Esta semana, a comunidade de credores enfrenta mais um momento de pânico; são cada vez mais as vozes influentes a defender que a Grécia devia deixar de pagar os empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI), canalizando os escassos recursos públicos de que dispõe para fazer frente à crise económica e humanitária. Embora o primeiro Ministro Tsipras continue a tentar acalmar os credores, a ideia veio para ficar. E é boa: a Grécia devia não apenas adiar o pagamento dos empréstimos, mas pura e simplesmente entrar em incumprimento — isto é, deixar de pagar ao FMI definitivamente. Seria o ponto de partida para, finalmente, reformar o FMI e fazer dele um instrumento real e efetivo para responder às crises, em vez do fantoche político que é atualmente.
Empréstimos sem riscos podem transformar-se rapidamente em empréstimos irresponsáveis
Saia quem saia a perder de uma crise da dívida — normalmente, muita gente —, o FMI está sempre a salvo. É prática comum os devedores concederem-lhe o estatuto de credor preferencial, e pagarem sempre os empréstimos na íntegra e atempadamente. Embora não esteja escrito em parte alguma do direito internacional que exista um estatuto de credor preferencial do FMI — nem sequer nos próprios estatutos do FMI —, tradicionalmente, todos os países aderem a esta prática. Incluindo países como a Argentina, que foi considerada devedora incumpridora por juízes americanos, e não tem quaisquer intenções de manter boas relações com o FMI.
Pagar ao FMI geralmente implica um custo elevado para o desenvolvimento dos países devedores, e para os restantes credores, que são obrigados a aceitar cortes — maiores ainda se o FMI não participar na restruturação da dívida. O facto de toda a gente pagar ao FMI significa que os empréstimos são essencialmente sem riscos. E, como em todas as outras situações em que o empréstimo é considerado sem riscos, o credor é encorajado a agir irresponsavelmente, e a fazer coisas verdadeiramente estúpidas.
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