TEMPORARIAMENTE ENCERRADO
O blog ANOVIS ANOPHELIS encontra-se temporariamente encerrado.
Por motivos de agenda.
É claro que dentro da designação "motivos de agenda" tudo pode caber...
Para breve uma explicação merecida.
Para breve uma decisão final.
Sábado, 21 de Abril de 2007
Francisco Trindade
Quando a injustiça se torna lei, a resistência torna-se um dever! I write the verse and I find the rhyme I listen to the rhythm but the heartbeat`s mine. Por trás de uma grande fortuna está um grande crime-Honoré de Balzac. Este blog é a continuação de www.franciscotrindade.com que foi criado em 11/2000.35000 posts em 10 anos. Contacto: franciscotrindade4@gmail.com ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS ACTUALIZADO TODOS OS DIAS
sábado, abril 21, 2007
sexta-feira, abril 20, 2007
As asas do Condor ainda continuam a ameaçar o Cone Sul
Martin Almada, jurista que descobriu arquivos da aliança dos aparatos repressivos na América do Sul, revela que militares da região continuam a trocar informações sobre “subversivos”
O paraguaio e advogado Martin Almada, Prémio Nobel Alternativo da Paz, é um dos expoentes latino americanos na denúncia e acção contra as ditaduras na região. Integrante da Associação dos Juristas Americanos, descobriu os arquivos da Operação Condor, a união do esquema repressivo do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Hoje, Almada continua a alertar sobre a vigência actual da Condor.
Nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Martin Almada retoma a advertência e mostra que, com excepção do governo argentino, falta vontade política aos demais governos latino-americanos, inclusive o do Brasil, de terminar com a impunidade de figuras que nos anos de chumbo dos anos 70 assassinaram e torturaram jovens combatentes que se insurgiram contra a ditadura.
Almada analisa também o actual momento que atravessa o Paraguai e a real possibilidade de vitória no próximo ano da candidatura presidencial do ex-bispo Fernando Lugo, representante dos paraguaios que não têm voz. Lugo enfrenta sérias objecções da oligarquia que não se conforma com o surgimento de um nome que poderá desbancar o predomínio do Partido Colorado, o mesmo partido do ditador Alfredo Strossner, e tenta inviabilizar a sua candidatura alegando que ainda é bispo, o que constitucionalmente o impediria de concorrer. Lugo abandonou a batina para ser candidato à Presidência, o que deixou irritados os sectores conservadores paraguaios.
– Você poderia lembrar sinteticamente como descobriu os arquivos da Operação Condor?
Isso foi fruto de 15 anos de investigação. Em 26 de Novembro de 1974, quando voltei a Assunção ao terminar os meus estudos superiores na Universidade de La Plata, na Argentina, fui sequestrado pela Polícia Política de Stroessner e levado a um Tribunal Militar integrado pelos Adidos Militares de Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai, além de militares e políticos paraguaios. Um coronel chileno e o Chefe de Polícia da Província de Córdoba, Argentina, ordenaram que eu fosse torturado. Fiquei na sala de tormento durante 30 dias, finalmente os militares tipificaram o meu delito como “terrorista intelectual”. Depois fui transferido para o Comissariado Primeiro, a sede da Interpol. Soube então da Operação Condor, estando no ventre do Condor, por meio de um Comissário preso connosco. Isso foi em Abril ou Maio de 1975 e a Operação Condor foi criada oficialmente em fins de Novembro/Dezembro do mesmo ano. O Comissário estava informado porque trabalhou no Escritório de Telecomunicações da Polícia. Ele recebia todos os telex. Caiu preso por não ter delatado que o seu filho integrou o Centro de Estudantes de La Plata, Argentina, quer dizer, tornou-se “subversivo”. Um dia disse me: «Olhe Martin, se tu sais vivo daqui tens de ler a Revista Policial do Paraguai, ali está tudo sobre o Condor».
– E como você saiu?
Fiz uma greve de fome durante trinta dias, depois de castigado no “Sepulcro dos Vivos”, Comissariado Terceiro, e saí em liberdade em Setembro de 1977. Em Fevereiro de 1978, viajei ao Panamá, cujo presidente da República, general Omar Torrijos pediu ao Secretário Geral das Nações Unidas que me arranjasse um trabalho na minha especialidade. Foi assim que a UNESCO de Paris me contratou como Consultor para a América Latina (1978/1992). Nas minhas horas livres pesquisei os passos do Condor através da Revista Policial do Paraguai. Em 3 de Fevereiro de 1989, caiu a ditadura militar de Stroessner. Mudou-se a Constituição que contemplou a figura jurídica do Habeas Datas, que estabelece que «toda pessoa tem direito a ter acesso à informação e aos dados sobre si mesma...» Eu queria saber os detalhes sobre a morte da minha esposa, a educadora Celestina Perez e também o que significava ser terrorista intelectual. Por isso, recorri à Justiça pedindo que a Polícia fornecesse os meus antecedentes. A Polícia então nega a existência dos meus antecedentes.
Peço a abertura do Arquivo da Polícia, facto que se publica na imprensa. Recebo uma chamada telefónica e uma mulher disse me: «Professor Almada, os seus papéis não estão na Central de Polícia, mas sim nos arredores de Assunção». Convido-a para passar no meu escritório. Uma hora depois apresentou um plano. Explicou que há mais de três meses a cópia desse mesmo plano tinha sido fornecida a um líder da oposição que não fez nada. Disse que confiava muito em mim e despediu se. Esse plano levei ao juiz que estava a conduzir o meu recurso de Habeas Data, Dr. José Agustin Fernandez. Este decidiu abrir o Comissariado de Lambare, a 10 quilómetros de Assunção. Isso foi em 22 de Dezembro de 1992. Toneladas de documentos...
Quem foi a mulher que me traçou o plano? Soube muito mais tarde que foi a esposa de um Comissário que fugiu com uma menina muito mais jovem. Ela traçou me o plano por despeito.
– O ditador Alfred Stroessner morreu no ano passado em Brasília sem que o governo brasileiro atendesse a uma solicitação sobre a extradição em função dos crimes cometidos no seu período de governo. A questão agora está totalmente encerrada ou ainda se pode fazer algum tipo de justiça para que se demonstre às novas gerações que a impunidade não prevalece?
A Justiça paraguaia pediu, tanto a Fernando Henrique Cardoso como ao companheiro Lula, a extradição de Stroessner, mas o Itamaraty silenciou. Isso é compreensível para nós, porque Stroessner entregou ao governo brasileiro a fonte mais importante da nossa energia: Itaipu. A partir de então o Paraguai converteu se numa subcolónia brasileira...
– O senhor, como descobridor dos arquivos da Operação Condor, não acha que nestes 15 anos não se fez justiça em relação à punição dos responsáveis por violações de direitos humanos nesta região?
A Operação Condor foi um pacto criminoso entre os militares de Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai na década de 70. No Paraguai foram enviados para o cárcere os “torturadores” da Polícia Política, mas os autores morais e intelectuais, os militares, até esta data continuam impunes e com muita riqueza, fruto dos roubos dos cofres do Estado e aos particulares da oposição. Quando eu falo com os militares sobre o tema, eles dizem que cumpriram ordens da Embaixada estadunidense em Assunção. Realmente, para nós, o Terrorista mundial número um chama-se Henry Kissinger, o segundo é George W. Bush e o terceiro Bin Laden, sócio deles...
– Acha que hoje os fundamentos da Operação Condor continuam vigentes?
Rotundamente que sim.
– E de que forma se manifesta?
Encontrámos um documento militar paraguaio de 10 de Julho de 1997 no qual o coronel Francisco Ramon Ledesma, oficial do Exército paraguaio diz ao coronel equatoriano Jaime del Castillo Baeza, secretário executivo da XXII Conferência de Exércitos das Américas (CEA), que estava a remeter a lista dos subversivos paraguaios como contribuição do Exército paraguaio para que Castillo Baeza elaborasse a lista dos subversivos da América Latina. A pedido das organizações de Direitos Humanos, o juiz penal Jorge Bogarin Gonzalez ordenou que o coronel paraguaio prestasse declaração. Isso ocorreu em 9 de Outubro de 1997. O coronel paraguaio, que nunca viu a cara da justiça, assustou-se e revelou ao juiz que a reunião da CEA ocorreu em Novembro de 1995, em Bariloche, Argentina, com a presença de Menem e Pinochet, fornecendo os nomes dos militares paraguaios participantes. Assinalou, além disso, que a CEA foi criada pelo Pentágono em 1961 para se contrapor à triunfante revolução cubana. Seguimos a pista e descobrimos que em Novembro de 1997 se reuniram os militares latino-americanos em Quito, onde trocavam a lista de subversivos. Posteriormente, reuniram se em La Paz, capital boliviana, sob a presidência de Hugo Banzer. Nesta ocasião, segundo os militares paraguaios que assistiram ao evento, concordaram em exigir a imediata libertação de Pinochet, então preso em Londres, por ordem do juiz Baltasar Garzón, acusado de crimes de lesa-humanidade.
– Que sugestões faria aos governos democráticos deste continente para que se faça justiça em relação às pessoas envolvidas naquele período pela forte repressão?
À excepção do Presidente Nestor Kirchner da Argentina, nenhum governo latino-americano tem realmente vontade política de fazer justiça com as vítimas da repressão. Por exemplo, no Chile o governo de Michele Bachellet tem um discurso progressista, mas que na prática é de direita, ao permitir que a morte alcançasse Pinochet impune e ao aceitar as honras militares ao ex-ditador. Lá reina realmente uma hipocrisia colectiva entre os quatro poderes do Estado, Executivo, Legislativo, Judiciário e as Forças Armadas e com uma burguesia post Pinochet insaciável, nunca investigada.
Mas a situação brasileira é ainda pior, porque o Exército nunca permitiu que se investigasse os seus crimes de lesa humanidade e muito menos entregasse à Justiça os documentos da Operação Condor. Devemos investigar o passado não só para castigar e condenar, mas, fundamentalmente, para aprender.
O drama dos presos/desaparecidos continua penoso... A dívida externa é uma criação dos militares da América Latina que os civis não se atreveram a tocar. É a firma pendente da democracia.
– Como analisa os últimos acontecimentos relacionados com a violência urbana aqui no Brasil, com sectores conservadores da sociedade defendendo penalidades mais rigorosas, até mesmo a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos?
Os governos brasileiros destes últimos tempos caracterizaram se pela sua ideologia atrasada que acredita que vai parar a violência com mais violência em vez de criar fontes de trabalho, saúde, educação e habitação. A política actual de Lula acaba provocando e legitimando essa violência, lamentavelmente. Sem mudar as estruturas económicas e sociais que oprimem os nossos povos não é possível acabar com a violência.
– Como está a situação no Paraguai?
No Paraguai de Nicanor Duarte Frutos, há uma pobreza explosiva. O actual governo caracteriza se por exportar os seus pobres para a Espanha e Argentina, porque aplica em toda a plenitude a política ordenada por Washington através do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Banco Interamericano. Finalmente, o problema do Paraguai não é a pobreza, é o empobrecimento. Por isso, o que temos de combater não é a extrema pobreza, mas sim a extrema riqueza e a concentração desta riqueza em mãos de uma limitada oligarquia herdeira da ditadura de Stroessner. O desprestígio da democracia é tamanho no Paraguai que agora confunde se com a corrupção.
– Como analisa a próxima eleição no ano que vem no Paraguai? Acha possível a vitória de um candidato não do Partido Colorado a que pertenceu o ditador Stroessner?
O povo paraguaio quer a mudança, quer a alternância de poder, mas o oficialismo não sabe interpretar os sinais dos tempos. Stroessner endividou o Estado para que os pobres paguem essas dívidas e as empresas privadas aumentam os seus benefícios... Em 3 de Fevereiro de 1989, mudou o regime político, mas não mudou a natureza corrupta do Estado imposto por Stroessner. Por isso, há uma consciência clara dos de baixo de que não há ninguém que represente os seus interesses. O Partido Colorado deixou de ser a ferramenta de mudança. No Paraguai, é possível que ocorra exactamente o que aconteceu no Uruguai onde o centenário Partido Colorado apenas conquistou 10% do eleitorado. Segundo as últimas pesquisas Fernando Lugo, ex bispo católico, é o candidato favorito do eleitorado paraguaio.
– Que possibilidades efectivas tem Fernando Lugo de conquistar a Presidência enfrentando a máquina do Partido Colorado?
No Paraguai repete se o fenómeno argentino do ano 2000, na base da palavra de ordem “que todos (políticos) vão embora!” (que se vayan!). A sociedade civil já não se vê representada pelos seus deputados e senadores. A maioria deles, salvo raras excepções, tornaram se muito corruptos e ostentam o seu poder, ou seja, provocam! Nesse cenário, Fernando Lugo pode vencer a infernal maquinaria oficialista. A última concentração exitosa de mais de 30 mil pessoas organizada por Lugo sem “arriar” as pessoas, demonstra a aceitação de que goza por parte da população empobrecida, humilhada e perseguida. Isso aconteceu em 29 de Março último, em frente ao Congresso Nacional.
– Então acha que nesta altura vai ser difícil impedir a candidatura de Fernando Lugo como querem os sectores conservadores?
O oficialismo, a burguesia e a hierarquia católica continuam os seus ataques a Lugo, o candidato dos que não têm voz. O povo paraguaio tomou consciência de que é vítima da democracia de marketing com promessas não cumpridas e enganações por mais de 60 anos. Da economia de mercado ultimamente passamos à sociedade de mercado e a governos de mercado. Lugo recebe diariamente massivas adesões que desesperam os governantes de turno porque há uma pobreza explosiva. Parafraseando um destacado geógrafo brasileiro que escreveu A geografia da fome, Josué de Castro: «no Paraguai, os ricos não podem dormir porque têm medo dos pobres e os pobres não podem dormir porque têm fome...»
– Quando acha que a candidatura de Fernando Lugo se vai definir, ou seja, não haverá mais tentativas de impugnação?
A candidatura de Lugo esta definida. O movimento está a constituir urgentemente o seu quadro de condução a nível nacional e internacional. Lugo tem dois caminhos muito importantes a superar e para entrar na corrida. Primeiro, exigir a renúncia aos cinco Ministros da Corte Suprema de Justiça que avaliam a violação da Constituição Nacional por parte de Nicanor Duarte Frutos, Presidente do Paraguai, e, segundo, exigir a renúncia dos três Ministros da Justiça Eleitoral a serviço total do oficialismo. Para conquistar estes dois objetivos continuaremos a inundar a Justiça de exigências e as ruas de protestos ...
Em homenagem ao Monsenhor Lugo escrevi justamente o poema “Quando a rua se agita” musicado por Oscar Escobar e cantado por Ruben Dominguez. Um verso do poema diz assim: «A rua é o pulmão do meu povo em rebeldia / é a alma e coração / dessa grande massa bravia...»
Mário Augusto Jakobskind
Brasil de Fato
http://www.infoalternativa.org/amlatina/amlatina030.htm
O paraguaio e advogado Martin Almada, Prémio Nobel Alternativo da Paz, é um dos expoentes latino americanos na denúncia e acção contra as ditaduras na região. Integrante da Associação dos Juristas Americanos, descobriu os arquivos da Operação Condor, a união do esquema repressivo do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Hoje, Almada continua a alertar sobre a vigência actual da Condor.
Nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Martin Almada retoma a advertência e mostra que, com excepção do governo argentino, falta vontade política aos demais governos latino-americanos, inclusive o do Brasil, de terminar com a impunidade de figuras que nos anos de chumbo dos anos 70 assassinaram e torturaram jovens combatentes que se insurgiram contra a ditadura.
Almada analisa também o actual momento que atravessa o Paraguai e a real possibilidade de vitória no próximo ano da candidatura presidencial do ex-bispo Fernando Lugo, representante dos paraguaios que não têm voz. Lugo enfrenta sérias objecções da oligarquia que não se conforma com o surgimento de um nome que poderá desbancar o predomínio do Partido Colorado, o mesmo partido do ditador Alfredo Strossner, e tenta inviabilizar a sua candidatura alegando que ainda é bispo, o que constitucionalmente o impediria de concorrer. Lugo abandonou a batina para ser candidato à Presidência, o que deixou irritados os sectores conservadores paraguaios.
– Você poderia lembrar sinteticamente como descobriu os arquivos da Operação Condor?
Isso foi fruto de 15 anos de investigação. Em 26 de Novembro de 1974, quando voltei a Assunção ao terminar os meus estudos superiores na Universidade de La Plata, na Argentina, fui sequestrado pela Polícia Política de Stroessner e levado a um Tribunal Militar integrado pelos Adidos Militares de Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai, além de militares e políticos paraguaios. Um coronel chileno e o Chefe de Polícia da Província de Córdoba, Argentina, ordenaram que eu fosse torturado. Fiquei na sala de tormento durante 30 dias, finalmente os militares tipificaram o meu delito como “terrorista intelectual”. Depois fui transferido para o Comissariado Primeiro, a sede da Interpol. Soube então da Operação Condor, estando no ventre do Condor, por meio de um Comissário preso connosco. Isso foi em Abril ou Maio de 1975 e a Operação Condor foi criada oficialmente em fins de Novembro/Dezembro do mesmo ano. O Comissário estava informado porque trabalhou no Escritório de Telecomunicações da Polícia. Ele recebia todos os telex. Caiu preso por não ter delatado que o seu filho integrou o Centro de Estudantes de La Plata, Argentina, quer dizer, tornou-se “subversivo”. Um dia disse me: «Olhe Martin, se tu sais vivo daqui tens de ler a Revista Policial do Paraguai, ali está tudo sobre o Condor».
– E como você saiu?
Fiz uma greve de fome durante trinta dias, depois de castigado no “Sepulcro dos Vivos”, Comissariado Terceiro, e saí em liberdade em Setembro de 1977. Em Fevereiro de 1978, viajei ao Panamá, cujo presidente da República, general Omar Torrijos pediu ao Secretário Geral das Nações Unidas que me arranjasse um trabalho na minha especialidade. Foi assim que a UNESCO de Paris me contratou como Consultor para a América Latina (1978/1992). Nas minhas horas livres pesquisei os passos do Condor através da Revista Policial do Paraguai. Em 3 de Fevereiro de 1989, caiu a ditadura militar de Stroessner. Mudou-se a Constituição que contemplou a figura jurídica do Habeas Datas, que estabelece que «toda pessoa tem direito a ter acesso à informação e aos dados sobre si mesma...» Eu queria saber os detalhes sobre a morte da minha esposa, a educadora Celestina Perez e também o que significava ser terrorista intelectual. Por isso, recorri à Justiça pedindo que a Polícia fornecesse os meus antecedentes. A Polícia então nega a existência dos meus antecedentes.
Peço a abertura do Arquivo da Polícia, facto que se publica na imprensa. Recebo uma chamada telefónica e uma mulher disse me: «Professor Almada, os seus papéis não estão na Central de Polícia, mas sim nos arredores de Assunção». Convido-a para passar no meu escritório. Uma hora depois apresentou um plano. Explicou que há mais de três meses a cópia desse mesmo plano tinha sido fornecida a um líder da oposição que não fez nada. Disse que confiava muito em mim e despediu se. Esse plano levei ao juiz que estava a conduzir o meu recurso de Habeas Data, Dr. José Agustin Fernandez. Este decidiu abrir o Comissariado de Lambare, a 10 quilómetros de Assunção. Isso foi em 22 de Dezembro de 1992. Toneladas de documentos...
Quem foi a mulher que me traçou o plano? Soube muito mais tarde que foi a esposa de um Comissário que fugiu com uma menina muito mais jovem. Ela traçou me o plano por despeito.
– O ditador Alfred Stroessner morreu no ano passado em Brasília sem que o governo brasileiro atendesse a uma solicitação sobre a extradição em função dos crimes cometidos no seu período de governo. A questão agora está totalmente encerrada ou ainda se pode fazer algum tipo de justiça para que se demonstre às novas gerações que a impunidade não prevalece?
A Justiça paraguaia pediu, tanto a Fernando Henrique Cardoso como ao companheiro Lula, a extradição de Stroessner, mas o Itamaraty silenciou. Isso é compreensível para nós, porque Stroessner entregou ao governo brasileiro a fonte mais importante da nossa energia: Itaipu. A partir de então o Paraguai converteu se numa subcolónia brasileira...
– O senhor, como descobridor dos arquivos da Operação Condor, não acha que nestes 15 anos não se fez justiça em relação à punição dos responsáveis por violações de direitos humanos nesta região?
