segunda-feira, julho 28, 2008

Até já

Deliciem-se com os dezoito textos colocados hoje e com os mais de seis mil que estão para trás, durante uns dias, enquanto vou espairecer desta merda toda a que se chama portugal com letra muito pequena e em diminuitivo.

Há sempre alguém que diz não

CREME E CASTIGO

Conheça o terrorista Noël Godin, que espalha medo na Europa com seus ataques de torta doce.
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Há infinitas formas de subversão. Mas poucas equiparam-se, em comodidade e eficiência, à torta de creme". São palavras de Noël Godin, um distinto senhor de 50 anos, nascido na Bélgica. Desde 1969, ele e sua brigada internacional de entarteurs, como são chamados, vêm melecando os rostos de personalidades poderosas com deliciosos bolos de creme e tortas, direto das melhores confeitarias. Se o ataque fracassa ou é cancelado, eles simplesmente comem as tortas, com certa satisfação. Algumas das 22 vítimas foram a romancista Marguerite Duras, o cineasta Jean-Luc Godard, vários políticos europeus e até mesmo o todo-poderoso Bill Gates.

Só o filósofo Bernard-Henri Levy, conhecido por sua prepotência, já foi alvejado 5 vezes. Certo dia, ele andava pelo aeroporto de Nice em companhia de sua terceira esposa, a atriz Arielle Dombasle, vestido impecavelmente com uma camisa da Christian Dior. Estava sendo filmado, e sorria para as câmeras, com doçura. Enquanto o casal se enfileirava para o check in, sombras esquivavam-se ao fundo, segurando algo intrigante feito de creme. No momento em que o casal apanhava os bilhetes de embarque, três torteadores surgiram do nada, com Noël Godin liderando a turma. O filósofo gritou: "Oh não. Oh não, de novo não" - e foi coberto de recheios, glacê e chantili.

As tortadas sempre são delicadas: entre os praticantes da modalidade, é proibido o lançamento à distância. Os torteadores apenas pousam o artefato suavemente junto ao rosto da vítima -- mas, em geral, não recebem respostas tão sutis. Levy, por exemplo, reagiu por meio de coléricos murros dirigidos a Noël Godin, no mesmo instante em que uma torteadora defendia-se com mais um bocado de creme, e uma segunda entretinha-se em despejar chocolate com cobertura de chantili na cabeça de Arielle " Dombasle. "Levanta!", ordenou o filósofo a um dos torteadores, "Ou eu chuto a tua cabeça!".

Os membros da brigada estão proibidos de reagir fisicamente aos ataques, mesmo violentos. Na ocasião, a esposa de Bernard-Henri Levy unhou vigorosamente uma das torteadoras; já o filósofo preferiu quebrar a câmera de vídeo e socar o cameraman no nariz. Os "guerrilheiros" tampouco devem tentar fugir após os ataques: a polícia retirou Noël Godin do local apenas quando ele já estava sendo sufocado por Levy e recebia bolsadas histéricas da atriz.

Os primeiros cinco segundos após um ataque de tortas", postula Noël, "revelam o caráter real da vítima". O cineasta Jean-Luc Godard, vejam só, reagiu com bom-humor: retirou o cigarro da boca, lambeu lentamente o creme e ainda declarou que aquilo era "uma verdadeira homenagem ao cinema mudo". Depois disso, não foi mais incomodado pelos torteadores. "Bem despachada, a torta de creme é um acurado barômetro da natureza humana", constata Noël.

:: A Flor-de-Lótus Não Voltará a Crescer Em Sua Ilha ::

"Sempre disse a mim mesmo que era necessário reagir, sustentar a subversão por meio do humor", declara o belga, sobre o poder das tortas de creme como armas de guerrilha imaginativa (pois suscitam, ao mesmo tempo, comédia e terror). Antes de ser torteador profissional, ele já punha em prática suas idéias pela Europa: quando jovem, fora expulso da Faculdade de Direito por desrespeitar um professor. Sabia-se que o sujeito tinha ajudado a redigir a constituição do ditador Antonio Salazar, e mesmo assim todos estavam indiferentes. Noël e os amigos vestiram-se de operários, entraram na sala de conferências e, assoviando a Internacional Comunista, despejaram um tubo de cola direto na cabeça do mestre.

A expulsão da faculdade não calou Noël, que licenciou-se em história do cinema na Universidade de Lieja e logo foi contratado para trabalhar numa revista católica, resenhando filmes. "Comecei a publicar mentiras absurdas - primeiro aos poucos, depois freqüentemente". Inventava filmes que não existiam e ilustrava-os com fotos de parentes. Escrevia dezenas de entrevistas fictícias com cineastas, sem deixar o próprio quarto. Consciente de que tinha uma porção de leitores devotos, Noël anunciava uma conversão a cada três meses, inclusive de penitentes tão improváveis quanto Luis Buñuel e Tennessee Williams.

Os leitores da revista "Amigos do Cinema", em pouco tempo, foram apresentados à obra de gênios inteiramente insólitos, como Sergio Rossi, Aristide Beck e Vivianne Pei, a única diretora cega da história do cinema, autora do longa-metragem "A Flor-de-Lótus Não Voltará a Crescer Em Sua Ilha". O filme da suposta diretora tailandesa foi descrito por Noël tão vivamente que um especialista em cinema asiático chegou a viajar à Tailândia para procurá-la.

Noël pôde continuar publicando matérias desse naipe graças a um editor crédulo, e também porque a revista não era distribuída fora da Bélgica. Além disso, seus leitores não primavam por um senso crítico dos mais aguçados (até aí, nenhuma novidade). Era quase um convite para prosseguir: o intrépido repórter cobriu o lançamento do filme "Vegetais de Boa Vontade" (1970, Jean Clabau), no qual Cláudia Cardinale fazia o papel de uma endívia gigante. Resenhou também o desenho animado maoísta "Germinal II", com Jean-Louis Barrault fazendo a voz de um formão.

Nas páginas da revista, Marlene Dietrich liderou expedições para encontrar o monstro do Lago Ness, Michael Caine pilotou um carro movido a iogurte e Louis Armstrong confessou ter sido canibal (além de ter financiado, também, o filme "Vegetais de Boa Vontade"). Em entrevista exclusiva, o diretor Richard Brooks confessou que seus filmes eram uma porcaria e ainda arrematou: "Eu sou um cretino".

:: "Quando encontro um novo tom de cinza, sinto-me extasiado" ::

Noël Godin entrou para o negócio das tortas após escrever uma excelente reportagem sobre o dia em que um de seus diretores fictícios, Georges Le Gloupier, atacou Robert Bresson com uma torta de creme. Na edição seguinte, inventou que Marguerite Duras, escritora amiga de Bresson, planejava uma revanche. "Dias depois, fiquei sabendo que Duras estava mesmo vindo para a Bélgica"; foi então que resolveu atacá-la com uma torta de verdade, no momento em que ela dissertava sobre o tema de seu segundo filme, Destroy, She Says. Redigiu uma matéria em que creditava o ataque a Le Gloupier. Em seguida, pegou gosto pelo ofício.

Já são mais de 20 os contemplados com suculentas tortas de creme na região facial. São escolhidas como vítimas as pessoas públicas vazias, fúteis ou simplesmente idiotas, das mais diversas nacionalidades, que compartilhem uma parte do poder. O que têm em comum? Todas se levam a sério demais, acham que são importantes e não possuem o menor senso de humor. "Acredito sinceramente que podemos acertar o Papa", completa.

As tortas são essenciais para lembrar alguns cidadãos de que eles são apenas humanos. Bill Gates, por exemplo, foi alvejado porque escolheu trabalhar pelo status quo, sem realmente usar sua inteligência e imaginação. Quanto a Bernard-Henri Levy, uma só frase dele poderia justificar as 5 tortadas: "quando encontro um novo tom de cinza, sinto-me extasiado".

:: Sérios e dogmáticos ::

O ato de lançar tortas na cara é uma espécie de Esperanto visual e tem uma linhagem nobre, que pode ser traçada através de Jerry Lewis, Wile E. Coyote, os irmãos Marx e yippies como Abbie Hoffman -- todos heróis de Noël, que ainda gosta de Júlio Verne e se considera anarquista. Para ele, o que diferencia os torteadores de muitos revolucionários é que os últimos tendem a ser sérios demais e costumam tornar-se insuportavelmente dogmáticos. Segundo o torteador, é exatamente o que falta no atual movimento "antiglobalização": são sérios além da conta, e bolcheviques demais. "Muitos deles são escoteiros", presume.

Desde jovem, Noël Godin disseminou práticas de sabotagem cotidiana, como obstruir fechaduras, provocar erros na contabilidade, espalhar ameaças de bomba, grudar um naco de piche nas câmeras de vigilância. "Nunca curei-me da febre de maio de 1968", diz. Ele e os colegas entarteurs sempre vestem-se de roupas esdrúxulas (é o uniforme oficial do time), com longas barbas falsas, óculos grossos e gravatas-borboleta. Quando um deles foi preso, após cobrir de creme o ministro da Cultura francês, o argumento usado no tribunal foi de que lançar tortas na cara era um velho costume belga. Ganhou a absolvição.

"Os intelectuais são muito sérios", lamenta Noël, defendendo a guerrilha criativa e manifestando sua simpatia pelos escândalos públicos de Antonin Artaud -- como nas vezes em que ia a restaurantes caros de Paris e usava as mãos para comer, assustando as senhoras respeitáveis. Exemplos assim, finaliza Noël, provam definitivamente que "qualquer um pode matar o poderoso através do rídiculo, tendo em mãos uma torta de nada".

p.s.: Fontes fidedignas asseguram que tortas de creme de ovo são mais eficientes quando o alvo é móvel; já as tortas-merengue de limão resistem melhor durante ataques bruscos. Os anarquistas da brigada de São Francisco, por sua vez, preferem tortas de côco (como as que atiraram no economista Milton Friedman) e de creme de tofu (usada no ataque ao diretor da Monsanto).
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LINKS

Grande reportagem no jornal Observer - http://www.mindspring.com/~jaybab/observer.html

Reportagem na revista espanhola Babab - http://www.babab.com/no09/noel_godin.htm

Alguns links sobre os entarteus e Noël Godin - http://www.babab.com/no09/noel_godin.htm

Leia também: a biografia de Noël Godin,"Creme e Castigo", ainda não disponível em português.
Vanessa Bárbara

http://www.rizoma.net/hp03.htm

burocracia

Manifesto Contra a Doença

Que linda missão que é a cura dos seres, a que tantos médicos,
durante a sua vida se dedicam. Mas há forças que sabemos quais são,
que se deixam corromper pelo interesse, dinheiro, bens materiais, este
ciclo vicioso captura os que a esta gula juntam o poder. A esperança
do mundo estará no amor, o amor aos seres que motivam todos os
guerreiros do bem na sua luta contra os problemas que assolam o mundo.
Parabens pelo espirito de missão de todos os médicos, que um dia
exista experança para todos os que sofrem com a doença.
Mas a verdadeira doença não será a civilização? Como compreender
que, perante os graves casos de obesidade, que se tornou uma doença de
massas, as multinacionais de industria alimentar façam tudo para que
as pessoas comam cada vez mais, para que os seus lucros cresçam, á
custa da saúde das pessoas, a Mcdonalds, por exemplo, tem substancias
viciantes que estimulam o ser humano a comer mais, e mais... Como
compreender que as multinacionais de industria farmaceutica não criem
medicamentos para a cura definitiva, mas apenas paleativos, quando uma
doença é diagnosticada a uma pessoa, ela vai tomar medicamentos até
morrer, e todas as curas, mesmo para as mais graves doenças, que na
maioria são descobertas na medicina natural, são abafadas e censuradas
pelas instituições governamentais, para a protecção dos lucros das
multinacionais... Os psiquiatras têem um pacto com as multinacionais
de industria farmaceutica também, para todos ganharem dinheiro, ao
mesmo tempo que a cultura, os valores espirituais, a filosofia, até a
psicologia estão a ser destruidas... O próprio modo de vida das
actuais sociedades industriais do ocidente é causa da maior parte das
doenças que existem, as chamadas doenças da civilização, já dizia um
cientista famoso, que a vida nas actuais sociedades industriais
modernas produz seres humanos tristes, gordos e doentes...
É necessária uma luta pela consciencia, pelo despertar da
humanidade, é preciso apelar ao boicote a todo este estado de coisas,
a todas as instituições desta civilização industrial capitalista, é
impossivel a sua reforma apenas, é preciso lutar por novo modo de vida
alternativo, que proporcione ao ser humano uma vida digna, saudável e
harmoniosa com os restantes seres.
1- É necessário o apelo ao boicote ao sistema de saúde estatal e
ás farmacias e industrias farmaceuticas multinacionais, e a divulgação
das medicinas naturais, em especial o ormus, assim como o adensamento
da rede de centros de medicina natural, apoiados principalmente pelo
Instituto de Medicina Tradicional.
2- É necessário o apelo ao boicote a toda a oferta de alimentos
que não tenham origem na agricultura biológica, e o apelo a mais
produção biológica de alimentos, em formas económicas não
capitalistas, ou seja, que não tenham como objectivo o lucro, e ao
consumo de comida saudavel e biológica, para tal será necessário
promover mais intensivamente instituições como a Associação Portuguesa
de Agricultura Biológica-agrobio e a cooperativa de consumidores de
produtos de agricultura biológica e produtos biológicos-biocoop.
3- É necessária a divulgação do modo de vida naturista, levada a
cabo até hoje principalmente pela Sociedade Portuguesa de Naturalogia,
e a critica ao modo de vida na sociedade industrial
4- É necessário o apelo ao abandono das cidades e á criação de
associações, de fundos comuns e ao estabelecimento de comunidades
autosuficientes, com base na Permacultura, que hoje é divulgada
principalmente pelo site: http://www.nelsonavelar.com/permacultura/ e
pela Rede Portuguesa de Eco-aldeias e Comunidades Sustentaveis
5- É necessário o boicote ás instituições hierarquicas do Estado,
que serão sempre um entrave á revolução, através do apelo á recusa ao
voto, ao não pagamento de impostos, e á recusa á prestação do serviço
militar, em favor da criação de novas formas de organização politica,
como a autogestão, democracia directa e o federalismo, que foram
desenvolvidas e sistematizadas pelo brilhante filósofo politico
Proudhon, divulgado em Portugal pelo filósofo Francisco Trindade.
Este pode ser um programa mínimo para uma verdadeira revolução,
que tem como objectivo uma maior felicidade do ser humano. Será uma
revolução pela não-violência, priorizando os meios da não-cooperação e
do boicote, como ensinam am doutrinas de Tolstoi, Gandhi, Gonçalves
Correia, entre muitos mais.
27/Jul/2008
Francisco Ramos
(recebido por mail)

só mesmo os militares

«Não gosto que nos chamem ladrões»

Entrevistado pelo Expresso de 28 de Junho acerca desta situação, o presidente da GALP, Manuel Ferreira de Oliveira, declarou «Não gosto que nos chamem mentirosos, ladrões e vigaristas», o que é compreensível, porque ninguém gosta.

