quinta-feira, dezembro 04, 2014

Dia de falar nisto

Hoje assinala-se o dia internacional das pessoas com deficiência. Assinala-se apenas, nada de comemorações. No Parlamento discute-se uma alegada reforma do IRS. Fala-se em reviravolta, que o Governo voltou atrás. Vamos todos pagar mais. Os deficientes também. Para quem não saiba, o agravamento da tributação dos rendimentos do trabalho das pessoas com deficiência começou antes daquele assalto  que afectou todos os demais, incluindo os próprios. A reviravolta no IRS dos portadores de deficiências deu-se em 2007, ironia socrática, o ano internacional da igualdade para todos. Os deficientes ficaram mais iguais a todos os não deficientes em sede fiscal.

Até 2007, procurou compensar-se esta população – são menos de 40 mil pessoas – pelas despesas que quem não é deficiente não tem que enfrentar, como sejam a alimentação do cão-guia do cego e o automóvel que o deficiente motor tem que adquirir porque os transportes públicos não estão adaptados para si, e pelas barreiras que uma sociedade que os discrimina lhes coloca na progressãonas suas carreiras  profissionais isentando os seus rendimentos do trabalho em sede de IRS até ao montante de um pouco mais de 13 mil euros. Desde então, essa isenção tem vindo progressivamente a ser reduzida e hoje não chega aos 2000 euros. Os deficientes que trabalham, e o desemprego afecta mais de 3 em cada 4 deficientes, não estão isentos sequer da taxa extraordinária de 3,5%. Os que não trabalham recebem uma pensão de miséria que ronda os 200 euros. Menos de um segundo de juros  dos que pagamos à troika.

 Contudo, a maior dificuldade que estes cidadãos enfrentam nada tem a ver com números. A maior das maiores, aquela que faz nascer muitas outras, é o constrangimento que este tema suscita a uma sociedade que se diz solidária mas que o ignora e se envergonha de dele falar abertamente. Será também o seu caso, caro leitor activista das redes sociais, que se sente incomodado quando esta realidade bate à porta da sua consciência mas privilegia causas mais em voga ou vídeos com gatinhos nas suas partilhas?