A Operação Condor foi um pacto criminoso entre os militares de Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai na década de 70. No Paraguai foram enviados para o cárcere os “torturadores” da Polícia Política, mas os autores morais e intelectuais, os militares, até esta data continuam impunes e com muita riqueza, fruto dos roubos dos cofres do Estado e aos particulares da oposição. Quando eu falo com os militares sobre o tema, eles dizem que cumpriram ordens da Embaixada estadunidense em Assunção. Realmente, para nós, o Terrorista mundial número um chama-se Henry Kissinger, o segundo é George W. Bush e o terceiro Bin Laden, sócio deles...
– Acha que hoje os fundamentos da Operação Condor continuam vigentes?
Rotundamente que sim.
– E de que forma se manifesta?
Encontrámos um documento militar paraguaio de 10 de Julho de 1997 no qual o coronel Francisco Ramon Ledesma, oficial do Exército paraguaio diz ao coronel equatoriano Jaime del Castillo Baeza, secretário executivo da XXII Conferência de Exércitos das Américas (CEA), que estava a remeter a lista dos subversivos paraguaios como contribuição do Exército paraguaio para que Castillo Baeza elaborasse a lista dos subversivos da América Latina. A pedido das organizações de Direitos Humanos, o juiz penal Jorge Bogarin Gonzalez ordenou que o coronel paraguaio prestasse declaração. Isso ocorreu em 9 de Outubro de 1997. O coronel paraguaio, que nunca viu a cara da justiça, assustou-se e revelou ao juiz que a reunião da CEA ocorreu em Novembro de 1995, em Bariloche, Argentina, com a presença de Menem e Pinochet, fornecendo os nomes dos militares paraguaios participantes. Assinalou, além disso, que a CEA foi criada pelo Pentágono em 1961 para se contrapor à triunfante revolução cubana. Seguimos a pista e descobrimos que em Novembro de 1997 se reuniram os militares latino-americanos em Quito, onde trocavam a lista de subversivos. Posteriormente, reuniram se em La Paz, capital boliviana, sob a presidência de Hugo Banzer. Nesta ocasião, segundo os militares paraguaios que assistiram ao evento, concordaram em exigir a imediata libertação de Pinochet, então preso em Londres, por ordem do juiz Baltasar Garzón, acusado de crimes de lesa-humanidade.
– Que sugestões faria aos governos democráticos deste continente para que se faça justiça em relação às pessoas envolvidas naquele período pela forte repressão?
À excepção do Presidente Nestor Kirchner da Argentina, nenhum governo latino-americano tem realmente vontade política de fazer justiça com as vítimas da repressão. Por exemplo, no Chile o governo de Michele Bachellet tem um discurso progressista, mas que na prática é de direita, ao permitir que a morte alcançasse Pinochet impune e ao aceitar as honras militares ao ex-ditador. Lá reina realmente uma hipocrisia colectiva entre os quatro poderes do Estado, Executivo, Legislativo, Judiciário e as Forças Armadas e com uma burguesia post Pinochet insaciável, nunca investigada.
Mas a situação brasileira é ainda pior, porque o Exército nunca permitiu que se investigasse os seus crimes de lesa humanidade e muito menos entregasse à Justiça os documentos da Operação Condor. Devemos investigar o passado não só para castigar e condenar, mas, fundamentalmente, para aprender.
O drama dos presos/desaparecidos continua penoso... A dívida externa é uma criação dos militares da América Latina que os civis não se atreveram a tocar. É a firma pendente da democracia.
– Como analisa os últimos acontecimentos relacionados com a violência urbana aqui no Brasil, com sectores conservadores da sociedade defendendo penalidades mais rigorosas, até mesmo a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos?
Os governos brasileiros destes últimos tempos caracterizaram se pela sua ideologia atrasada que acredita que vai parar a violência com mais violência em vez de criar fontes de trabalho, saúde, educação e habitação. A política actual de Lula acaba provocando e legitimando essa violência, lamentavelmente. Sem mudar as estruturas económicas e sociais que oprimem os nossos povos não é possível acabar com a violência.
– Como está a situação no Paraguai?
No Paraguai de Nicanor Duarte Frutos, há uma pobreza explosiva. O actual governo caracteriza se por exportar os seus pobres para a Espanha e Argentina, porque aplica em toda a plenitude a política ordenada por Washington através do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Banco Interamericano. Finalmente, o problema do Paraguai não é a pobreza, é o empobrecimento. Por isso, o que temos de combater não é a extrema pobreza, mas sim a extrema riqueza e a concentração desta riqueza em mãos de uma limitada oligarquia herdeira da ditadura de Stroessner. O desprestígio da democracia é tamanho no Paraguai que agora confunde se com a corrupção.
– Como analisa a próxima eleição no ano que vem no Paraguai? Acha possível a vitória de um candidato não do Partido Colorado a que pertenceu o ditador Stroessner?
O povo paraguaio quer a mudança, quer a alternância de poder, mas o oficialismo não sabe interpretar os sinais dos tempos. Stroessner endividou o Estado para que os pobres paguem essas dívidas e as empresas privadas aumentam os seus benefícios... Em 3 de Fevereiro de 1989, mudou o regime político, mas não mudou a natureza corrupta do Estado imposto por Stroessner. Por isso, há uma consciência clara dos de baixo de que não há ninguém que represente os seus interesses. O Partido Colorado deixou de ser a ferramenta de mudança. No Paraguai, é possível que ocorra exactamente o que aconteceu no Uruguai onde o centenário Partido Colorado apenas conquistou 10% do eleitorado. Segundo as últimas pesquisas Fernando Lugo, ex bispo católico, é o candidato favorito do eleitorado paraguaio.
– Que possibilidades efectivas tem Fernando Lugo de conquistar a Presidência enfrentando a máquina do Partido Colorado?
No Paraguai repete se o fenómeno argentino do ano 2000, na base da palavra de ordem “que todos (políticos) vão embora!” (que se vayan!). A sociedade civil já não se vê representada pelos seus deputados e senadores. A maioria deles, salvo raras excepções, tornaram se muito corruptos e ostentam o seu poder, ou seja, provocam! Nesse cenário, Fernando Lugo pode vencer a infernal maquinaria oficialista. A última concentração exitosa de mais de 30 mil pessoas organizada por Lugo sem “arriar” as pessoas, demonstra a aceitação de que goza por parte da população empobrecida, humilhada e perseguida. Isso aconteceu em 29 de Março último, em frente ao Congresso Nacional.
– Então acha que nesta altura vai ser difícil impedir a candidatura de Fernando Lugo como querem os sectores conservadores?
O oficialismo, a burguesia e a hierarquia católica continuam os seus ataques a Lugo, o candidato dos que não têm voz. O povo paraguaio tomou consciência de que é vítima da democracia de marketing com promessas não cumpridas e enganações por mais de 60 anos. Da economia de mercado ultimamente passamos à sociedade de mercado e a governos de mercado. Lugo recebe diariamente massivas adesões que desesperam os governantes de turno porque há uma pobreza explosiva. Parafraseando um destacado geógrafo brasileiro que escreveu A geografia da fome, Josué de Castro: «no Paraguai, os ricos não podem dormir porque têm medo dos pobres e os pobres não podem dormir porque têm fome...»
– Quando acha que a candidatura de Fernando Lugo se vai definir, ou seja, não haverá mais tentativas de impugnação?
A candidatura de Lugo esta definida. O movimento está a constituir urgentemente o seu quadro de condução a nível nacional e internacional. Lugo tem dois caminhos muito importantes a superar e para entrar na corrida. Primeiro, exigir a renúncia aos cinco Ministros da Corte Suprema de Justiça que avaliam a violação da Constituição Nacional por parte de Nicanor Duarte Frutos, Presidente do Paraguai, e, segundo, exigir a renúncia dos três Ministros da Justiça Eleitoral a serviço total do oficialismo. Para conquistar estes dois objetivos continuaremos a inundar a Justiça de exigências e as ruas de protestos ...
Em homenagem ao Monsenhor Lugo escrevi justamente o poema “Quando a rua se agita” musicado por Oscar Escobar e cantado por Ruben Dominguez. Um verso do poema diz assim: «A rua é o pulmão do meu povo em rebeldia / é a alma e coração / dessa grande massa bravia...»
Mário Augusto Jakobskind
Brasil de Fato
http://www.infoalternativa.org/amlatina/amlatina030.htm
Posada Carriles deve ser julgado pelos seus crimes
Posada Carriles deve ser julgado pelos seus crimes
Enquanto em nome da luta contra o terrorismo, milhares de pessoas morrem no Iraque e no Afeganistão, e outras – arbitrariamente detidas – são torturadas em Abu Ghraib e Guantánamo, o governo dos Estados Unidos protege o mais conhecido terrorista do hemisfério ocidental, procura enganar a opinião pública com intermináveis manobras pseudo legais e nega se a julgá-lo pelos seus verdadeiros crimes.
Luis Posada Carriles foi acusado e submetido a um julgamento inconcluso na Venezuela pelo atentado em 1976 contra um avião civil onde morreram setenta e três pessoas. Depois de escapar das prisões venezuelanas, em 1982, trabalhou para a CIA na operação conhecida como Irão Contras e na organização do genocida Plano Condor. Preparou depois, em 1997, uma série de actos terroristas contra hotéis de Havana – num deles perdeu a vida o jovem turista Itáliano Fabio Di Celmo – e, em 2000, no projecto de atentado contra o Presidente Fidel Castro na Universidade do Panamá.
Em Marco de 2005, Posada Carriles entrou ilegalmente nos Estados Unidos. Só depois de reiteradas denúncias públicas que revelavam a presença deste criminoso no seu território, o governo de George W. Bush procedeu à sua detenção e processamento por delitos migratórios e falso testemunho, sem a menor alusão ao terrorismo.
Com o tratamento outorgado a Posada Carriles, as autoridades norte americanas, pressionadas pelos grupos extremistas cubanos do sul da Florida, puseram em absoluta evidência a moral dupla da sua guerra contra o terrorismo em nome da qual torturam, sequestram e bombardeiam. Ao mesmo tempo, como foi denunciado em numerosos foros internacionais e agências de Nações Unidas, cinco activistas anti-terroristas cubanos permanecem injustamente presos nos Estados Unidos, submetidos juntamente com os seus familiares a um tratamento cruel e discriminatório.
Todas as pessoas honestas que no mundo levantam a sua voz contra a guerra e contra o terrorismo têm diante de si uma prova irrefutável da falta de ética em que a actual administração de Washington baseia a sua actuação. Nós, abaixo assinados, exigimos que o governo dos Estados Unidos, em cumprimento das suas obrigações internacionais, processe Luis Posada Carriles por todos os seus crimes ou atenda à solicitação de extradição efectuada pela Venezuela, e que até hoje não obteve resposta.
[Assinaturas iniciais:]
Adolfo Pérez Esquivel, Argentina; Noam Chomsky, EUA; Oscar Niemeyer, Brasil; Alfonso Sastre, Espanha; Eduardo Galeano, Uruguai; Danny Glover, EUA; Istvan Meszaros, Hungria; Alice Walker, EUA; Gianni Miná, Itália; Blanca Chancosa, Equador; Cindy Sheehan, EUA; Manu Chao, França-Espanha; Boaventura de Sousa, Portugal; Frei Betto, Brasil; Mario Benedetti, Uruguai; Ariel Dorfman, Chile-EUA; Tristán Bauer, Argentina; Howard Zinn, EUA; Armand Mattelart, Bélgica; Gioconda Belli, Nicarágua; Russell Banks, EUA; Nora Cortiñas, Argentina; João Pedro Stédile, Brasil; Medea Benjamín, EUA; Roy Brown, Porto Rico; Belén Gopegui, Espanha; Hildebrando Pérez Grande, Peru; Luis Britto, Venezuela; Jane Franklin, EUA; Daniel Viglietti, Uruguai; Emir Sader, Brasil; Miguel Bonasso, Argentina; Lucius Walker, EUA; Piero Gleijeises, Itália-EUA; Gianni Vattimo, Itália; Jorge Enrique Adoum, Equador; Juan Gelman, Argentina; Michel Collon, Bélgica; James Petras, EUA; Hebe de Bonafini, Argentina; Francois Houtart, Bélgica; Stella Calloni, Argentina; Eric Toussaint, Bélgica; Atilio Borón, Argentina; Naomi Klein, Canadá; Pascual Serrano, Espanha; Heinz Dieterich, México; Manuel Cabieses, Chile; Keith Ellis, Canadá; Michael Parenti, EUA; Arturo Corcuera, Peru; Beverly Keene, EUA-Argentina; Carlos Fazio, México; Ramón Chao, Espanha/França; James Early, EUA; Jorge Sanjinés, Bolívia; Franz Hinkelammert, Alemanha-Costa Rica; Adolfo Sánchez Vázquez, Espanha-México; Volodia Teitelboim, Chile; Noé Jitrik, Argentina; Wim Dierckxens, Holanda-Costa Rica; Victor Victor, República Dominicana; Fernando Buen Abad, México; Saul Landau, EUA; Salim Lamrani, França; Juan Madrid, Espanha; Rene Burri, Suiça; Luisa Valenzuela, Argentina; Carlos Fernández Liria, Espanha; José Steinsleger, Argentina-México; Roberto Montoya, Argentina; Fernando Morais, Brasil; Federico Álvarez, México; Montserrat Ponsa, Espanha; Héctor Díaz-Polanco, México; Setsuko Ono, EUA; Antonio Maira, Espanha; Marilia Guimaraes, Brasil; Pepe Viñoles, Suécia; Ana Delicado Palacios, Espanha; Tununa Mercado, Argentina; Winston Orrillo, Peru; John Gerassi, EUA; Santiago Alba Rico, Espanha; Gilberto López y Rivas, México; Rafael Cancel Miranda, Porto Rico; James Cockcroft, EUA; Eva Forest, Espanha; Juan Mari Brás, Porto Rico; Michèle Mattelart, França; Donatella Meszaros, Itália; Víctor Flores Olea, México; Maribel Permuy, Espanha; Hernando Calvo Ospina, Colômbia; Rosina Valcárcel, Peru; Pablo Guayasamín, Equador; Isaura Navarro, Espanha; Pilar Roca, Peru; Carlos Gabetta, Argentina; Etna Velarde, Peru; Ernesto Carmona, Chile; Néstor Kohan, Argentina; Vicente Romano, Espanha; Vicente Battista, Argentina; Carlos “Chino” Dominguez, Peru; Nazanín Amirian, Irão; Higinio Polo, Espanha; Beinusz Szmukler, Argentina; Pablo Romo, México; Aton Fon Filho, Brasil; Manuel Talens, Espanha; Alcira Argumedo, Argentina; David Acera, Espanha; Arnoldo Mora, Costa Rica; Juan Cristóbal, Peru; Julio César Monge, El Salvador; Harald Neuber; Alemanha; Alfredo Vera, Equador; Fernando Rendón, Colômbia; Leslee Lee, Peru; Ángel Guerra, Cuba; Alessandra Riccio, Itália; Atilio Bonilla, Peru; Gennaro Carotenuto, Itália; Javier Couso, Espanha; Reynaldo Naranjo, Peru; Carlos Varea, Espanha; Gustavo Espinoza, Peru; John Pateman, Reino Unido; Héctor Arenas, Colômbia; Federico García, Peru; Eva Björklund, Suécia; Jordan Flaherty, EUA; Bruno Portuguez, Peru; Raúl Zurita, Chile; Gloria La Riva, EUA; Francisco Cañizales, Venezuela; Marta Harnecker, Chile; Peter Bohmer, EUA; Ann Sparanese, EUA; Francisco (Pancho) Villa, Chile; Yhonny García, Venezuela; Patricia Ariza, Colômbia; Raúl Vallejo, Equador; Georges E. Maouvois, Martinica; Isidora Aguirre, Chile; Antoine Chao, França; Xiomara García Venezuela; Sara Rosenberg, Argentina; Fernando Butazzoni, Uruguai; Danielle Bleitrach, França; Jacek Wozniak; Polónia; Jaime Chao, França; Miguel Urbano, Portugal
Por la Justicia
http://www.infoalternativa.org/apelo/apelo009.htm
Enquanto em nome da luta contra o terrorismo, milhares de pessoas morrem no Iraque e no Afeganistão, e outras – arbitrariamente detidas – são torturadas em Abu Ghraib e Guantánamo, o governo dos Estados Unidos protege o mais conhecido terrorista do hemisfério ocidental, procura enganar a opinião pública com intermináveis manobras pseudo legais e nega se a julgá-lo pelos seus verdadeiros crimes.
Luis Posada Carriles foi acusado e submetido a um julgamento inconcluso na Venezuela pelo atentado em 1976 contra um avião civil onde morreram setenta e três pessoas. Depois de escapar das prisões venezuelanas, em 1982, trabalhou para a CIA na operação conhecida como Irão Contras e na organização do genocida Plano Condor. Preparou depois, em 1997, uma série de actos terroristas contra hotéis de Havana – num deles perdeu a vida o jovem turista Itáliano Fabio Di Celmo – e, em 2000, no projecto de atentado contra o Presidente Fidel Castro na Universidade do Panamá.
Em Marco de 2005, Posada Carriles entrou ilegalmente nos Estados Unidos. Só depois de reiteradas denúncias públicas que revelavam a presença deste criminoso no seu território, o governo de George W. Bush procedeu à sua detenção e processamento por delitos migratórios e falso testemunho, sem a menor alusão ao terrorismo.
Com o tratamento outorgado a Posada Carriles, as autoridades norte americanas, pressionadas pelos grupos extremistas cubanos do sul da Florida, puseram em absoluta evidência a moral dupla da sua guerra contra o terrorismo em nome da qual torturam, sequestram e bombardeiam. Ao mesmo tempo, como foi denunciado em numerosos foros internacionais e agências de Nações Unidas, cinco activistas anti-terroristas cubanos permanecem injustamente presos nos Estados Unidos, submetidos juntamente com os seus familiares a um tratamento cruel e discriminatório.
Todas as pessoas honestas que no mundo levantam a sua voz contra a guerra e contra o terrorismo têm diante de si uma prova irrefutável da falta de ética em que a actual administração de Washington baseia a sua actuação. Nós, abaixo assinados, exigimos que o governo dos Estados Unidos, em cumprimento das suas obrigações internacionais, processe Luis Posada Carriles por todos os seus crimes ou atenda à solicitação de extradição efectuada pela Venezuela, e que até hoje não obteve resposta.
