para nos levar à justiça; mais expliquei como, se este mesmo ideal, em vez de servir de auxiliar e de instrumento de direito, fosse, ele próprio, tomado como, regra e objectivo da vida, haveria imediatamente, para a sociedade, decadência e morte. Numa palavra: à justiça, subordinei o ideal. (Porncratie, cap. V.)
A moral é o conjunto das normas que têm como objectivo a perseverança na justiça. É, noutros termos, o sistema da justificação, a arte de o homem se tornar santo e puro pelas obras, ou seja, ainda e sempre: o progresso ... (Philos. du Progrès, 1.º estudo.)
Não são os homons que governam as sociedades, mas os princípios; na falta de princípios, são as situações.
A França perdeu os seus costumes.
Pelo cepticismo, o atractivo puramente moral do casamento, da geração, da família, o atractivo do trabalho e da cidade, uma vez perdidos, dá-se a dissolução do ser social... Ciência e consciência da justiça... eis o que nos falta.
A. Ciência e consciência da justiça
Para formar uma família, para que o homem e a mulher nela encontrem a alegria e a calma a que aspiram, sem as quals, aproximados apenas pelo desejo, eles nunca estarão sempre incompletamente unidos, é precisa uma fé conjugal, entendendo eu por isso uma ideia da sua dignidade mútua...
Do mesmo modo para formar uma sociedade, para dar aos interesses das pessoas e das famílias a segurança - que é a sua primeira necessidade, sem a qual o trabalho não se aceita, a troca dos produtos e dos valores se torna uma burla, a riqueza uma cilada para quem a possui - é preciso aquilo a que eu chamaria uma fé jurídica...
Do mesmo modo ainda, para formar um Estado, para conferir ao poder adesão e estabilidade, é precisa uma fé política, sem a qual os cidadãos, entregues às puras atracções do individualismo, não saberiam, seja o que for que fizessem, ser outra coisa que não fosse um agregado de exigências incoerentes repulsivas... É pois preciso que a Justiça, nome pelo qual designamos esta parte da moral que caracteriza o indivíduo em sociedade, para se tornar eficaz, seja mais que uma ideia, é preciso que seja ao mesmo tempo uma realidade. É preciso que ela aja, não só como noção da razão, relação económica, fórmula de ordem, mas ainda como força da alma, forma da vontade, energia interior, instinto social, análogo para o homem àquele instinto comunista que observámos nas abelhas. Há razões para se pensar que, se a Justiça permaneceu até hoje impotente, é porque, como faculdade, força motriz, a menosprezámos completamente, porque desprezámos a sua cultura, porque ela não caminhou, no seu desenvolvimento, ao passo da inteligência; enfim, porque a tomámos por uma fantasia da nossa imaginação ou impressão misteriosa duma vontade estranha. É preciso pois que ela nos apareça finalmente como o princípio, o meio e o fim, a explicação e a sanção do nosso destino. (Justice, Philos. Popul.)
Para explicar a razão da história e salvar a oral... era, pois, forçoso demonstrar que a justiça algo mais que um comando e uma relação; que é nda uma faculdade positiva da alma, uma força da mesma ordem que o amor, superior mesmo ao amor, enfim uma realidade: e foi o que nós tentámos nestes Estudos... (Justice, L'Êtat.)
1. - MORAL E REALISMO MORAL
Expliquei na teoria, que tentei apresentar, do progresso, como o progresso tinha o seu princípio na justiça, e como, fora da justiça, qualquer outro desenvolvimento político, económico, literário, filosófico, se tornaria subversivo e dissolvente, e ainda, como o ideal nos fôra dado para nos levar à justiça; mais expliquei como, se este mesmo ideal, em vez de servir de auxiliar e de instrumento de direito, fosse, ele próprio, tomado como, regra e objectivo da vida, haveria imediatamente, para a sociedade, decadência e morte. Numa palavra: à justiça, subordinei o ideal. (Porncratie, cap. V.)
