Quando a injustiça se torna lei, a resistência torna-se um dever! I write the verse and I find the rhyme I listen to the rhythm but the heartbeat`s mine. Por trás de uma grande fortuna está um grande crime-Honoré de Balzac. Este blog é a continuação de www.franciscotrindade.com que foi criado em 11/2000.35000 posts em 10 anos. Contacto: franciscotrindade4@gmail.com ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS
sábado, fevereiro 28, 2015
"Peço uma comissão de inquérito sobre o estado dos estudos clássicos no Reino Unido"
Tomo a liberdade de destacar a história que o nosso leitor João Viegas retoma a propósito deste texto.
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"Um pequena anedota que fui buscar a um (admirável) texto do advogado J.-M. Varaut, que ilustrava assim a ideia de que é possível "responder à alegoria com outra alegoria".
«Em 1982, na Câmara dos comuns, M. Thatcher declarou :
- Se Ulisses tivesse ouvido o canto das sereias, o navio dele ter-se-ia afundado e ele nunca teria podido chegar a bom porto".
Ao que um deputado trabalhista contrapôs de imediato;
1) Ulisses ouviu o canto das sereias;2) O navio dele encalhou;3) Apesar de tudo, ele chegou a bom porto.4) Peço uma comissão de inquérito sobre o estado dos estudos clássicos no Reino Unido".
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A Grécia e a alcateia
Tem que se lhe diga a questão do negociado entre Atenas e Bruxelas. Capitulou o governo grego, ganhou tempo, ganhou um primeiro round no braço de ferro com “as instituições”, como agora se chama a Troika? Cedeu para além do que devia, como afirmou o veterano da resistência Manolis Glezos? Poderiam discutir-se interminavelmente estas interrogações e outras. Mas não é disso que tratam as linhas seguintes.
Já há muito quem tenha notado como as políticas de austeridade passam por cima do corpo moribundo e, qualquer dia, do cadáver das nossas democracias burguesas. Há quem lamente o pequeno sacrifício, há quem o descreva em tom indiferente, e há quem aplauda mais essa vantagem colateral. De todos, ninguém condensou melhor numa só frase o carácter acessório destas democracias do que o inefável Cavaco Silva: os gregos não podem fazer o que querem.
Já há muito quem tenha notado como as políticas de austeridade passam por cima do corpo moribundo e, qualquer dia, do cadáver das nossas democracias burguesas. Há quem lamente o pequeno sacrifício, há quem o descreva em tom indiferente, e há quem aplauda mais essa vantagem colateral. De todos, ninguém condensou melhor numa só frase o carácter acessório destas democracias do que o inefável Cavaco Silva: os gregos não podem fazer o que querem.
Mas a democracia não está podre apenas no alto da sua pirâmide hierárquica. A podridão é sustentável e ramificada por aí abaixo, até aos escalões intermédios que aspiram a trepar rapidamente e a fazer carreira. E tem sido vê-los, aos fazedores de opinião, a uivarem em coro e a exigirem da Grécia um acto de contrição.
A cantata dos fabricantes de opinião é admiravelmente coordenada. Que o Syriza prometeu tudo e agora não pode cumprir nada. Que os acordos assinados, as ordens recebidas, as poses de joelhos, de cócoras e de rastos assumidas pelos governos anteriores, tudo tem de ser escrupulosamente continuado pelo Syriza. Que as dívidas pagam-se, os tratados respeitam-se e as botas, até de ocupantes alemães, lustram-se. Que um país tem de honrar a palavra dada e cumprir as obrigações livremente aceites por quem foi anteriormente seu legítimo representante.
E depois há o estado de necessidade económica. É que um partido irresponsável pode criticar quando está na oposição, mas, chegando ao governo, tem de fazer como toda a gente, tem de adoptar as receitas universalmente consagradas, tem de facilitar a vida aos “mercados”, tem de fazer a vida impossível ao povo. E esse povo, o grego, já se sabe que é composto de malandros e preguiçosos, se não as coisas não teriam chegado a este ponto.
Deve ser reconfortante para a alcateia que se assanha contra o governo grego, a espreitar ansiosamente cada sinal de capitulação, isto de saber que houve “unanimidade” dos eurocratas e dos 18 governos em Bruxelas para exigirem a capitulação do Syriza. É que os animais de alcateia têm uma psicologia própria e sempre os reconforta, além de serem numerosos, o sentirem apoio de unanimidades altamente colocadas.
Esquecem, talvez, um pequeno pormenor, porque o monopólio da opinião publicada já lhes turva a visão e já os impede de se enxergarem, a si próprios e aos outros: reverso dessa medalha de unanimidade dos eurocratas é a simpatia e a esperança que, nas catacumbas silenciadas da sociedade, suscita o atrevimento do povo grego, mestre mais uma vez da única democracia que importa.
Portugal não é a Grécia
Quando a sondagem que hoje dá um “empate técnico” entre a coligação PSD/CDS e o PS foi elaborada, ainda não tinha estourado a bomba. Mas agora, já depois do país ter ficado a saber que os líderes dos três partidos do memorando estão de acordo que Portugal está muito melhor do que há quatro anos, o “empate técnico” vendido pelo Expresso perde grande parte do que lhe restava de sentido: não são 38 por cento de um lado e 38 por cento do outro, pode perfeitamente ser uma soma de parcelas que corresponde a uma maioria qualificada se considerarmos os três partidos do arco da austeridade ou uma confortável maioria absoluta se admitirmos a possibilidade de PSD e PS chegarem a um acordo quanto a mandarem Paulo Portas ir dar uma volta de submarino. Evidentemente, isto será apenas uma ideia maluca enquanto a comunicação social do regime contornar o cenário cada vez mais provável de uma reedição do Governo Nova Democracia-PASOK que destruiu o que restava destruir na Grécia entroikada. Austeridade ou austeridade? A sondagem diz que os portugueses continuam indecisos entre ambas.