[Assinaturas iniciais:]
Adolfo Pérez Esquivel, Argentina; Noam Chomsky, EUA; Oscar Niemeyer, Brasil; Alfonso Sastre, Espanha; Eduardo Galeano, Uruguai; Danny Glover, EUA; Istvan Meszaros, Hungria; Alice Walker, EUA; Gianni Miná, Itália; Blanca Chancosa, Equador; Cindy Sheehan, EUA; Manu Chao, França-Espanha; Boaventura de Sousa, Portugal; Frei Betto, Brasil; Mario Benedetti, Uruguai; Ariel Dorfman, Chile-EUA; Tristán Bauer, Argentina; Howard Zinn, EUA; Armand Mattelart, Bélgica; Gioconda Belli, Nicarágua; Russell Banks, EUA; Nora Cortiñas, Argentina; João Pedro Stédile, Brasil; Medea Benjamín, EUA; Roy Brown, Porto Rico; Belén Gopegui, Espanha; Hildebrando Pérez Grande, Peru; Luis Britto, Venezuela; Jane Franklin, EUA; Daniel Viglietti, Uruguai; Emir Sader, Brasil; Miguel Bonasso, Argentina; Lucius Walker, EUA; Piero Gleijeises, Itália-EUA; Gianni Vattimo, Itália; Jorge Enrique Adoum, Equador; Juan Gelman, Argentina; Michel Collon, Bélgica; James Petras, EUA; Hebe de Bonafini, Argentina; Francois Houtart, Bélgica; Stella Calloni, Argentina; Eric Toussaint, Bélgica; Atilio Borón, Argentina; Naomi Klein, Canadá; Pascual Serrano, Espanha; Heinz Dieterich, México; Manuel Cabieses, Chile; Keith Ellis, Canadá; Michael Parenti, EUA; Arturo Corcuera, Peru; Beverly Keene, EUA-Argentina; Carlos Fazio, México; Ramón Chao, Espanha/França; James Early, EUA; Jorge Sanjinés, Bolívia; Franz Hinkelammert, Alemanha-Costa Rica; Adolfo Sánchez Vázquez, Espanha-México; Volodia Teitelboim, Chile; Noé Jitrik, Argentina; Wim Dierckxens, Holanda-Costa Rica; Victor Victor, República Dominicana; Fernando Buen Abad, México; Saul Landau, EUA; Salim Lamrani, França; Juan Madrid, Espanha; Rene Burri, Suiça; Luisa Valenzuela, Argentina; Carlos Fernández Liria, Espanha; José Steinsleger, Argentina-México; Roberto Montoya, Argentina; Fernando Morais, Brasil; Federico Álvarez, México; Montserrat Ponsa, Espanha; Héctor Díaz-Polanco, México; Setsuko Ono, EUA; Antonio Maira, Espanha; Marilia Guimaraes, Brasil; Pepe Viñoles, Suécia; Ana Delicado Palacios, Espanha; Tununa Mercado, Argentina; Winston Orrillo, Peru; John Gerassi, EUA; Santiago Alba Rico, Espanha; Gilberto López y Rivas, México; Rafael Cancel Miranda, Porto Rico; James Cockcroft, EUA; Eva Forest, Espanha; Juan Mari Brás, Porto Rico; Michèle Mattelart, França; Donatella Meszaros, Itália; Víctor Flores Olea, México; Maribel Permuy, Espanha; Hernando Calvo Ospina, Colômbia; Rosina Valcárcel, Peru; Pablo Guayasamín, Equador; Isaura Navarro, Espanha; Pilar Roca, Peru; Carlos Gabetta, Argentina; Etna Velarde, Peru; Ernesto Carmona, Chile; Néstor Kohan, Argentina; Vicente Romano, Espanha; Vicente Battista, Argentina; Carlos “Chino” Dominguez, Peru; Nazanín Amirian, Irão; Higinio Polo, Espanha; Beinusz Szmukler, Argentina; Pablo Romo, México; Aton Fon Filho, Brasil; Manuel Talens, Espanha; Alcira Argumedo, Argentina; David Acera, Espanha; Arnoldo Mora, Costa Rica; Juan Cristóbal, Peru; Julio César Monge, El Salvador; Harald Neuber; Alemanha; Alfredo Vera, Equador; Fernando Rendón, Colômbia; Leslee Lee, Peru; Ángel Guerra, Cuba; Alessandra Riccio, Itália; Atilio Bonilla, Peru; Gennaro Carotenuto, Itália; Javier Couso, Espanha; Reynaldo Naranjo, Peru; Carlos Varea, Espanha; Gustavo Espinoza, Peru; John Pateman, Reino Unido; Héctor Arenas, Colômbia; Federico García, Peru; Eva Björklund, Suécia; Jordan Flaherty, EUA; Bruno Portuguez, Peru; Raúl Zurita, Chile; Gloria La Riva, EUA; Francisco Cañizales, Venezuela; Marta Harnecker, Chile; Peter Bohmer, EUA; Ann Sparanese, EUA; Francisco (Pancho) Villa, Chile; Yhonny García, Venezuela; Patricia Ariza, Colômbia; Raúl Vallejo, Equador; Georges E. Maouvois, Martinica; Isidora Aguirre, Chile; Antoine Chao, França; Xiomara García Venezuela; Sara Rosenberg, Argentina; Fernando Butazzoni, Uruguai; Danielle Bleitrach, França; Jacek Wozniak; Polónia; Jaime Chao, França; Miguel Urbano, Portugal
Por la Justicia
http://www.infoalternativa.org/apelo/apelo009.htm
O Irão pode constituir a maior crise dos tempos modernos
A jornalista israelense Amira Hass descreve o momento em que sua mãe, Hannah, marchava de um vagão de gado até o campo de concentração nazi de Bergen-Belsen. "Eles estavam doentes e alguns estavam a morrer", conta ela. "Então minha mãe viu aquelas mulheres alemãs a olharem para os prisioneiros, simplesmente a olhar. Esta imagem tornou-se muito educativa na minha formação, aquele desprezível 'olhar do lado' ".
Já é tempo de nós na Grã-Bretanha e em outros países ocidentais cessarmos de olhar do lado. Estamos a ser conduzidos à crise, talvez a mais séria da história moderna, quando a "longa guerra" de Bush-Cheney-Blair avança rumo ao Irão sem nenhuma outra razão senão a independência daquele país face à voracidade dos EUA. A entrega em segurança dos 15 marinheiros britânicos nas mãos de Rupert Murdoch e seu rivais (com contos da sua "experiência" quase certamente escritos pelo Ministério da Defesa) é tanto uma farsa como uma manobra distractiva. A administração Bush, em secreta conivência com Blair, passou quatro anos a preparar-se para a "Operation Iranian Freedom". Quarenta e cinco mísseis de cruzeiro estão prontos a atacar. Segundo o principal pensador estratégico da Rússia, General Leonid Ivashov , "as instalações nucleares serão alvos secundários… pelo menos 20 de tais instalações precisam ser destruídas. Podem ser utilizadas armas nucleares de combate. Isto resultará na contaminação radioactiva de todo o território iraniano e para além dele".
E ainda assim há um silêncio surrealista, salvo pelo ruído de "notícias" nas quais os nossos poderosos meios de comunicação gesticulam cripticamente para o óbvio mas não ousam mostrar a lógica disto, a fim de que o écran da moral unilateral erguido entre nós e as consequências de uma política externa imperial não entrem em colapso e a verdade seja revelada. John Bolton, o antigo homem de Bush nas Nações Unidas, recentemente esclareceu a verdade: que o plano Bush-Cheney-Blair para o Médio Oriente é "uma agenda para manter a divisão e a tensão étnica". Por outras palavras, banho de sangue e caos igual a controle. Estava a referir-se ao Iraque, mas também tinha em vista o Irão.
Um milhão de iraquianos encheram as ruas de Najaf a exigir que Bush e Blair caiam fora da sua pátria — isto é uma notícia real: não os nossos marinheiros-espiões capturados, nem a macabra dança política das pretensas ilusões a Duce de Blair. Não importa se foi o seu tesoureiro Gordon Brown o pagador do banho de sangue do Iraque, ou John Reid, que enviou tropas britânicas para mortes sem sentido no Afeganistão, ou qualquer um dos outros que sentaram nas reuniões do gabinete sabendo que Blair e seus acólitos estavam a mentir com todos os dentes. Agora apenas a desconfiança mútua os separa. Eles sabiam acerca da conspiração de Blair com Bush. Eles sabiam acerca das falsa "advertência" de 45 minutos. Eles sabiam acerca do alinhamento do Irão como o próximo "inimigo".
Declarou Brown ao Daily Mail: "Os dias em que a Grã-Bretanha tinha de pedir desculpas pelas sua história colonial estão ultrapassado. Deveríamos celebrar muito do nosso passado ao invés de nos desculparmos por ele". Em Últimos holocaustos vitorianos (Late Victorian Holocausts), o historiador Mike Davis documenta que até 21 milhões de indianos morreram desnecessariamente em fomes impostas criminosamente pelas políticas coloniais britânicas. Além disso, desde o enterro formal daquele glorioso império, ficheiros desclassificados tornam claro que os governos britânicos têm "responsabilidade significativa" pelas mortes directas ou indirectas de 8,6 a 13,5 milhões de pessoas em todo o mundo devido a intervenções militares e a regimes fortemente apoiados pela Grã-Bretanha. O historiador Mark Curtis chama estas vítimas "não pessoas". Regozijem-se! diz Margaret Thatcher. Celebrem! diz Brown. Descubra a diferença.
Brown não é diferente de Hilary Clinton, John Edward e outros Democratas instigadores da guerra que ele admira e que apoiam um ataque não provocado ao Irão e a subjugação do Médio Oriente aos "nossos interesses" — os de Israel, naturalmente. Nada mudou desde que em 1953 os EUA e a Grã-Bretanha destruíram o governo democrático do Irão e instalaram o xá Reza Pahlavi, cujo regime tinha "a mais elevada taxa de penas de morte no mundo, nenhum sistema válido de tribunais civis e um historial de tortura" que estava "para além do acreditável" (Amnistia).
Olhe para além do écran da moral unilateral e distinguirá a elite blairista pelo seu ódio aos princípios humanos que assinalam uma democracia real. Eles costumavam ser discretos acerca disto, mas não muito. Dois exemplos vêm à mente. Em 2004 Blair utilizou a "prerrogativa real" secreta para derrubar um julgamento do Supremo Tribunal que havia restaurado o próprio princípio dos direitos humanos estabelecidos na Magna Carta para o povo das Ilhas Chagos, uma colónia britânica no Oceano Índico. Não houve debate. Tão brutal como qualquer ditador, Blair deu o seu golpe de misericórdia com a expulsão ilegal daqueles ilhéus da sua pátria, agora uma base militar americana, a partir da qual Bush bombardeou o Iraque e o Afeganistão e bombardeará o Irão.
No segundo exemplo, só o grau de sofrimento é diferente. Em Outubro último a Lancet publicou uma investigação da Johns Hopkins University, dos EUA, e da al-Mustansiriya University, de Bagdad, a qual calculava que 655 mil iraquianos haviam morrido como resultado directo da invasão anglo-americana. Responsáveis da Downing Street ridicularizaram os estudo como sendo "enviesado". Estavam a mentir. Eles sabiam que conselheiro científico chefe do Ministério da Defesa, Sir Roy Anderson, havia apoiado o inquérito, descrevendo os seus métodos como "robustos" e "próximo à melhor prática", e outros responsáveis do governo haviam aprovado secretamente o "método da tentativa e teste para medir mortalidade em zonas de conflito". O número de mortes iraquianas é agora estimado em perto de um milhão — carnificina equivalente àquelas provocada pelo sítio económico anglo-americano do Iraque na década de 1990, o qual provocou as mortes de meio milhão de crianças abaixo dos cinco anos, verificada pela UNICEF. Isto, também foi afastado desdenhosamente por Blair.
"Este governo trabalhista, o qual inclui Gordon Brown tanto quanto Tony Blair", escreveu Richard Horton, editor da Lancet, "tomou parte numa guerra criminosa de proporções monstruosas. Mas nossa política de consenso impede qualquer resposta judicial ou da sociedade civil. A Grã-Bretanha está paralisada pela sua própria indiferença".
Tamanha é a escala do crime do nosso "olhar do lado". Segundo o Observer de 8 de Abril, o "veredicto incriminador" dos votantes acerca do regime de Blair é expresso por uma maioria que "perdeu a fé" no seu governo. Não há supresa aqui. Os inquéritos mostraram há muito uma náusea generalizada para com Blair, demonstrada na última eleição geral, a qual produziu o segundo mais baixo comparecimento desde a cidadania. Não foi feita qualquer menção à própria contribuição do Observer para esta perda de fé nacional. Celebrado outrora como um bastião do liberalismo que em 1956 aguentou-se de pé contra o ataque ilegal de Anthony Eden ao Egipto, a nova extrema-direita estilo Observer apoiou Blair entusiasticamente no seu ataque ilegal ao Iraque, tendo ajudado a preparar o terreno com grandes artigos que falsamente ligavam o Iraque aos ataque do 11/Set — alegações agora encaradas como falsa até mesmo pelo Pentágono.
Tal como para o Iraque, a histeria está a ser fabricada outra vez — agora para o Irão. Segundo o antigo secretário do Tesouro dos EUA Paul O'Neill, a quadrilha Bush decidiu atacar o Iraque no "dia um" da administração Bush, muito antes do 11 de Setembro de 2001. A principal razão era petróleo. Foi mostrado a O'Neill um documento do Pentágono intitulado "Pleiteantes estrangeiros a contratos de campos petrolíferos iraquianos" ("Foreign Suitors for Iraqi Oilfield Contracts"), o qual esboçava o retalhamento da riqueza petrolífera do Iraque entre as grandes companhias anglo-americanas. Debaixo de uma lei escrita por responsáveis americanos e britânicos, o regime fantoche iraquiano está prestes a transferir a extracção da maior concentração de petróleo sobre a terra a companhias anglo-americanas.
Nada como esta pirataria acontecera antes no moderno Médio Oriente, onde a OPEP tem assegurado que o negócio do petróleo é conduzido entre estados. Do outro lado do canal do Shatt al-Arab está um outro prémio: os vastos campos petrolíferos do Irão. Tal como as armas de destruição em massa não existentes ou as preocupações fáceis com a democracia nada tinham a ver com a invasão do Iraque, da mesma forma as não existentes armas nucleares nada têm a ver com o esperado assalto americano ao Irão. Ao contrário de Israel e dos Estados Unidos, o Irão tem agido de acordo com as regras do Tratado de Não Proliferação, do qual foi um dos signatários originais. A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) nunca citou o Irão por divergir o seu programa civil para utilização militar. Durante os últimos três anos os inspectores da AIEA têm dito que lhes foi permitido "ir a toda parte". As recentes sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Irão são o resultado do suborno de Washington.
Até recentemente os britânicos não estavam conscientes de que o seu governo era um dos mais persistentes abusadores dos direitos humanos e apoiadores do terrorismo de estado. Poucos britânicos sabiam que a Fraternidade Muçulmana, o precursor da al-Qaeda, era patrocinada pela inteligência britânica como um meio de destruir sistematicamente o nacionalismo árabe secular, ou que o MI6 recrutou jovens muçulmanos britânicos na década de 1980 como parte de uma jihad apoiada por US$ 4 mil milhões contra a União Soviética, conhecida como "Operation Cyclone". Em 2001 poucos britânicos sabiam que 3000 inocentes civis afegãos foram bombardeados até à morte como vingança pelos ataques do 11 de Setembro. Nenhum afegão deixou abaixo as torres gémeas. Graças a Bush e a Blair, a consciência na Grã-Bretanha e por todo o mundo tem ascendido como nunca. Quando terroristas criados em casa atacaram Londres em Julho de 2005, poucos duvidaram que o ataque ao Iraque havia provocado a atrocidade e que as bombas que mataram 52 londrinos eram, com efeito, bombas de Blair.
Na minha experiência, a maior parte das pessoas não é favorável ao absurdo e à crueldade das "regras" do poder desenfreado. Elas não contorcionam a sua moralidade e o seu intelecto para cumprir com padrões duplos e com a noção de mal aprovado, de vítimas valiosas e não valiosas. Elas, se soubessem, chorariam por todas as vidas, famílias, carreiras, esperanças e sonhos destruídos por Blair e Bush. A prova segura é a resposta sincera do público britânico ao tsunami de 2004, envergonhando a do governo. Certamente concordariam de bom grado com Robert H. Jackson, chefe dos advogados dos Estados Unidos nos julgamentos de Nuremberg dos líderes nazis no fim da Segunda Guerra Mundial. "Crimes são crimes", disse ele, "se os Estados Unidos os cometerem ou se a Alemanha os cometer, e não estamos preparados para estabelecer uma regra de conduta criminal que não pudesse ser invocada contra nós".
Tal como Henry Kissinger e Donald Rumsfeld, que não ousam viajar para certos países por medo de serem processados como criminosos de guerra, Blair como cidadão privado poderá não ser mais intocável. Em 20 de Março, Baltasar Garzón, o juiz espanhol que processou Augusto Pinochet, clamou por denúncias contra os responsáveis por "um dos mais sórdidos e injustificáveis episódios na história humana recente" — o Iraque. Cinco dias depois, o promotor chefe do Tribunal Penal Internacional, do qual a Grã-Bretanha é aderente, disse que um dia Blair poderia enfrentar acusações por crimes de guerra.
Trata-se de mudanças críticas no modo como pensa o mundo são — mais uma vez, graças ao reich de Blair & Bush. Contudo, vivemos o mais perigoso dos tempos. Em 6 de Abril Blair acusou "elementos do regime iraniano" de "apoiar, financiar, armar e apoiar o terrorismo no Iraque". Ele não apresentou prova, e o Ministério da Defesa não tem nenhuma. Isto é tal como as repetições de Goebbels. Com elas esta clique, Gordon Brown inclusive, provocou uma sangria monstruosa no Iraque. Durante quanto tempo continuaremos a olhar de lado?
John Pilger
http://resistir.info/
Já é tempo de nós na Grã-Bretanha e em outros países ocidentais cessarmos de olhar do lado. Estamos a ser conduzidos à crise, talvez a mais séria da história moderna, quando a "longa guerra" de Bush-Cheney-Blair avança rumo ao Irão sem nenhuma outra razão senão a independência daquele país face à voracidade dos EUA. A entrega em segurança dos 15 marinheiros britânicos nas mãos de Rupert Murdoch e seu rivais (com contos da sua "experiência" quase certamente escritos pelo Ministério da Defesa) é tanto uma farsa como uma manobra distractiva. A administração Bush, em secreta conivência com Blair, passou quatro anos a preparar-se para a "Operation Iranian Freedom". Quarenta e cinco mísseis de cruzeiro estão prontos a atacar. Segundo o principal pensador estratégico da Rússia, General Leonid Ivashov , "as instalações nucleares serão alvos secundários… pelo menos 20 de tais instalações precisam ser destruídas. Podem ser utilizadas armas nucleares de combate. Isto resultará na contaminação radioactiva de todo o território iraniano e para além dele".
E ainda assim há um silêncio surrealista, salvo pelo ruído de "notícias" nas quais os nossos poderosos meios de comunicação gesticulam cripticamente para o óbvio mas não ousam mostrar a lógica disto, a fim de que o écran da moral unilateral erguido entre nós e as consequências de uma política externa imperial não entrem em colapso e a verdade seja revelada. John Bolton, o antigo homem de Bush nas Nações Unidas, recentemente esclareceu a verdade: que o plano Bush-Cheney-Blair para o Médio Oriente é "uma agenda para manter a divisão e a tensão étnica". Por outras palavras, banho de sangue e caos igual a controle. Estava a referir-se ao Iraque, mas também tinha em vista o Irão.
Um milhão de iraquianos encheram as ruas de Najaf a exigir que Bush e Blair caiam fora da sua pátria — isto é uma notícia real: não os nossos marinheiros-espiões capturados, nem a macabra dança política das pretensas ilusões a Duce de Blair. Não importa se foi o seu tesoureiro Gordon Brown o pagador do banho de sangue do Iraque, ou John Reid, que enviou tropas britânicas para mortes sem sentido no Afeganistão, ou qualquer um dos outros que sentaram nas reuniões do gabinete sabendo que Blair e seus acólitos estavam a mentir com todos os dentes. Agora apenas a desconfiança mútua os separa. Eles sabiam acerca da conspiração de Blair com Bush. Eles sabiam acerca das falsa "advertência" de 45 minutos. Eles sabiam acerca do alinhamento do Irão como o próximo "inimigo".
Declarou Brown ao Daily Mail: "Os dias em que a Grã-Bretanha tinha de pedir desculpas pelas sua história colonial estão ultrapassado. Deveríamos celebrar muito do nosso passado ao invés de nos desculparmos por ele". Em Últimos holocaustos vitorianos (Late Victorian Holocausts), o historiador Mike Davis documenta que até 21 milhões de indianos morreram desnecessariamente em fomes impostas criminosamente pelas políticas coloniais britânicas. Além disso, desde o enterro formal daquele glorioso império, ficheiros desclassificados tornam claro que os governos britânicos têm "responsabilidade significativa" pelas mortes directas ou indirectas de 8,6 a 13,5 milhões de pessoas em todo o mundo devido a intervenções militares e a regimes fortemente apoiados pela Grã-Bretanha. O historiador Mark Curtis chama estas vítimas "não pessoas". Regozijem-se! diz Margaret Thatcher. Celebrem! diz Brown. Descubra a diferença.
Brown não é diferente de Hilary Clinton, John Edward e outros Democratas instigadores da guerra que ele admira e que apoiam um ataque não provocado ao Irão e a subjugação do Médio Oriente aos "nossos interesses" — os de Israel, naturalmente. Nada mudou desde que em 1953 os EUA e a Grã-Bretanha destruíram o governo democrático do Irão e instalaram o xá Reza Pahlavi, cujo regime tinha "a mais elevada taxa de penas de morte no mundo, nenhum sistema válido de tribunais civis e um historial de tortura" que estava "para além do acreditável" (Amnistia).
Olhe para além do écran da moral unilateral e distinguirá a elite blairista pelo seu ódio aos princípios humanos que assinalam uma democracia real. Eles costumavam ser discretos acerca disto, mas não muito. Dois exemplos vêm à mente. Em 2004 Blair utilizou a "prerrogativa real" secreta para derrubar um julgamento do Supremo Tribunal que havia restaurado o próprio princípio dos direitos humanos estabelecidos na Magna Carta para o povo das Ilhas Chagos, uma colónia britânica no Oceano Índico. Não houve debate. Tão brutal como qualquer ditador, Blair deu o seu golpe de misericórdia com a expulsão ilegal daqueles ilhéus da sua pátria, agora uma base militar americana, a partir da qual Bush bombardeou o Iraque e o Afeganistão e bombardeará o Irão.