Mas o que é que lhe havemos de chamar quando desde há duas semanas o preço do barril de petróleo tem vindo diariamente a baixar (de 147 dólares para 125 dólares, ou seja menos 22 dólares e a Galp só ontem é que decidiu baixar o preço da gasolina nuns espantosos 1 cêntimos?

A realidade portuguesa dos combustíveis é a seguinte como toda a gente sabe: quando o barril de petróleo sobe nos mercados internacionais a gasolina em Portugal sobe no mesmo dia ou o mais tardar no dia seguinte.
Quando o barril de petróleo desce nos mercados internacionais a gasolina em Portugal não desce ou quando desce é sempre muito aquém do valor em causa.
Desta maneira é impossível demonstrar que as críticas são infundadas.
N´est-ce pas?

sem comentários

Debate retórico

Estamos em crise mas os últimos anos foram de progresso no mundo ocidental. E sabemos que quando há dinheiro, as pessoas conseguem ser muito fúteis. Para mim, o clímax da futilidade em tempos de progresso é o debate tipo pescadinha de rabo na boca sobre a vida dos homossexuais.
Por tudo e por nada, a comunidade gay desce a avenida com botas de cano alto, umas vezes por causa do casamento, outras por causa da adopção. Amanhã será um subsídio para implantes mamários, porque nasceram no corpo errado.
Mas será que não podem fazer uma petição? Ou chegar ao Parlamento através da iniciativa dos cidadãos?
Por mim, acho óptima a ideia de nos podermos casar com o que nos apetece. Homem com homem, homem com mulher, mulher com camelo, camelo com panda. Tudo. E sobre a adopção, também condescendo. Aqueloutros de Roma não foram criados por uma loba?
O debate é que chateia, como chateou o do aborto. Perdemos então muito tempo a trocar argumentos quase sempre absurdos, quando já era evidente que a sociedade queria o aborto, fosse o feto uma vida humana ou um Audi a gasóleo. Não interessava.
Sobre o casamento entre homossexuais e a adopção, o caso é semelhante. Vamos voltar a esquentar a cabeça com um assunto cujo resultado está mais do que visto: o futuro também passa por casais do mesmo sexo, com crianças adoptadas. Adoptadas por enquanto, porque a genética não descansa enquanto não conseguir gerar crianças em pó. Nessa altura, bastará comprar o modelo preferido, juntar água e levar ao frigorífico para solidificar.
http://lobi.blogs.sapo.pt/

tão querido que ele era...

Mais de mil suspensões de obras no primeiro semestre de 2008 devido a várias irregularidades

Veja em:

Na realidade, dada a escassa presença de equipas de inspecção no terreno, as mais de mil irregularidades graves, na origem de suspensões no primeiro semestre deste ano, são apenas uma gota no oceano. Na construção civil reina o arbítrio, a contratação mafiosa, os salários não pagos ou a não entrega à segurança social dos descontos, a par das condições péssimas de segurança que provocam, de longe, o mais elevado índice de sinistralidade no trabalho.
É porque o crime compensa que existem tantos prevaricadores sem escrúpulos, desde grandes empresários até aos sub-empreiteiros.
http://www.luta-social.org/

no mundo dos camelos é assim...

Bloqueio político e económico. Política de esquerda

1 - A actual situação de bloqueio empobrecedor

Sobretudo para as pessoas menos inseridas na política institucional, a realidade está aí, bem em frente e doendo bem na carne.

Ano após ano a ladainha dos mandarins mantém-se; atrás do pano, o empresariato sussurra o texto. É a ladainha do sacrifício para pobres e trabalhadores, da crença na retoma da economia, considerada, inevitavelmente dependente da exportação, que depende da competitividade, dependendo esta da produtividade, que depende da flexibilidade do "mercado de trabalho" que equivale a despedimentos e perda de salários reais os quais, por sua vez, originam redução do poder de compra, do consumo.... Neste circuito fechado e que tresanda a banha da cobra. não entra o sacrifício dos ricos, o investimento privado produtivo, uma menor corrupção dos mandarins, nem contam os fechos de empresas, o desemprego ou a precariedade. Ninguém vê as exportações a aumentar, o investimento estrangeiro (sempre virtuoso!) a chegar; o que é patente são os sacrifícios que continuam a ser pedidos, em paralelo com o não crescimento do PIB. No entanto, os trabalhadores trabalham mais, perdem poder de compra, vêm a riqueza a ser produzida e o produto do seu esforço a acumular-se nos bolsos de alguns. Um espectáculo, um regabofe.

Sondagem recente (dando de barato a sua representatividade) indicava que os inquiridos não consideravam a mafia socratóide capaz de equilibrar o barco mas, também dava como evidente não ser vista uma alternativa saída do actual sistema partidário, mormente no PSD, agora capitaneado pela Balela Ferreira Leite, alter ego de Cavaco. Cheira a podre, parece indicarem os inquiridos.

De facto,a tralha PS/PSD já deu o que tinha a dar e nada há a esperar senão uma maior pulsão cleptocrática, à medida que forem chegando novas fornadas de gente, mais incompetente, mais servil e mais cúpida. Não sabemos, como o professor Marcelo, se o transgénico Jaime é ou não o mais incompetente ministro da agricultura do mundo mas, ... de facto, no actual governo não abundam as competências. E, se em alguns casos, há secretários de estado tecnicamente competentes, isso em nada contribui para a felicidade do povo, uma vez que essas competências estão hipotecadas à satisfação dos interesses do capital. As nossas avozinhas também diziam que Salazar era inteligente... E quem se aproveitou disso?

De facto, não há saida no actual quadro institucional de democracia de mercado, alicerçado no capitalismo globalizado em que vivemos, guiados ambos pela axiomática do mercado, da livre concorrência, funcionando esta como garante do funcionamento das sociedades, das economias e, porque não, da própria reprodução humana. Sem esquecer a total instrumentalização do Estado e do dinheiro dos impostos, a despeito da poeira de anti-estatismo lançada pelo mandarinato lançada e pelo telecomando de alguns parasitas auto-designados empresários.

2 - O bloqueio resulta da incompetência ou é estrutural ?

Os governos em Portugal são, naturalmente, incompetentes e é mera ilusão esperar que poderão vir aí uns que o não sejam, no capítulo dos interesses da multidão. A probabilidade de a Senhora de Fátima aparecer no Rossio é maior.

Umas dessas razões são comuns a todos os governos europeus, tais como:
• A política económica é determinada do exterior, com o PEC imposto por Bruxelas, com as taxas de juro e os níveis de inflação decretadas pelo BCE, restando apenas o detalhe da política fiscal, num quadro devidamente auditado pelo FMI, pela OCDE e pelas empresas de "rating";
• O enquadramento estratégico, político e ideológico é fornecido pelo G-8, pelas cimeiras de Davos, pelo grupo Bilderberg e alicerça-se na liberalização do comércio, na desregulamentação do trabalho, na despudorada integração e instrumentalização do Estado, na criminalização dos imigrantes, na liberdade dos movimentos de capitais, na financiarização da economia, no acentuar das desigualdades, na luta "anti-terrorista", etc;
• O mandarinato não se pretende particularmente competente na gestão da res publica, pela sua visão e iniciativa mas, pelas suas funções de domésticos atentos e cumpridores das instruções das multinacionais e do capital financeiro. O seu manual de instruções – o tal tratado de Lisboa – ajusta-se perfeitamente ao perfil de um Cherne fedorento retirado da lixeira após três dias ao sol, com um bando de moscas a esvoaçar à sua volta;
• O aumento do custo da energia, independentemente das flutuações conjunturais, é um factor estrutural descurado totalmente pelo mandarinato, mais atento às necessidades da indústria em amortizar as suas linhas de montagem, à distribuição dos lucros ou à valorização das acções, do que pela investigação ou pela inovação.
• As burguesias europeias inserem-se neste contexto, com variáveis margens de manobra, de acordo com o seu poder económico e político, saindo umas mais beneficiadas que outras, de acordo com uma hierarquia conhecida, encimada pela Alemanha;
Outras razões prendem-se com as específicidades da formação económica e social portuguesa, tais como:
• A crescente periferização no contexto europeu e ibérico torna Portugal cada vez mais impotente face às exigências e ao poder das multinacionais; desarmado perante a lotaria dos mercados financeiros, o endividamento externo, a subida do preço do dinheiro, o custo crescente da energia; mais acantonado em actividades excluidas da concorrência mundial, abandonando a indústria e a agricultura, para se centrar, nas áreas financeiras, no imobiliário e no turismo, etc;
• A economia tem um perfil produtivo atrasado em termos europeus, com fraca incorporação de capital ou conhecimento, muito marcado pelos ciclos baseados na despesa pública, mormente em infraestruturas e no imobiliário, por seu turno fornecedores de empresas, partidos e dignitários políticos, alargando assumidamente as desigualdades;
• Há uma hipertrofia do capital financeiro que detém um papel determinante no encaminhamento de capitais para o exterior e na lavagem do dinheiro obtido na corrução e em tráfegos diversos, em paralelo com um sistema fiscal labiríntico e uma administração tributária convenientemente complacente;
• O custo da energia é um factor de fragilização da economia que pouco se alterou depois dos choques petrolíferos dos anos 70 do século passado, mantendo-se intocável o império do carro individual para todo e qualquer trajecto;
• A corrupção é histórica, endémica, impune e assumida, numa escala que só encontra paralelo europeu na Itália e na Grécia, que tem o cuidado de pagar bem aos juizes para garantir a sua neutralidade "técnica" como elementos centrais de um sistema de justiça, burocrático e ineficaz. Sócrates ao elogiar o prestígio de Angola e do seu presidente mais não revela que o seu sonho cleptocrático;
• Após mais de 20 anos de diluição na UE, dos gastos pouco criteriosos dos fundos comunitários, Portugal é um caso único de não aproximação aos padrões médios, um país cujos nacionais, particularmente jovens, continuam a procurar empregos precários e mal pagos no resto da Europa Ocidental, tal como aconteceu nas décadas de 60 e 70; com a diferença de que os que emigram não são apenas os elementos sem qualificações;
• O perfil educativo e de formação para o trabalho é manifestamente inadequado em qualquer estratégia de desenvolvimento, como se pode espelhar no seguinte quadro:
Estrutura do nível de formação de trabalhadores e patrões em 2006 (%)
Trabalhadores ocupados Patrões com assalariados
Superior Secundário superior e pré-universitário Primário e secundário inferior Superior Secundário superior e pré-universitário Primário e secundário inferior
Portugal 14 15 71 10 14 76
Espanha 34 23 43 29 23 48
UE - 27 26 49 25 32 44 24
Fonte: INE, A Península Ibérica em Números, 2007

e revela à saciedade o modelo económico baseado nos baixos salários, hoje sob o pseudónimo de flexisegurança, nunca assumido pelo empresariato nem pelos partidos do poder, que procuram mascarar a sua nefasta acção com o facilitismo escolar para retocar a fotografia no plano europeu;

• No contexto europeu, é em Portugal que melhor se manifesta e se desenvolve a pulsão genocida do capitalismo mundial, onde cerca de cinco milhões de adultos são tratados como elementos descartáveis, factores de custo não reprodutivo, objecto de uma programada degradação das condições de vida (vide "A pulsão genocida da burguesia portuguesa" e "O novo fascismo que está em marcha", neste blog);
3 – Política de esquerda e esquerdas institucionais

Apesar do reconhecimento do esgotamento das capacidades do PS/PSD, da polarização de todas as responsabilidades para o governo em exercício, a multidão em Portugal acaba por se contradizer, participando por rotina, no folclore eleitoral, sabendo de antemão que com a substituição do gang governamental, não surgirão mudanças substantivas.