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Portugal para todos os gostos
Isto de só ter de ser patriota perante uma audiência de chineses tem muito que se lhe diga. Internamente, podemos passar os dias a levar com todo o lixo produzido pela política de terra queimada que se faz entre os partidos, entre todos os partidos. Mas quando chega alguém de fora, temos de fazer boa figura.
Para o exterior, um discurso construtivo. Entre nós, um drama de faca e alguidar.
Pois bem, é evidente que o investimento estrangeiro é muito importante. É importantíssimo e sim, tem de ser uma aposta do poder político. Mas os portugueses também acabam por ser investidores e se fossem tratados como são tratados os outros, talvez tivessem também mais vontade de investir. Não necessariamente milhões em imóveis, mas talvez em novos negócios ou na sua expansão, a contratar pessoas ou simplesmente no seu trabalho.
Sim, talvez o discurso que é feito para fora devesse ser experimentado para dentro, sem prejudicar o confronto de ideias, o debate de estratégias e a luta por alternativas, mas com um nível que permita convencer não só os forasteiros, mas também os aldeões.
Não funciona, isto de andar a vender o país como se fosse um Corsa, ainda por cima quando para uns está em muito bom estado mas para outros está completamente gripado.
"É UM BOCADINHO AMADORISMO PARA QUEM GANHOU TANTOS PRÉMIOS"
Mais uma vez a deputada Mariana Mortágua é incisiva no caso BES. Desta vez foi com Zeinal Bava que até demonstrou uma boa capacidade de encaixe ao ser confrontado com o "é um bocadinho amadorismo para quem ganhou tantos prémios". Mas é merecida a observação da deputada. Estamos todos cansados da "arrogância" das organizações que espremidas não passam do mais datado funcionalismo do século passado e, neste caso, com sérios prejuízos para o etário público. Mas o melhor é ver o vídeo.
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sexta-feira, fevereiro 27, 2015
A Cultura Clássica e a actualidade
Afinal a cultura clássica, e a mitologia grega em particular, não estão assim tão esquecidas ...
Transcrevo este texto delicioso:
Pedantismo à volta da Grécia
José Diogo Quintela
PUBLICO, 22.02.2015
Desde a eleição de Tsipras tenho contabilizado a quantidade de referências à Grécia Antiga que os comentadores usam nas suas análises. Quanto maior o número de alusões eruditas, menos original a análise.
Como não tenho opinião sobre o tema e sou muito competitivo, proponho-me a bater o recorde mundial de referências pretensiosas sobre a Grécia Antiga num texto dedicado à situação actual.
Cada afirmação banal será complementada com exibição pedante e inútil de cultura clássica. Vou então principiar.
Os gregos votaram em Tsipras porque estão fartos de ser PIGS. Como os companheiros de Ulisses, transformados por Circe. Tsipras está confiante. Também Creso estava. Antes de declarar guerra à Pérsia, o rei da Lídia consultou o Oráculo de Delfos que lhe garantiu que, se atacasse, destruiria um grande império. Confiante na vitória, avançou. Sucede que o império aludido era o seu próprio.
Apesar disso, Tsipras parece optimista. Mas pode estar a voar muito perto do Sol. A Grécia pode acabar ostracizada pela União Europeia. O primeiro-ministro grego abriu a caixa de Pandora e, com as suas exigências, tenta manter a Europa refém. Como Zeus disfarçado de touro branco. Guiado por um fio de Ariadne financeiro, Tsipras começou um périplo pelo continente.
Faz lembrar Fidípides na véspera da batalha de Maratona, a tentar convencer os espartanos a ajudarem Atenas. Persuadir os líderes europeus poderá revelar-se tão difícil como os 12 trabalhos de Hércules e tão inglório como a tarefa de Sísifo. A dívida grega é substancial. A lista de credores é mais extensa que o catálogo das naus da Ilíada.
Até agora, Tsipras está como Penélope, a ganhar tempo. E já demostrou ter olho para a negociação. Que não lhe aconteça como a Polifemo. A troika é implacável. Lagarde disse que só dava o dinheiro se Tsipras respondesse a esta questão: “Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”
Para não ser pendurado num penhasco e ter o fígado comido diariamente por uma águia, Tsipras fugiu agarrado à barriga de uma ovelha. Para já, teve de recuar em algumas promessas eleitorais. Descobriu, como Dâmocles, que governar não é tão fácil como julgava.
Entretanto, aliou-se aos inimigos da extrema-direita. Um sacrifício para garantir bons ventos, como Agamémnon ao imolar Ifigénia. Cautela com Clitemnestra! Mas Clitemnestra que se ponha a pau com Orestes! E Orestes com as Fúrias! Apesar de tudo, não se pode reduzir uma discussão sobre a Grécia ao preço do cachecol de Varoufakis, como se fosse feito com lã do tosão de ouro. Nem culpar as cabeleireiras que se reformam aos 50 anos.
Se bem que não há grande justificação para ser uma profissão de desgaste rápido. A não ser que implique fazer madeixas à Medusa. Reparem como, através de um exercício estilístico meramente estético, introduzi subtilmente uma série de questões relevantes, surpreendendo o leitor. Como o cavalo de Tróia. Só que o leitor está-se borrifando. É um cavalo de Tróia com calcanhar de Aquiles.
Se isto não é o recorde mundial de referências clássicas em textos sobre a situação grega, vou ali a Termópilas e já venho.
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Transcrevo este texto delicioso:
Pedantismo à volta da Grécia
José Diogo Quintela
PUBLICO, 22.02.2015
Desde a eleição de Tsipras tenho contabilizado a quantidade de referências à Grécia Antiga que os comentadores usam nas suas análises. Quanto maior o número de alusões eruditas, menos original a análise.