A moral é o conjunto das normas que têm como objectivo a perseverança na justiça. É, noutros termos, o sistema da justificação, a arte de o homem se tornar santo e puro pelas obras, ou seja, ainda e sempre: o progresso ... (Philos. du Progrès, 1.º estudo.)
Não são os homons que governam as sociedades, mas os princípios; na falta de princípios, são as situações.
A França perdeu os seus costumes.
Pelo cepticismo, o atractivo puramente moral do casamento, da geração, da família, o atractivo do trabalho e da cidade, uma vez perdidos, dá-se a dissolução do ser social... Ciência e consciência da justiça... eis o que nos falta.
A. Ciência e consciência da justiça
Para formar uma família, para que o homem e a mulher nela encontrem a alegria e a calma a que aspiram, sem as quals, aproximados apenas pelo desejo, eles nunca estarão sempre incompletamente unidos, é precisa uma fé conjugal, entendendo eu por isso uma ideia da sua dignidade mútua...
Do mesmo modo para formar uma sociedade, para dar aos interesses das pessoas e das famílias a segurança - que é a sua primeira necessidade, sem a qual o trabalho não se aceita, a troca dos produtos e dos valores se torna uma burla, a riqueza uma cilada para quem a possui - é preciso aquilo a que eu chamaria uma fé jurídica...
Do mesmo modo ainda, para formar um Estado, para conferir ao poder adesão e estabilidade, é precisa uma fé política, sem a qual os cidadãos, entregues às puras atracções do individualismo, não saberiam, seja o que for que fizessem, ser outra coisa que não fosse um agregado de exigências incoerentes repulsivas... É pois preciso que a Justiça, nome pelo qual designamos esta parte da moral que caracteriza o indivíduo em sociedade, para se tornar eficaz, seja mais que uma ideia, é preciso que seja ao mesmo tempo uma realidade. É preciso que ela aja, não só como noção da razão, relação económica, fórmula de ordem, mas ainda como força da alma, forma da vontade, energia interior, instinto social, análogo para o homem àquele instinto comunista que observámos nas abelhas. Há razões para se pensar que, se a Justiça permaneceu até hoje impotente, é porque, como faculdade, força motriz, a menosprezámos completamente, porque desprezámos a sua cultura, porque ela não caminhou, no seu desenvolvimento, ao passo da inteligência; enfim, porque a tomámos por uma fantasia da nossa imaginação ou impressão misteriosa duma vontade estranha. É preciso pois que ela nos apareça finalmente como o princípio, o meio e o fim, a explicação e a sanção do nosso destino. (Justice, Philos. Popul.)
Para explicar a razão da história e salvar a oral... era, pois, forçoso demonstrar que a justiça algo mais que um comando e uma relação; que é nda uma faculdade positiva da alma, uma força da mesma ordem que o amor, superior mesmo ao amor, enfim uma realidade: e foi o que nós tentámos nestes Estudos... (Justice, L'Êtat.)
segunda-feira, dezembro 28, 2009
O NOBEL DA PAZ OBAMA QUER MINAS TERRESTRES
O sr. Barack Obama, galardoado com o Prémio Nobel da Paz, decidiu não subscrever uma convenção internacional que proibe minas terrestres. Mais de 150 países concordaram com as cláusulas desta convenção.
A notícia está em Tribunal Iraque .
A notícia está em Tribunal Iraque .
O NEGRO E O VERMELHO
O idealismo, factor de decadência
Mostrámos como o homem é levado à justiça...
É por um movimento inverso... que o homem abandona a lei... Então, acontece que a sociedade tende para a decadência, e só se pode recompor por uma revolução...
Se o livre arbítrio ultrapassa a natureza, ele não a cria, supõe-na; só produz o seu ideal, sobre o fundamento duma realidade certa... O ideal, ainda que ultrapasse a razão das coisas, não existe nesta razão; ainda mais, ele é-lhe proporcional.