No segundo exemplo, só o grau de sofrimento é diferente. Em Outubro último a Lancet publicou uma investigação da Johns Hopkins University, dos EUA, e da al-Mustansiriya University, de Bagdad, a qual calculava que 655 mil iraquianos haviam morrido como resultado directo da invasão anglo-americana. Responsáveis da Downing Street ridicularizaram os estudo como sendo "enviesado". Estavam a mentir. Eles sabiam que conselheiro científico chefe do Ministério da Defesa, Sir Roy Anderson, havia apoiado o inquérito, descrevendo os seus métodos como "robustos" e "próximo à melhor prática", e outros responsáveis do governo haviam aprovado secretamente o "método da tentativa e teste para medir mortalidade em zonas de conflito". O número de mortes iraquianas é agora estimado em perto de um milhão — carnificina equivalente àquelas provocada pelo sítio económico anglo-americano do Iraque na década de 1990, o qual provocou as mortes de meio milhão de crianças abaixo dos cinco anos, verificada pela UNICEF. Isto, também foi afastado desdenhosamente por Blair.
"Este governo trabalhista, o qual inclui Gordon Brown tanto quanto Tony Blair", escreveu Richard Horton, editor da Lancet, "tomou parte numa guerra criminosa de proporções monstruosas. Mas nossa política de consenso impede qualquer resposta judicial ou da sociedade civil. A Grã-Bretanha está paralisada pela sua própria indiferença".
Tamanha é a escala do crime do nosso "olhar do lado". Segundo o Observer de 8 de Abril, o "veredicto incriminador" dos votantes acerca do regime de Blair é expresso por uma maioria que "perdeu a fé" no seu governo. Não há supresa aqui. Os inquéritos mostraram há muito uma náusea generalizada para com Blair, demonstrada na última eleição geral, a qual produziu o segundo mais baixo comparecimento desde a cidadania. Não foi feita qualquer menção à própria contribuição do Observer para esta perda de fé nacional. Celebrado outrora como um bastião do liberalismo que em 1956 aguentou-se de pé contra o ataque ilegal de Anthony Eden ao Egipto, a nova extrema-direita estilo Observer apoiou Blair entusiasticamente no seu ataque ilegal ao Iraque, tendo ajudado a preparar o terreno com grandes artigos que falsamente ligavam o Iraque aos ataque do 11/Set — alegações agora encaradas como falsa até mesmo pelo Pentágono.
Tal como para o Iraque, a histeria está a ser fabricada outra vez — agora para o Irão. Segundo o antigo secretário do Tesouro dos EUA Paul O'Neill, a quadrilha Bush decidiu atacar o Iraque no "dia um" da administração Bush, muito antes do 11 de Setembro de 2001. A principal razão era petróleo. Foi mostrado a O'Neill um documento do Pentágono intitulado "Pleiteantes estrangeiros a contratos de campos petrolíferos iraquianos" ("Foreign Suitors for Iraqi Oilfield Contracts"), o qual esboçava o retalhamento da riqueza petrolífera do Iraque entre as grandes companhias anglo-americanas. Debaixo de uma lei escrita por responsáveis americanos e britânicos, o regime fantoche iraquiano está prestes a transferir a extracção da maior concentração de petróleo sobre a terra a companhias anglo-americanas.
Nada como esta pirataria acontecera antes no moderno Médio Oriente, onde a OPEP tem assegurado que o negócio do petróleo é conduzido entre estados. Do outro lado do canal do Shatt al-Arab está um outro prémio: os vastos campos petrolíferos do Irão. Tal como as armas de destruição em massa não existentes ou as preocupações fáceis com a democracia nada tinham a ver com a invasão do Iraque, da mesma forma as não existentes armas nucleares nada têm a ver com o esperado assalto americano ao Irão. Ao contrário de Israel e dos Estados Unidos, o Irão tem agido de acordo com as regras do Tratado de Não Proliferação, do qual foi um dos signatários originais. A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) nunca citou o Irão por divergir o seu programa civil para utilização militar. Durante os últimos três anos os inspectores da AIEA têm dito que lhes foi permitido "ir a toda parte". As recentes sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Irão são o resultado do suborno de Washington.
Até recentemente os britânicos não estavam conscientes de que o seu governo era um dos mais persistentes abusadores dos direitos humanos e apoiadores do terrorismo de estado. Poucos britânicos sabiam que a Fraternidade Muçulmana, o precursor da al-Qaeda, era patrocinada pela inteligência britânica como um meio de destruir sistematicamente o nacionalismo árabe secular, ou que o MI6 recrutou jovens muçulmanos britânicos na década de 1980 como parte de uma jihad apoiada por US$ 4 mil milhões contra a União Soviética, conhecida como "Operation Cyclone". Em 2001 poucos britânicos sabiam que 3000 inocentes civis afegãos foram bombardeados até à morte como vingança pelos ataques do 11 de Setembro. Nenhum afegão deixou abaixo as torres gémeas. Graças a Bush e a Blair, a consciência na Grã-Bretanha e por todo o mundo tem ascendido como nunca. Quando terroristas criados em casa atacaram Londres em Julho de 2005, poucos duvidaram que o ataque ao Iraque havia provocado a atrocidade e que as bombas que mataram 52 londrinos eram, com efeito, bombas de Blair.
Na minha experiência, a maior parte das pessoas não é favorável ao absurdo e à crueldade das "regras" do poder desenfreado. Elas não contorcionam a sua moralidade e o seu intelecto para cumprir com padrões duplos e com a noção de mal aprovado, de vítimas valiosas e não valiosas. Elas, se soubessem, chorariam por todas as vidas, famílias, carreiras, esperanças e sonhos destruídos por Blair e Bush. A prova segura é a resposta sincera do público britânico ao tsunami de 2004, envergonhando a do governo. Certamente concordariam de bom grado com Robert H. Jackson, chefe dos advogados dos Estados Unidos nos julgamentos de Nuremberg dos líderes nazis no fim da Segunda Guerra Mundial. "Crimes são crimes", disse ele, "se os Estados Unidos os cometerem ou se a Alemanha os cometer, e não estamos preparados para estabelecer uma regra de conduta criminal que não pudesse ser invocada contra nós".
Tal como Henry Kissinger e Donald Rumsfeld, que não ousam viajar para certos países por medo de serem processados como criminosos de guerra, Blair como cidadão privado poderá não ser mais intocável. Em 20 de Março, Baltasar Garzón, o juiz espanhol que processou Augusto Pinochet, clamou por denúncias contra os responsáveis por "um dos mais sórdidos e injustificáveis episódios na história humana recente" — o Iraque. Cinco dias depois, o promotor chefe do Tribunal Penal Internacional, do qual a Grã-Bretanha é aderente, disse que um dia Blair poderia enfrentar acusações por crimes de guerra.
Trata-se de mudanças críticas no modo como pensa o mundo são — mais uma vez, graças ao reich de Blair & Bush. Contudo, vivemos o mais perigoso dos tempos. Em 6 de Abril Blair acusou "elementos do regime iraniano" de "apoiar, financiar, armar e apoiar o terrorismo no Iraque". Ele não apresentou prova, e o Ministério da Defesa não tem nenhuma. Isto é tal como as repetições de Goebbels. Com elas esta clique, Gordon Brown inclusive, provocou uma sangria monstruosa no Iraque. Durante quanto tempo continuaremos a olhar de lado?
John Pilger
http://resistir.info/
Mínimo relativo do Antárctico
Tal como o mar gelado do Árctico passou, recentemente, pelo máximo relativo, de 2007, os bancos de gelo do Antárctico acabam de passar pelo mínimo relativo, deste ano.
A nota do CO2 (ver figura respectiva) aponta que não houve diminuição da área total em relação ao ano anterior.
Pelo contrário, houve uma melhoria tal como acontecera com o máximo do Pólo Norte. O mínimo de 2007 para o Antárctico situou-se ao nível do ano 1980.
Já o máximo dos bancos de gelo austral, em 2006, se situara um milhão de quilómetros quadrados acima do valor de 1979 que foi dos mais baixos registados ultimamente.
Estes valores encontram-se disponíveis no espaço web Cryosphere da Universidade de Illinois. Estas melhorias ajudam a perceber as recentes tempestades de neve tanto no Hemisfério Norte (EUA) como no Sul (Argentina e Austrália).
Recorda-se que estes bancos de gelo do Antárctico estão situados em bacias bem localizadas do continente. Uma imagem actualizada do Antárctico acha-se no espaço da Universidade de Bremen.
http://mitos-climaticos.blogspot.com/
A nota do CO2 (ver figura respectiva) aponta que não houve diminuição da área total em relação ao ano anterior.
Pelo contrário, houve uma melhoria tal como acontecera com o máximo do Pólo Norte. O mínimo de 2007 para o Antárctico situou-se ao nível do ano 1980.
Já o máximo dos bancos de gelo austral, em 2006, se situara um milhão de quilómetros quadrados acima do valor de 1979 que foi dos mais baixos registados ultimamente.
Estes valores encontram-se disponíveis no espaço web Cryosphere da Universidade de Illinois. Estas melhorias ajudam a perceber as recentes tempestades de neve tanto no Hemisfério Norte (EUA) como no Sul (Argentina e Austrália).
Recorda-se que estes bancos de gelo do Antárctico estão situados em bacias bem localizadas do continente. Uma imagem actualizada do Antárctico acha-se no espaço da Universidade de Bremen.
http://mitos-climaticos.blogspot.com/
Dragões de Komodo e a virgem Maria
A partenogénese é um fenómeno biológico extremamente interessante. Fêmeas conseguem procriar sem qualquer necessidade de um macho. Este fenómeno ocorre naturalmente em invertebrados e em certas plantas, sendo muito mais raro a sua ocorrência em seres vertebrados. Dentro dessas raras ocorrências, encontramos alguns casos em salamandras, peixes, perus e lagartos.
Uma das mais fenomenais ocorrências de partenogénese associou-se aos Dragões de Komodo. Em 2006, duas fêmeas evidenciaram o fenómeno. Flora, uma fêmea que vive no jardim zoológico de Chester, no norte da Inglaterra, colocou 11 ovos sem nunca ter tido contacto com um macho da sua espécie. 5 desses ovos transformaram-se em 5 pequenos dragões.
Também em Inglaterra, mas desta vez em Londres, uma fêmea de nome Sungai deu à luz 4 pequenos dragões, depois de estar separada de machos há mais de 2 anos. No caso da virgem Flora a partenogénese assumiu-se como evidente, mas o mesmo não se passou com Sungai. Testes efectuados procuraram evidências de uma armazenagem de esperma que possibilitasse a fecundação após mais de 2 anos sem actividades sexuais, num fenómeno conhecido como super fecundação. Tal situação não foi confirmada, pelo que Sungai, embora não sendo virgem, conseguiu tal como Flora, ser mãe e pai ao mesmo tempo. A partenogénese em Dragões de Komodo demonstra uma enorme eficácia evolutiva face a pressões de ecossistemas.
Devido às duas únicas hipóteses de emparelhamento cromossomático, uma partenogénese em Dragões de Komodo apenas poderá produzir machos, pela presença do emparelhamento de cromossomas Z, ou caso se defina emparelhamentos de cromossomas W, não existe desenvolvimento. Essa procriação de machos é a suficiente para a preservação da espécie, visto a possibilidade de reprodução sexuada entre a mãe e os filhos. Este incrível fenómeno demonstra inequivocamente as defesas naturais de uma espécie em perigo relativo de extinção.
Estes animais só foram conhecidos pelos Europeus em 1910, por intermédio de Peter Ouwens. Os Varanus komodoensis são os maiores lagartos vivos conhecidos, que conseguem atingir os 3 metros e meio e pesar até 125 Kilos. Alimentam-se de cabras, veados, búfalos, cavalos, porcos e macacos entre outros. A sua cauda consegue derrubar os mais pesados e ágeis animais, para além de possuir garras letais, e bactérias na sua mandíbula que matam animais por infecções, como por exemplo os enormes búfalos. Estes factores fazem do maior lagarto do Mundo um predador extremamente letal, factores esses exponenciados pelas suas estratégias e pela paciência. Nas ilhas Komodo estes lagartos gigantes são uma enorme atracção turística, passeando livremente pelas praias e convivendo pacificamente com os habitantes locais.
A capacidade ancestral da partenogénese em Dragões de Komodo conferem-lhes uma forte arma de subsistência da espécie, possibilitando que uma fêmea seja deixada sozinha numa ilha e que consiga procriar. Os dois casos vieram trazer uma hipótese plausível de a partenogénese ser mais frequente do que anteriormente se considerava.
A nível Humano a partenogénese é apenas conseguida artificialmente. Uma mulher pode artificialmente gerar um filho com a participação dos seus próprios genes. O óvulo teria de ser enucleado, e após isso seria colocado em seguida o seu próprio DNA. Todas as restantes procriações Humanas envolvem impreterivelmente a acção de um macho como forma de continuidade da espécie.
Um dos mais estranhos fenómenos de reprodução Humana sem envolvimento de um macho é o do dogma da virgem Maria, a mãe de Jesus Cristo. O cristianismo quer que se acredite numa reprodução Humana sem intervenção masculina, numa altura em que obviamente não existiam técnicas de reproduções artificiais. A análise do caso insólito não envereda por grandes estudos científicos, pois assenta numa afirmação sem o mínimo vestígio de evidência. O próprio livro considerado como a palavra do deus judaico-cristão nada fala sobre uma partenogénese ou reprodução assexuada durante o Antigo Testamento. A tentativa de virgação de uma hipótese altamente improvável falha desde o começo. Lucas e Mateus tentaram introduzir um acontecimento cuja probabilidade deverá rondar uma probabilidade semelhante à de uma pessoa ganhar 100 vezes consecutivas a lotaria.
Maria teria concebido um filho sendo virgem, palavra essa cuja tradução em grego é pathernos, palavra grega também usada na constituição da palavra partenogénese. Ora as palavras de Lucas e Mateus baseadas numa suposta virgindade remetem para o Antigo Testamento, nos escritos de Isaías. Tais escritos foram erradamente traduzidos, pois Isaías define Maria como uma jovem mulher e não como virgem. Lucas e Mateus traduziram a palavra alma, que significa jovem mulher, para pathernos, que significa virgem.
Todos os dogmas cristãos de repressão sexual e de grande parte das humilhações feminina caem por terra, apenas e só por uma palavra mal traduzida. A virgem Maria não era virgem, tanto pela falta de evidências em favor dessa suposta virgindade, como pelas quantidades enormes de evidências que comprovam a reprodução sexuada de Maria.
Afigura-se um caso extremamente problemático, a associação de uma única palavra com uma religião que leva biliões de pessoas a acreditarem em algo que é falso, que é comprovado como falso por todas as evidências que temos, e que nem sequer assenta num pretenso livro que revela a palavra de um pretenso deus.
As invenções religiosas são uma nódoa no intelecto Humano, e um insulto à Natureza. A Natureza consegue que fêmeas virgens procriem, e a religião não, a não ser na mente dos menos informados e mais conformados com verdades falsas. A imaculada concepção existe. A virgem Flora é a prova dessa possibilidade, com a sua concepção imaculada de 5 pequenos messias de poucos centímetros que se desenvolvem para lagartos com 3 metros e mais de 100 Kilos de peso. A Natureza é que define leis, não a religião.
Artigo também publicado em Ateismos.net e LiVerdades
um artigo de Bruno Miguel Resende
http://www.ateismo.net/diario/
Uma das mais fenomenais ocorrências de partenogénese associou-se aos Dragões de Komodo. Em 2006, duas fêmeas evidenciaram o fenómeno. Flora, uma fêmea que vive no jardim zoológico de Chester, no norte da Inglaterra, colocou 11 ovos sem nunca ter tido contacto com um macho da sua espécie. 5 desses ovos transformaram-se em 5 pequenos dragões.
Também em Inglaterra, mas desta vez em Londres, uma fêmea de nome Sungai deu à luz 4 pequenos dragões, depois de estar separada de machos há mais de 2 anos. No caso da virgem Flora a partenogénese assumiu-se como evidente, mas o mesmo não se passou com Sungai. Testes efectuados procuraram evidências de uma armazenagem de esperma que possibilitasse a fecundação após mais de 2 anos sem actividades sexuais, num fenómeno conhecido como super fecundação. Tal situação não foi confirmada, pelo que Sungai, embora não sendo virgem, conseguiu tal como Flora, ser mãe e pai ao mesmo tempo. A partenogénese em Dragões de Komodo demonstra uma enorme eficácia evolutiva face a pressões de ecossistemas.
Devido às duas únicas hipóteses de emparelhamento cromossomático, uma partenogénese em Dragões de Komodo apenas poderá produzir machos, pela presença do emparelhamento de cromossomas Z, ou caso se defina emparelhamentos de cromossomas W, não existe desenvolvimento. Essa procriação de machos é a suficiente para a preservação da espécie, visto a possibilidade de reprodução sexuada entre a mãe e os filhos. Este incrível fenómeno demonstra inequivocamente as defesas naturais de uma espécie em perigo relativo de extinção.
Estes animais só foram conhecidos pelos Europeus em 1910, por intermédio de Peter Ouwens. Os Varanus komodoensis são os maiores lagartos vivos conhecidos, que conseguem atingir os 3 metros e meio e pesar até 125 Kilos. Alimentam-se de cabras, veados, búfalos, cavalos, porcos e macacos entre outros. A sua cauda consegue derrubar os mais pesados e ágeis animais, para além de possuir garras letais, e bactérias na sua mandíbula que matam animais por infecções, como por exemplo os enormes búfalos. Estes factores fazem do maior lagarto do Mundo um predador extremamente letal, factores esses exponenciados pelas suas estratégias e pela paciência. Nas ilhas Komodo estes lagartos gigantes são uma enorme atracção turística, passeando livremente pelas praias e convivendo pacificamente com os habitantes locais.
A capacidade ancestral da partenogénese em Dragões de Komodo conferem-lhes uma forte arma de subsistência da espécie, possibilitando que uma fêmea seja deixada sozinha numa ilha e que consiga procriar. Os dois casos vieram trazer uma hipótese plausível de a partenogénese ser mais frequente do que anteriormente se considerava.
A nível Humano a partenogénese é apenas conseguida artificialmente. Uma mulher pode artificialmente gerar um filho com a participação dos seus próprios genes. O óvulo teria de ser enucleado, e após isso seria colocado em seguida o seu próprio DNA. Todas as restantes procriações Humanas envolvem impreterivelmente a acção de um macho como forma de continuidade da espécie.
Um dos mais estranhos fenómenos de reprodução Humana sem envolvimento de um macho é o do dogma da virgem Maria, a mãe de Jesus Cristo. O cristianismo quer que se acredite numa reprodução Humana sem intervenção masculina, numa altura em que obviamente não existiam técnicas de reproduções artificiais. A análise do caso insólito não envereda por grandes estudos científicos, pois assenta numa afirmação sem o mínimo vestígio de evidência. O próprio livro considerado como a palavra do deus judaico-cristão nada fala sobre uma partenogénese ou reprodução assexuada durante o Antigo Testamento. A tentativa de virgação de uma hipótese altamente improvável falha desde o começo. Lucas e Mateus tentaram introduzir um acontecimento cuja probabilidade deverá rondar uma probabilidade semelhante à de uma pessoa ganhar 100 vezes consecutivas a lotaria.
Maria teria concebido um filho sendo virgem, palavra essa cuja tradução em grego é pathernos, palavra grega também usada na constituição da palavra partenogénese. Ora as palavras de Lucas e Mateus baseadas numa suposta virgindade remetem para o Antigo Testamento, nos escritos de Isaías. Tais escritos foram erradamente traduzidos, pois Isaías define Maria como uma jovem mulher e não como virgem. Lucas e Mateus traduziram a palavra alma, que significa jovem mulher, para pathernos, que significa virgem.
Todos os dogmas cristãos de repressão sexual e de grande parte das humilhações feminina caem por terra, apenas e só por uma palavra mal traduzida. A virgem Maria não era virgem, tanto pela falta de evidências em favor dessa suposta virgindade, como pelas quantidades enormes de evidências que comprovam a reprodução sexuada de Maria.
Afigura-se um caso extremamente problemático, a associação de uma única palavra com uma religião que leva biliões de pessoas a acreditarem em algo que é falso, que é comprovado como falso por todas as evidências que temos, e que nem sequer assenta num pretenso livro que revela a palavra de um pretenso deus.