Para essa contradição contribuem vários elementos:
• A ausência de um debate sobre o contexto europeu e a escassa articulação das lutas populares a nível europeu acentuam a noção de solidão, de isolamento e de impotência junto dos trabalhadores portugueses;
• A deficiente compreensão do carácter subalterno e executivo do governo português resulta do não enraizamento da existência de um capitalismo global e das suas instituições de normalização, com prerrogativas de Estado, como as da UE, a OMC, o FMI, o G-8, que surgem como distantes, como que isentos de responsabilidades da situação em Portugal;
• Os dois elementos anteriores caracterizam também o discurso e a prática da esquerda institucional que ao afunilarem as análises da situação e as responsabilidades no quadro nacional contribuem, e de que maneira, para o bloqueio político e social e para a desesperança que grassa na multidão;
• E dessa desesperança beneficia o mandarinato, à direita ou à esquerda, que se arroga da sua "especialização" remetendo implicitamente, a esmagadora maioria da população para um alheamento da realidade política, confundida com o enjoo da política institucional e dos arrotos mandarínicos nos media.
A actuação da esquerda institucional, mesmo nesse limitado quadro, não visa que não a perpetuação da sua existência como simulacro de oposição e de esquerda. Vejamos como:
• A sistemática recusa de assunção do PS como uma formação política de direita, gémea do PSD num paralelo contraditório com a constante acentuação, das suas políticas de direita. Tal atitude visa gerar uma esperança na regeneração do PS, secção portuguesa do PSE, conglomerado que agrega os diversos partidos mais ou menos socialistas nacionais. Toda a história do PS, desde a sua fundação revela um monótono posicionamento à direita no contexto português que é, na realidade, uma emanação da sua composição genética. Sem volta a dar;
• Pretende-se com isso pressionar alguns elementos do PS a adoptar posições frontais de oposição de esquerda, o que nunca aconteceu desde o 25 de Abril, com um significado político útil e duradouro; pelo contrário, o que se tem assistido é a movimentação em sentido contrário, da defecção no sentido do "tacho", do PS. O crescimento de uma esquerda faz-se através do enraizamento e consolidação de uma base social de trabalhadores e não na cooptação ou convencimento de elementos isolados do PS sobre a grandiosidade das lutas populares;
• Pretende agitar a possibilidade de uma maioria de "esquerda" na AR que, de facto, nunca serviu para nada a não ser para que a esquerda institucional (PC/BE) apresente, responsáveis com que possa encobrir a sua própria e rotineira inoperância, para obviar às dificuldades sentidas pelos trabalhadores e pela multidão. Fazê-lo é enredar os trabalhadores, os desempregados e os precários em torno de uma quimera, que é a retirada de benefícios pela actuação dos "seus representantes" nas instituições da democracia cleptocrática de mercado;
• Essa prática tem fundas raízes históricas. Durante o regime fascista foi alimentada a ficção da existência de uma burguesia liberal susceptível de uma aliança com os trabalhadores para a adopção de formas eficazes de combate anti-fascista. E, como se sabe, a queda do regime saiu de uma das mais representativas instituições do poder, a tropa, aproveitada e de que maneira, por um movimento de massas multiforme que escapou aos esforços repressivos e disciplinadores, até estes se congregarem no 25 de Novembro de 1975. Ficou aí institucionalizada a democracia de mercado, e consolidado o caminho da "Europa connosco", da CEE, de Maastricht, da UE, do euro, do PEC e do actual tratado de Lisboa.
• Atribuem demasiada dignidade à AR que mais não é que um palco que encobre a sede da instância política que conta - o governo que tudo decide e os partidos que controlam os deputados a eleger e mesmo depois de eleitos, pagando em contrapartida escandalosas mordomias a esse conjunto de advogados, juristas e professores que constituem mais de metade do hemiciclo(131 em 230 deputados).
• Se a AR é um palco de mau teatro de revista, as suas sessões são um entretenimento barato para a multidão que assim fica "convencida" da representatividade dos seus interesses por aquela gente e que, portanto, se esquece que a resolução dos seus problemas só pode surgir das suas próprias mãos, do seu esforço e não através da delegação em marionetas políticos;
• As experiências governativas de "esquerda" em alianças com o PS, em Lisboa, naturalmente, em nada resultaram de bem estar para a população da cidade, nem geraram qualquer movimento de apoio de massas capaz de criar uma alternativa credível. Não foi estranho, portanto, que João Soares tenha sido derrotado por um imbecil como o Santana; que a base eleitoral do PC se tenha esboroado, entretanto; e que o BE pouco tenha para apresentar como fruto do seu acordo com o Costa, para além da integração dos precários, estando ainda por ver a mais-valia do pusilânime Sá Fernandes como candidato do partido. Estão bem à vista os resultados da gestão autárquica do PS/PSD que transformou Lisboa numa das cidades portuguesas com menos qualidade de vida e verdadeira montra do desleixo nacional para os turistas, onde coabitam alegremente quarteirões abandonados, habitações degradadas, conglomerados de prédios de escritórios e condomínios fechados, envolvidos por uma teia caótica de trânsito.
Reafirmamos aqui, os nossos princípios:

1 – Aposta principal na acção política fora das instituições da democracia de mercado com o desmascaramento do seu papel de anestesiante e de factor resignativo e de diversão para os reais interesses da multidão;

2 – Amplificação dos protestos, da desobediência, da contestação permanente como formas de desgastar o inimigo socratóide ou quem lhe possa vir a suceder e dificultar, prejudicar ou evitar o saque capitalista;

3 – Organização autónoma, troca de experiências, colaboração e coordenação dos grupos e colectiivos de perfil anti-capitalista e anti-autoritário;

4 – Integração dessa prática de luta com uma melhor compreensão do mundo actual, através da discussão franca e descomplexada, sem protagonismos e sem atitudes religiosas de posse da verdade, sobre temas como o capitalismo de hoje, o Estado, a representação democrática, o papel do Estado-nação, etc

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt

o consumismo desenfreado

Quando o duro decide tornar-se diplomático

O presidente George W. Bush e a sua corte neo-con assumiram como um ponto de honra que a sua relação com regimes de que não gostavam seria de dureza e não de diplomacia mole. No seu discurso do Estado da União, em 2002, Bush denunciou o “Eixo do Mal” – composto pelo Iraque, Irão e Coreia do Norte – e indicou que os Estados Unidos iriam agir no sentido de desmantelar os seus regimes, não de negociar com eles.

Pouco tempo depois, Bush suspendeu o Acordo de 1994, que a administração Clinton havia negociado com a Coreia do Norte. Em resposta, a Coreia do Norte reiniciou o seu reactor nuclear e findou a sua cooperação com a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA). Depois, os Estados Unidos recusaram-se a realizar conversações bilaterais com a Coreia do Norte, insistindo que todos os debates ocorressem através das chamadas “conversações a seis partes” (Estados Unidos, Coreia do Norte, Coreia do Sul, China, Japão e Rússia) como única forma de contacto.

Em 2006, a Coreia do Norte fez explodir uma arma nuclear, oficialmente. Pouco depois, os Estados Unidos iniciaram reuniões bilaterais com a Coreia do Norte, que antes tinham recusado. Em Junho de 2008, foram anunciados os primeiros resultados concretos destas negociações: a Coreia do Norte desactivou uma torre nuclear e os Estados Unidos excluíram a Coreia do Norte das sanções relacionadas com a Lei do Comércio com o Inimigo, passando a enviar assistência alimentar. Isto foi considerado no lado dos EUA como um “progresso incremental”.

O regresso dos Estados Unidos à diplomacia e a sua aceitação do progresso incremental foi denunciado pelos neo-cons, agora fora do governo, como John Bolton, como «um triste, triste dia» no qual os Estados Unidos foram «levados à lavandaria». O vice-presidente Cheney foi considerado derrotado na batalha interna contra os defensores de negociações, como a Secretária de Estado Condoleezza Rice e o secretário de Defesa, Gates. Apoiantes da decisão na administração saudaram-na como um «sucesso diplomático». Outros referem que, se os Estados Unidos não tivessem suspendido o acordo, a Coreia do Norte poderia nunca ter feito explodir a bomba atómica. Assim, alegaram, a não-negociação facilitou, e não impediu, a Coreia do Norte de se tornar uma potência nuclear.

O que mudou entre 2002 e 2006, de tal forma que os Estados Unidos passassem da “linha dura” para a abordagem “diplomática”? Isso é fácil de compreender. A guerra no Iraque foi um fiasco que (com o Afeganistão) absorvia todo o aparato militar dos EUA. Quando os norte-coreanos fizeram explodir uma arma nuclear, os militares norte-americanos deixaram bem claro ao presidente Bush que não havia qualquer forma de também poderem desenvolver uma acção militar na Coreia do Norte. Portanto, com a Coreia do Norte detentora da bomba, a diplomacia era a única escolha possível. Bush engoliu com dificuldade, mas o que mais poderia fazer? Iria conseguir com o esforço “diplomático” que a Coreia do Norte abandonasse todas as armas nucleares? Talvez não. Mas o que mais poderiam fazer os Estados Unidos?

Agora, olhemos para Israel. Israel sempre preferiu a linha dura à diplomacia. Em primeiro lugar, não admitem que haja uma Palestina com a qual negociar. Assim, não dialogariam com Yasser Arafat e a OLP até que eles “reconhecessem” Israel e renunciassem à violência. Depois, quando a primeira Intifada mostrou a Israel que enfrentava um problema sério com as rebeliões internas dos palestinos, chegou-se aos chamados acordos de Oslo, que estabeleceram uma forma muito limitada e restritiva de controlo, de facto, por parte da Autoridade Palestiniana, de algumas partes de Gaza e da Cisjordânia. Depois da segunda Intifada, Israel boicotou Arafat novamente e só viria a retomar as negociações com o seu sucessor, Mahmud Abbas.

Em 2006, houve eleições na Palestina. O partido de Abbas, o Fatah, foi derrotado pelo Hamas, cuja posição oficial era a de se recusar a reconhecer a legitimidade do Estado de Israel. Assim, a linha dura foi reinstituída por Israel. Eles não iriam negociar, de forma alguma, com um governo do Hamas, a menos que este revisse a sua posição básica. O governo dos EUA apoiou incondicionalmente esta posição.

Em 2007, a Palestina implodiu. Abbas, como presidente, destituiu o primeiro-ministro do Hamas, que se recusou a aceitar a legitimidade de tal acção. Em resultado, o Hamas assumiu o controlo completo da Faixa de Gaza e as forças de Abbas apenas mantiveram, mais ou menos controlada, a Cisjordânia. Havia agora dois governos. Os israelitas e os Estados Unidos reconheceram apenas o governo de Abbas e tentaram isolar o Hamas, e em consequência Gaza, em todos os sentidos, instituindo um apertado controlo de entrada de pessoas e mercadorias dentro e fora da Faixa de Gaza.

Na cena mundial, Israel e os Estados Unidos insistiram para que todos os outros cumprissem o seu boicote total ao Hamas, o que a União Europeia e as Nações Unidas fizeram em larga medida. Eles até insistiram para que o boicote fosse respeitado por indivíduos. Quando um assessor de Barack Obama revelou que tinha sido obrigado a reunir-se com o Hamas, e que tinha vindo a fazer isso no seu trabalho, a imediata pressão que se fez sobre Obama obrigou-o a cortar ligações com este assessor.

Agora, de repente, a “linha dura” de Israel já deu lugar à diplomacia. Em 18 de Junho, o Hamas e Israel acordaram uma trégua formal, na qual cada uma das partes se comprometeu a cessar todas as acções militares contra o outro lado, levantando-se as restrições nas fronteiras. O governo dos EUA aprovou esta acção e o israelita votou-a com apenas quatro abstenções. É certo que, de imediato, os adeptos da linha dura em Israel e na comunidade judaica dos EUA denunciaram esse acordo, pelas mesmas razões que os neo cons denunciaram o acordo dos EUA com a Coreia do Norte. Disseram que a trégua não iria funcionar porque ela não iria durar muito. Talvez. E, em 29 de Junho, Israel continuou nesta linha, com um segundo acordo diplomático com o Hezbollah. Israel concordou com uma muito controversa troca de prisioneiros. Para dois soldados israelitas capturados, e provavelmente já mortos, Israel está a propor libertar uma grande figura do Hezbollah, responsável pelo assassinato de israelitas.

Por que passou Israel da linha dura para a diplomacia? Houve, sem dúvida, muitas considerações eleitorais internas a Israel. Mas o verdadeiro motivo é que os israelitas descobriram que não foram capazes de acabar com os bombardeamentos militares palestinos às suas cidades. E todos puderam tirar conclusões disto. Abbas retomou as negociações com o Hamas. Os egípcios foram pressionar os israelitas e os norte-americanos para negociar com o Hamas. E, claro, os israelitas estão numa posição diplomática mais fraca do que teriam há dois anos atrás, para não falar dos tempos de Arafat. Entretanto, a França concluiu que era agora seguro exortar Israel a fazer concessões sérias. Seriam os políticos americanos, dentro e fora do governo, tão enfáticos? No que diz respeito ao Hezbollah, os israelitas tentaram destruí-los militarmente e falharam por completo. Foi um espectáculo embaraçoso que revelou os limites do poder militar israelita.

As linhas duras funcionam quando se tem poder para as impor. A diplomacia é algo imposto à parte mais forte num conflito com duas vias. Os Estados Unidos na Coreia do Norte e os israelitas na Faixa de Gaza/Palestina e no Líbano estão agora a aprender isso – um pouco tarde. Mas mais vale tarde do que nunca. Será que o resto de nós está agora autorizado a defender e comprometer-se no mesmo tipo de relações diplomáticas que o regime de Bush e o Governo de Israel legitimaram?
Immanuel Wallerstein
Fernand Braudel Center

http://www.infoalternativa.org/mundo/mundo303.htm

vê lá se apanhas

Operação Sarkozy: Como a CIA colocou um dos seus agentes na presidência da República Francesa

Nicolas Sarkozy deve ser julgado pelas suas acções e não pela sua personalidade. Mas quando as suas acções surpreendem até os seus próprios eleitores, é legítimo debruçarmo-nos em pormenor sobre a sua biografia e interrogarmo-nos sobre as alianças que o conduziram ao poder. Este artigo descreve as origens do presidente da República Francesa. Todas as informações nele contidas são verificáveis, com excepção de duas imputações, pelas quais o autor assume a responsabilidade exclusiva.
Os franceses, cansados das demasiado longas presidências de François Mitterrand e de Jacques Chirac, elegeram Nicolas Sarkozy contando com a sua energia para revitalizar o país. Eles esperavam uma ruptura com anos de imobilismo e ideologias ultrapassadas. Tiveram uma ruptura com os princípios que fundam a nação francesa. Ficaram estupefactos pois este "hiper presidente", a apanhar um novo dossier a cada dia, a atrair a direita e a esquerda para si, a abalar todas as referências até criar uma completa confusão.

