domingo, dezembro 05, 2010

Uma anarquia ecológica

Desobediência civil - Henry David Thoreau

Ao passar os olhos pelas primeiras páginas do livro, pode-se reconhecer logo de cara alguns dos principais ideais o autor, dentre eles as tendências libertárias, o pacifismo o abolicionismo, e a defesa dos direitos do homem.
“O melhor governo é o que menos governa” (pg. 7)
“O melhor governo é o que absolutamente não governa, e quando os homens estiverem preparado para ele será o tipo de governo que terão” (pg. 7)
“O governo não é mais do que uma conveniência” (pg. 7)
Tais citações expressam claramente seu ponto de vista sobre o governo. Lembrando que governo é diferente de Estado e que Estado é diferente de regime, Thoreau não é contra o governo propriamente dito, desde que este não esteja acima da vontade dos homens, sendo uma conveniência, um objeto que os homens passam a utilizar para seus desejados fins.
Quando o governo já não é mais conveniente, por motivos de roubo e corrupção, não deve ser aturado, é quando entra em vigor o Direito à Revolução, este sendo um meio de conseguir e garantir os Direitos básicos e é aplicado quando o Estado não cumpre seu papel para a população, não deixando assim outra alternativa para obter os direitos naturais do cidadão.
A lei é um produto humano baseado na razão da maioria, e cada homem deve legislar por si próprio sua vida, pois sendo produto humano, a lei pode errar, estar baseada em princípios de uma maioria cega ou de uma minoria aproveitadora.
“Mas um governo no qual a maioria decida entre todos os casos não pode se basear na justiça, nem mesmo na justiça tal qual os homens entendem.” (pg. 10)
“A lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito por ela, mesmo os mais bem-intencionados transformam-se diariamente em agentes da injustiça.” (pg. 11)
Thoreau, na verdade declara guerra ao Estado (EUA, Massachusetts 1849) que batia de frente com suas concepções de liberdade, um Estado escravista e em guerra com o México.
Critica fortemente o patriotismo, em relação aos homens que lutavam em guerras, mesmo alguns sendo bons cidadãos, ataca a moral destes que matam um ser da mesma espécie por questões estatais, em benefício e nome do Estado.
“A grande maioria dos homens serve ao Estado desse modo, não como homens propriamente, mas como máquinas, com seus corpos. São o exército permanente, membros da força civil, etc. Na maioria dos casos não há um livre exercício seja do discernimento ou do senso moral, eles simplesmente se colocam ao nível da árvore, da terra e da pedras. E talvez se possam fabricar homens de madeira que sirvam igualmente a tal propósito. Tais homens não merecem respeito maior que um espantalho. O valor que possuem é o mesmo dos cavalos e dos cães.” (pg. 12-13)
Já na questão eleitoral, o voto não é uma simples conveniência, é uma questão séria, trata-se de uma questão séria da qual o votante exerce sua soberania, expressa como ele vê e como aceita o respectivo governo.
“Dá o teu voto inteiro, não uma simples tira de papel, mas toda tua influência.” (pg. 31)
Na questão tributária, é indubitável o sentimento da repulsa do autor.
“Vi que o Estado era irresponsável, tímido como uma mulher, solitária com suas colheres de prata, e que não sabia distinguir seus amigos de seus inimigos, e perdi o resto de respeito que ainda nutria por ele, e tive pena dele.
Portanto, o Estado nunca enfrenta intencionalmente a consciência intelectual ou moral de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos.”(pg. 39)
Portanto, o Estado não enfrenta intelectualmente um homem e sim, o priva de seus direitos de cidadão, o prendem, como aconteceu com o próprio Thoreau, que se negou a pagar impostos, não desejando financiar um Estado que permitia a escravidão e que devastava o México com a guerra.
Já a idéia de Estado perfeito é simples, imagina-se um Estado que trate o indivíduo como ser maior e independente, e que respeite aquelas pessoas, poucas ou muitas que desejam viver sem obter com ele qualquer vínculo.
Thoreau acabou por influenciar grandes nomes da História, como por exemplo Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr.

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