Mas falta muito para que o nosso conhecimento da justiça caminhe tão depressa como o requeriria a necessidade da nossa imaginação e, consequentemente, a segurança da nossa consciência; falta muito, digo, para que a política, a economia política... a pedagogia, a filosofia, a moral, se nos revelem com esta rapidez e este rigor de intuição, consequentemente que provoquem esta força de ideal, das quais dependem a salvação dos costumes e a ordem das sociedades. Causas numerosas, complexas, atrasam em nós a razão prática e rebaixam o ideal.
Antes de tudo, ao homem... repugna a mudança...
O princípio de todas as retrogradações sociais está na separação, mais ou menos fortuita, do que o homem possui em si de mais elevado, o justo e o ideal...
Onde a justiça permanecer preponderante, o progresso será contínuo... Muitas vezes, pelo contrário... a justiça é, por assim dizer, suplantada no coração humano pelo ideal... Avaliação da qualidade das coisas... o erro é tomá-lo, a ele próprio, para razão, princípio e substância das coisas...
Produto da liberdade, o ideal, pela sua natureza, ultrapassa toda a lógica e todo o empirismo: haverá uma razão para subordinar a ele a lógica e a experiência? Longe disso, o ideal não se mantém a si próprio, não caminha e não cresce senão pelo conhecimento cada vez mais perfeito da razão das coisas.
O ideal, transformando em nós o instinto obscuro de sociabilidade, eleva-nos à excelência da justiça: haverá razão para tomarmos as nossas idealidades políticas e sociais para fórmulas de juizo? Pelo contrário, esta justiça ideal é, ela própria, o produto da determinação, cada vez mais exacta, das relações sociais, observadas na objectividade económica. Não é o ideal quem produz as ideias, ele depura-as; não é ele que cria a riqueza, que ensina o trabalho, que distribui os serviços, que pondera as forças e os poderes, que nos pode dirigir na descoberta da verdade e mostrar-nos as leis da justiça; ele é radicalmente incapaz disso, em tal ponto, só serve de embaraço, só cria o erro. Mas, uma vez organizado o trabalho, criada a riqueza, constituído o Estado, feita a ciência, definido o direito, o ideal aparece no seio de todas estas criações, como sua eflorescêneia.
Ora, naquilo em que o ideal é impotente, pela sua natureza, a dar - quero dizer, a solução dos problemas sociais, as regras da razão prática e as leis da natureza - o homem, pelo efeito da tentação que assinalámos, obstina-se em pedir-lho; e é este recurso ao ideal, é esta idolatria que, mesmo sustentando durante algum tempo a sociedade (mas convertendo-se, no final, em puro egoísmo) constitui, quanto a mim, a verdadeira causa das retrogradações sociais...
A doutrina do progresos resume-se, deste modo, a duas proposições, das quais é fácil constatar historicamente a verdade:
Toda a sociedade progride pelo trabalho, pela ciência e pelo direito, idealizados;
Toda a sociedade retrocede pela preponderância do ideal... o idealismo.
Eis toda a teoria do progresso: uma teoria da origem do mal moral, ou da causa que detém e faz retroceder o homem na justiça-e, por conseguinte, em todas as suas faculdades-causa que se explica pela cisão entre as duas forças superiores da alma: o direito e o ideal.
Falando com propriedade, não há teoria do progresso, porque o progresso é dado pelo facto de o homem possuir a justiça, ser inteligente e livre, e a sua habilidade, como a sua ciência, ser ilimitada. Só há uma teoria... da retrogradação ... (Justice, Prog. et Décadence.)
Mostrámos como o homem é levado à justiça...
É por um movimento inverso... que o homem abandona a lei... Então, acontece que a sociedade tende para a decadência, e só se pode recompor por uma revolução...