Como não tenho opinião sobre o tema e sou muito competitivo, proponho-me a bater o recorde mundial de referências pretensiosas sobre a Grécia Antiga num texto dedicado à situação actual.
Cada afirmação banal será complementada com exibição pedante e inútil de cultura clássica. Vou então principiar.
Os gregos votaram em Tsipras porque estão fartos de ser PIGS. Como os companheiros de Ulisses, transformados por Circe. Tsipras está confiante. Também Creso estava. Antes de declarar guerra à Pérsia, o rei da Lídia consultou o Oráculo de Delfos que lhe garantiu que, se atacasse, destruiria um grande império. Confiante na vitória, avançou. Sucede que o império aludido era o seu próprio.
Apesar disso, Tsipras parece optimista. Mas pode estar a voar muito perto do Sol. A Grécia pode acabar ostracizada pela União Europeia. O primeiro-ministro grego abriu a caixa de Pandora e, com as suas exigências, tenta manter a Europa refém. Como Zeus disfarçado de touro branco. Guiado por um fio de Ariadne financeiro, Tsipras começou um périplo pelo continente.
Faz lembrar Fidípides na véspera da batalha de Maratona, a tentar convencer os espartanos a ajudarem Atenas. Persuadir os líderes europeus poderá revelar-se tão difícil como os 12 trabalhos de Hércules e tão inglório como a tarefa de Sísifo. A dívida grega é substancial. A lista de credores é mais extensa que o catálogo das naus da Ilíada.
Até agora, Tsipras está como Penélope, a ganhar tempo. E já demostrou ter olho para a negociação. Que não lhe aconteça como a Polifemo. A troika é implacável. Lagarde disse que só dava o dinheiro se Tsipras respondesse a esta questão: “Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”
Para não ser pendurado num penhasco e ter o fígado comido diariamente por uma águia, Tsipras fugiu agarrado à barriga de uma ovelha. Para já, teve de recuar em algumas promessas eleitorais. Descobriu, como Dâmocles, que governar não é tão fácil como julgava.
Entretanto, aliou-se aos inimigos da extrema-direita. Um sacrifício para garantir bons ventos, como Agamémnon ao imolar Ifigénia. Cautela com Clitemnestra! Mas Clitemnestra que se ponha a pau com Orestes! E Orestes com as Fúrias! Apesar de tudo, não se pode reduzir uma discussão sobre a Grécia ao preço do cachecol de Varoufakis, como se fosse feito com lã do tosão de ouro. Nem culpar as cabeleireiras que se reformam aos 50 anos.
Se bem que não há grande justificação para ser uma profissão de desgaste rápido. A não ser que implique fazer madeixas à Medusa. Reparem como, através de um exercício estilístico meramente estético, introduzi subtilmente uma série de questões relevantes, surpreendendo o leitor. Como o cavalo de Tróia. Só que o leitor está-se borrifando. É um cavalo de Tróia com calcanhar de Aquiles.
Se isto não é o recorde mundial de referências clássicas em textos sobre a situação grega, vou ali a Termópilas e já venho.
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O bom aluno
Em 1992, numa entrevista a um canal de televisão grego, o filósofo e psicanalista francês Félix Guattari incitava os gregos a recusarem as regras que fazem da política europeia um teatro de sombras semelhante ao que a lei edipiana faz na família: “A Grécia é o mau aluno da Europa. É essa a sua qualidade. Felizmente que há maus alunos, como a Grécia, que trazem a complexidade. Que trazem uma recusa de uma certa normalização germano-francesa. Por isso, continuem a ser maus alunos e continuaremos bons amigos.” Em Portugal, nessa altura, já estávamos a ser ungidos pela metáfora do bom aluno e ainda hoje transportamos o brilho intenso e o contentamento sem reserva que a metáfora irradia. O que é, neste caso, um bom aluno? O bom aluno caracteriza-se por um determinado comportamento, por um programa de acção, mas é também aquele que interiorizou convictamente uma moral, ao ponto de política e moral serem para ele a mesma coisa. A dívida, como sabemos muito bem, segrega uma moral própria. Um breve exercício genealógico ajuda a perceber porquê. Actualmente, já não é preciso ter lido a Genealogia da Moral, de Nietzsche, para saber que o conceito moral de culpa remonta ao conceito material de dívida, que, por isso, se diz, em alemão, exactamente com a mesma palavra — Schuld. A figura do “homem endividado”, que o sociólogo italiano Maurizio Lazzarato definiu como o representante por excelência da condição neoliberal, é afinal, a figura típica de uma economia da salvação, como nos lembrou Walter Benjamin num célebre fragmento de 1921 sobre O Capitalismo como Religião, onde define o capitalismo como uma religião sem dogma, caracterizada pela celebração de um culto sem tréguas, para o qual não existem dias feriados. “Este culto”, diz Benjamin, “é gerador de culpa” (ou de dívida, já que a palavra verschuldendsignifica as duas coisas). E acrescenta: “O capitalismo, com toda a probabilidade, é o primeiro caso de um culto que não redime o pecado, mas gera culpa” (isto é, dívida). Uma culpa que não pode ser expiada — e essa é a condição paradoxal da religião capitalista — mas tornada universal. O bom aluno é aquele que interiorizou plenamente a moral da culpa e sabe que deve comportar-se como um ser em débito. Haverá algum momento em que a culpa vai ser expiada, isto é, em que o débito vai ser saldado? Evidentemente que não. Por isso é que se criou a figura da “dívida eterna” ou infinita. Por ela, o homem endividado interiorizou para sempre a dívida e é isso — e não que a pague de uma vez por todas — que o credor lhe exige. Comentando Nietzsche, escreveu Deleuze: “A dívida torna-se a relação de um devedor que nunca acabará de pagar e de um credor que nunca acabará de esgotar os interesses da dívida.” O infinito que o cristianismo introduziu na religião, reinventa-o o capitalismo ao nível económico, num plano imanente. Para se tornar um bom aluno, como lhe é exigido para continuar a dar-lhe crédito, a Grécia não precisa de pagar a sua dívida — que é infinita e eterna. Tem é de dar como garantia do fictício e sempre diferido reembolso um conjunto de virtudes sociais e políticas que são a carne e o sangue da moralidade a que está obrigada. Tem de sujeitar-se eternamente ao performativo da promessa. Não é que as promessas paguem dívidas, mas são um reconhecimentos e uma ritualização da culpa. Em suma: é preciso que o modo de existência da Grécia, o seu ethos, seja determinado pela culpa que todos os bons alunos interiorizaram e que os faz arrastarem-se, de ombros descaídos e olhar baixo, sempre que está por perto um supremo credor.