As invenções religiosas são uma nódoa no intelecto Humano, e um insulto à Natureza. A Natureza consegue que fêmeas virgens procriem, e a religião não, a não ser na mente dos menos informados e mais conformados com verdades falsas. A imaculada concepção existe. A virgem Flora é a prova dessa possibilidade, com a sua concepção imaculada de 5 pequenos messias de poucos centímetros que se desenvolvem para lagartos com 3 metros e mais de 100 Kilos de peso. A Natureza é que define leis, não a religião.
Artigo também publicado em Ateismos.net e LiVerdades
um artigo de Bruno Miguel Resende
http://www.ateismo.net/diario/
Prisma visto de outro prisma
As consequências e seus actos associados são as fontes relacionadas de bem e mal, vistas como o todo de um conjunto de percepções e realidades, assim como um todo a ser criticado positiva ou negativamente. Nas situações de malefícidade à Humanidade, as acções poderão ser criticadas indiscutivelmente, se bem que o prisma de percepção seja tido como único, sendo esquecido o prisma das convicções para as quais as acções tomam sustentabilidade.
As convicções Humanas, tal quais as suas acções, derivam de relativismos que carecem de interpretações coerentes e intelectualmente honestas. Relativizar perante uma conclusão anteriormente definida retorna o erro lógico da inviabilização de tal linha de pensamento, sugerindo uma clara interpretação vista de um prisma erróneo, que deturpa a realidade tal qual ela se nos afigura. Encontrando a face do prisma correcta para criticar as acções, é necessário ir mais longe, encontrando posteriormente a outra face do prisma que nos leva às convicções semeadas das quais florescem determinadas acções.
Toda a situação de avaliar correctamente as faces dos prismas necessita de honestidade intelectual, raciocínio que começa com a recolha de evidências e não pela meta das conclusões. Conclusões antecipadas de um pensamento reduzem-se a tentar rodar prismas até que se situem na almejada meta final da conclusão. Tal conclusão nunca será válida, provavelmente até relativamente lógica, mas nunca verosímil como um todo. Tomar como ponto de partida as convicções assegura-se como a mais necessária forma de avaliar algo, as correspondentes acções.
Ao ser avaliada determinada acção, e esta recair sobre convicções idênticas, a ser maléfica, deverá ser criticada e enclausurada tal qual aprisionadas serão as pessoas que cometem acções nefastas perante a sociedade Humana. Sancionar acções danosas é obviamente correcto, assim como será correcto sancionar convicções erróneas e potencialmente transformadas em acções criminosas. Remeter convicções erróneas e nefastas à inexistência antevê uma impossibilidade lógica de acções erróneas.
Excessivas vezes assistimos a acções erradas a serem admoestadas de ainda mais erradas acções. A exponenciação de erros torna-se difícil de travar, pelo que o surto de explosões negativas se torna incontrolável, gerando causas e consequências que se ramificam indefinidamente, deixando bem longe as alusões e percepções de quais convicções nefastas estiveram na origem da formação da bola de neve. Certamente será acessível a qualquer pessoa interessada pelas situações de benefício Humano e das suas sociedades, determinar as acções como erros, e julgá-las. Tal não será tão acessível no prisma das convicções, visto estas se encontrarem atrás do prisma das acções, e muitas vezes excessivamente recuadas nas situações de causa consequência. Para tal dissecação da causa inicial, a causa de convicções das quais brotam acções danosas, será necessário um aprofundamento racional elevado, assim como uma correcta averiguação dos nevoeiros dos relativismos, acrescidos das por vezes complexas associações de causa efeito.
As acções Humanas devem ser tidas como manifestações de determinadas convicções, pelo que é imperioso ver o prisma de outro prisma.
Publicado também em Ateismos.net e LiVerdades
um artigo de Bruno Miguel Resende
http://www.ateismo.net/diario/
As convicções Humanas, tal quais as suas acções, derivam de relativismos que carecem de interpretações coerentes e intelectualmente honestas. Relativizar perante uma conclusão anteriormente definida retorna o erro lógico da inviabilização de tal linha de pensamento, sugerindo uma clara interpretação vista de um prisma erróneo, que deturpa a realidade tal qual ela se nos afigura. Encontrando a face do prisma correcta para criticar as acções, é necessário ir mais longe, encontrando posteriormente a outra face do prisma que nos leva às convicções semeadas das quais florescem determinadas acções.
Toda a situação de avaliar correctamente as faces dos prismas necessita de honestidade intelectual, raciocínio que começa com a recolha de evidências e não pela meta das conclusões. Conclusões antecipadas de um pensamento reduzem-se a tentar rodar prismas até que se situem na almejada meta final da conclusão. Tal conclusão nunca será válida, provavelmente até relativamente lógica, mas nunca verosímil como um todo. Tomar como ponto de partida as convicções assegura-se como a mais necessária forma de avaliar algo, as correspondentes acções.
Ao ser avaliada determinada acção, e esta recair sobre convicções idênticas, a ser maléfica, deverá ser criticada e enclausurada tal qual aprisionadas serão as pessoas que cometem acções nefastas perante a sociedade Humana. Sancionar acções danosas é obviamente correcto, assim como será correcto sancionar convicções erróneas e potencialmente transformadas em acções criminosas. Remeter convicções erróneas e nefastas à inexistência antevê uma impossibilidade lógica de acções erróneas.
Excessivas vezes assistimos a acções erradas a serem admoestadas de ainda mais erradas acções. A exponenciação de erros torna-se difícil de travar, pelo que o surto de explosões negativas se torna incontrolável, gerando causas e consequências que se ramificam indefinidamente, deixando bem longe as alusões e percepções de quais convicções nefastas estiveram na origem da formação da bola de neve. Certamente será acessível a qualquer pessoa interessada pelas situações de benefício Humano e das suas sociedades, determinar as acções como erros, e julgá-las. Tal não será tão acessível no prisma das convicções, visto estas se encontrarem atrás do prisma das acções, e muitas vezes excessivamente recuadas nas situações de causa consequência. Para tal dissecação da causa inicial, a causa de convicções das quais brotam acções danosas, será necessário um aprofundamento racional elevado, assim como uma correcta averiguação dos nevoeiros dos relativismos, acrescidos das por vezes complexas associações de causa efeito.
As acções Humanas devem ser tidas como manifestações de determinadas convicções, pelo que é imperioso ver o prisma de outro prisma.
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um artigo de Bruno Miguel Resende
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quarta-feira, abril 18, 2007
Dimensões da Razão
O Papa Bento XVI juntou-se ao crescente grupo dos que criticam a teoria da evolução sem perceber o que é a evolução, a teoria, ou mesmo a ciência (1). Os erros são os do costume. Antropomorfismo («quem é esta ‘natureza’ ou ‘evolução’ como sujeitos?»), confundir selecção natural com acaso, evolução como visando um propósito racional, e até a tal argolada de não poder ser provado porque não se pode fazer em laboratório.
Esta merece um comentário. Não testamos uma ponte de três quilómetros num laboratório com rio, vento e tempestades durante trinta anos. A ciência permite extrapolar do estudo detalhado dos materiais a pequena escala o que vai acontecer à ponte mesmo antes de a construir. Todos os dias críticos da ciência como o Papa confiam a vida a edifícios e máquinas que foram testados desta forma, por extrapolação. E têm uma fé tão inquestionável na ciência que nem se apercebem dela. Conduzem na auto estrada a 120km/h com mais confiança que teriam se o carro tivesse sido construído por inspiração divina.
Mas o que me traz aqui são as «diferentes dimensões da razão», uma ideia que este Papa gosta muito. Diz que há certas perguntas que estão fora do domínio da ciência, só podem ser respondidas pela filosofia, e não podem deixar de fora a fé. Ora isto não faz sentido. Todas as questões filosóficas que foram respondidas foram respondidas pela ciência. É esta a relação histórica entre filosofia e ciência. A filosofia perguntou de que era feita a matéria, o que é o espaço e o tempo, se as coisas mudam ou se a mudança é ilusória, se tudo tem causa, e assim por diante, e a ciência foi respondendo conforme foi revelando o suficiente acerca do universo para colocar estas perguntas de uma forma concreta, detalhada, e testável.
A filosofia ainda tem muitas perguntas sem resposta, acerca da ética, da consciência, do conhecimento e até acerca da ciência e da filosofia em si. Mas em geral a filosofia coloca perguntas, não dá respostas. Não sabemos as coisas por especulação filosófica, mas sim por investigação científica. E a fé, por muito que a tentem enfiar no processo, nunca deu qualquer contributo. Martela sempre na mesma tecla, que está cada vez mais gasta.
Bento XVI aceita com relutância a teoria da evolução, que diz que todas as espécies modernas surgiram por um processo natural, cego, sem propósito. Ao mesmo tempo diz que há outra dimensão da razão em que foi exactamente o contrário. É tão absurdo como aceitar a astronomia moderna e defender que, noutra dimensão da razão, a Terra está no centro do universo, é plana, e assenta em quatro elefantes e uma tartaruga.
Não há várias dimensões da razão. Há apenas a necessidade de alguns de arranjar um cantinho onde esconder as suas superstições das evidências que as refutam. E isso não é razão; é precisamente o contrário.
1- Reuters, 11-4-07, Pope says science too narrow to explain creation
Por Ludwig Krippahl
http://ktreta.blogspot.com/
Esta merece um comentário. Não testamos uma ponte de três quilómetros num laboratório com rio, vento e tempestades durante trinta anos. A ciência permite extrapolar do estudo detalhado dos materiais a pequena escala o que vai acontecer à ponte mesmo antes de a construir. Todos os dias críticos da ciência como o Papa confiam a vida a edifícios e máquinas que foram testados desta forma, por extrapolação. E têm uma fé tão inquestionável na ciência que nem se apercebem dela. Conduzem na auto estrada a 120km/h com mais confiança que teriam se o carro tivesse sido construído por inspiração divina.
Mas o que me traz aqui são as «diferentes dimensões da razão», uma ideia que este Papa gosta muito. Diz que há certas perguntas que estão fora do domínio da ciência, só podem ser respondidas pela filosofia, e não podem deixar de fora a fé. Ora isto não faz sentido. Todas as questões filosóficas que foram respondidas foram respondidas pela ciência. É esta a relação histórica entre filosofia e ciência. A filosofia perguntou de que era feita a matéria, o que é o espaço e o tempo, se as coisas mudam ou se a mudança é ilusória, se tudo tem causa, e assim por diante, e a ciência foi respondendo conforme foi revelando o suficiente acerca do universo para colocar estas perguntas de uma forma concreta, detalhada, e testável.
A filosofia ainda tem muitas perguntas sem resposta, acerca da ética, da consciência, do conhecimento e até acerca da ciência e da filosofia em si. Mas em geral a filosofia coloca perguntas, não dá respostas. Não sabemos as coisas por especulação filosófica, mas sim por investigação científica. E a fé, por muito que a tentem enfiar no processo, nunca deu qualquer contributo. Martela sempre na mesma tecla, que está cada vez mais gasta.
Bento XVI aceita com relutância a teoria da evolução, que diz que todas as espécies modernas surgiram por um processo natural, cego, sem propósito. Ao mesmo tempo diz que há outra dimensão da razão em que foi exactamente o contrário. É tão absurdo como aceitar a astronomia moderna e defender que, noutra dimensão da razão, a Terra está no centro do universo, é plana, e assenta em quatro elefantes e uma tartaruga.
Não há várias dimensões da razão. Há apenas a necessidade de alguns de arranjar um cantinho onde esconder as suas superstições das evidências que as refutam. E isso não é razão; é precisamente o contrário.
1- Reuters, 11-4-07, Pope says science too narrow to explain creation
Por Ludwig Krippahl
http://ktreta.blogspot.com/
A Coerência Relativa
Nos velhos tempos do "PREC" contava-se uma anedota a respeito de Otelo Saraiva de Carvalho.
Dizia-se que Otelo tinha sido submetido a um teste psicotécnico para poder ser graduado em general quando foi comandante do COPCON.
O teste consistia simplesmente nalgumas perguntas de aritmética básica, a que Otelo teria respondido assim:
- 2 + 2 ? - Resposta: 5
- 2 + 2 ? - Resposta: 6
- 2 + 2 ? - Resposta: 7
- 2 + 2 ? - Resposta: 8
- 2 + 2 ? - Resposta: 9
Resultado do teste:
- Aprovado; estúpido mas progressista!
Enfim, esta é mais uma daquelas anedotas que as figuras públicas e os políticos têm de pagar como preço da sua notoriedade.
Veio-me esta anedota à ideia a propósito da costumeira crónica das segundas-feiras do abominável João César das Neves no «Diário de Notícias».
Porque de facto, entre muitas outras qualidades que possui, temos de reconhecer que João César das Neves é, sem qualquer sombra de dúvida, uma pessoa extremamente... coerente!
Desta vez, sob o título «A vida humana afinal é violável», o beato João César de Santa Maria partilha connosco na sua crónica a indignação da conclusão a que chegou:
- Com a promulgação do decreto da Assembleia da República sobre a «exclusão da ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez», terá passado a ser oficial que em Portugal a vida humana passou a ser violável.
Tudo isto em desobediência ao artigo 24º n.º 1 da Constituição que estabelece que «a vida humana é inviolável».
De facto, a lógica de João César das Neves é absolutamente imbatível. E há-de valer-lhe certamente o reino dos Céus.
É curioso como César das Neves invoca para si os favores da Constituição, mas somente após uma escolha criteriosa dos casos em que isso lhe convém.
Porque, por exemplo, nada impede o nosso coerente beato de bramar contra os direitos dos homossexuais e contra a igualdade societária que para eles se preconiza, apesar de estar tão clara e taxativamente estabelecida no artigo 13º da Constituição a proibição da discriminação dos cidadãos em razão da sua orientação sexual.
Depois, e como se a lógica só funcionasse às cambalhotas, o nosso católico articulista não deixa de ironizar sobre a própria legitimidade de um decreto que se baseou num referendo que obteve uma aprovação maioritária de votos, sim, mas sem que fosse vinculativo por não ter tido uma participação vinculativa.
Provavelmente, lá no fundo da sua incomensurável coerência, defenderá que tal legitimidade só poderia existir se o decreto tivesse obedecido à tendência minoritária que resultou derrotada no referendo...
Mas o auge do artigo do João César chega-nos com a frieza trazida pelas neves da afirmação de que esta lei tem práticas em comum comparáveis às dos «nazis, esclavagistas, chauvinistas e afins», na medida em que também considera a vida humana violável.
E foi precisamente aqui que me lembrei da anedota do Otelo que contei lá em cima.
Porque é precisamente aqui que a coerência do abominável João chega tão alto, tão alto, que deve estar a fazer cócegas a todos os santos da Igreja que este fervoroso católico venera como semi-deuses, desde Escrivá de Balaguer a Torquemada.
De facto, em vários debates na campanha do referendo ouvi João César das Neves afirmar que era «pela vida» e que, por isso, era contra TODAS as formas de aborto.
Mesmo nos casos de violação, de malformação do feto e de perigo de vida para a mãe. Todos!
É, na verdade, uma posição extremamente coerente, lá isso é verdade: se a vida é um valor absoluto e se se é «pela vida», então não se podem admitir excepções.
Porque a coerência, se é relativa, não é coerência!
Mas o que é curioso é como às vezes a «violabilidade da vida humana» parece tão perfeitamente aceitável para o nosso piedoso articulista.
De facto, é muito curioso que o mui católico João das Neves ainda não tenha explicado como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que, por exemplo numa gravidez ectópica, se o aborto não for feito a mulher pura e simplesmente morre.
O que é também curioso é que o mui apostólico João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo favorável à política da Igreja Católica quanto ao preservativo, tida por todos os responsáveis técnicos como imediata e directamente responsável por centenas de milhar de novos casos de infecção com HIV todos os anos, principalmente na África sub-saariana e noutros países de semelhante influência católica, como as Filipinas, a Colômbia ou a Polónia.
O que é curioso é que o mui católico apostólico romano João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida», ao ponto de ser contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que a mulher venha a morrer, e de ao mesmo tempo se intitular católico, quando o «Catecismo da Igreja Católica» admite no seu parágrafo 2.263º que se mate outrem em caso de legítima defesa, admitindo mesmo no parágrafo 1.909º a legítima defesa preventiva e no parágrafo 2.309º o conceito de «guerra justa».
Mas muito mais curioso ainda, é que o mui católico apostólico romano São João César das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ao mesmo tempo se intitular católico e de professar e defender com unhas e dentes o «Catecismo da Igreja Católica», que no seu parágrafo 2.267º admite clara e inequivocamente a... pena de morte!
Com tudo isto, imagino que se fizessem a João César das Neves um teste parecido com o da anedota do Otelo, deveria dar qualquer coisa parecida com isto:
- 2 + 2 ? - Resposta: 5
- 2 + 3 ? - Resposta: 5
- 2 + 4 ? - Resposta: 5
- 2 + 5 ? - Resposta: 5
- 2 + 6 ? - Resposta: 5
Resultado do teste:
- Aprovado; é sem dúvida coerente!...
Luis Grave Rodrigues
http://www.rprecision.blogspot.com/
Dizia-se que Otelo tinha sido submetido a um teste psicotécnico para poder ser graduado em general quando foi comandante do COPCON.
O teste consistia simplesmente nalgumas perguntas de aritmética básica, a que Otelo teria respondido assim:
- 2 + 2 ? - Resposta: 5
- 2 + 2 ? - Resposta: 6
- 2 + 2 ? - Resposta: 7
- 2 + 2 ? - Resposta: 8
- 2 + 2 ? - Resposta: 9
Resultado do teste:
- Aprovado; estúpido mas progressista!
Enfim, esta é mais uma daquelas anedotas que as figuras públicas e os políticos têm de pagar como preço da sua notoriedade.
Veio-me esta anedota à ideia a propósito da costumeira crónica das segundas-feiras do abominável João César das Neves no «Diário de Notícias».
Porque de facto, entre muitas outras qualidades que possui, temos de reconhecer que João César das Neves é, sem qualquer sombra de dúvida, uma pessoa extremamente... coerente!
Desta vez, sob o título «A vida humana afinal é violável», o beato João César de Santa Maria partilha connosco na sua crónica a indignação da conclusão a que chegou:
- Com a promulgação do decreto da Assembleia da República sobre a «exclusão da ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez», terá passado a ser oficial que em Portugal a vida humana passou a ser violável.
Tudo isto em desobediência ao artigo 24º n.º 1 da Constituição que estabelece que «a vida humana é inviolável».
De facto, a lógica de João César das Neves é absolutamente imbatível. E há-de valer-lhe certamente o reino dos Céus.
É curioso como César das Neves invoca para si os favores da Constituição, mas somente após uma escolha criteriosa dos casos em que isso lhe convém.
Porque, por exemplo, nada impede o nosso coerente beato de bramar contra os direitos dos homossexuais e contra a igualdade societária que para eles se preconiza, apesar de estar tão clara e taxativamente estabelecida no artigo 13º da Constituição a proibição da discriminação dos cidadãos em razão da sua orientação sexual.
Depois, e como se a lógica só funcionasse às cambalhotas, o nosso católico articulista não deixa de ironizar sobre a própria legitimidade de um decreto que se baseou num referendo que obteve uma aprovação maioritária de votos, sim, mas sem que fosse vinculativo por não ter tido uma participação vinculativa.
Provavelmente, lá no fundo da sua incomensurável coerência, defenderá que tal legitimidade só poderia existir se o decreto tivesse obedecido à tendência minoritária que resultou derrotada no referendo...
Mas o auge do artigo do João César chega-nos com a frieza trazida pelas neves da afirmação de que esta lei tem práticas em comum comparáveis às dos «nazis, esclavagistas, chauvinistas e afins», na medida em que também considera a vida humana violável.
E foi precisamente aqui que me lembrei da anedota do Otelo que contei lá em cima.
Porque é precisamente aqui que a coerência do abominável João chega tão alto, tão alto, que deve estar a fazer cócegas a todos os santos da Igreja que este fervoroso católico venera como semi-deuses, desde Escrivá de Balaguer a Torquemada.
De facto, em vários debates na campanha do referendo ouvi João César das Neves afirmar que era «pela vida» e que, por isso, era contra TODAS as formas de aborto.
Mesmo nos casos de violação, de malformação do feto e de perigo de vida para a mãe. Todos!
É, na verdade, uma posição extremamente coerente, lá isso é verdade: se a vida é um valor absoluto e se se é «pela vida», então não se podem admitir excepções.