Tal como as crianças que acabam de fazer uma grossa asneira, os franceses estão demasiado ocupados a procurar desculpas para admitir a amplitude dos danos e a sua ingenuidade. Recusam-se portanto a ver quem realmente é Nicolas Sarkozy, o que deveriam ter percebido há muito.

O homem é hábil. Tal como um ilusionista, ele desviou as atenções ao oferecer a sua vida privada como espectáculo e a posar nas revistas populares, até fazer esquecer seu percurso político.

Que se compreenda bem o sentido deste artigo: não se trata de criticar o sr. Sarkozy pelas suas ligações familiares, de amizade e profissionais, mas de criticá-lo por ter escondido suas ligações aos franceses que acreditaram, erradamente, estar a eleger um homem livre.

Para compreender como um homem em que todos hoje concordam em ver o agente dos Estados Unidos e de Israel pode tornar-se o chefe do partido gaullista, depois presidente da República Francesa, é preciso remontar atrás. Muito atrás. Teremos de efectuar uma longa digressão no decorrer da qual apresentaremos os protagonistas que hoje se vingam.

Segredos de família

No fim da Segunda Guerra Mundial, os serviços secretos estado-unidenses apoiaram-se no padrinho italo-americano Lucky Luciano para controlar a segurança dos portos americanos e para preparar o desembarque aliado na Sicilia.

Os contactos de Luciano com os serviços dos EUA passam nomeadamente por Frank Wisner Sr. e depois, quando o "padrinho" é libertado e se exila na Itália, pelo seu "embaixador" corso, Étienne Léandri.

Em 1958, os Estados Unidos, inquietos com uma possível vitória da FLN na Argélia que abriria a África do Norte à influência soviética, decidem instigar um golpe de Estado militar em França. A operação é organizada em conjunto pela Direcção da Planificação da CIA – teoricamente dirigida por Frank Wisner Sr. – e pela NATO. Mas Wisner já havia afundado na demência de modo que é o seu sucessor, Allan Dulles, que supervisiona o golpe. A partir de Argel, generais franceses criam um Comité de Salvação Pública que exerce uma pressão sobre o poder civil parisiense e constrange-o a votar plenos poderes ao general De Gaulle sem ter necessidade de recorrer à força. [1]

Ora, Charles De Gaulle não é o peão que os anglo-saxões acreditavam poder manipular. Num primeiro tempo, ele tenta sair da contradição colonial concedendo uma grande autonomia aos territórios do ultramar no seio de uma União Francesa. Mas é demasiado tarde já para salvar o Império francês pois os povos colonizados não acreditam mais nas promessas da metrópole e exigem a sua independência. Depois de ter conduzido vitoriosamente ferozes campanhas de repressão contra os independentistas, De Gaulle rende-se à evidência. Fazendo prova de uma rara sabedoria política, ele decide conceder a cada colónia a sua independência.

Esta reviravolta foi considerada pela maior parte daqueles que o levaram ao poder como uma traição. A CIA e a NATO apoiam então toda espécie de conspirações para eliminá-lo, inclusive um putsch falhado e uma quarentena de tentativas de assassinato. [2] Entretanto, alguns dos seus partidários aprovam a sua evolução política. Em torno de Charles Pasqua eles criam o SAC, uma milícia para protegê-lo.

Pasqua é ao mesmo tempo um gangster corso e um antigo resistente. Ele casou-se com a filha de um contrabandista de bebidas canadiano que fez fortuna durante a proibição. Dirige a sociedade Ricard que, depois de ter comercializado o absinto, um álcool proibido, respeitabiliza-se a vender anisete. Entretanto, a sociedade continua a servir de cobertura para todas espécie de tráficos relacionados com a família italo-nova-iorquina dos Genovese, aquela de Lucky Luciano. Portanto não é espantoso que Pasqua apele a Étienne Léandri (o "embaixador" de Luciano) para recrutar braços fortes e constituir a milícia gaullista. [3] Um terceiro homem desempenha um grande papel na formação do SAC, o antigo guarda costas de De Gaulle, Achille Peretti – também ele um corso.

Assim defendido, De Gaulle concebe com desenvoltura uma política de independência nacional. Sempre afirmando sua pertença ao campo atlântico, ele põe em causa a liderança anglo-saxónica. Opõe-se à entrada do Reino Unido no Mercado Comum Europeu (1961 e 1967); recusa a mobilização dos capacetes azuis da ONU no Congo (1961); encoraja os Estados latino-americanos a libertarem-se do imperialismo americano (discurso do México, 1964); expulsa a NATO da França e retira-se do Comando Integrado do Aliança Atlântica (1966); denuncia a Guerra do Vietname (discurso de Phnon Pehn, 1966); condena o expansionismo israelense aquando da Guerra dos Seis Dias (1967); apoia a independência do Quebeque (discurso de Montreal, 1967); etc...

Em simultâneo, De Gaulle consolida o poderio da França dotando-a de um complexo militar-industrial incluindo a força de dissuasão nuclear, e garantindo seu aprovisionamento energético. Afasta utilmente os inconvenientes corsos do seu círculo confiando-lhes missões no estrangeiro. Assim, Étienne Léandri torna-se o trader do grupo Elf (hoje Total) [4] , ao passo que Charles Pasqua torna-se o homem de confiança dos chefes de Estado da África francófona.

Consciente de que não pode desafiar os anglo-saxões sobre todos os terrenos ao mesmo tempo, De Gaulle alia-se à família Rothschild. Escolhe como primeiro-ministro o director do banco, Georges Pompidou. Os dois homens formam um par eficaz. A audácia política do primeiro nunca perde de vista o realismo económico do segundo.

Quando De Gaulle se demite, em 1969, Georges Pompidou sucede-lhe brevemente na presidência antes de ser levado por um cancro. Os gaullistas históricos não admitem a sua liderança e inquietam-se com a sua tendência anglófila. Eles urram "traição" quando Pompidou, secundado pelo secretário-geral do Eliseu Edouard Balladur, faz entrar "a pérfida Albion" no Mercado Comum Europeu.

A fabricação de Nicolas Sarkozy

Apresentado este cenário, retornemos ao nosso personagem principal, Nicolas Sarkozy. Nascido em 1955, é o filho de um nobre húngaro, Pal Sarkösy de Nagy-Bocsa, refugiado em França depois de ter fugido do Exército Vermelho, e de Andrée Mallah, uma judia originária de Tessalónica. Depois de terem três filhos (Guillaume, Nicolas e François), o casal divorcia-se. Pal Sarkösy de Nagy-Bocsa casa-se novamente com uma aristocrata, Christine de Ganay, de quem terá dois filhos (Pierre-Olivier et Caroline). Nicolas não será educado só pelos seus pais, mas mover-se-á nesta família recomposta.

Sua mãe tornou-se a secretária de Achille Peretti. Depois de ter sido co-fundador do SAC, o guarda-costas de De Gaulle havia trilhado uma brilhante carreira política. Fora eleito deputado e maire de Neuilly-sur-Seine, o mais rico arrabalde residencial de Paris, depois presidente da Assembleia Nacional.

Infelizmente, em 1972, Achille Peretti é posto gravemente em causa. Nos Estados Unidos, a revista Time revela a existência de uma organização criminosa secreta, a "União corsa", que controlaria grande parte do tráfico de estupefacientes entre a Europa e a América, a famosa "French connexion" que Hollywood levaria às telas. Apoiando-se em audições parlamentares e nas suas próprias investigações, a Time cita o nome de um chefe mafioso, Jean Venturi, preso alguns anos antes no Canadá, e que não é outro senão o delegado comercial de Charles Pasqua para a sociedade de bebidas alcoólicas Ricard. Evoca-se o nome de várias famílias que dirigiriam a "União corsa", inclusive os Peretti. Achille nega, mas deve renunciar à presidência da Assembleia Nacional e escapa mesmo a um "suicídio".

Em 1977, Pal Sarközy separa-se da sua segunda esposa, Christine de Ganay, a qual liga-se então com o nº 2 da administração central do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Ela o desposa e instala-se com ele na América. Sendo o mundo pequeno, como é bem sabido, seu marido não é outro senão Frank Wisner Jr., filho do anterior. As funções de Junior na CIA não são conhecidas, mas é claro que ele desempenha um papel importante. Nicolas, que permanece próximo da sua mãe adoptiva (belle-mère), do seu meio irmão e da sua meia irmã, começa a virar-se para os Estados Unidos onde se "beneficia" dos programas de formação do Departamento de Estado.

Neste período, Nicolas Sarkozy adere ao partido gaullista. Ali tem contactos com Charles Pasqua, tanto mais frequentes por este ser não só um líder nacional como também o responsável da secção departamental de Hauts-de-Seine.

Em 1982, Nicolas Sarkozy, tendo concluído seus estudos de direito e tendo-se inscrito nos tribunais, casa com a sobrinha de Achille Peretti. Sua testemunha de casamento é Charles Pasqua. Enquanto advogado, Mestre Sarkozy defende os interesses dos amigos corsos dos seus mentores. Ele adquire uma propriedade na ilha da beleza, em Vico, e imagina "corsisar" o seu nome substituindo o "y" por um "i": Sarkozi.

No ano seguinte é eleito maire de Neuilly-sur-Seine em substituição do seu tio adoptivo, Achille Peretti, abatido por uma crise cardíaca.

Entretanto, Nicolas não tarda em trair sua mulher e, desde 1984, mantém uma ligação escondida com Cecília, a esposa do mais célebre animador da televisão francesa da época, Jacques Martins, que conheceu ao celebrar seu casamento na qualidade de maire de Neully. Esta vida dupla dura cinco anos, até que os amantes deixem seus consortes respectivos para construir um novo lar.

Nicolas é a testemunha de casamento, em 1992, da filha de Jacques Chirac, Claude, com um editorialista do Figaro. Ele não consegue impedir-se de seduzir Claude e de manter uma breve relação com ela, enquanto vive oficialmente com Cecília. O marido enganado suicida-se com a absorção de drogas. A ruptura é brutal e irreversível entre os Chirac e Nicolas Sarkozy.

Em 1993, a esquerda perde as eleições legislativas. O presidente François Mitterand recusa demitir-se e entra em co-habitação com um primeiro-ministro de direita, Jacques Chirac, que ambiciona a presidência e pensa então formar com Edouard Balladur um tandem comparável àquele de De Gaulle e Pompidou. Ele recusa-se a ser novamente primeiro-ministro e deixa o lugar ao seu "amigo de trinta anos", Edouard Balladur. Apesar do seu passado sulfuroso, Charles Pasqua torna-se ministro do Interior. Conservando firmemente o domínio da marijuana marroquina, ele aproveita a sua situação para legalizar as suas outras actividades tomando o controle dos casinos, jogos e corridas na África francófona. Ele também tece ligações na Arábia Saudita e em Israel e torna-se oficial de honra (officier d'honneur) do Mossad. Nicolas Sarkozy, por sua vez, é ministro do Orçamento e porta-voz do governo.

Em Washington, Frank Wisner Jr. assumiu a sucessão de Paul Wolfowitz como responsável pelo planeamento político no Departamento da Defesa. Ninguém comentou as ligações que o uniam ao porta-voz do governo francês.

É então que retorna ao seio do partido gaullista a tensão que se experimentara trinta anos antes entre os gaullistas históricos e a direita financeira, encarnada por Balladur. A novidade é que Charles Pasqua e com ele o jovem Nicolas Sarkozy traem Jacques Chirac para se aproximarem da corrente Rothschild. Saiu tudo errado. O conflito atingirá seu apogeu em 1995 quando Édouard Balladur se apresenta contra o seu ex-amigo Jacques Chirac à eleição presidencial, e será batido. Acima de tudo, seguindo as instruções de Londres e Washington, o governo Balladur abre as negociações de adesão à União Europeia e à NATO dos Estados da Europa central e oriental, livres da tutela soviética.

Nada dá certo no partido gaullista, onde os amigos de ontem estão prestes a matar-se uns aos outros. Para financiar a sua campanha eleitoral, Edouard Balladur tenta apoderar-se da caixa negra do partido gaullista, escondida na dupla contabilidade da petroleira Elf. Assim que morreu o velho Étienne Léandri, os juízes examinaram a sociedade e os seus dirigentes são encarcerados. Mas Balladur, Pasqua e Sakozy não chegarão a recuperar o tesouro.

A travessia do deserto

Ao longo de todo o seu primeiro mandato, Jacques Chirac manteve Nicolas Sarkozy a distância. O homem fez-se discreto durante esta longa travessia do deserto. Discretamente, continua a estabelecer relações nos círculos financeiros.

Em 1996, Nicolas Sarkozy, tendo por fim conseguido encerrar um processo de divórcio que não acabava, casa-se com Cecília. Eles têm como testemunhas os dois miliardários Martin Bouygues e Bernard Arnaud (o homem mais rico do país).