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Da longa série "sucessos/melhorias"
Por serem sistemáticas as desconformidades na urgência, sendo frequente existir um só elemento escalado para o Atendimento Geral durante o dia e a noite, porque as condições de trabalho se têm vindo a degradar desde Novembro pondo em risco a segurança dos doentes, tal como o fizeram os do Garcia de Horta e do Amadora-Sintra, Os chefes de equipa do serviço de urgência do Hospital do Litoral Alentejano também se demitiram em bloco esta quinta-feira. Isto é capaz de ser ou o sucesso do "ajustamento" português que enche de orgulho a Ministra das Finanças e o seu patrão alemão, ou as melhorias registadas no país conseguidas com a preciosa contribuição dos chineses que fizeram o favor de nos ficar com os 3 milhões de lucros diários da EDP, que o grande estadista António Costa teve oportunidade de agradecer em nosso nome. Mas também pode ser o tal pecado cometido contra a nossa dignidade que começou com o memorando que o arco destes senhores aceitou assinar de cruz em 2011 e que se depender deles – estão de acordo que o país está cada vez melhor – se prolongará pelas próximas duas décadas, não sei. As sondagens vão-lhes dando toda a razão para se manterem fieis ao que sempre foram.
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A Visão
Numa conversa no Facebook, o Miguel Pereira criticou o meu ateísmo escrevendo que «Dentro da tua visão ateísta, vazia de "qualquer implicação ética, moral, legal ou o que seja", não há nada de errado com a escravatura, desde que os seus [praticantes] consigam racionalizar isso em seu favor.» A ideia do ateísmo ser intrinsecamente imoral ainda persiste em países teocráticos, onde se considera o ateísmo uma forma de terrorismo, ou entre crentes menos progressivos, como o falecido José Policarpo, para quem o ateísmo seria «o maior drama da humanidade»(1). Felizmente, em sociedades laicas, a maioria dos crentes percebe que fazer do ateu um bicho papão é demagogia ridícula. Por isso, o mais interessante no comentário do Miguel são outros dois erros que, sendo mais subtis, são mais comuns.
O ateísmo consiste simplesmente em encarar todas as religiões como o crente encara aquelas que não são a sua. Ou seja, como fenómenos humanos e culturais em vez de conhecimento acerca do divino. E, tal como concluir que Odin ou Osiris não existem não nos diz nada acerca da escravatura ou do homicídio, também o ateísmo, por si só, não tem implicações éticas nem morais. Em contraste, para o crente, assumir que os dez mandamentos, a sharia ou o dharma foram inspirados por uma divindade suprema parece resolver o problema de encontrar regras morais. Esta diferença cria a ilusão de que o ateu se priva de moralidade por não tomar o atalho da fé quando, na verdade, o crente que fundamenta a sua moral na religião é que perde a parte crucial do processo de adoptar valores morais.
A moral é o conjunto de regras que regulam o nosso comportamento enquanto a ética é a procura racional e crítica pelas melhores regras, fundamentando-as em princípios universais e consistentes. Por isso, quem adopta um sistema moral simplesmente por ser o da sua religião fica com uma moral sem ética. O ateu também pode cometer este erro se for buscar cegamente os seus valores a algum lado, de forma acrítica. A uma ideologia política, por exemplo. E, com a secularização da sociedade, cada vez mais crentes compreendem que a sua crença é demasiado pessoal para fundamentar regras sociais, recorrendo à ética para filtrar criticamente as regras que adoptam da sua religião. Por exemplo, poucos cristãos portugueses de hoje concordarão com Tomás de Aquino acerca da necessidade de matar os hereges (2). O que importa não é ter uma religião mas sim ter ética. Ou seja, procurar as melhores regras morais de forma crítica e consciente em vez de adoptar aquelas só porque estão naquele livro.
O outro erro do Miguel é o de sobrestimar a importância do ateísmo para o ateu. É uma dificuldade comum no diálogo entre ateus e crentes. Se o Miguel falar com um budista, muçulmano ou judeu, intuitivamente percebe que essas religiões serão tão fundamentais para esses crentes quanto o cristianismo é para o Miguel, constituindo para estes uma visão do mundo e até uma parte importante da sua identidade pessoal. Mas o ateísmo não é nada disso. O Pai Natal não existe, Zeus não existe, Jesus, se existiu, foi apenas um homem e Maomé ou andava a enganar os seguidores ou estava tão iludido quanto eles. Isto são meros factos históricos que não constituem qualquer “visão ateísta” nem são particularmente importantes. É verdade que muitos ateus se preocupam com a persistência de crenças falsas e, entre estas, as crenças religiosas sobressaem pela popularidade. Mas isto deve-se apenas aos problemas que as crenças falsas podem causar, quer seja a crença de que se vai para o paraíso se se matar infiéis quer seja a crença de que não se deve vacinar as crianças. O que me leva a escrever tanto sobre ateísmo e religião é a influência das crenças religiosas. Se não fosse isso, explicar que não existem deuses seria tão importante quanto explicar que não existe Pai Natal.