Se o livre arbítrio ultrapassa a natureza, ele não a cria, supõe-na; só produz o seu ideal, sobre o fundamento duma realidade certa... O ideal, ainda que ultrapasse a razão das coisas, não existe nesta razão; ainda mais, ele é-lhe proporcional.
Mas falta muito para que o nosso conhecimento da justiça caminhe tão depressa como o requeriria a necessidade da nossa imaginação e, consequentemente, a segurança da nossa consciência; falta muito, digo, para que a política, a economia política... a pedagogia, a filosofia, a moral, se nos revelem com esta rapidez e este rigor de intuição, consequentemente que provoquem esta força de ideal, das quais dependem a salvação dos costumes e a ordem das sociedades. Causas numerosas, complexas, atrasam em nós a razão prática e rebaixam o ideal.
Antes de tudo, ao homem... repugna a mudança...
O princípio de todas as retrogradações sociais está na separação, mais ou menos fortuita, do que o homem possui em si de mais elevado, o justo e o ideal...
Onde a justiça permanecer preponderante, o progresso será contínuo... Muitas vezes, pelo contrário... a justiça é, por assim dizer, suplantada no coração humano pelo ideal... Avaliação da qualidade das coisas... o erro é tomá-lo, a ele próprio, para razão, princípio e substância das coisas...
Produto da liberdade, o ideal, pela sua natureza, ultrapassa toda a lógica e todo o empirismo: haverá uma razão para subordinar a ele a lógica e a experiência? Longe disso, o ideal não se mantém a si próprio, não caminha e não cresce senão pelo conhecimento cada vez mais perfeito da razão das coisas.
O ideal, transformando em nós o instinto obscuro de sociabilidade, eleva-nos à excelência da justiça: haverá razão para tomarmos as nossas idealidades políticas e sociais para fórmulas de juizo? Pelo contrário, esta justiça ideal é, ela própria, o produto da determinação, cada vez mais exacta, das relações sociais, observadas na objectividade económica. Não é o ideal quem produz as ideias, ele depura-as; não é ele que cria a riqueza, que ensina o trabalho, que distribui os serviços, que pondera as forças e os poderes, que nos pode dirigir na descoberta da verdade e mostrar-nos as leis da justiça; ele é radicalmente incapaz disso, em tal ponto, só serve de embaraço, só cria o erro. Mas, uma vez organizado o trabalho, criada a riqueza, constituído o Estado, feita a ciência, definido o direito, o ideal aparece no seio de todas estas criações, como sua eflorescêneia.
Ora, naquilo em que o ideal é impotente, pela sua natureza, a dar - quero dizer, a solução dos problemas sociais, as regras da razão prática e as leis da natureza - o homem, pelo efeito da tentação que assinalámos, obstina-se em pedir-lho; e é este recurso ao ideal, é esta idolatria que, mesmo sustentando durante algum tempo a sociedade (mas convertendo-se, no final, em puro egoísmo) constitui, quanto a mim, a verdadeira causa das retrogradações sociais...
A doutrina do progresos resume-se, deste modo, a duas proposições, das quais é fácil constatar historicamente a verdade:
Toda a sociedade progride pelo trabalho, pela ciência e pelo direito, idealizados;
Toda a sociedade retrocede pela preponderância do ideal... o idealismo.
Eis toda a teoria do progresso: uma teoria da origem do mal moral, ou da causa que detém e faz retroceder o homem na justiça-e, por conseguinte, em todas as suas faculdades-causa que se explica pela cisão entre as duas forças superiores da alma: o direito e o ideal.
Falando com propriedade, não há teoria do progresso, porque o progresso é dado pelo facto de o homem possuir a justiça, ser inteligente e livre, e a sua habilidade, como a sua ciência, ser ilimitada. Só há uma teoria... da retrogradação ... (Justice, Prog. et Décadence.)
domingo, dezembro 27, 2009
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