Último acto

Bem antes da crise iraquiana, Frank Wisner Jr. e seus colegas da CIA planeiam a destruição da corrente gaullista e a ascensão ao poder de Nicolas Sarkozy. Eles agem em três tempos: primeiro a eliminação da direcção do partido gaullista e a tomada de controle deste aparelho, depois a eliminação do principal rival de direita e a investidura do partido gaullista à eleição presidencial, finalmente a eliminação de todo rival sério à esquerda de maneira a que fosse certo ganhar a eleição presidencial.

Durante anos os media foram mantidos excitados pelas revelações póstumas de um promotor imobiliário. Antes de morrer de uma doença grave, ele registou, por uma razão nunca esclarecida, uma confissão em vídeo. Por uma razão ainda mais obscura, a "cassette" cai nas mãos de um hierarca do Partido Socialista, Dominique Strauss-Khan, que a faz chegar indirectamente à imprensa.

Se bem que as confissões do promotor imobiliário não resultem em nenhuma sanção judiciária, elas abrem uma caixa de Pandora. A principal vítima dos casos sucessivos será o primeiro-ministro Alain Juppé. Para proteger Chirac, ele assume só todas as infracções penais. O afastamento de Juppé deixa o caminho livre a Nicolas Sarkozy para tomar a direcção do partido gaullista.

Sarkozy explora então a sua posição para constranger Jacques Chirac a retomá-lo no governo, apesar do seu ódio recíproco. Ele acabou por ser ministro do Interior. Que erro! Neste posto, ele controla os prefeitos e a rede de inteligência interna, a qual ele utilizou para colocar os seus indicados nos principais ramos da administração.

Ele também trata dos assuntos corsos. O prefeito Claude Érignac foi assassinado. Se bem que não tenha sido reivindicado, o assassínio foi imediatamente interpretado como um desafio lançado à República pelos independentistas. Após uma longa caçada, a polícia conseguiu prender um suspeito em fuga, Yvan Colonna, filho de um deputado socialista. Desprezando a presunção de inocência, Nicolas Sarkozy anuncia a sua prisão acusando-o de ser o assassino. É que a notícia é demasiado bela, a dois dias do referendo que o ministro do Interior organiza na Córsega para modificar o estatuto da ilha. Seja como for, os eleitores rejeitam o projecto Sarkozy que, segundo alguns, favorece os interesses mafiosos. Se bem que Yvan Colonna posteriormente tenha sido reconhecido culpado, ele sempre clamou a sua inocência e não foi encontrada nenhuma prova material contra ele. Estranhamente, o homem amuralhou-se no silêncio, preferindo ser condenado a revelar o que sabe. Nós revelamos aqui que o prefeito Érignac não foi morto por nacionalistas, mas sim abatido por um assassino a soldo, Igor Pecatte, imediatamente enviado para Angola onde foi contratado pela segurança do grupo Elf. O móvel do crime estava precisamente ligado às funções anteriores de Érignac, responsável pelas redes africanas de Charles Pasqua na Ministério da Cooperação. Quanto a Yvan Colonna, é um amigo pessoal de Nicolas Sarkozy desde há décadas e seus filhos frequentam-se mutuamente.

Explode um novo caso: circulam falsas listagens que acusam mentirosamente várias personalidade de esconderem contas bancárias no Luxemburgo, junto à Clearstream. Dentre as personalidades difamadas, Nicolas Sarkozy. Ele apresenta queixa e sub-entende que seu rival de direita na eleição presidencial, o primeiro-ministro Dominique de Villepin, organizou esta maquinação. Ele não esconde sua intenção de lançá-lo na prisão.

Na realidade, as falsas listagens foram postas em circulação por membros da Fundação Franco-Americana [5] , de que John Negroponte era presidente e de que Frank Wisner Jr. é administrador. O que os juízes ignoram e que nós revelamos aqui é que as listagens foram fabricadas em Londres por uma oficina comum da CIA e do MI6, Hakluyt & Co, de que Frank Wisner Jr. é igualmente administrador.

Villepin defende-se do que é acusado, mas está sob exame, proibido de deixar a sua casa e, de facto, afastado provisoriamente da via política. O caminho está livre à direita para Nicolas Sarkozy.

Resta neutralizar as candidatura da oposição. As quotas de adesão ao Partido Socialista são reduzidas a um nível simbólico para atrair novos militantes. Subitamente milhares de jovens obtém seu cartão do partido. Dentre eles, pelo menos dez mil novos aderentes são na realidade militantes do Partido trotskquista "lambertista" (do nome do seu fundador, Pierre Lambert). Esta pequena formação de extrema esquerda historicamente pôs-se ao serviço da CIA contra os comunistas stalinianos durante a Guerra Fria (Ela é o equivalente do SD/USA de Max Shatchman, que formou os neoconservadores nos EUA). [6] Não é a primeira vez que os "lambertistas" infiltram o Partido Socialista. Eles nomeadamente plantaram dois célebres agentes da CIA: Lionel Jospin (que se tornou primeiro-ministro) e Jean-Christophe Cambadélis, o principal conselheiro de Dominique Strauss-Kahn. [7]

São organizadas primárias no interior do Partido Socialista a fim de designar seu candidato à eleição presidencial. Duas personalidades estão em concorrência: Laurent Fabius et Ségolène Royal. Só o primeiro representa um perigo para Sarkozy. Dominique Strauss-Kahn entra na corrida tendo por missão eliminar Fabius no último momento. O que ele está em condições de fazer graças aos votos dos militantes "lambertistas" infiltrados, que dão os seus votos não a ele mas sim a Royal. A operação foi possível porque Strauss-Kahn, de origem judia marroquina, está há muito na folha de pagamento dos Estados Unidos. Os franceses ignoram que ele dá cursos em Stanford, onde foi contratado pela superintendente da universidade, Condoleezza Rice. [8]

A partir da sua tomada de posse, Nicolas Sarkozy e Condoleezza Rice agradecerão a Strauss-Kahn fazendo-o eleger para a direcção do Fundo Monetário Internacional.

Primeiros dias no Eliseu

Na noite da segunda volta da eleição presidencial, quando os institutos de sondagem anunciam a sua provável vitória, Nicolas Sarkozy pronuncia um breve discurso à nação no seu QG de campanha. Depois, ao contrário de todos os costumes, ele não vai à festa com os militantes do seu partido, mas dirige-se ao Fouquet's. O célebre restaurante dos Campos Elíseos, que outrora era o ponto de encontro da "União corsa", hoje é propriedade do operador de casino Dominique Desseigne. Foi posto à disposição do presidente eleito para receber seus amigos e os principais doadores da sua campanha. Uma centena de convidados ali se acotovelam, os homens mais ricos da França ombro a ombro com patrões de casinos.

Depois disso o presidente eleito oferece-se alguns dias de repouso bem merecidos. Tomando um Falcon-900 privado, vai para Malta. Ali repousa no Paloma, o iate de 65 metros do seu amigo Vicent Bolloré, um miliardário formado no Banco Rothschild.

Finalmente, Nicolas Sarkozy toma posse como presidente da República Francesa. O primeiro decreto que assina não é para proclamar uma amnistia, mas para autorizar os casinos dos seus amigos Desseigne e Partouche a multiplicar as máquinas de moedas.

Ele forma sua equipe de trabalho e seu governo. Sem surpresa, encontra-se ali um bem turvo proprietário de casinos (o ministro da Juventude e Desporto) e o lobbyista dos casinos do amigo Desseigne (que se torna porta-voz do partido "gaullista").

Nicolas Sarkozy apoia-se sobretudo em quatro homens:
• Claude Guéant, secretário-geral do Palácio do Eliseu. É o antigo braço direito de Charles Pasqua.
• François Pérol, secretário-geral adjunto do Eliseu. É um associado-gerente do Banco Rothschild.
• Jean-David Lévitte, conselheiro diplomático. Filho do antigo director da Agência Judia. Embaixador da França na ONU, ele foi afastado das suas funções por Chirac que o julgava demasiado próximo de George Bush.
• Alain Bauer, o homem da sombra. Seu nome não aparece nos anuários. É o encarregado dos serviços de informação. Neto do Grande Rabi de Lyon, antigo Grande-Mestre do Grande Oriente da França (a principal obediência maçónica francesa) e antigo nº 2 da National Security Agency estado-unidense na Europa. [9]
Frank Wisner Jr., que entretanto fora nomeado enviado especial do presidente Bush para a independência do Kosovo, insiste em que Bernard Kouchner seja nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros com uma dupla missão prioritária: a independência do Kosovo e a liquidação da política árabe da França.

Kouchner, um judeu de origem báltica, começou sua carreira a participar na criação de uma ONG humanitária. Graças aos financiamentos da National Endowment for Democracy, ele participou nas operações de Zbigniew Brzezinski no Afeganistão, ao lado de Oussama Ben Laden e dos irmãos Karzaï contra os soviéticos. Nos anos 90 podia ser encontrado junto a Alija Izetbegoviç na Bosnia-Herzégovina. De 1999 à 2001 foi Alto Representante da ONU no Kosovo.

Sob o controle do irmão mais novo do presidente Hamid Karzaï, o Afeganistão tornou-se o primeiro produtor mundial de papoula. O seu sumo é transformado ali em heroína e transportado pela US Air Force para Campo Bondsteel (Kosovo). Lá, a droga passa para os homens de Haçim Thaçi que a escoa principalmente para a Europa e acessoriamente para os Estados Unidos. [10] Os lucros são utilizados para financiar as operações ilegais da CIA.

Karzaï e Thaçi são amigos pessoais de longa data de Bernard Kouchner, que certamente ignora suas actividades criminosas apesar dos relatórios internacionais que lhe foram consagrados.

Para completar seu governo, Nicolas Sarkozy nomeia Christine Lagarde, ministra da Economia e das Finanças. Ela fez toda a sua carreira nos Estados Unidos onde dirigiu o prestigioso gabinete de juristas Baker & McKenzie. No seio do Center for International & Strategic Studies de Dick Cheney, ela co-presidiu com Zbigniew Brzezinski um grupo de trabalho que supervisionou as privatizações na Polónia. Ela organizou um lobbying intenso por conta da Lockheed Martin contra o construtor de aviões francês Dassault. [11]

Nova escapada durante o Verão. Nicolas, Cecília, sua preceptora (maitresse) comum e seus filhos fazem-se oferecer férias estado-unidenses em Wolfenboroo, não longe da propriedade do presidente Bush. A factura, desta vez, é paga por Robert F. Agostinelli, um banqueiro de negócios italo-nova-iorquino, sionista e neoconservador que apresenta seus pontos de vista em Commentary, a revista do l'American Jewish Committee.

O êxito de Nicolas reflecte-se no seu meio-irmão Pierre-Olivier. Sob o nome americanizado de "Oliver", é nomeado por Frank Carlucci (que foi o nº 2 da CIA depois de ter sido recrutado por Frank Wisner Sr.) [12] director de um novo fundo de investimento do Grupo Carlyle (a sociedade comum de gestão de carteiras dos Bush e dos Ben Laden). [13] Tornado o 5º deal maker do mundo, ele gere os haveres principais dos fundos soberanos do Koweit e de Singapura.

A quota de popularidade do presidente está em queda livre nas sondagens. Um dos seus conselheiros em comunicação, Jacques Séguéla, preconiza desviar a atenção do público com novas "people stories". O anúncio do divórcio com Cecilia foi publicado pelo Libération, o jornal do seu amigo Edouard de Rothschild, para encobrir os slogans dos manifestantes num dia de greve geral.

Indo mais além, o comunicador organizou um encontro com a artista e ex-manequim Carla Bruni. Alguns dias mais tarde, sua ligação com o presidente é oficializada e a campanha mediática encobre novamente as críticas políticas. Algumas semanas ainda e é o terceiro casamento de Nicolas. Desta vez, ele escolhe como testemunhas Mathilde Agostinelli (a esposa de Robert) e Nicolas Bazire, antigo director de gabinete de Edouard Balladur que se tornou associado-gerente no Rothschild.

Quando os franceses terão olhos para ver o que têm a fazer?

[1] Quand le stay-behind portait De Gaulle au pouvoir , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 27 août 2001
[2] Quand le stay-behind voulait remplacer De Gaulle , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 10 septembre 2001
[3] L'Enigme Pasqua , par Thierry Meyssan, Golias ed, 2000.
[4] Les requins: Un réseau au coeur des affaires Elf, Thomson, TGV, GMF, travaux publics, partis politiques , par Julien Caumer, Flammarion, 1999.
[5] Un relais des États-Unis en France : la French American Foundation , par Pierre Hillard, Réseau Voltaire, 19 avril 2007.
[6] Les New York Intellectuals et l'invention du néo-conservatisme , par Denis Boneau, Réseau Voltaire, 26 novembre 2004.
[7] Eminences grises , Roger Faligot et Rémi Kauffer, Fayard, 1992 ; "The Origin of CIA Financing of AFL Programs" in Covert Action Quaterly, n° 76, 1999.
[8] Dominique Strauss-Kahn, l'homme de "Condi" au FMI , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 5 octobre 2007.
[9] Alain Bauer, de la SAIC au GOdF , Note d'information du Réseau Voltaire, 1er octobre 2000.
[10] Le gouvernement kosovar et le crime organisé , par Jürgen Roth, Horizons et débats, 8 avril 2008.
[11] Avec Christine Lagarde, l'industrie US entre au gouvernement français , Réseau Voltaire, 22 juin 2005.
[12] L'honorable Frank Carlucci , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 11 février 2004.
[13] Les liens financiers occultes des Bush et des Ben Laden et Le Carlyle Group, une affaire d'initiés , Réseau Voltaire, 16 octobre 2001 et 9 février 2004.

Thierry Meyssan
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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SEGURANÇA SOCIAL É EXCEDENTÁRIA, CONFIRMA MAIS UMA VEZ TRIBUNAL DE CONTAS!