Porque a coerência, se é relativa, não é coerência!
Mas o que é curioso é como às vezes a «violabilidade da vida humana» parece tão perfeitamente aceitável para o nosso piedoso articulista.
De facto, é muito curioso que o mui católico João das Neves ainda não tenha explicado como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que, por exemplo numa gravidez ectópica, se o aborto não for feito a mulher pura e simplesmente morre.
O que é também curioso é que o mui apostólico João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo favorável à política da Igreja Católica quanto ao preservativo, tida por todos os responsáveis técnicos como imediata e directamente responsável por centenas de milhar de novos casos de infecção com HIV todos os anos, principalmente na África sub-saariana e noutros países de semelhante influência católica, como as Filipinas, a Colômbia ou a Polónia.
O que é curioso é que o mui católico apostólico romano João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida», ao ponto de ser contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que a mulher venha a morrer, e de ao mesmo tempo se intitular católico, quando o «Catecismo da Igreja Católica» admite no seu parágrafo 2.263º que se mate outrem em caso de legítima defesa, admitindo mesmo no parágrafo 1.909º a legítima defesa preventiva e no parágrafo 2.309º o conceito de «guerra justa».
Mas muito mais curioso ainda, é que o mui católico apostólico romano São João César das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ao mesmo tempo se intitular católico e de professar e defender com unhas e dentes o «Catecismo da Igreja Católica», que no seu parágrafo 2.267º admite clara e inequivocamente a... pena de morte!
Com tudo isto, imagino que se fizessem a João César das Neves um teste parecido com o da anedota do Otelo, deveria dar qualquer coisa parecida com isto:
- 2 + 2 ? - Resposta: 5
- 2 + 3 ? - Resposta: 5
- 2 + 4 ? - Resposta: 5
- 2 + 5 ? - Resposta: 5
- 2 + 6 ? - Resposta: 5
Resultado do teste:
- Aprovado; é sem dúvida coerente!...
Luis Grave Rodrigues
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Braços e bengala no ar!
A operação policial que se montou à porta do balcão de um banco, hoje em Gaia, dava para resolver os conflitos no Iraque. Tudo por um pobre de um septuagenário que se enervou com dois ou três bancários. Se eu fosse polícia e me encontrasse numa situação destas, na dúvida prendia os gajos do banco.
Mas é fácil perceber o que se passou. O idoso começou a falar alto e parece que isso bastou para que clientes e funcionários, naquele banco, começassem a correr pela vida, Gaia fora. Ora, o desenlace era previsível; ficou o senhor sozinho no banco sem ninguém para desabafar.
Chega a polícia e lança o pânico. Operacionais com coletes à prova de bala, capacetes e caçadeiras. Até perímetro de segurança “diz que” havia. Era um velhote fechado num banco para cem homens da polícia.
Durante a manhã, correu o boato que o senhor tinha uma pasta com explosivos. Tal fofoca permitiu à polícia dar uso à brigada de minas e armadilhas, que estilhaçou a bolsinha do senhor.
Mesmo não sendo especialista em operações deste calibre, suspeito que bastavam dois berros ao velhote para dar cabo da novela. Ou então, fugindo um pouco à brutalidade do costume, soltar dois pardalinhos famintos junto à porta do banco também funcionava. Parece que estou a ver o senhor vir cá fora para distribuir pedacinhos de pão.
Mas enfim, preparámo-nos para o terrorismo num campeonato europeu de futebol e o resultado é que já um homem não pode dar dois murros no balcão de um banco.
http://www.lobi-do-cha.blogspot.com/
Mas é fácil perceber o que se passou. O idoso começou a falar alto e parece que isso bastou para que clientes e funcionários, naquele banco, começassem a correr pela vida, Gaia fora. Ora, o desenlace era previsível; ficou o senhor sozinho no banco sem ninguém para desabafar.
Chega a polícia e lança o pânico. Operacionais com coletes à prova de bala, capacetes e caçadeiras. Até perímetro de segurança “diz que” havia. Era um velhote fechado num banco para cem homens da polícia.
Durante a manhã, correu o boato que o senhor tinha uma pasta com explosivos. Tal fofoca permitiu à polícia dar uso à brigada de minas e armadilhas, que estilhaçou a bolsinha do senhor.
Mesmo não sendo especialista em operações deste calibre, suspeito que bastavam dois berros ao velhote para dar cabo da novela. Ou então, fugindo um pouco à brutalidade do costume, soltar dois pardalinhos famintos junto à porta do banco também funcionava. Parece que estou a ver o senhor vir cá fora para distribuir pedacinhos de pão.
Mas enfim, preparámo-nos para o terrorismo num campeonato europeu de futebol e o resultado é que já um homem não pode dar dois murros no balcão de um banco.
http://www.lobi-do-cha.blogspot.com/
Vaticano exonera padre condenado por abuso sexual
O Vaticano exonerou neste final de semana um padre condenado por assediar sexualmente e chicotear garotos nas festividades da Páscoa durante os anos de 1973 a 2004, segundo a Arquidiocese de Filadélfia.
Comentário: Estranha forma de comemorar o martírio do seu Deus.
um artigo de Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/
Comentário: Estranha forma de comemorar o martírio do seu Deus.
um artigo de Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/
ICAR opõe-se à nova lei da IVG
O presidente do Sindicato das Mitras, conhecido por Conferência Episcopal Portuguesa, Sr. Jorge Ortiga, declarou ontem na cidade dos embustes (Fátima) que a Igreja Católica vai fiscalizar a aplicação da Lei n.o 16/2007 de 17 de Abril.
O Sr. Jorge pode, e deve, como qualquer cidadão, zelar pelo cumprimento das leis mas não pode, em nome de um minúsculo Estado estrangeiro -- o Vaticano -- criar entraves às leis da República Portuguesa ou tentar limitar a sua soberania.
Agitam-se as sotainas e erguem-se os báculos contra uma lei que resultou do referendo e cujo resultado expressivo foi também uma resposta à campanha terrorista do clero e dos seus lacaios. O medo do Inferno já não obriga crianças a comerem a sopa quanto mais a genuflectir um povo ao esvoaçar das sotainas.
O Sr. Jorge Ortiga pode, e deve, proibir o aborto às freiras e devotas da Virgem Maria, só não pode impedir-lho até às dez semanas, a seu pedido. Quanto às outras mulheres não é da sua conta e nem umas nem outras precisam de autorização do confessor.
A pouco e pouco, Portugal emancipa-se do incenso e da água benta e quando o Sr. Jorge Ortiga exige «um maior reconhecimento pelo Estado do trabalho social feito pela Igreja em Portugal» já se sabe que quer mais dinheiro do erário público.
um artigo de Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/
O Sr. Jorge pode, e deve, como qualquer cidadão, zelar pelo cumprimento das leis mas não pode, em nome de um minúsculo Estado estrangeiro -- o Vaticano -- criar entraves às leis da República Portuguesa ou tentar limitar a sua soberania.
Agitam-se as sotainas e erguem-se os báculos contra uma lei que resultou do referendo e cujo resultado expressivo foi também uma resposta à campanha terrorista do clero e dos seus lacaios. O medo do Inferno já não obriga crianças a comerem a sopa quanto mais a genuflectir um povo ao esvoaçar das sotainas.
O Sr. Jorge Ortiga pode, e deve, proibir o aborto às freiras e devotas da Virgem Maria, só não pode impedir-lho até às dez semanas, a seu pedido. Quanto às outras mulheres não é da sua conta e nem umas nem outras precisam de autorização do confessor.
A pouco e pouco, Portugal emancipa-se do incenso e da água benta e quando o Sr. Jorge Ortiga exige «um maior reconhecimento pelo Estado do trabalho social feito pela Igreja em Portugal» já se sabe que quer mais dinheiro do erário público.
um artigo de Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/
O que diria Alexander von Humboldt?
Chegou-me às mãos um livro publicado entre nós em 2006, que foi financiado pelo Fundo Social Europeu, Governo da República Portuguesa e POFDS, sobre as “competências transversais” que os sujeitos devem evidenciar à saída dum determinado nível de ensino. De entre essas competências, que são quarenta e uma, e estão devidamente arrumadas numa grelha, detive-me, mais ou menos ao acaso, em meia dúzia delas. Pedia ao leitor que as lesse com atenção:
“Comunicação oral”, definida como “transmitir informação a outras pessoas de forma eficaz. Capacidade para comunicar informação e ideias através da fala, de forma a que os outros compreendam”;
“Comunicação escrita”, definida como “escrever de forma eficaz de forma a que os destinatários da escrita compreendam a mensagem. Capacidade para comunicar informação e ideias através da escrita, de forma a que os outros compreendam”;
“Numeracia”, definida como “capacidade para adicionar, subtrair multiplicar ou dividir rápida e correctamente (…)”;
“Autonomia”, definida como “capacidade para resolver problemas e enfrentar situações sem necessidade de perguntar a outras pessoas (…)”;
“Autocontrolo”, definida como “capacidade para controlar os seu afectos. Pensar antes de agir perante uma situação menos positiva (…)”.
Em jeito de adivinha, pergunto ao leitor: que nível de ensino está em causa? Não, não é o primeiro ciclo do Ensino Básico. Poderá parecer, mas não é. Nem se trata do seu segundo ou terceiro ciclos. E também não se trata do Ensino Secundário… Trata-se do Ensino Superior. Mais claramente: na perspectiva de empregadores e diplomados do nosso país, os diplomados do Ensino Superior devem evidenciar as competências acima referidas!
A incredulidade levou-me a consultar vários planos de estudo de cursos superiores, recentemente produzidos nas nossas Universidades, tendo percebido que as competências aí enunciadas são do mesmo teor. Encontro recorrentemente “adaptação à mudança”, “liderança”, “trabalho em grupo”, “aprender a aprender”, “persistência”, “motivação”, “desenvolvimento dos outros”, “gestão de conflitos”, “inovação”, “dominar estratégias de estudo”, “auto-afirmação”, “reflexão”, “aceitar e respeitar as ideias dos outros”, “conviver com a multiculturalidade”. Já o “saber” é difícil de encontrar nessa panóplia de designações e, quando surge, está quase sempre associado àquilo que se designa por “saber-fazer” e “saber-ser”.
Resta-me concluir que o “saber” tornou-se uma “competência” esquecida ou, pensando melhor, proscrita no e para o ensino superior?
Feita esta pergunta, era inevitável que, por contraste, me lembrasse da orientação que, no século XIX, Alexander von Humboldt, traçou para a Universidade, e na qual constava, como intenção primeira, o saber e a sua constante procura. Ainda que, como assinala Alain Renault, o golpe de génio deste alemão tivesse sido afirmar que a investigação e o saber dela decorrente, poderia apontar para uma finalidade prática, recusou que esta finalidade, traduzida em termos de utilidade profissional, pudesse ser o fim último da Universidade.
Lembro que esta ideia revolucionou e, em simultâneo, salvou a Universidade Ocidental, tendo permitido a algumas instituições atingirem a excelência que hoje se lhes reconhece. Mesmo aceitando a necessidade de, na actualidade, a revisitarmos de modo crítico nos pormenores que a concretizam, não devemos, pura e simplesmente, ignorá-la ou negá-la.
Não devemos, de facto. Mas não o estaremos já a fazer? Em lugar desta ideia “tradicional” não estará a despontar ou, mais do que isso, a instalar-se no seio da Universidade, uma lógica de carácter pós-moderno, assente no questionamento das “próprias concepções de racionalidade, verdade, objectividade e realidade que foram dadas como garantia do ensino superior, tal como têm sido dadas como garantias, em geral, da nossa civilização”. Estas palavras são de Jonh Searle que, num artigo de 1999, explica admiravelmente a convivência desarmoniosa, crispada, implícita, confusa entre duas subculturas que convivem paredes-meias.
Salienta este filósofo que o mais grave nessa convivência, não é que a primeira seja questionada - isso é inevitável e vantajoso -, mas sim o facto de não haver debate académico claro, razoável e sério sobre os fundamentos, a validade e as consequências de cada uma delas. Desta maneira, num ambiente intelectual difuso, por razões nem sempre descomprometidas com as forças políticas vigentes, é a ideia de Universidade como lugar de saber e da sua construção que sai a perder: vê-se afastada, ou pior do que isso, marginalizada, desprezada e relegada das decisões sobre o ensino superior.
Penso que será esta a conclusão que o leitor tirará se folhear o tal livro que me chegou às mãos e que, a seguir, se identifica.
Maria Helena Damião
Documentos referidos no texto:
Cabral-Cardoso, C; Estêvão, C.; Silva, P. (2006). Competências transversais dos diplomados do ensino superior: perspectivas dos empregadores e dos diplomados. Guimarães: TecMinho/Gabinete de Formação Contínua.
Renault, A. (1997). Universidade e cultura. Lisboa: Colibri/Faculdade de Letras de Letras da Universidade de Lisboa.
Searle, J. (1999). Racionalidade e realismo: o que está em jogo?. Disputatio 7 (November).
http://dererummundi.blogspot.com/
“Comunicação oral”, definida como “transmitir informação a outras pessoas de forma eficaz. Capacidade para comunicar informação e ideias através da fala, de forma a que os outros compreendam”;
“Comunicação escrita”, definida como “escrever de forma eficaz de forma a que os destinatários da escrita compreendam a mensagem. Capacidade para comunicar informação e ideias através da escrita, de forma a que os outros compreendam”;
“Numeracia”, definida como “capacidade para adicionar, subtrair multiplicar ou dividir rápida e correctamente (…)”;
“Autonomia”, definida como “capacidade para resolver problemas e enfrentar situações sem necessidade de perguntar a outras pessoas (…)”;
“Autocontrolo”, definida como “capacidade para controlar os seu afectos. Pensar antes de agir perante uma situação menos positiva (…)”.
Em jeito de adivinha, pergunto ao leitor: que nível de ensino está em causa? Não, não é o primeiro ciclo do Ensino Básico. Poderá parecer, mas não é. Nem se trata do seu segundo ou terceiro ciclos. E também não se trata do Ensino Secundário… Trata-se do Ensino Superior. Mais claramente: na perspectiva de empregadores e diplomados do nosso país, os diplomados do Ensino Superior devem evidenciar as competências acima referidas!
A incredulidade levou-me a consultar vários planos de estudo de cursos superiores, recentemente produzidos nas nossas Universidades, tendo percebido que as competências aí enunciadas são do mesmo teor. Encontro recorrentemente “adaptação à mudança”, “liderança”, “trabalho em grupo”, “aprender a aprender”, “persistência”, “motivação”, “desenvolvimento dos outros”, “gestão de conflitos”, “inovação”, “dominar estratégias de estudo”, “auto-afirmação”, “reflexão”, “aceitar e respeitar as ideias dos outros”, “conviver com a multiculturalidade”. Já o “saber” é difícil de encontrar nessa panóplia de designações e, quando surge, está quase sempre associado àquilo que se designa por “saber-fazer” e “saber-ser”.
Resta-me concluir que o “saber” tornou-se uma “competência” esquecida ou, pensando melhor, proscrita no e para o ensino superior?
Feita esta pergunta, era inevitável que, por contraste, me lembrasse da orientação que, no século XIX, Alexander von Humboldt, traçou para a Universidade, e na qual constava, como intenção primeira, o saber e a sua constante procura. Ainda que, como assinala Alain Renault, o golpe de génio deste alemão tivesse sido afirmar que a investigação e o saber dela decorrente, poderia apontar para uma finalidade prática, recusou que esta finalidade, traduzida em termos de utilidade profissional, pudesse ser o fim último da Universidade.
Lembro que esta ideia revolucionou e, em simultâneo, salvou a Universidade Ocidental, tendo permitido a algumas instituições atingirem a excelência que hoje se lhes reconhece. Mesmo aceitando a necessidade de, na actualidade, a revisitarmos de modo crítico nos pormenores que a concretizam, não devemos, pura e simplesmente, ignorá-la ou negá-la.
Não devemos, de facto. Mas não o estaremos já a fazer? Em lugar desta ideia “tradicional” não estará a despontar ou, mais do que isso, a instalar-se no seio da Universidade, uma lógica de carácter pós-moderno, assente no questionamento das “próprias concepções de racionalidade, verdade, objectividade e realidade que foram dadas como garantia do ensino superior, tal como têm sido dadas como garantias, em geral, da nossa civilização”. Estas palavras são de Jonh Searle que, num artigo de 1999, explica admiravelmente a convivência desarmoniosa, crispada, implícita, confusa entre duas subculturas que convivem paredes-meias.
Salienta este filósofo que o mais grave nessa convivência, não é que a primeira seja questionada - isso é inevitável e vantajoso -, mas sim o facto de não haver debate académico claro, razoável e sério sobre os fundamentos, a validade e as consequências de cada uma delas. Desta maneira, num ambiente intelectual difuso, por razões nem sempre descomprometidas com as forças políticas vigentes, é a ideia de Universidade como lugar de saber e da sua construção que sai a perder: vê-se afastada, ou pior do que isso, marginalizada, desprezada e relegada das decisões sobre o ensino superior.
Penso que será esta a conclusão que o leitor tirará se folhear o tal livro que me chegou às mãos e que, a seguir, se identifica.
Maria Helena Damião
Documentos referidos no texto:
Cabral-Cardoso, C; Estêvão, C.; Silva, P. (2006). Competências transversais dos diplomados do ensino superior: perspectivas dos empregadores e dos diplomados. Guimarães: TecMinho/Gabinete de Formação Contínua.
Renault, A. (1997). Universidade e cultura. Lisboa: Colibri/Faculdade de Letras de Letras da Universidade de Lisboa.
Searle, J. (1999). Racionalidade e realismo: o que está em jogo?. Disputatio 7 (November).
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Uma tacada forte em mentiras convenientes
O gráfico acima é o famoso “Hockey Stick”, a que me referirei por “Taco de Hóquei”. Trata-se do gráfico das temperaturas globais da Terra nos últimos mil anos (mais ou menos uns). Foi publicado na Nature, em 1998, no artigo Global-scale temperature patterns and climate forcing over the past six centuries, da autoria de uma equipa da Universidade da Virgínia liderada por Michael Mann. E é dramático: mostra que a temperatura global da Terra teria sido estável durante 900 anos, subindo assustadoramente nos últimos 100 anos. O gráfico ficou conhecido como “Hockey Stick” porque parece um taco de hóquei deitado: um longo cabo horizontal e uma lâmina quase vertical.
O Taco de Hóquei ficou famoso, figurando em lugar de destaque no 3.º relatório do IPCC em 2001, e tornou-se no ícone do alarmismo sobre o aquecimento global. Não houve revista ou jornal que não o reproduzisse, com avisos apocalípticos de que o Fim está próximo. Al Gore utilizou-o (convenientemente despido das barras de erro) na sua campanha presidencial de 2000, e continua a utilizá-lo de acordo com a verdade que lhe é conveniente, e que talvez o conduza à Casa Branca em 2008. É difícil exagerar a importância mediática do Taco de Hóquei.
Mas o Taco de Hóquei tem um problema científico fundamental. Está errado.
Para começar, o Taco de Hóquei nega factos climatológicos há muito estabelecidos: o Período Quente Medieval (c.1000 – c. 1400) e a Pequena Idade do Gelo (c.1500 - c. 1850), que o próprio IPCC afirmava existirem no seu relatório anterior (1995). O Taco de Hóquei nega estas alterações climáticas globais: o cabo é horizontal. Aceitar o Taco de Hóquei implica realizar um revisionismo completo sobre a história climatológica do planeta Terra! Seria razão para pôr um pé atrás, ou mesmo os dois.
Muitas pessoas acharam o assunto estranho. Dois canadianos, o matemático Steven McIntyre e o professor de Economia Ross McKitrick (conhecidos em conjunto por M&M) fizeram mais: decidiram investigar. E pediram os dados a Mann para fazerem as contas. O grupo de Mann começou por não dar acesso aos dados (contrariando a praxis científica da confirmação independente!). Mas M&M não desistiram. Eis as suas conclusões, depois de muitos obstáculos e vários anos de trabalho:
“A Nature nunca verificou se os dados originais estavam correctamente listados: sucede que não estavam. A Nature nunca verificou se eram seguidas regras de arquivamento de dados: não eram. A Nature nunca verificou se os métodos estavam correctamente descritos; não estavam. A Nature nunca verificou que os métodos indicados davam os resultados indicados: não davam. A Nature levou a cabo apenas correcções mínimas ao seu registo de publicações após ser notificada destes factos, e permitiu que os autores reclamassem, falsamente, que as suas omissões não afectavam os resultados publicados. A utilização do Taco de Hóquei pelo IPCC não foi incidental: ele figura em destaque no relatório de 2001. No entanto, nunca o IPCC o submeteu a verificação independente.”