Este é o aspecto do ateísmo que é mais difícil para o crente compreender e que, mesmo quando compreende, é difícil de aceitar. Que haja outras religiões o crente pode aceitar consolando-se com a ideia de que, pelo menos, todas exigem fé na existência de algum deus. Daqui é um pequeno passo para incluir nas “outras religiões” uma caricatura do ateísmo. O fundamental, para alguém como o Miguel, é que a ideia de deus permaneça a mais importante para definir coisas como a moral ou a visão do mundo, nem que seja pela descrença. Mas não é esse o caso porque aquilo que determina a visão do mundo ou sistema moral de um ateu não exige assumir nada acerca de Zeus, Osiris ou Jeová. Por exemplo, para mim, a condenação moral da escravatura não tem nada que ver com deuses nem com o ateísmo. Tem que ver apenas com as pessoas. E a conclusão de que as teses sobrenaturais das religiões são mera ficção não constitui, para mim, nenhum fundamento para uma “visão ateísta” ou moralidade. É apenas bom senso. Reconhecer esta perspectiva é difícil para alguém como o Miguel porque implica reconhecer que ninguém precisa de definir a sua visão do mundo ou a sua moral com referência aos deuses, à fé ou à falta dela. Para quem assume que a ideia do divino é uma coisa fundamental e que, por isso, se esforça tanto para acreditar em proposições obviamente falsas, é naturalmente constrangedor perceber que a ideia é desnecessária e que o esforço é inútil.
1- DN, Cardeal diz que maior drama é a negação de Deus
2- Senza pagare, S. Tomás de Aquino explica o perigo da heresia
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O ateísmo consiste simplesmente em encarar todas as religiões como o crente encara aquelas que não são a sua. Ou seja, como fenómenos humanos e culturais em vez de conhecimento acerca do divino. E, tal como concluir que Odin ou Osiris não existem não nos diz nada acerca da escravatura ou do homicídio, também o ateísmo, por si só, não tem implicações éticas nem morais. Em contraste, para o crente, assumir que os dez mandamentos, a sharia ou o dharma foram inspirados por uma divindade suprema parece resolver o problema de encontrar regras morais. Esta diferença cria a ilusão de que o ateu se priva de moralidade por não tomar o atalho da fé quando, na verdade, o crente que fundamenta a sua moral na religião é que perde a parte crucial do processo de adoptar valores morais.
A moral é o conjunto de regras que regulam o nosso comportamento enquanto a ética é a procura racional e crítica pelas melhores regras, fundamentando-as em princípios universais e consistentes. Por isso, quem adopta um sistema moral simplesmente por ser o da sua religião fica com uma moral sem ética. O ateu também pode cometer este erro se for buscar cegamente os seus valores a algum lado, de forma acrítica. A uma ideologia política, por exemplo. E, com a secularização da sociedade, cada vez mais crentes compreendem que a sua crença é demasiado pessoal para fundamentar regras sociais, recorrendo à ética para filtrar criticamente as regras que adoptam da sua religião. Por exemplo, poucos cristãos portugueses de hoje concordarão com Tomás de Aquino acerca da necessidade de matar os hereges (2). O que importa não é ter uma religião mas sim ter ética. Ou seja, procurar as melhores regras morais de forma crítica e consciente em vez de adoptar aquelas só porque estão naquele livro.
O outro erro do Miguel é o de sobrestimar a importância do ateísmo para o ateu. É uma dificuldade comum no diálogo entre ateus e crentes. Se o Miguel falar com um budista, muçulmano ou judeu, intuitivamente percebe que essas religiões serão tão fundamentais para esses crentes quanto o cristianismo é para o Miguel, constituindo para estes uma visão do mundo e até uma parte importante da sua identidade pessoal. Mas o ateísmo não é nada disso. O Pai Natal não existe, Zeus não existe, Jesus, se existiu, foi apenas um homem e Maomé ou andava a enganar os seguidores ou estava tão iludido quanto eles. Isto são meros factos históricos que não constituem qualquer “visão ateísta” nem são particularmente importantes. É verdade que muitos ateus se preocupam com a persistência de crenças falsas e, entre estas, as crenças religiosas sobressaem pela popularidade. Mas isto deve-se apenas aos problemas que as crenças falsas podem causar, quer seja a crença de que se vai para o paraíso se se matar infiéis quer seja a crença de que não se deve vacinar as crianças. O que me leva a escrever tanto sobre ateísmo e religião é a influência das crenças religiosas. Se não fosse isso, explicar que não existem deuses seria tão importante quanto explicar que não existe Pai Natal.
Este é o aspecto do ateísmo que é mais difícil para o crente compreender e que, mesmo quando compreende, é difícil de aceitar. Que haja outras religiões o crente pode aceitar consolando-se com a ideia de que, pelo menos, todas exigem fé na existência de algum deus. Daqui é um pequeno passo para incluir nas “outras religiões” uma caricatura do ateísmo. O fundamental, para alguém como o Miguel, é que a ideia de deus permaneça a mais importante para definir coisas como a moral ou a visão do mundo, nem que seja pela descrença. Mas não é esse o caso porque aquilo que determina a visão do mundo ou sistema moral de um ateu não exige assumir nada acerca de Zeus, Osiris ou Jeová. Por exemplo, para mim, a condenação moral da escravatura não tem nada que ver com deuses nem com o ateísmo. Tem que ver apenas com as pessoas. E a conclusão de que as teses sobrenaturais das religiões são mera ficção não constitui, para mim, nenhum fundamento para uma “visão ateísta” ou moralidade. É apenas bom senso. Reconhecer esta perspectiva é difícil para alguém como o Miguel porque implica reconhecer que ninguém precisa de definir a sua visão do mundo ou a sua moral com referência aos deuses, à fé ou à falta dela. Para quem assume que a ideia do divino é uma coisa fundamental e que, por isso, se esforça tanto para acreditar em proposições obviamente falsas, é naturalmente constrangedor perceber que a ideia é desnecessária e que o esforço é inútil.