[Quem costuma afirmar solenemente que a segurança social «é inviável» a longo prazo se não forem efectuados cortes drásticos nos montantes das pensões e se não se diferir o mais possível a entrada das pessoas na reforma, são sisudos políticos e analistas alinhados com o regime.
Porém, o Tribunal de Contas, instituição o mais oficial possível, revela que « o excedente desse sector aumentou 46 por cento para 1,1 mil milhões de euros.» e [...]«No ano passado, a segurança social terminou com um saldo positivo de 1.147,5 milhões de euros, mais 46 por cento do que em 2006, segundo o Tribunal de Contas, com as receitas a subirem 4,1 por cento e as despesas a aumentarem 2,3 por cento.»
Todos os figurões que têm cantado a estafada e mentirosa cantilena da «inviabilidade da segurança social» ficam mais uma vez completamente desacreditados perante uma opinião pública adulta, esclarecida ... mas quem espera que tal aconteça nesta «cleptocracia»???
MB]

Tribunal de Contas recusa-se a validar contas de 2007 da segurança social

Lisboa, 25 Jul (Lusa) - O Tribunal de Contas manteve novamente as reservas sobre as contas de 2007 da segurança social, por falta de viabilidade dos números, num ano em que o excedente desse sector aumentou 46 por cento para 1,1 mil milhões de euros.
De acordo com o relatório de acompanhamento da execução do orçamento da segurança social, o Tribunal de Contas diz que "os dados financeiros disponibilizados pelo sistema de informação financeira (SIF) da segurança social não oferecem ainda garantias de segurança e fidedignidade."
A informação que foi passada ao Tribunal de Contas em papel foi baseada em "mapas extra contabilísticos" de cada um dos subsistemas, os quais são "não confirmáveis pela informação que existe no SIF", pode ler-se no mesmo documento.
Por isso, e à semelhança do que sucedeu nos anos anteriores (desde 2004), o Tribunal de Contas decidiu não validar as contas da segurança social, dado o carácter "provisório dos dados e a sua "limitada fiabilidade."
No ano passado, a segurança social terminou com um saldo positivo de 1.147,5 milhões de euros, mais 46 por cento do que em 2006, segundo o Tribunal de Contas, com as receitas a subirem 4,1 por cento e as despesas a aumentarem 2,3 por cento.
IRE.
Lusa/Fim
http://www.luta-social.org/

portugal

Pílula continua excomungada

Quarenta anos depois da publicação da encíclica do Papa Paulo XI, “Humanae Vitae” proibindo o uso da pílula anticoncepcional, cerca de 60 organizações católicas dissidentes pediram ao Papa Bento XVI que autorize a contracepção em uma carta publicada nesta sexta-feira e imediatamente considerada sem fundamento pelo Vaticano. ( A F P )
http://www.ateismo.net/

à moda portuguesa

Mais uma aposta na mentira

O investimento da Embraer em Portugal, que está a ser anunciado como salvação da pátria, é de 148 milhões de euros. Hoje em dia, há prémios de lotaria mais elevados.
Mesmo assim, o nosso primeiro-ministro diz que este investimento marca uma nova era industrial em Portugal. E nós desculpamos Sócrates porque Sócrates não sabe o que quer dizer «nova era industrial». Ouviu ontem num documentário do Discovery e achou graça à ideia.
Mas o investimento da Embraer não marca uma nova era industrial em Portugal, nem nada que se pareça com isso. Dos 148 milhões de euros, uma parte é para o fabrico de estruturas metálicas (uau!) e outra para componentes de resinas (ui!).
Nova era industrial? O que marcava uma nova era industrial em Portugal era o povo correr com este vendedor de banha da cobra.
http://lobi.blogs.sapo.pt/

ricas botas que eu tenho...

McCann citam D. Sebastião como exemplo histórico da ineficácia portuguesa na localização de desaparecidos

Após arquivamento do processo em que se viram como suspeitos do desaparecimento da filha, Kate e Gerry McCann não vacilam no propósito duplo de a localizar e, simultaneamente, de provar que qualquer culpa que exista não lhes deverá ser atribuída a eles, mas sim a Portugal e a todos os seus habitantes, gente criminosamente estrangeira e morena, incapaz de localizar desaparecidos. Para consubstanciar esta convicção, o porta-voz do casal, Clarence Mitchell, referiu o desaparecimento do rei D. Sebastião em 1578 durante a Batalha de Alcácer-Quibir, sem nunca ter sido encontrado, e anunciou que um grupo de historiadores a soldo dos McCann obteve provas conclusivas de que a investigação ao desaparecimento do jovem monarca foi conduzida por um tal Lopo Mendo do Amaral, antepassado em linha directa de Gonçalo Amaral, ex-inspector da Polícia Judiciária afastado do caso Maddie por cheirar mal dos pés. Para lavar a honra ultrajada pela constituição como arguidos, o mediático casal britânico pretende exigir um pedido de desculpas por escrito a todos os cidadãos portugueses (ou em gravação áudio aos nossos muitos analfabetos) e o pagamento de uma indemnização a todos os que acharam a sua história mal contada, agravando-se a quantia se tiver havido formulação de teorias, dizendo, por exemplo, que os McCann deixaram morrer a criança por negligência grosseira, fazendo desaparecer o cadáver num enojante churrasco canibal com familiares e amigos.
http://www.inepcia.com/

domingo, julho 27, 2008

retrovisor com um novo design

Está a acontecer

Está a acontecer na nossa rua e à nossa volta, e ainda não percebemos que a Revolução, uma nova Era já começou!

As pessoas andam um bocado distraídas! Não deram conta que há cerca de 3 meses começou a Revolução! Não! Não me refiro a nenhuma figura de estilo, nem escrevo em sentido figurado! Falo mesmo da Revolução “a sério” e em curso, que estamos a viver, mas da qual andamos distraídos (desprevenidos) e não demos conta do que vai implicar. Mas falo, seguramente, duma Revolução!

De facto, há cerca de 3 ou 4 meses começaram a dar-se alterações profundas, e de nível global, em 10 dos principais factores que sustentam a sociedade actual. Num processo rápido e radical, que resultará em algo novo, diferente e porventura traumático, com resultados visíveis dentro de 6 a 12 meses… E que irá mudar as nossas sociedades e a nossa forma de vida nos próximos 15 ou 25 anos!

… tal como ocorreu noutros períodos da história recente: no status político-industrial saído da Europa do pós-guerra, nas alterações induzidas pelo Vietname/ Woodstock/ Maio de 68 (além e aquém Atlântico), ou na crise do petróleo de 73.
Estamos a viver uma transformação radical, tanto ou mais profunda do que qualquer uma destas!
Está a acontecer na nossa rua e à nossa volta, e ainda não percebemos que a Revolução já começou!

Façamos um rápido balanço da mudança, e do que está a acontecer aos “10 factores”:

1º- A Crise Financeira Mundial: desde há 8 meses que o Sistema Financeiro Mundial está à beira do colapso (leia-se “bancarrota”) e só se tem aguentado porque os 4 grandes Bancos Centrais mundiais - a FED, o BCE, o Banco do Japão e o Tesouro Britânico - têm injectado (eufemismo que quer dizer: “emprestado virtualmente à taxa zero”) montantes astronómicos e inimagináveis no Sistema Bancário Mundial, sem o qual este já teria ruído como um castelo de cartas. Ainda ninguém sabe o que virá, ou como irá acabar esta história !...

2º- A Crise do Petróleo: Desde há 6 meses que o petróleo entrou na espiral de preços. Não há a mínima ideia/teoria de como irá terminar. Duas coisas são porém claras: primeiro, o petróleo jamais voltará aos níveis de 2007 (ou seja, a alta de preço é adquirida e definitiva, devido à visão estratégica da China e da Índia que o compram e amealham!) e começarão rapidamente a fazer sentir-se os efeitos dos custos de energia, de transportes, de serviços. Por exemplo, quem utiliza frequentemente o avião, assistiu há 2 semanas a uma subida no preço dos bilhetes de… 50% (leu bem: cinquenta por cento). É escusado referir as enormes implicações sociais deste factor: basta lembrar que por exemplo toda a indústria de férias e turismo de massas para as classes médias (que, por exemplo, em Portugal ou Espanha representa 15% do PIB) irá virtualmente desaparecer em 12 meses! Acabaram as viagens de avião baratas (…e as férias massivas!), a inflação controlada, etc…

3- A Contracção da Mobilidade: fortemente afectados pelos preços do petróleo, os transportes de mercadorias irão sofrer contracção profunda e as trocas físicas comerciais (que sempre implicam transporte) irão sofrer fortíssima retracção, com as óbvias consequências nas indústrias a montante e na interpenetração económica mundial.

4- A Imigração: a Europa absorveu nos últimos 4 anos cerca de 40 milhões de imigrantes, que buscam melhores condições de vida e formação, num movimento incessante e anacrónico (os imigrantes são precisos para fazer os trabalhos não rentáveis, mas mudam radicalmente a composição social de países-chave como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra ou a Itália). Este movimento irá previsivelmente manter-se nos próximos 5 ou 6 anos! A Europa terá em breve mais de 85 milhões de imigrantes que lutarão pelo poder e melhor estatuto sócio-económico (até agora, vivemos nós em ascensão e com direitos à custa das matérias-primas e da pobreza deles)!

5º- A Destruição da Classe Média: quem tem oportunidade de circular um pouco pela Europa apercebe-se que o movimento de destruição das classes médias (que julgávamos estar apenas a acontecer em Portugal e à custa deste governo) está de facto a “varrer” o Velho Continente! Em Espanha, na Holanda, na Inglaterra ou mesmo em França os problemas das classes médias são comuns e (descontados alguns matizes e diferente gradação) as pessoas estão endividadas, a perder rendimentos, a perder força social e capacidade de intervenção.

6º- A Europa Morreu: embora ainda estejam projectar o cerimonial do enterro, todos os Euro-Políticos perceberam que a Europa moribunda já não tem projecto, já não tem razão de ser, que já não tem liderança e que já não consegue definir quaisquer objectivos num “caldo” de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns!... Já nenhum Cidadão Europeu acredita na “Europa”, nem dela espera coisa importante para a sua vida ou o seu futuro! O “Requiem” pela Europa e dos “seus valores” foi chão que deu uvas: deu-se há dias na Irlanda!

7º- A China ao assalto! Contou-me um profissional do sector: a construção naval ao nível mundial comunicou aos interessados a incapacidade em satisfazer entregas de barcos nos próximos 2 anos, porque TODOS os estaleiros navais do Mundo têm TODA a sua capacidade de construção ocupada por encomendas de navios… da China. O gigante asiático vai agora “atacar” o coração da Indústria europeia e americana (até aqui foi just a joke…). Foram apresentados há dias no mais importante Salão Automóvel mundial os novos carros chineses. Desenhados por notáveis gabinetes europeus e americanos, Giuggiaro e Pininfarina incluídos, os novos carros chineses são soberbos, réplicas perfeitas de BMWs e de Mercedes (eu já os vi!) e vão chegar à Europa entre os 8.000 e os 19.000 euros! E quando falamos de Indústria Automóvel ou Aeroespacial europeia…helás! Estamos a falar de centenas de milhar de postos de trabalhos e do maior motor económico, financeiro e tecnológico da nossa sociedade. À beira desta ameaça, a crise do têxtil foi uma brincadeira de crianças! (Os chineses estão estrategicamente em todos os cantos do mundo a escoar todo o tipo de produtos da China, que está a qualificá-los cada vez mais).

8- A Crise do Edifício Social: As sociedades ocidentais terminaram com o paradigma da sociedade baseada na célula familiar! As pessoas já não se casam, as famílias tradicionais desfazem-se a um ritmo alucinante, as novas gerações não querem laços de projecto comum, os jovens não querem compromissos, dificultando a criação de um espírito de estratégias e actuação comum…

9- O Ressurgir da Rússia/Índia: para os menos atentos: a Rússia e a Índia estão a evoluir tecnológica, social e economicamente a uma velocidade estonteante! Com fortes lideranças e ambições estratégicas, em 5 anos ultrapassarão a Alemanha!

10- A Revolução Tecnológica: nos últimos meses o salto dado pela revolução tecnológica (incluindo a biotecnologia, a energia, as comunicações, a nanotecnologia e a integração tecnológica) suplantou tudo o previsto e processou-se a um ritmo 9 vezes superior à média dos últimos 5 anos!

Eis pois, a Revolução!
Tal como numa conta de multiplicar, estes dez factores estão ligados por um sinal de “vezes” e, no fim, têm um sinal de “igual”. Mas o resultado é ainda desconhecido e… imprevisível.
Uma coisa é certa: as nossas vidas vão mudar radicalmente nos próximos 12 meses e as mudanças marcar-nos-ão (permanecerão) nos próximos 10 ou 20 anos, forçando-nos a ter carreiras profissionais instáveis, com muito menos promoções e apoios financeiros, a ter estilos de vida mais modestos, recriativos e ecológicos.

Contrariamente a um comentador que muito estimo pelo seu brilho e inteligência (Carlos Magno, programa “Contraditório” da “Antena 1”, 13 de Junho) eu não acho que o Mundo está “a entrar num crespúsculo” (sic).
Espera-nos o Novo! Como em todas as Revoluções!•

Um conselho final: é importante estar aberto e dentro do Novo, visionando e desfrutando das suas potencialidades! Da Revolução! Ir em frente! Sem medo!