Provavelmente, para este último acontecimento pode ter ajudado o facto de Mann ser o principal responsável científico pelo relatório do IPCC de 2001. Mas as conclusões de M&M, apresentadas em vários artigos científicos (o mais conhecido é Hockey sticks, principal components and spurious significance, em Geophysical Research Letters), foram radicais. A técnica matemática utilizada (análise de componentes principais) conduzia ao seguinte resultado: a primeira componente principal (aquela que é visível nos gráficos sem barras de erro) tem sempre a forma de taco de hóquei quaisquer que sejam os dados de entrada. Ou seja, quaisquer que fossem as temperaturas na base de dados de Mann à entrada, ele veria sempre um Taco de Hóquei à saída. Em resumo, o Taco de Hóquei era um artefacto dos métodos errados de análise, e não uma realidade. Estava no domínio do dogma religioso, não da realidade científica.
Os trabalhos de M&M levaram a um relatório independente da Academia Nacional das Ciências (NAS) norte-americana de 2006, que de forma muito diplomática afirma que o Taco de Hóquei está errado: "The reconstruction produced by Dr. Mann and his colleagues was just one step in a longer process of research, and it is not (as sometimes presented) a clinching argument for anthropogenic global warming, but rather one of many independent lines of research on global climate change". Este relatório de uma Comissão ad-hoc é de confiança e também esclarecedor.
Numa última ironia do destino, não só a Nature (que sai muito mal na fotografia) não reconhece ainda o erro, como Mann publicou uma letter to Nature em 2006 afirmando que "more widespread high-resolution data are needed before more confident conclusions can be reached and that the uncertainties were the point of the article". Vindo do principal responsável científico do 3.º relatório do IPCC, que elevou o Taco de Hóquei ao estatuto de dogma, são afirmações no mínimo curiosas.
Dois comentários. O primeiro é que, ao contrário do que a agenda dos media e de alguns políticos pretende fazer crer, é falso que exista consenso científico sobre o aquecimento global, tal como ele é vendido no jornal sensacionalista mais próximo de si. É um facto que a Terra está, em média, a aquecer desde meados do século XIX. Afinal, foi quando saiu da Pequena Idade do Gelo, e portanto está (inevitavelmente!) em moderado aquecimento global desde então. Isto é tão surpreendente como afirmar que, se retirarmos gelo do congelador, ele aquece. Mas este aquecimento nem sequer é constante: entre 1940 e 1975 houve uma marcada diminuição de temperaturas globais – de tal modo que nos anos 70 uma das grandes preocupações climáticas era com uma possível “Idade do Gelo” – com o arrefecimento global, não com o aquecimento. Quem tem mais de 40 anos talvez se lembre.
O segundo é que não existe consenso científico sobre uma relação de causalidade entre libertação de gases com efeito de estufa e o aquecimento global. Há anualmente centenas de artigos publicados em ambos os sentidos. O que se sabe é que existe correlação: quando a Terra aquece, aumenta o CO2. Isso aconteceu, por exemplo, no Período Quente Medieval (como se sabe por análise dos anéis das árvores), e aí não foi por intervenção humana. Um mecanismo conhecido é a expansão térmica da água dos oceanos, que provoca a libertação de CO2 dissolvido. O aquecimento global provoca assim a libertação não-antropogénica de CO2. O que se pode afirmar é que existe correlação, mas não necessariamente causalidade, entre os dois acontecimentos. E está muito longe de existir consenso científico. Pelo contrário: as dúvidas hoje, em 2007, são muito maiores do que há 10 anos, quando se assinou Kyoto.
Eu acho muito suspeito quando o meu barbeiro (pessoa de resto muito estimável) acha que compreende melhor do que eu um problema científico. A certeza incrustada na mente popular que nos é distribuída com o jornal gratuito, servida no noticiário, ou vendida no filme-catástrofe mais recente, é que a “Ciência provou” que o CO2 provoca o aquecimento global.
Isto não é verdade. Não é sequer verdade que haja consenso entre os cientistas. Mas pelos vistos um Taco de Hóquei não chega. Existirão tacos de hóquei nos relatórios do IPCC de 2007? Veremos.
Jorge Buescu
http://dererummundi.blogspot.com/
O Taco de Hóquei ficou famoso, figurando em lugar de destaque no 3.º relatório do IPCC em 2001, e tornou-se no ícone do alarmismo sobre o aquecimento global. Não houve revista ou jornal que não o reproduzisse, com avisos apocalípticos de que o Fim está próximo. Al Gore utilizou-o (convenientemente despido das barras de erro) na sua campanha presidencial de 2000, e continua a utilizá-lo de acordo com a verdade que lhe é conveniente, e que talvez o conduza à Casa Branca em 2008. É difícil exagerar a importância mediática do Taco de Hóquei.
Mas o Taco de Hóquei tem um problema científico fundamental. Está errado.
Para começar, o Taco de Hóquei nega factos climatológicos há muito estabelecidos: o Período Quente Medieval (c.1000 – c. 1400) e a Pequena Idade do Gelo (c.1500 - c. 1850), que o próprio IPCC afirmava existirem no seu relatório anterior (1995). O Taco de Hóquei nega estas alterações climáticas globais: o cabo é horizontal. Aceitar o Taco de Hóquei implica realizar um revisionismo completo sobre a história climatológica do planeta Terra! Seria razão para pôr um pé atrás, ou mesmo os dois.
Muitas pessoas acharam o assunto estranho. Dois canadianos, o matemático Steven McIntyre e o professor de Economia Ross McKitrick (conhecidos em conjunto por M&M) fizeram mais: decidiram investigar. E pediram os dados a Mann para fazerem as contas. O grupo de Mann começou por não dar acesso aos dados (contrariando a praxis científica da confirmação independente!). Mas M&M não desistiram. Eis as suas conclusões, depois de muitos obstáculos e vários anos de trabalho:
“A Nature nunca verificou se os dados originais estavam correctamente listados: sucede que não estavam. A Nature nunca verificou se eram seguidas regras de arquivamento de dados: não eram. A Nature nunca verificou se os métodos estavam correctamente descritos; não estavam. A Nature nunca verificou que os métodos indicados davam os resultados indicados: não davam. A Nature levou a cabo apenas correcções mínimas ao seu registo de publicações após ser notificada destes factos, e permitiu que os autores reclamassem, falsamente, que as suas omissões não afectavam os resultados publicados. A utilização do Taco de Hóquei pelo IPCC não foi incidental: ele figura em destaque no relatório de 2001. No entanto, nunca o IPCC o submeteu a verificação independente.”
Provavelmente, para este último acontecimento pode ter ajudado o facto de Mann ser o principal responsável científico pelo relatório do IPCC de 2001. Mas as conclusões de M&M, apresentadas em vários artigos científicos (o mais conhecido é Hockey sticks, principal components and spurious significance, em Geophysical Research Letters), foram radicais. A técnica matemática utilizada (análise de componentes principais) conduzia ao seguinte resultado: a primeira componente principal (aquela que é visível nos gráficos sem barras de erro) tem sempre a forma de taco de hóquei quaisquer que sejam os dados de entrada. Ou seja, quaisquer que fossem as temperaturas na base de dados de Mann à entrada, ele veria sempre um Taco de Hóquei à saída. Em resumo, o Taco de Hóquei era um artefacto dos métodos errados de análise, e não uma realidade. Estava no domínio do dogma religioso, não da realidade científica.
Os trabalhos de M&M levaram a um relatório independente da Academia Nacional das Ciências (NAS) norte-americana de 2006, que de forma muito diplomática afirma que o Taco de Hóquei está errado: "The reconstruction produced by Dr. Mann and his colleagues was just one step in a longer process of research, and it is not (as sometimes presented) a clinching argument for anthropogenic global warming, but rather one of many independent lines of research on global climate change". Este relatório de uma Comissão ad-hoc é de confiança e também esclarecedor.
Numa última ironia do destino, não só a Nature (que sai muito mal na fotografia) não reconhece ainda o erro, como Mann publicou uma letter to Nature em 2006 afirmando que "more widespread high-resolution data are needed before more confident conclusions can be reached and that the uncertainties were the point of the article". Vindo do principal responsável científico do 3.º relatório do IPCC, que elevou o Taco de Hóquei ao estatuto de dogma, são afirmações no mínimo curiosas.
Dois comentários. O primeiro é que, ao contrário do que a agenda dos media e de alguns políticos pretende fazer crer, é falso que exista consenso científico sobre o aquecimento global, tal como ele é vendido no jornal sensacionalista mais próximo de si. É um facto que a Terra está, em média, a aquecer desde meados do século XIX. Afinal, foi quando saiu da Pequena Idade do Gelo, e portanto está (inevitavelmente!) em moderado aquecimento global desde então. Isto é tão surpreendente como afirmar que, se retirarmos gelo do congelador, ele aquece. Mas este aquecimento nem sequer é constante: entre 1940 e 1975 houve uma marcada diminuição de temperaturas globais – de tal modo que nos anos 70 uma das grandes preocupações climáticas era com uma possível “Idade do Gelo” – com o arrefecimento global, não com o aquecimento. Quem tem mais de 40 anos talvez se lembre.
O segundo é que não existe consenso científico sobre uma relação de causalidade entre libertação de gases com efeito de estufa e o aquecimento global. Há anualmente centenas de artigos publicados em ambos os sentidos. O que se sabe é que existe correlação: quando a Terra aquece, aumenta o CO2. Isso aconteceu, por exemplo, no Período Quente Medieval (como se sabe por análise dos anéis das árvores), e aí não foi por intervenção humana. Um mecanismo conhecido é a expansão térmica da água dos oceanos, que provoca a libertação de CO2 dissolvido. O aquecimento global provoca assim a libertação não-antropogénica de CO2. O que se pode afirmar é que existe correlação, mas não necessariamente causalidade, entre os dois acontecimentos. E está muito longe de existir consenso científico. Pelo contrário: as dúvidas hoje, em 2007, são muito maiores do que há 10 anos, quando se assinou Kyoto.
Eu acho muito suspeito quando o meu barbeiro (pessoa de resto muito estimável) acha que compreende melhor do que eu um problema científico. A certeza incrustada na mente popular que nos é distribuída com o jornal gratuito, servida no noticiário, ou vendida no filme-catástrofe mais recente, é que a “Ciência provou” que o CO2 provoca o aquecimento global.
Isto não é verdade. Não é sequer verdade que haja consenso entre os cientistas. Mas pelos vistos um Taco de Hóquei não chega. Existirão tacos de hóquei nos relatórios do IPCC de 2007? Veremos.
Jorge Buescu
http://dererummundi.blogspot.com/
Fundos comunitários não utilizados:
De acordo com dados apresentados na 11ª reunião da Comissão de Acompanhamento do 3º QCA, realizada no Estoril em 16/Março/2007, até ao fim de 2006 tinham sido utilizados apenas 74,8% dos fundos disponibilizados pela U.E. a Portugal até aquela data. Ficaram por utilizar 5.162 milhões de euros de fundos comunitários.
O valor mencionado é superior ao não utilizado até ao fim de 2004 (4.344,4 milhões de euros) e até ao fim de 2005 (4.602,9 milhões de euros). Portanto, os atrasos têm aumentado de ano para ano. Este facto tem tido graves consequências para o País.
O atraso médio de dois anos na utilização dos fundos comunitários tem determinado uma perda média no poder de compra destes fundos que calculamos em 250 milhões de euros por ano o que dá, para o período de seis anos que devia corresponder à vigência do 3º QCA, 1.500 milhões de euros.
Além disso, devido à chamada "Regra N+2", já se verificou a perda definitiva de 20,5 milhões de euros de fundos comunitários devido ao facto de não terem sido utilizados dentro do prazo máximo de dois anos a contar do ano em que estava programada a sua utilização.
Finalmente, o atraso médio de 2 anos na utilização dos fundos comunitários tem determinado o agravamento dos problemas do País (basta recordar as consequências da grave quebra no investimento) e maiores sacrifícios para os portugueses.
Se a análise for feita por grande grupos de programas, conclui-se que no fim de 2006 ficaram por utilizar 1.090,8 milhões para "Elevar a qualificação dos portugueses"; 1.305,7 milhões de euros para "Alterar o Perfil Produtivo em actividades do futuro"; 422,5 milhões de euros para "Afirmar a valia do território e da posição do País"; e 2.323,7 milhões de euros para o "Promover o desenvolvimento sustentado e a coesão social". Em resumo, todas elas áreas fundamentais para o desenvolvimento do País, em que se verificam grandes atrasos e insuficiências. Por isso, a não utilização enquanto isso era possível dos fundos haviam sido disponibilizados pela União Europeia contribuiu para o agravamento da situação do País.
Uma área em que a politica do governo tem sido fortemente penalizadora para o País e para os trabalhadores é a da Administração Pública. Existe um programa – POAP – cuja execução é da responsabilidade directa do governo. Apesar de existirem fundos disponibilizados pela UE, em 2004 e 2005 o governo não utilizou nada (a execução foi ZERO). No fim de 2006 a taxa de execução era apenas de 48,3%. Para além disso, o governo neste programa retirou 19 milhões de euros para a iniciativa governamental muito mediatizada chamada "Novas Oportunidades", reduzindo ainda mais o valor destinado ao aumento da qualificação dos trabalhadores da Administração Pública (sem esta redução a taxa de execução seria somente de 39,5%).
Por um lado, o governo não se cansa de repetir que é necessário aumentar a qualificação dos trabalhadores da Administração Pública dizendo que isso é essencial para o País, lança trabalhadores no chamado "Serviço Especial de Mobilidade", que é uma antecâmara de despedimento, ainda ameaça ainda com mais despedimentos, dizendo que aqueles que tiverem duas avaliações negativas perdem o emprego. Por outro, ou não utiliza os meios disponibilizados pela UE para o aumento da qualificação dos trabalhadores ou desvia-os para outros campos, impedindo dessa forma o aumento da qualificação dos trabalhadores da Administração Pública, criando assim condições para lançar mais trabalhadores no desemprego.
Outra conclusão importante e lesiva para o País: da forma como estão a ser utilizados os fundos comunitários, as empresas mais beneficiadas com os fundos, a nível de introdução da inovação e de factores de competitividade, têm sido as estrangeiras. No relatório de execução do Prime de 2003 (pág. 98) pode-se ler a seguinte conclusão: "As empresas de capital estrangeiro polarizam-se, sobretudo, em torno dos factores competitivos mais exigentes, isto é, economias de escala, diferenciação do produto e intensidade em I&D, que, em conjunto concentram mais de 74% do investimento apoiado". E no Relatório de Execução de 2005, divulgado em 2006, pode-se ler na pág. 219, o seguinte: "Os projectos apoiados pelo Programa apresentam uma importante polarização nas actividades organizadas em torno dos factores competitivos menos avançados e mais vulneráveis em termos da concorrência internacional, explorando o acesso favorável a recursos naturais ou o baixo custo do trabalho". E "os projectos apoiados pelo programa apresentam uma muito importante polarização nas actividades de nível tecnológico menos exigente desenvolvendo processos de baixa e média tecnologia."
Assim, parece claro que a modernização e o aumento da competitividade da maioria das empresas portuguesas não está a ter lugar.
Em 13/Abril/2007 a CGTP realizou em Lisboa uma Conferência Nacional sobre Formação Profissional. Um das matérias ali analisadas foi precisamente o atraso que se tem verificado na utilização dos fundos comunitários. De acordo com os dados da execução apresentados na 11ª reunião da Comissão de Acompanhamento , que se realizou em 16 de Março de 2007 no Estoril, regista-se um atraso grande na utilização dos fundos comunitários a nível de todo o 3º Quadro Comunitário de Apoio (3ºQCA) em relação ao que já era possível utilizar por ter sido já disponibilizado pela União Europeia. Como se sabe o 3º QCA refere-se ao período 2000-2006, portanto iniciou-se em 2000 e devia terminar em 2006. Para os 6 anos, foram disponibilizados a Portugal 20.504,2 milhões de euros de fundos comunitários. No entanto, no fim de 2006 apenas tinham sido utilizados 15.341,4 milhões de euros, o que correspondia somente a 74,8% do total, não tendo sido utilizados, até ao fim de 2006, 5.162,8 milhões de euros de fundos.
Embora a média de utilização dos fundos comunitários referente ao 3º QCA tenha atingido 74,8%, no entanto existem Programas em que o nível de execução é muito mais baixo. Serve de exemplo o Programa da Sociedade do Conhecimento (POSC) com 54,4%, o POAP com 48,9%, o Programa de Agricultura e Desenvolvimento Rural (POAGRO) com 67,3%, e o Programa Operacional do Ambiente (POA) com 69%.
O ATRASO NA UTILIZAÇÃO DOS FUNDOS COMUNITÁRIOS AUMENTOU EM 2006
Os atrasos na utilização dos fundos comunitários têm aumentado de ano para ano. Como mostram os dados do quadro até ao fim de 2004 não tinham sido utilizados 4.344,3 milhões de euros de fundos comunitários apesar de terem sido disponibilizados pela União Europeia, não se tendo recuperado o atraso nos anos seguintes, pois os fundos não utilizados nos anos em que foram disponibilizados aumentaram 258,6 milhões de euros entre 2004 e 2005, e 559,9 milhões de euros entre 2005 e 2006, mais do dobro verificado no ano anterior, tendo atingido, em 2006, 5.162,8 milhões de euros.
O governo e os seus defensores, quando são confrontados com esta questão respondem que isso não causa prejuízos ao país, porque o que não é utilizado num ano pode ser nos dois anos seguintes. Ora isso não é verdade. Em primeiro lugar, como mostram os dados do quadro, em média 4.700 milhões de euros têm sido utilizados com dois anos de atraso. O aumento médio dos preços em dois anos determina uma redução no poder de compra dos fundos comunitários que avaliamos em cerca de 250 milhões de euros por ano, portanto multiplicando pelos 6 anos do 3QCA, obtém -se uma perda global de poder de compra de cerca de 1.500 milhões de euros. Em segundo lugar, os atrasos já provocaram perda definitiva de fundos comunitários devido à aplicação da chamada "Regra N+2 ". Só até 2006, os fundos definitivamente perdidos por Portugal devido ao "efeito guilhotina" daquela regra já atingiu mais de 20,5 milhões de euros. Para além disso, a não utilização quando já podiam ser em áreas fundamentais para o desenvolvimento do País, como são a "Elevar a qualificação dos Portugueses", "Alterar o Perfil produtivo em actividades de futuro" (até ao fim de 2006, ficaram por utilizar 1.305,7 milhões de euros), e "Promover o desenvolvimento sustentado e a coesão social" (no fim de 2006, ficaram por utilizar 2.323,7 milhões de euros); em resumo, o atraso médio de dois anos que se tem verificado na utilização dos fundos comunitários determina o agravamento dos graves problemas que o País enfrenta e mais sacrifícios para os portugueses. Finalmente, o facto dos atrasos na utilização dos fundos terem aumentado de ano para ano, causará o aumento das dificuldades em utilizar a totalidade dos fundos comunitários até ao fim de 2008, que é a nova data limite obtida por Portugal para a utilização da totalidade dos fundos comunitários. E isto porque em 2007 entra em vigor um novo Quadro Comunitário de Apoio, agora chamado QREN. A confirmar este facto estão os atrasos que já se estão a verificar neste campo, pois dos 2716,2 milhões de euros do QREN que estão programados serem utilizados em 2007, é de prever que nada seja executado.
1.090 MILHÕES DE EUROS DE FUNDOS COMUNITÁRIOS DESTINADOS À QUALIFICAÇÃO DOS PORTUGUESES NÃO FORAM UTILIZADOS ATÉ AO FIM DE 2006
Um dos problemas mais graves que o País enfrenta é a baixa escolaridade e a baixa qualificação profissional dos empresários e trabalhadores. No último trimestre de 2006, cerca de 71% da população empregada tinha apenas o ensino básico ou menos. Por outro lado, um estudo mandado realizar pelo Ministério do Trabalho (Indicadores de empreendedorismo e inovação - DEEP/MTSS), tendo como base os dados dos quadros de pessoal das empresas, revela que a escolaridade média dos empresários que surgiram na década 1991-2000, era apenas de 7,7 anos, ou seja, a maioria nem tinha escolaridade obrigatória.