1- DN, Cardeal diz que maior drama é a negação de Deus
2- Senza pagare, S. Tomás de Aquino explica o perigo da heresia
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Títulos
22/2
* “Primeira governadora bissexual quer acabar com corrupção”
E é preciso ser bissexual para isso?
* “Imprensa alemã diz que Maria Luís pediu dureza a Schauble”
Dureza, ao ministro das Finanças alemão?…
Nem com Viagra!…
Nem com Viagra!…
23/2
* “Rabejador de ouro é dos forcados de Vila Franca”
Rabejador de ouro?
Não me lixem!…
Não me lixem!…
* Nani chorou depois de marcar um golo.
Está explicado porque permite que lhe continuem a chamar Nani…
* “Ex-espião pediu levantamento de segredo de Estado”
Claro que este gajo só podia ser português (e foi para espião porque não sabia fazer mais nada…)
26/2
* “Comerciantes apoiam venda de remédios em bares e quiosques”
– Olhe, por favor, um whisky duplo e um Ben-u-Ron, por favor.
– Para mim, um gin tónico e dois Kompensan…
– Para mim, um gin tónico e dois Kompensan…
* “Belmiro e Soares dos Santos juntos à procura de jovens talentosos”
… merceeiros libidinosos…
DOS LIMITES DA PRESSÃO
"Há um exagero em muitas das pessoas que se queixam que cederam por causa da pressão", disse a especialista, não ouvi o nome, na TSF. O tema era o assédio nas relações de trabalho e a consequente "desculpa" para a fraqueza moral.
Não é preciso ouvir uma especialista para comprovar a evidência. Os últimos anos do sistema escolar foram férteis. Quantas e quantas vezes (é uma lista mesmo interminável) não ouvimos o argumento da pressão, e da necessidade, para justificar o mais notado oportunismo? E como disse a especialista, este tipo de "fraquezas" são sempre, e a prazo, prejudiciais aos indivíduos que as praticam e vezes de mais aos grupos onde se inserem.
quinta-feira, fevereiro 26, 2015
A fraude da água em que a homeopatia se afoga
Fernando Belo assinou no PÚBLICO em 18 de Fevereiro um artigo de opinião, no qual insiste na apologia da homeopatia com base numa fraude científica.
Belo cita um texto do autor principal da fraude, o francês Jacques Benveniste, que curiosamente se intitula “A minha verdade sobre a 'memória da água'”. Nisso concordamos: é a “verdade” dele, que nada tem a ver com o conhecimento científico. Belo evoca ainda declarações de Luc Montagnier e de Brian Josephon, em apoio à causa homeopática da memória da água. Montagnier ganhou em 2008 o Nobel pela descoberta do vírus HIV nos anos 80 e não por divagações sobre a “memória” da água quando tinha quase 80 anos. Josephson ganhou o Nobel da Física em 1973 por um trabalho sobre condutividade nos anos 60 e não por todo um conjunto de ideias delirantes que tem vindo a apresentar após o Prémio. Não é a autoridade de Benveniste, Montagnier, Josephson ou de quem quer que seja que prova a existência de algo que não existe. Os cientistas podem ter opiniões, mas a ciência não são opiniões de cientistas. Para passarem a ser conhecimento científico, essas opiniões têm que ser fundamentadas com provas experimentais e estas têm de ser confirmadas por outros grupos de investigação. Não é seguramente o caso das experiências da memória da água de Benveniste.
A fraude da memória da água está descrita no nosso livro “Pipocas com Telemóvel e Outras Histórias de Falsa Ciência” (Gradiva, 2012). O trabalho, que analisava uma reacção alérgica designada por desgranulação dos basófilos, foi publicado na Nature a 30 de Junho de 1988. O extraordinário no artigo de Beneviste et al. é a afirmação de que essa reacção era desencadeada em basófilos (células de sangue) por um alérgeno, quando este se encontrava numa diluição tão grande como as usadas em remédios homeopáticos. Ou seja: os autores alegavam que uma solução do alergéno em que já não há nenhuma molécula deste é capaz de originar uma reacção alérgica. Imagine-se que uma pessoa apanha uma bebedeira com uma garrafa de vinho, em que o vinho foi diluído a ponto de não haver qualquer vinho na garrafa, mas apenas água… que se lembra do vinho. Do ponto de vista da segurança rodoviária, esta substituição do vinho tem todo o nosso apoio. Mas, como toda a gente sabe, água não é vinho.
As experiências tiveram de ser repetidas na presença de uma comissão de peritos, que incluía o editor da Nature, John Maddox, o investigador de fraudes científicas Walter Stewart e o ilusionista James Randi. Maddox suspeitava que a explicação dos resultados extraordinários poderia residir num truque de prestidigitação, ou seja, alguém adicionava de um modo imperceptível uma quantidade apreciável de alérgeno às amostras (enquanto distraía a comissão de peritos com um tubo de ensaio, por exemplo). Numa primeira fase, a equipa de Benveniste reclamou ter replicado os resultados. Foi então que a comissão pediu aos investigadores que realizassem um ensaio às cegas. Os tubos contendo as várias diluições foram levados para uma sala à parte onde apenas estava a comissão de peritos. Estes removeram a identificação de cada tubo e substituíram-na por um código. A correspondência entre cada amostra e o código foi colocada num envelope fechado, colado no tecto do laboratório. Foi então feita uma experiência em que os operadores não sabiam que amostras correspondiam a que diluições. Os resultados extraordinários não se confirmaram. De algum modo, conscientemente ou não, a equipa de Benveniste tinha viciado a experiência, de modo a obter os resultados que lhes interessavam. Um mês depois, foi publicado na Nature um artigo sobre o assunto com um título elucidativo: “As experiências com diluições elevadas são um equívoco”.