Afinal, depois de cada Revolução, o Mundo sempre mudou para melhor!...
Carlos_Lacerda
(recebido por mail)

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Adultério e pena de morte

A pena de morte é uma barbárie que repugna ao humanismo e um acto de vingança que envergonha os Estados e os cidadãos. É natural que tenha vindo a ser erradicada dos países civilizados, sobretudo daqueles onde são mais fundas as marcas do Iluminismo e melhor defendidos pelas Constituições os direitos, liberdades e garantias.
Mas se a rusticidade da violência é já, em si, uma enormidade que afronta a civilização e a decência, há motivos que juntam, à vingança e crueldade, a demência.
No Irão acabam de ser condenados à morte por lapidação, uma pena do especial agrado de Maomé, oito mulheres e um homem acusados de adultério, crimes que resultam sobretudo da violência doméstica e onde os condenados carecem de instrução básica para perceberem o crime de que são acusados.
As teocracias são o contrário das democracias e não se espera contemplações do Profeta ou de quem promulga as suas divinas leis. De pouco servem as circunstâncias em que o crime foi cometido ou a confusão obscena entre crime e pecado, entre o Código Penal dos países laicos e o direito canónico, de sabor medieval, dos países sob tutela clerical.
Camilo e Ana Plácido estiveram presos, ele por ter copulado com mulher casada e ela por adultério, pena exclusiva de mulher. O homem só era punível quando apanhado em flagrante delito «sós e nus na mesma cama» ou por existência de carta ou documento escrito. Foi uma carta que perdeu Camilo. O escritor cumpriu mais de um ano de prisão preventiva e Ana Plácida um pouco mais. Terá pesado a ousadia de retirar do Convento da Conceição, em Braga, uma mulher que devia dedicar-se à contemplação mística e à oração, em vez de dar-se a relaxações eróticas.
Em Portugal já decorreu século e meio. No Irão ainda hoje vigora o crime, com efeitos muito mais arrasadores. Em Portugal resta, como resquício teocrático e vergonha dos legisladores, o crime de blasfémia, punível com prisão, que a jurisprudência ignora perante um bem maior – a liberdade de expressão.
No Irão dos aiatolas a polícia e os tribunais são um mero instrumento do clero de que o mundo civilizado é cúmplice em nome do respeito pela tradição e pela cultura.
Há quem confunda religião e cultura.
http://www.ateismo.net/

jogos olímpicos 2012


http://www.rebelion.org/

A auto destruição do capitalismo da dívida (I)

Num período de menos de um ano, aquilo que fora descrito pelas autoridades estado-unidenses como um problema financeiro temporário relacionado com o estouro da bolha habitacional redundou numa crise completamente madura no próprio núcleo do capitalismo de livre mercado.

Durante anos um punhado de analistas estivera a advertir que a desregulamentação maciça dos mercados financeiros e o erro da privatização do sector público durante as últimas duas décadas ameaçaria a viabilidade do capitalismo de livre mercado. Mas a fixação ideológica neoliberal permanece firmemente arraigada nos círculos dirigentes dos EUA, fertilizada pelas irresistíveis contribuições de campanha dos especuladores da Wall Street, expurgando metodicamente as agências reguladoras de tudo o que tentasse manter um senso de realidade financeira.

Esta ideologia de "o mercado sabe melhor" permitiu que o país deslizasse numa insustentável condução errática quanto à sua dívida maciça – assumida vertiginosamente por todos os participantes do mercado, que vão desde os bancos supostamente conservadores, bancos de investimento e outras instituições financeiras não bancárias, até corporações industriais, empresas patrocinadas pelo governo (government sponsored enterprises, GSEs) e indivíduos.

A outrora dinâmica economia dos EUA transformou-se num sistema em que é difícil encontrar alguma instituição, companhia ou indivíduo que não tenha a sua cabeça na dívida especulativa. O capitalismo subcapitalizado, também conhecido como capitalismo da dívida, foi o motor do crescimento da bolha da dívida estado-unidense nas últimas duas décadas. Este capitalismo canceroso é causado por um fracasso da banca central.

Face a um vasto colapso sistémico do capitalismo da dívida, onde o capital tornou-se perigosamente inadequado e novo capital arriscado e proibitivamente escasso, tendo sido esmagado pela dívida maciça colaterizada por excessivos activos de valor declinante e com uma crise de crédito que claramente exige reestruturação dinâmica e cuidados intensivos abrangentes, aqueles nos EUA que são responsáveis pelo bem estar financeiro do país parecem ter estado a reagir tacticamente de crise em crise com um roteiro de firme negação dos factos óbvios, dos sintomas e das tendências, sem sinais de qualquer grande estratégia ou plano coerente para salvar o sistema canceroso da auto-destruição estrutural.

Esta abordagem improvisada de curto prazo para artificialmente estimular preços de acções no mercado em colapso e para manter instituições financeiras insolventes com salva-vidas técnicos conduzirá apenas ao desastre a longo prazo de toda a economia.

Mas esta abordagem é preferido por aqueles que detêm autoridade, presos no auto engano de o capitalismo do mercado não regulamentado ainda ser fundamentalmente saudável. Eles tentam acalmar os mercados asseverando que a confusão actual é meramente um pequeno gargalo de liquidez que pode ser manuseado pela entrega por parte do banco central de mais liquidez contra o pleno valor facial de colaterais de valor em declínio.

A mensagem é que, se o dinheiro fácil na forma de dívida for tornado infindavelmente disponível, de certo modo a economia recuperará deste esmagamento do crédito, não obstante o facto de a dívida excessiva ter sido a causa do problema; ou de maus empréstimos poderem ser tornados bons pelo Congresso se der ao Tesouro dos EUA autoridade para comprar maus empréstimos com quantias ilimitadas de dinheiro dos contribuintes.

Mas estas medidas incrementais adoptadas até agora pelo Tesouro e pelo Federal Reserve dão a estas duas unidades do governo responsabilidade directas sobre a saúde financeira a longo prazo do país parecerem como correctores vigaristas (rogue traders) em pânico a comerciarem para as contas nacionais na esperança desesperada de marcarem uma vitória no próximo trimestre pela elevação da aposta, para conter alegadamente isolados pontos quentes de crise. O efeito agregado soma-se a uma vasta nacionalização invisível do insolvente sector financeiro. A sua receita para estabilizar um mercado de dívida desestabilizado é mais dívida pública para suportar socialismo corporativo.

Durante anos, qualquer um a advertir que as empresas patrocinadas pelo governo (GSEs), nomeadamente a Fannie Mae e o Freddie Mac, deveriam ser incluídas nas exigências normais de capitalização era ridicularizado pelas poderosas máquinas de lobby que estas GSEs empregavam como sendo um fomentador do medo. O capital é considerado como supérfluo no novo jogo do capitalismo da dívida erguido pelo complexo hedging circular. Em resultado, as GSEs tornaram-se a cauda monstruosa que sacode o cão das finanças habitacionais.

A conversa actual acerca da necessidade de conter a especulação nas commodities e nos mercados financeiros para estabilizar preços é despropositada, especialmente para os crentes do capitalismo de mercado. Todas as transacções de mercado são especulativas por natureza. A especulação tanto pode estabilizar preços como desestabilizá-los, mas apenas no curto prazo. Níveis de preços a longo prazo (inflação ou deflação), como Milton Friedman apropriadamente observou, são sempre fenómenos monetários. A actual tempestade no sistema financeiro, a implosão das hipotecas subprime, a crise de crédito da convulsão no mercado de papeis comerciais apoiados por activos, a subcapitalização dos bancos comerciais e de investimento, a disfunção das agências de classificação, a insolvência de seguradoras (de títulos) monoline, as perdas financeiras maciças das GSEs e a multidão de outros problemas financeiros que permeiam abaixo do radar dos media, são o resultado, e não a causa, desta turbulência do mercado. (Ver Perils of the debt-propelled economy , Asia Times Online, September 14, 2002.)

A Fanny Mae e o Freddy Mac, GSEs que desde 1938 proporcionavam fundos hipotecários para o mercado habitacional, foram criados como parte do New Deal para ajudar famílias de baixo rendimento. Eles foram privatizadas em 1958 em termos que alterariam o seu mandato social e inevitavelmente iria levá-los à perturbação financeira em grande escala. Finalmente, mas subitamente, estas GSEs encontraram-se em perigo de incumprimento das suas dívidas maciças, superiores a US$5 milhões de milhões (trillion), no decorrer uma única semana.

Está profundmente enraizada na cultura política dos EUA a visão de que o crédito é um serviço público financeiro, tal como o ar e a água, e deveria ser igualmente acessível a todos, não apenas aos ricos. A democracia económica tem sido o núcleo forte da democracia política estado-unidense. Mas de tempos em tempos, este princípio de democracia económica é ensombrado pelo extremismo do livre mercado que empurra a economia do país para dentro de extensas depressões.

O US National Housing Act foi promulgdo em 27 de Junho de 1934, como uma das várias medidas de recuperação económica do New Deal a fim de retirar o país da Grande Depressão. Ela lei permitiu o estabelecimento de uma Administração Federal da Habitação (Federal Housing Administration, FHA). O Título II do Housing Act dispunha acerca dos seguros dos empréstimos hipotecários feitos por prestamistas privados, removendo o risco desagregado no empréstimo dos mutuários de baixo rendimento para longe dos mutuantes privados e administrando o risco a uma escala nacional por meio de uma agência governamental a fim de aproveitar a lei dos grandes números, um teorema em probabilidades que descreve a estabilidade a longo prazo de uma variável aleatória. Estas associações eram para ser corporações independentes regulamentadas pelo administrador, e a sua finalidade principal era comprar e vender as hipotecas seguradas pelo FHA sob o Título II.

Apenas uma associação chegou a ser formada sob esta autoridade. Em 10 de Fevereiro de 1938, esta associação, a National Mortgage Association of Washington, tornou-se subsidiária da Reconstruction Finance Corp, uma corporação governamental. O seu nome foi alterado naquele mesmo ano para Federal National Mortgage Association (Fannie Mae). Com a emendas efectuadas em 1948, o Título II do US National Housing Act tornou-se a carta estatutária para a Fannie Mae.

A barreira do pagamento final

Antes da Grande Depressão, a compra de uma casa era difícil para a maior parte das pessoas nos EUA. Naquele tempo, um futuro comprador tinha de fazer um pagamento inicial de 40% e pagar a liquidar a hipoteca em três a cinco anos. Até o último pagamento, os mutuários pagavam apenas os juros do empréstimo. Todo o principal era pago numa quantia fixa como pagamento final (balloon payment). Os prestamistas podiam exigem o pleno pagamento do empréstimo pendente a qualquer momento que escolhessem, muitas vezes num momento menos vantajoso para os seus tomadores. Isto permitia aos mutuantes utilizarem arrestos como meios para tomarem posse das propriedades que desejavam.

Durante o período do boom da década de 1930 passou a existir um rudimentar mercado secundário de hipotecas. O crash do mercado de acções de 1929 terminou com o boom imobiliário e levou à insolvência muitas companhias privadas de garantias quando os preços entraram em colapso. Quando as condições económicas pioraram, cada vez mais tomadores de empréstimos deixaram de cumprir hipotecas porque não podiam conseguir o dinheiro para o pagamento final ou "rolar" (roll over) sua hipoteca devido ao baixo valor de mercado das suas casas.

A fim de retirar o país da Grande Depressão, o Congresso criou o FHA através do National Housing Act de 1934. O programa de seguros do FHA protegia os prestamistas do risco de incumprimento a longo prazo, nas hipotecas de taxa fixa. Como este tipo de hipoteca era impopular junto aos prestamistas e investidores privados, em 1938 o Congresso criou a Fannie Mae para refinanciar as hipotecas seguradas pelo FHA.

Quando os soldados da II Guerra Mundial voltaram para casa, o Congresso aprovou o Serviceman's Readjustment Act de 1944, o qual deu autoridade ao Department of Veterans Affairs (VA) para garantir empréstimos aos veteranos sem pagamento inicial ou exigências de prémios de seguros. Muitas instituições financeiras consideraram esta disposição um investimento mais atraente do que títulos de guerra.

Com a revisão do Título III, em 1954, a Fannie Mae foi convertida numa corporação de propriedade mista, ficando as suas acções preferenciais na posse do governo e as ordinárias na dos privados. Foi nesta altura a aprovação da Secção 312, que deu ao Título o título resumido de Federal National Mortgage Association Charter Act.

Com as emendas efectuadas em 1968, a Federal National Mortgage Association foi dividida em duas entidades separadas, uma que ficou conhecida como Government National Mortgage Association (Ginnie Mae) e a outra mantendo o nome de Federal National Mortgage Association (Fannie Mae). A Ginnie Mae permaneceu no governo e a Fannie Mae passou a ser possuída por acções reservadas ao governo. A Ginnie Mae tem operado como uma associação totalmente governamental desde as emendas de 1968. A Fannie Mae, como companhia privada a operar com capital numa base auto-sustentável, expandiu-se a comprar hipotecas para além dos tradicionais limites de empréstimo do governo, estendendo-se a um mais vasto conjunto de rendimentos.

No princípio da década de 70, a inflação e as taxas de juro subiram drasticamente. Muitos investidores afastaram-se para longe das hipotecas. A Ginnie Mae facilitou a tensão económica ao emitir em 1970 a sua primeira garantia com título apoiado por hipoteca (mortgage-backed security, MBS). Os investidores consideraram esta MBSs garantidas altamente atractivas. Também em 1970, sob o Emergency Home Finance Act, o Congresso permitiu à Federal Home Loan Mortgage Corp (Freddie Mac) que comprasse hipotecas convencionais de instituições financeiras seguradas a nível federal. A legislação também autorizou a Fannie Mae a comprar hipotecas convencionais. O Freddie Mac introduziu o seu próprio programa MBS em 1971.

As autorizações da Fannie e do Freddie dão a estas GSEs isenções de impostos estaduais e locais, permitindo-lhes exigências de capital relativamente magras, e proporcionando-lhe a capacidade para contrair empréstimos às mais baixas taxas possíveis a fim de conceder empréstimos a taxas próximas das do mercado. Ao longo dos anos, esta vantagem serviu não para reduzir os preços das casas e dos pagamentos de hipotecas a fim de ajudar compradores de baixo de rendimento e sim para enriquecer seguradoras de dívidas e correctores.

Vencimento da linha de crédito

Cada agência tem agora uma linha de crédito de US$2,25 mil de milhões junto ao Tesouro, estabelecida a aproximadamente 40 anos atrás pelo Congresso num tempo em que a Fannie tinha apenas cerca de US$15 mil milhões de dívidas abertas. Ela agora tem uma dívida total da ordem dos US$800 mil milhões, ao passo que o Freddie tem cerca de US$740 mil milhões. Hoje as duas companhias também possuem ou garantem empréstimos com valor facial de mais de US$5 milhões de milhões, cerca da metade das hipotecas do país. Analistas de mercado estimam que o valor de mercado deste passivo possa ser de menos de 50%, a menos que o mercado habitacional se recupere. Por outras palavras, as GSEs enfrentam uma exposição ao incumprimento de US$3,5 milhões de milhões se não puderem levantar novos fundos no mercado de crédito.

No princípio da década de 1980, a economia estado-unidense rodopiou para uma recessão profunda. As taxas de juros eram altas ao passo que os preços das casas estavam a cair, permanecendo para além do alcance de muitos compradores de rendimento baixo e médio porque o crescimento do rendimento permanecia estagnado. A economia dos EUA enfrentava um problema dual de deficiência de rendimento e desvalorização monetária. Neste fraco ambiente do mercado imobiliário, a Ginnie Mae, a Fannie Mae e o Freddie Mac criaram programas para manusear hipotecas de taxa ajustável. A garantia da Ginnie Mae é apoiado na fé absoluta e no crédito dos Estados Unidos. Hoje, os títulos MBS garantidos pela Ginnie Mae são um dos mais amplamente possuídos e comerciados no mundo. A Ginnie Mae garantiu mais de US$1,7 milhões de milhões em MBSs. Historicamente, 95% de todas as hipotecas FHA e VA foram titularizadas através da Ginnie Mae. A Ginnie Mae é uma fiadora, uma segurança. A Ginnie Mae não emite, vende ou compra MBSs, nem compra empréstimos hipotecários. A Ginnie Mae não está em aflição financeira.

A Fannie Mae é outra história. Muitas das opções inovativas em hipotecas introduzidas durante o princípio da década de 1980 para ressuscitar o fraco mercado habitacional em recessão foram exploradas para alimentar uma bolha habitacional com liquidez excessiva proporcionada pelo Federal Reserve, ajudando compradores de rendimento baixo e médio a comprarem casas que o seu rendimento estagnado não podia permitir. A Fannie continua a operar sob uma autorização do Congresso que a direcciona a canalizar os seus esforços para o aumento da disponibilidade e acessibilidade da propriedade de casas para americanos de rendimento baixo, moderado e médio. Mas as Fannie Mae não recebe financiamento ou apoio do governo, e é um dos maiores contribuintes do país bem como, até agora, uma das corporações mais sistematicamente lucrativas.

A companhia evoluiu e passou a ser possuída por accionistas, uma corporação de administração privada que apoia o mercado secundário para empréstimos convencionais. O seu mandato do Congresso de manter casas acessíveis foi em grande medida esquecido em favor de um boom sem precedentes no mercado habitacional. Mas ela continua a operar sob uma autorização do Congresso que lhe proporciona fundos de baixo custo apenas com uma supervisão superficial do US Department of Housing, do Urban Development e do Tesouro.

A Fannie Mae tem duas linhas primárias de negócio: Investimento em carteira, pelo qual a companhia compra hipotecas e MBSs como investimentos, financiando tais compras com dívida; e garantia de crédito, a qual envolve garantir mediante uma remuneração (fee) o desempenho do crédito de famílias únicas e de empréstimos multi familiares.

Possuidores de dívida além mar

Durante a bolha habitacional, a qual foi criada essencialmente com a ajuda do dinheiro fácil do Fed, a Fannie era altamente lucrativa, com altos retornos para os seus felizes accionistas e compensação lucrativa para os seus executivos. Acima de tudo, ela proporcionava um contínuo fluxo de rendimento e lucro para a Wall Street e bancos centrais de todo o mundo enquanto os proprietários de casas eram afundados num caminho traiçoeiro de eventual arresto. Segundo dados do Council of Foreign Relations, bancos centrais possuem US$925 mil milhões de dívida nas duas GSEs. A China encabeça a lista com US$420 mil milhões na dívida do Freddie e da Fannie; a Rússia e o Japão vêm em segundo lugar com uma dívida conjunta nestas GSEs de US$407 milhões. Outros países que possuem a dívida incluem Singapura, Formosa e vários países ricos em cash no Golfo Pérsico.

O negócio da carteira de investimento da Fannie inclui empréstimos hipotecários comprados através dos EUA de instituições de empréstimos hipotecários aprovadas. Ela também compra MBSs, produtos de hipoteca estruturada e outros activos no mercado aberto. O rendimento da corporação deriva da diferença entre o que rendem estes investimentos e os baixos custos subsidiados para financiar a compra dos mesmos, habitualmente da emissão de dívida nos mercados interno e internacional. A Fannie Mae tem hoje US$3,46 milhões de milhões em MBS pendentes, detidos por uma rede dispersa de investidores, incluindo bancos centrais estrangeiros, encabeçados pelo da China.

Os GSEs agora apenas oralmente cumprem a sua missão de proporcionar produtos e serviços que aumentem a disponibilidade e acessibilidade da habitação para compradores de rendimento baixo, moderado e médio através da operação no mercado secundário, ao invés do mercado primário de hipotecas.

A Fannie Mae compra empréstimos hipotecários a mutuantes hipotecários, instituições de poupança, uniões de crédito e bancos comerciais, dessa forma tornando a encher a oferta de fundos hipotecários daquelas instituições. Ela tanto empacota estes empréstimos em MBSs, as quais ela garantia em pleno e atempadamente o pagamento do principal e dos juros, ou compra estes empréstimos a dinheiro e retém as hipotecas na sua própria carteira. Mas o papel da Fannie em anos recentes tem sido abastecer a bolha habitacional com o excesso de liquidez libertado por um caprichoso banco central, comprando com um lucro economicamente não saudável hipotecas que dependia de uma contínua ascensão nos preços das casas para além da projecção razoável do crescimento do rendimento dos compradores das casas. Isto transformou os EUA de um país de proprietários de casas num país de casas arrestadas.

A Fannie Mae é agora um dos maiores emissores do mundo de títulos de dívida, o líder no mercado hipotecário estado-unidense de US$14 milhões de milhões. As obrigações de dívida da Fannie Mae são tratadas como títulos de agência estado-unidense no mercado, a qual está apenas abaixo dos US Treasuries e acima da dívida corporativa AAA. Este estatuto da agência deve-se em parte à criação e existência da corporação decorrer de uma lei federal, da missão pública que ela alegadamente cumpre e da continuidade dos laços que ligam a corporação ao governo dos EUA através de uma fraca supervisão. Ela beneficia da aparência, embora não a essência, de ser apoiada pelo crédito soberano que limita a fraude clara e é protegida pela doutrina do demasiado grande para cair.

As obrigações de dívida da Fannie Mae recebem tratamento favorável numa perspectiva regulamentar. Os títulos Fannie Mae são "títulos isentos" sob as leis administradas pela US Securities and Exchange Commission, na mesma medida das obrigações do governo dos EUA. Além disso, a dívida da Fannie Mae qualifica-se para tratamento mais liberal do que a dívida corporativa sob os estatutos e regulamentos federais dos EUA e, numa medida limitada, estatutos e regulamentos estrangeiros. Administradores de fundos que compram dívida GSE estão protegidos de desafios fiduciários.

Alguns destes estatutos e regulamentos tornam possível a instituições receptoras de depósitos investirem na dívida da Fannie Mae mais liberalmente do que em dívida corporativa e outros títulos apoiados por dívida e apoiados por activos. Outros permitem certas instituições investirem na dívida da Fannie Mae a par de obrigações dos Estados Unidos em quantias ilimitadas. A Fannie Mae utiliza uma variedade de veículos de financiamento para proporcionar aos investidores títulos de dívidas que cumpram seus objectivos de investimento, comércio, hedging e financeiros, nem todos dos quais servem o interesse público. A Fannie Mae tem capacidade para emitir diferentes estruturas de dívida em vários pontos da curva da renda (yield curve) devido à sua grande e consistente necessidade de financiamento. Quando o Tesouro retirou os títulos a 30 anos, estas agências GSE saltaram para preencher o vazio no financiamento a longo prazo.

Ideologia triunfante

A privatização da Fannie Mae e do Freddie Mac foi um movimento ideológico. Ela era financeiramente desnecessária pois o crédito soberano poderia ter financiado todas as necessidades de hipotecas habitacionais para rendimentos baixos, moderados e médios sem que fosse extraído lucro para investidores e correctores privados. Estes instrumentos de dívida da agência desempenharam um papel crucial no desenvolvimento e sustentação da bolha de crédito nos EUA que agora volta à casa para se empoleirar.

De facto, o fundo de risco de ambas as agências foi questionado, dentre muitos outros, pela voz do capitalismo do mercado livre, o Wall Street Journal, em 20 de Fevereiro de 2003 num editorial acerca da segurança da Fannie Mae e do Freddie Mac, da sua estabilidade e da sua administração financeira, caracterizando ambas as agências como companhias de risco sempre crescente que "parecem-se a hedge funds fracamente administrados" ... "indevidamente expostas a risco de crédito com grandes posições em derivados", e que elas "utilizam todos os tipos de derivativos" e "estão expostas a não quantificados riscos de terceiros nestas posições". Tais preocupações teriam sido evitadas se ambas as agências fossem financiadas directamente com crédito governamental, e o custo da habitação para americanos de rendimento baixo, moderado e médio teria sido mais baixo. Quando isto acontece, o governo é agora confrontado com a perspectiva de ter de salvar estas GSEs com fundos públicos.

O termo "subcapitalização" para instituições financeiros é simplesmente um eufemismo desinfectado para insolvência. A fonte real da actual turbulência de mercado é mais do que a perversidade das GSEs que fugiram da trilha das suas finalidades públicas. Trata-se de outro sintoma do fracasso do banco central. O mundo está agora a testemunhar o lento mas firme colapso do regime de banco central que passou a existir nos EUA em 1913, o qual fracassou no cumprimento do seu mandato de administrar o sistema monetário para manter a estabilidade de preços e o pleno emprego. Políticas monetários disfuncinais adoptadas por todos os bancos centrais, liderados pela Reserva Federal dos EUA, permitiram ao mercado retirar capital para fora do capitalismo de livre mercado para transformá-lo num gigantesco esquema Ponzi .

Na década de 1990, a intenção original do Congresso para as GSEs foi desviada da criação de condições acessíveis de propriedade das casas para as famílias com rendimentos baixos e moderado para um novo papel de apoiar uma bolha habitacional que permitia às famílias comprarem casas a preços cujas hipotecas os seus rendimentos não podiam atender. O lucro da apreciação dos preços habitacionais foi principalmente para os originadores das hipotecas e bancos que compravam e vendiam MBSs para investidores que também lucravam com a compra de dívida com dívida colaterizada com a dívida que estavam a comprar. O capital subitamente tornou-se apenas um valor nocional no mercado de derivativos da dívida. Compradores de casas compravam hipotecas sem pagamento inicial, bancos e correctores de hipotecas vendiam a dívida a titularizadores (securitizers) que vendiam-na s investidores institucionais os quais tomavam emprestado utilizando os títulos como colateral. Os GSEs também se tornaram muito lucrativos, abandonando os compradores das casas ao incumprimento das suas hipotecas quando o mercado virou-se sobre eles. Todo o ciclo de transacção não exigia qualquer capital.

A Fannie Mae e o Freddie Mac, classificadas como AAA pelas principais companhias de classificação de crédito do mundo, estão agora a ser tratados como comerciantes de derivativos como se estivessem classificados cinco níveis abaixo porque os emissores estão lamentavelmente subcapitalizados para a dimensão da dívida que assumiram. Os credit-default swaps ligados ao US$1,45 milhão de milhões de dívida vendida por estas duas maiores companhias financeiras de hipotecas, alegadamente apoiadas pelos EUA, são comerciadas a níveis que implicam que os títulos deveriam ser classificados como A2 pelo Moody's Investors Service. O preço dos contratos utilizados para especular sobre a capacidade de solvência da Fannie Mae e do Freddie Mac e para proteger contra um incumprimento duplicou nos últimos dois meses.

Indiferença à garantia da dívida

Os traders estão indiferentes à implícita garantia do governo da dívida das GSE quando as perdas de créditos crescem e aumentam as preocupações acerca de as mesmas não terem capital suficiente para aguentar a maior derrocada habitacional desde a Grande Depressão. A Fannie Mae perdeu 80% do valor de capitalização no mercado no primeiro semestre de 2008 no New York Stock Exchange; e o Freddie Mac perdeu 70%. Estas duas GSEs relataram perdas conjuntas de mais de US$11 mil milhões, e levantaram mais de US$20 mil milhões de novo capital desde Dezembro de 2007. Depois de a Lehman Brothers Holdings Inc ter divulgado o relatório de 7 de Junho de 2008 a dizer que uma nova regra contabilística pode exigir às GSEs que levantem outros US$75 mil milhões em novo capital, as acções do Freddie Mac caíram mais 18% e as da Fannie Mae 16%.

Henry C. K. Liu
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