Apesar de desacreditado pela comunidade científica, como é aliás habitual nestes casos, Benveniste não se ficou. Criou uma área a que chamou biologia digital, segundo a qual as moléculas comunicam entre si através de sinais electromagnéticos de baixa frequência, passíveis de serem gravados. Segundo ele, essas gravações seriam capazes de provocar reacções biológicas. Benveniste chegou a alegar que conseguia enviar essas “assinaturas electromagnéticas” das moléculas através da Internet. Em 1999 a Fundação Randi ofereceu um milhão de dólares a quem conseguisse demonstrar, em condições experimentais controladas, a transferência da “assinatura electromagnética de uma molécula” através da Internet. O prémio continua por reclamar. Não sabemos se um milhão de dólares é coisa que interesse a Fernando Belo. Nós, se houvesse maneira de demonstrar essa assinatura de uma forma honesta, não hesitaríamos.
Uma palavra sobre a “unificação dos saberes”, ponto de partida do artigo de Belo: Concordamos que tal unidade deve ser procurada, mas não à custa da admissão de erros grosseiros. Unificar saberes é louvável. Unificar saberes e pseudo-saberes é um disparate.
Não gosto do senhor mas gosto do texto: "Portugal, 2015"
«Portugal em 2015 está um país muito esquisito, amorfo e ao mesmo tempo zangado; cansado e ao mesmo tempo agitado, cheio de "criadores culturais" e ao mesmo tempo ignorante como nunca; egoísta, mas incomodado pelo seu egoísmo, com má consciência. (...)
Olhe-se em volta. Nos cinemas dos centros comerciais (não há outros), a parte da Humanidade que é do sexo feminino faz fila para comprar bilhetes para ver um vago filme erótico, com chicotes e algemas, mas onde tudo é bonito, milionário, com gosto e controlado, asséptico. Parece que o sadomasoquismo chique está na moda entre as mulheres. Na verdade, não é uma grande novidade, mas presumo que os homens se interrogam sobre o que é que não tinham percebido nas suas mulheres, companheiras, namoradas, amantes e seja lá o que for. Vão continuar sem saber nada.
A crise grega entra nas redes sociais por via da roupa do ministro Varoufakis. Discute-se o blusão de couro, o cachecol, as camisas de fora ou de dentro. Não admira. Muita da nossa inteligência feminina, metrossexual e gay gosta muito de discutir roupas e ocasionalmente gatinhos. Sendo assim, não admira que tenham passado dos sapatos Prada, dos fatos Armani e Boss do nosso ex-primeiro-ministro caído em desgraça, para a discussão contínua das gravatas e terminar na mais imbecil crítica feita alguma vez a Passos Coelho, a dos fatos suburbanos de segunda. Essa gente não se enxerga mesmo. É isto segredo para alguém, indiscrição, boato, ou má língua? Não, não é. É o conteúdo habitual desse ruído moderno do Twitter e do Facebook, feito por gente que diz abominar a Caras e a Lux e faz muito pior.
O que tem mais graça, aliás o que é mais ridículo, é que esta gente que discute roupas, restaurantes e outros ademanes da cultura urbana, que fazem a Time Out ganhar a sua vida (honestamente), é toda muito de esquerda, muito de causa dos costumes, muito do social, muito modernaça. Seja dito, no entanto, que há também uma fauna de direita, muito "ajustadora", que é exactamente igual. Aliás dão-se bem e exercem activamente a boa prática do fishing for compliments, ajudando-se uns aos outros na luta pela vida. (...)
Em política, Pavlov reina como mestre de cãezinhos. É tudo tão previsível, tão fácil de identificar, tão rudimentar, tão… pavloviano. Grite-se Sócrates, Costa, Boaventura, Syriza, Bagão, Louçã, Manuela, eu próprio, os gregos, Varoufakis e logo uma pequena multidão começa a salivar nas redes sociais, nos blogues, nos "porta-vozes" oficiais e oficiosos do PSD e do CDS. Muita desta raiva vem do desespero. Os melhores dias já estão no passado e as perspectivas são sombrias. (...)
Enganam-se se pensam que são os esquerdismos do programa do Syriza que mobilizam as simpatias. É por isso que há pouca gente nas manifestações, porque elas são miméticas desse esquerdismo. Mas o que faz as sondagens maioritárias pró-gregos, a "maioria silenciosa", é a afirmação nacional, a independência, a soberania, a honra perdida das nações resgatada por um povo. É uma gigantesca bofetada nos patriotas de boca e empáfia que aceitaram tudo, assinaram tudo, geriram o "protectorado" com zelo e colaboração, e terminam o seu tempo útil servindo para fazer o sale boulot alemão.» – Pacheco Pereira, na Sábado.
Série "poupanças" - continuação das continuações anteriores
Com contas de merceeiro em fundo, por estes dias tem-se falado em chumbos e em vacinas. Apesar de reconhecer a sua eficácia na protecção de bebés e crianças contra alguns tipos de infecções graves como a meningite, a pneumonia e a septicémia e de admitir que a vacinação dos mais jovens reduziria o número de pneumonias nos mais idosos, uma das principais causas de morte, o Ministério da Saúde anda há anos a protelar – eles chamam-lhe “estudar” – a inclusão de uma vacina no plano nacional de vacinação, uma medida que, sem regatear preços com a farmacêutica respectiva, custaria anualmente nem 20 milhões de euros. No sector da Educação, David Justino concluiu aturados estudos sobre a problemática dos chumbos e entre as suas conclusões vem a proposta de acabar com as retenções para “poupar” 600 milhões de euros. De repente, as nossas vidas tornaram-se contas. Contas muito mal feitas. Poupar por poupar, poupar-se-ia bastante mais acabando de vez com o sistema de ensino e com o plano nacional de vacinação. Mas poupar por poupar fica muito caro. Tardará menos do que o espaço temporal de uma geração para chegar a conta da falta de quadros gerada pelo desmantelamento em curso da Escola pública. Já vai chegando todos os anos a conta dos internamentos causados pelas “poupanças” na prevenção que os evitaria. E as mortes também não entram nestas contas feitas ao ano sem contabilizarem custos de longo prazo e igualando a zero todas as parcelas relativas a sofrimento humano. A Alemanha exige determinado quociente anual, os capatazes cá do sítio põem o país inteiro a sangrar para se aproximarem desse valor. Depois, em data com vantagens recíprocas, aparece a Ministra a receber elogios do patrão alemão no telejornal. Eles sabem que haverá sempre quem fique muito bem impressionado e aplauda o elogio da destruição do seu país. E que o resto desta conta se poupa nas reacções e insiste em não contar para nada. Seja feita a sua vontade. Não há porque fazer-lhes caso.
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Jogar com o tempo
Como "primeiro passo", ponto de partida dependente de uma "avaliação positiva" posterior do "programa", o Eurogrupo acaba de aprovar à condição a lista de reformas que lhe foi apresentada pelo Governo grego. Ou seja, não foi uma aprovação incondicional, mas também não foi a rejeição liminar pretendida por alemães e alemãezinhos, leia-se, Portugal e Espanha. O Eurogrupo acusa os efeitos da ofensiva mediática desenvolvida pelo Governo grego junto das opiniões públicas europeias e, sem margem política para assumir uma rejeição imediata das propostas gregas, decidiu jogar com o tempo e apostar numa guerra de desgaste em duas frentes, a das "reformas estruturais" – a agenda de reconfiguração social de concentração de riqueza que destruiu a Grécia – que continua a exigir por um lado e a da erosão da base eleitoral do Governo grego, por outro. A corda ainda não partiu, mas pode partir a qualquer momento. O lado alemão irá tentar fazê-la partir no momento mais apropriado para evitar que o efeito Syriza alastre pela Europa em ano de eleições em Espanha e em Portugal. O lado até agora totalmente ganhador sabe que tem tudo a perder. Oxalá o lado até agora totalmente perdedor, o dos cidadãos europeus, perceba que só tem a ganhar em cerrar fileiras e fazê-los cair. Os gregos já começaram a ganhar. E note-se que apenas ganharam. Não perderam rigorosamente nada.
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quarta-feira, fevereiro 25, 2015
Coxa que te quero coxa
O clássico. Os Uns dirão que a culpa é dos outros, os outros que a culpa é dos uns. E terão todos razão, a responsabilidade à qual tanto gostam de referir-se usando a palavra “culpa” é de todos os que passaram pelo Governo, ou melhor, de todos menos daquela inimputável senhora que diz que a impunidade acabou. Uma inspecção realizada há mais de um ano e apenas agora revelada ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), a unidade do Ministério Público especializada na investigação da criminalidade complexa e organizada, revelou uma profunda desorganização no funcionamento daquela estrutura entre 2009 e 2013, polícias recrutados por amizade, gastos avultados, uma distribuição dos inquéritos sem qualquer critério e atrasos que chegam aos 10 anos na tramitação dos processos de prevenção de branqueamento de capitais. Como se constata mais uma vez, o romance entre a impunidade e a corrupção não é obra do acaso, é herança de um centrão nada interessado em ter mais do que uma Justiça coxa a correr atrás de si.
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AS REDUÇÕES DOS PROFESSORES E A FLORESTA (OU A SELVA, CLARO)
Está a ter alguma mediatização a bloqueada redução, através da idade combinada com o tempo de serviço, da componente lectiva dos professores. Estamos em presença de uma deriva legal que começou a ser praticada em 2008 (a lei é de 2007) quando o Governo de então promovia uma guerra aos isolados professores (palavras de António Costa) e a sociedade lusa aplaudia. Claro que os professores grisalhos eram o alvo a abater e o nivelamento por baixo a regra. Seguiu-se a malta além da troika e a linha de água imergiu de vez.
Como em todas as florestas ou selvas, há árvores no sistema escolar que estão desde o início a remar contra a maré. Só que também há os eucaliptos (nos salões e corredores lisboetas acotovelam-se), normalmente, e há muito, sem sala de aula ou com a esperança de que já lá não regressem, que acham que pagam os salários dos professores e que vêem na letra da lei um espírito eternamente jovem e implacável: professor idoso é mais preguiçoso do que laborioso. É até célebre aquele eucalipto que telefonou para o MEC a perguntar o lado do selo branco e sobre esta lei deve repetido a busca de sapiência; quem o conhecia afirmava que para as golpadas tinha sempre resposta expedita.
Pelo descrito, criaram-se as condições para que a lei das reduções fosse troikada. O que era e é claro (2 horas de redução (ou mais duas) aos 50 anos de idade e 15 anos de serviço; mais 2 horas de redução aos 55 anos de idade e 20 anos de serviço; mais 4 horas de redução aos 60 anos de idade e 25 anos de serviço; e isto independente das horas de redução consideradas antes de 2007 e sempre no limite de oito) tornou-se numa vã glória de mandar num sistema escolar mergulhado na selva da desesperança e que moveu uma assumida guerra aos seus professores com o contributo de demasiados eucaliptos: ignorou-se a acumulação com o "e isto independente das horas de redução consideradas antes de 2007 e sempre no limite de oito".
Nota: deve sublinhar-se que existem escolas que cumpriram a lei.
terça-feira, fevereiro 24, 2015
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