Apesar deste grave problema, e apesar de o actual governo não se cansar de afirmar que o aumento da qualificação dos portugueses constituir um dos objectivos mais importantes da sua acção, o certo é que até ao fim de 2006 não tinham sido utilizados cerca de 1.090 milhões de euros destinados à qualificação dos portugueses, apesar da União Europeia os ter posto ao dispor de Portugal. É precisamente nesta área que está um dos programas destinados àquilo que o governo tem mais utilizado na sua propaganda – Sociedade do Conhecimento – que apresenta uma execução de apenas 54,4% ao fim de 6 anos.
OS TRABALHADORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTÃO A SER FORTEMENTE PENALIZADOS PELO GOVERNO
O governo não se cansa de afirmar que é necessário aumentar a qualificação dos trabalhadores da Administração Pública. No entanto, o Programa Operacional de Administração Pública (POAP), cuja execução é da responsabilidade directa do próprio governo, é aquele que apresenta a mais baixa taxa de execução : 48,2% até ao fim de 2006. Em 2004 e em 2005, o governo não utilizou nada dos fundos disponibilizados pela União Europeia para aquele fim. E mesmo esta taxa de execução está falseada. E isto porque o governo retirou em 2006 cerca de 19 milhões de euros, que estavam destinados à qualificação dos trabalhadores da Administração Pública, para a medida governamental muito mediatizada "Novas Oportunidades", reduzindo os 104,5 milhões de euros para apenas 85,5 milhões de euros. Em relação ao primeiro valor, a taxa de execução é de apenas de 39,5%.
AS EMPRESAS ESTRANGEIRAS SÃO AS MAIS BENEFICIADAS COM OS FUNDOS COMUNITÁRIOS
Os relatórios de execução do PRIME, o programa que tem como objectivo a modernização da economia, revelam ter sido precisamente as empresas estrangeiras instaladas em Portugal aquelas que têm mais utilizado os fundos comunitários para introduzirem nas suas empresas a inovação e outros factores de aumento de competitividade. Assim, no relatório de execução do Prime de 2003 (pág. 98) encontra-se a seguinte conclusão: "As empresas de capital estrangeiro polarizam-se, sobretudo, em torno dos factores competitivos mais exigentes, isto é, economias de escala, diferenciação do produto e intensidade em I&D, que, em conjunto concentram mais de 74% do investimento apoiado". E no Relatório de Execução de 2005, divulgado em 2006, pode-se ler na pág. 219 o seguinte: " Os projectos apoiados pelo Programa apresentam uma importante polarização nas actividades organizadas em torno dos factores competitivos menos avançados e mais vulneráveis em termos da concorrência internacional, explorando o acesso favorável a recursos naturais ou o baixo custo do trabalho". E "os projectos apoiados pelo programa apresentam uma muito importante polarização nas actividades de nível tecnológico menos exigente desenvolvendo processos de baixa e média tecnologia." Fica assim claro que a modernização da maioria das empresas portuguesas, com a introdução da inovação e de factores de competitividade não está a ter lugar, mas sim as empresas estrangeiras instaladas em Portugal que se têm aproveitado dos fundos comunitários com esse fim.
Eugénio Rosa
http://resistir.info/
O valor mencionado é superior ao não utilizado até ao fim de 2004 (4.344,4 milhões de euros) e até ao fim de 2005 (4.602,9 milhões de euros). Portanto, os atrasos têm aumentado de ano para ano. Este facto tem tido graves consequências para o País.
O atraso médio de dois anos na utilização dos fundos comunitários tem determinado uma perda média no poder de compra destes fundos que calculamos em 250 milhões de euros por ano o que dá, para o período de seis anos que devia corresponder à vigência do 3º QCA, 1.500 milhões de euros.
Além disso, devido à chamada "Regra N+2", já se verificou a perda definitiva de 20,5 milhões de euros de fundos comunitários devido ao facto de não terem sido utilizados dentro do prazo máximo de dois anos a contar do ano em que estava programada a sua utilização.
Finalmente, o atraso médio de 2 anos na utilização dos fundos comunitários tem determinado o agravamento dos problemas do País (basta recordar as consequências da grave quebra no investimento) e maiores sacrifícios para os portugueses.
Se a análise for feita por grande grupos de programas, conclui-se que no fim de 2006 ficaram por utilizar 1.090,8 milhões para "Elevar a qualificação dos portugueses"; 1.305,7 milhões de euros para "Alterar o Perfil Produtivo em actividades do futuro"; 422,5 milhões de euros para "Afirmar a valia do território e da posição do País"; e 2.323,7 milhões de euros para o "Promover o desenvolvimento sustentado e a coesão social". Em resumo, todas elas áreas fundamentais para o desenvolvimento do País, em que se verificam grandes atrasos e insuficiências. Por isso, a não utilização enquanto isso era possível dos fundos haviam sido disponibilizados pela União Europeia contribuiu para o agravamento da situação do País.
Uma área em que a politica do governo tem sido fortemente penalizadora para o País e para os trabalhadores é a da Administração Pública. Existe um programa – POAP – cuja execução é da responsabilidade directa do governo. Apesar de existirem fundos disponibilizados pela UE, em 2004 e 2005 o governo não utilizou nada (a execução foi ZERO). No fim de 2006 a taxa de execução era apenas de 48,3%. Para além disso, o governo neste programa retirou 19 milhões de euros para a iniciativa governamental muito mediatizada chamada "Novas Oportunidades", reduzindo ainda mais o valor destinado ao aumento da qualificação dos trabalhadores da Administração Pública (sem esta redução a taxa de execução seria somente de 39,5%).
Por um lado, o governo não se cansa de repetir que é necessário aumentar a qualificação dos trabalhadores da Administração Pública dizendo que isso é essencial para o País, lança trabalhadores no chamado "Serviço Especial de Mobilidade", que é uma antecâmara de despedimento, ainda ameaça ainda com mais despedimentos, dizendo que aqueles que tiverem duas avaliações negativas perdem o emprego. Por outro, ou não utiliza os meios disponibilizados pela UE para o aumento da qualificação dos trabalhadores ou desvia-os para outros campos, impedindo dessa forma o aumento da qualificação dos trabalhadores da Administração Pública, criando assim condições para lançar mais trabalhadores no desemprego.
Outra conclusão importante e lesiva para o País: da forma como estão a ser utilizados os fundos comunitários, as empresas mais beneficiadas com os fundos, a nível de introdução da inovação e de factores de competitividade, têm sido as estrangeiras. No relatório de execução do Prime de 2003 (pág. 98) pode-se ler a seguinte conclusão: "As empresas de capital estrangeiro polarizam-se, sobretudo, em torno dos factores competitivos mais exigentes, isto é, economias de escala, diferenciação do produto e intensidade em I&D, que, em conjunto concentram mais de 74% do investimento apoiado". E no Relatório de Execução de 2005, divulgado em 2006, pode-se ler na pág. 219, o seguinte: "Os projectos apoiados pelo Programa apresentam uma importante polarização nas actividades organizadas em torno dos factores competitivos menos avançados e mais vulneráveis em termos da concorrência internacional, explorando o acesso favorável a recursos naturais ou o baixo custo do trabalho". E "os projectos apoiados pelo programa apresentam uma muito importante polarização nas actividades de nível tecnológico menos exigente desenvolvendo processos de baixa e média tecnologia."
Assim, parece claro que a modernização e o aumento da competitividade da maioria das empresas portuguesas não está a ter lugar.
Em 13/Abril/2007 a CGTP realizou em Lisboa uma Conferência Nacional sobre Formação Profissional. Um das matérias ali analisadas foi precisamente o atraso que se tem verificado na utilização dos fundos comunitários. De acordo com os dados da execução apresentados na 11ª reunião da Comissão de Acompanhamento , que se realizou em 16 de Março de 2007 no Estoril, regista-se um atraso grande na utilização dos fundos comunitários a nível de todo o 3º Quadro Comunitário de Apoio (3ºQCA) em relação ao que já era possível utilizar por ter sido já disponibilizado pela União Europeia. Como se sabe o 3º QCA refere-se ao período 2000-2006, portanto iniciou-se em 2000 e devia terminar em 2006. Para os 6 anos, foram disponibilizados a Portugal 20.504,2 milhões de euros de fundos comunitários. No entanto, no fim de 2006 apenas tinham sido utilizados 15.341,4 milhões de euros, o que correspondia somente a 74,8% do total, não tendo sido utilizados, até ao fim de 2006, 5.162,8 milhões de euros de fundos.
Embora a média de utilização dos fundos comunitários referente ao 3º QCA tenha atingido 74,8%, no entanto existem Programas em que o nível de execução é muito mais baixo. Serve de exemplo o Programa da Sociedade do Conhecimento (POSC) com 54,4%, o POAP com 48,9%, o Programa de Agricultura e Desenvolvimento Rural (POAGRO) com 67,3%, e o Programa Operacional do Ambiente (POA) com 69%.
O ATRASO NA UTILIZAÇÃO DOS FUNDOS COMUNITÁRIOS AUMENTOU EM 2006
Os atrasos na utilização dos fundos comunitários têm aumentado de ano para ano. Como mostram os dados do quadro até ao fim de 2004 não tinham sido utilizados 4.344,3 milhões de euros de fundos comunitários apesar de terem sido disponibilizados pela União Europeia, não se tendo recuperado o atraso nos anos seguintes, pois os fundos não utilizados nos anos em que foram disponibilizados aumentaram 258,6 milhões de euros entre 2004 e 2005, e 559,9 milhões de euros entre 2005 e 2006, mais do dobro verificado no ano anterior, tendo atingido, em 2006, 5.162,8 milhões de euros.
O governo e os seus defensores, quando são confrontados com esta questão respondem que isso não causa prejuízos ao país, porque o que não é utilizado num ano pode ser nos dois anos seguintes. Ora isso não é verdade. Em primeiro lugar, como mostram os dados do quadro, em média 4.700 milhões de euros têm sido utilizados com dois anos de atraso. O aumento médio dos preços em dois anos determina uma redução no poder de compra dos fundos comunitários que avaliamos em cerca de 250 milhões de euros por ano, portanto multiplicando pelos 6 anos do 3QCA, obtém -se uma perda global de poder de compra de cerca de 1.500 milhões de euros. Em segundo lugar, os atrasos já provocaram perda definitiva de fundos comunitários devido à aplicação da chamada "Regra N+2 ". Só até 2006, os fundos definitivamente perdidos por Portugal devido ao "efeito guilhotina" daquela regra já atingiu mais de 20,5 milhões de euros. Para além disso, a não utilização quando já podiam ser em áreas fundamentais para o desenvolvimento do País, como são a "Elevar a qualificação dos Portugueses", "Alterar o Perfil produtivo em actividades de futuro" (até ao fim de 2006, ficaram por utilizar 1.305,7 milhões de euros), e "Promover o desenvolvimento sustentado e a coesão social" (no fim de 2006, ficaram por utilizar 2.323,7 milhões de euros); em resumo, o atraso médio de dois anos que se tem verificado na utilização dos fundos comunitários determina o agravamento dos graves problemas que o País enfrenta e mais sacrifícios para os portugueses. Finalmente, o facto dos atrasos na utilização dos fundos terem aumentado de ano para ano, causará o aumento das dificuldades em utilizar a totalidade dos fundos comunitários até ao fim de 2008, que é a nova data limite obtida por Portugal para a utilização da totalidade dos fundos comunitários. E isto porque em 2007 entra em vigor um novo Quadro Comunitário de Apoio, agora chamado QREN. A confirmar este facto estão os atrasos que já se estão a verificar neste campo, pois dos 2716,2 milhões de euros do QREN que estão programados serem utilizados em 2007, é de prever que nada seja executado.
1.090 MILHÕES DE EUROS DE FUNDOS COMUNITÁRIOS DESTINADOS À QUALIFICAÇÃO DOS PORTUGUESES NÃO FORAM UTILIZADOS ATÉ AO FIM DE 2006
Um dos problemas mais graves que o País enfrenta é a baixa escolaridade e a baixa qualificação profissional dos empresários e trabalhadores. No último trimestre de 2006, cerca de 71% da população empregada tinha apenas o ensino básico ou menos. Por outro lado, um estudo mandado realizar pelo Ministério do Trabalho (Indicadores de empreendedorismo e inovação - DEEP/MTSS), tendo como base os dados dos quadros de pessoal das empresas, revela que a escolaridade média dos empresários que surgiram na década 1991-2000, era apenas de 7,7 anos, ou seja, a maioria nem tinha escolaridade obrigatória.
Apesar deste grave problema, e apesar de o actual governo não se cansar de afirmar que o aumento da qualificação dos portugueses constituir um dos objectivos mais importantes da sua acção, o certo é que até ao fim de 2006 não tinham sido utilizados cerca de 1.090 milhões de euros destinados à qualificação dos portugueses, apesar da União Europeia os ter posto ao dispor de Portugal. É precisamente nesta área que está um dos programas destinados àquilo que o governo tem mais utilizado na sua propaganda – Sociedade do Conhecimento – que apresenta uma execução de apenas 54,4% ao fim de 6 anos.
OS TRABALHADORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTÃO A SER FORTEMENTE PENALIZADOS PELO GOVERNO
O governo não se cansa de afirmar que é necessário aumentar a qualificação dos trabalhadores da Administração Pública. No entanto, o Programa Operacional de Administração Pública (POAP), cuja execução é da responsabilidade directa do próprio governo, é aquele que apresenta a mais baixa taxa de execução : 48,2% até ao fim de 2006. Em 2004 e em 2005, o governo não utilizou nada dos fundos disponibilizados pela União Europeia para aquele fim. E mesmo esta taxa de execução está falseada. E isto porque o governo retirou em 2006 cerca de 19 milhões de euros, que estavam destinados à qualificação dos trabalhadores da Administração Pública, para a medida governamental muito mediatizada "Novas Oportunidades", reduzindo os 104,5 milhões de euros para apenas 85,5 milhões de euros. Em relação ao primeiro valor, a taxa de execução é de apenas de 39,5%.
AS EMPRESAS ESTRANGEIRAS SÃO AS MAIS BENEFICIADAS COM OS FUNDOS COMUNITÁRIOS
Os relatórios de execução do PRIME, o programa que tem como objectivo a modernização da economia, revelam ter sido precisamente as empresas estrangeiras instaladas em Portugal aquelas que têm mais utilizado os fundos comunitários para introduzirem nas suas empresas a inovação e outros factores de aumento de competitividade. Assim, no relatório de execução do Prime de 2003 (pág. 98) encontra-se a seguinte conclusão: "As empresas de capital estrangeiro polarizam-se, sobretudo, em torno dos factores competitivos mais exigentes, isto é, economias de escala, diferenciação do produto e intensidade em I&D, que, em conjunto concentram mais de 74% do investimento apoiado". E no Relatório de Execução de 2005, divulgado em 2006, pode-se ler na pág. 219 o seguinte: " Os projectos apoiados pelo Programa apresentam uma importante polarização nas actividades organizadas em torno dos factores competitivos menos avançados e mais vulneráveis em termos da concorrência internacional, explorando o acesso favorável a recursos naturais ou o baixo custo do trabalho". E "os projectos apoiados pelo programa apresentam uma muito importante polarização nas actividades de nível tecnológico menos exigente desenvolvendo processos de baixa e média tecnologia." Fica assim claro que a modernização da maioria das empresas portuguesas, com a introdução da inovação e de factores de competitividade não está a ter lugar, mas sim as empresas estrangeiras instaladas em Portugal que se têm aproveitado dos fundos comunitários com esse fim.
Eugénio Rosa
http://resistir.info/
A Tramóia
Uma produção do Filipe La Féria, com encenação do Rui Rio.
Agora em cena, no Rivoli.
"A Tramóia" é uma farsa em três actos sobre o negócio que é a Cultura no Porto.
O encenador Rui Rio pensa que o público está a dormir
Para ver e assistir à Tramóia:
http://atramoia.blogspot.com/
http://pimentanegra.blogspot.com/
Agora em cena, no Rivoli.
"A Tramóia" é uma farsa em três actos sobre o negócio que é a Cultura no Porto.
O encenador Rui Rio pensa que o público está a dormir
Para ver e assistir à Tramóia:
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A fé esmorece
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Cada vez há mais «moedas pretas» nas caixas das esmolas e nos cestos das missas
http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=282&id=33628&idSeccao=3970&Action=noticia
um artigo de Carlos Esperança
http://www.ateismo.net/diario/
Cada vez há mais «moedas pretas» nas caixas das esmolas e nos cestos das missas
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um artigo de Carlos Esperança
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O Rei vai nu
Todos conhecem a história: dois indivíduos fazendo-se passar por alfaiates prometem ao Rei criar o fato mais extraordinário alguma vez visto. O fato é tão belo que os tolos serão incapazes de o ver. Os alfaiates alegam necessitar de ouro, prata, diamantes e outras joias para produzir o fato, mas trabalham sem usar qualquer material. Os conselheiros do Rei ou membros do governo que os vêem a trabalhar sem usar qualquer tecido ou material, têm medo de passar por tolos por não ver tecido nenhum. Alguns deles mentem deliberadamente dizendo que o vestido é deslumbrante; enquanto outros se enganam a si próprios e começam a imaginar as belas cores e formas do fato, tomando-as como reais.
Quando os indivíduos apresentam ao Rei o fato, afirmando estar completo, o Rei também não vê nada. Mas por medo de parecer tolo diante de toda a sua corte que via o fato com clareza, afirma vê-lo e considerá-lo extraordinariamente belo.
O Rei decide então desfilar na rua com o alegado fato vestido. Ninguém quer reconhecer que está a ver o Rei nu, pois sabe que isso será visto como uma limitação da sua parte. Uma criancinha não liga a este problema e diz clarmente que o Rei vai nu.
No conto de Hans Christian Andersen as pessoas reconhecem então o óbvio: tinham sido enganadas - a criança tem razão.
Mas logo da primeira vez que ouvi esta história sempre achei esta última parte muito pouco plausível. Ainda me lembro, quando era eu próprio uma criança, de perguntar «mas então porque é que eles não pensam apenas que a criança é tola?»
A verdade é que quem protege uma crença ao ponto de imaginar um fato que não existe não vai reconsiderar apenas porque uma criança não partilha de tal crença - a explicação dada pelos alfaiates seria mais do que suficiente para que o episódio não constituisse qualquer problema.
Aquilo que me pareceria plausível, face a tal situação, é que todos aqueles que alegassem ver o fato do Rei o continuassem a fazer. Rir-se-iam um pouco das limitações da criança e o Rei continuaria o seu caminho - nu.
Nem o facto dos conselheiros e ministros verem cores e formas diferentes no fato tinha desmotivado a crença geral na beleza do mesmo. Não seria aquela criança que o faria.
E até tenho um bom exemplo: a religião.
O clero alega que existe um Deus que responde às orações, mas tudo indica que nenhum Deus responde a qualquer prece. Todos os efeitos que as pessoas alegam advir das orações poderiam acontecer sem as mesmas, e não acontecem com mais frequência com quem reza.
A verdade é essa: o cancro não poupa mais os crentes do que os ateus, nem nenhuma doença conhecida. Na verdade já se sabe que rezar por um doente não tem qualquer efeito na probabilidade deste se curar.
O mundo e a vida tem coisas maravilhosas e coisas terríveis, e para todas elas uma explicação natural mais convincente que qualquer explicação religiosa.
No entanto, mesmo que alguns ateus digam «estão a ver coisas que não existem e a enriquecer o clero inutilmente» - muitas pessoas encaram isso apenas como uma limitação dos ateus, que não conseguem ter acesso à «dimensão espiritual».
É como a limitação da criancinha que não conseguia ver o fato que não existia...
um artigo de João Vasco
http://www.ateismo.net/diario/
Quando os indivíduos apresentam ao Rei o fato, afirmando estar completo, o Rei também não vê nada. Mas por medo de parecer tolo diante de toda a sua corte que via o fato com clareza, afirma vê-lo e considerá-lo extraordinariamente belo.
O Rei decide então desfilar na rua com o alegado fato vestido. Ninguém quer reconhecer que está a ver o Rei nu, pois sabe que isso será visto como uma limitação da sua parte. Uma criancinha não liga a este problema e diz clarmente que o Rei vai nu.
No conto de Hans Christian Andersen as pessoas reconhecem então o óbvio: tinham sido enganadas - a criança tem razão.
Mas logo da primeira vez que ouvi esta história sempre achei esta última parte muito pouco plausível. Ainda me lembro, quando era eu próprio uma criança, de perguntar «mas então porque é que eles não pensam apenas que a criança é tola?»
A verdade é que quem protege uma crença ao ponto de imaginar um fato que não existe não vai reconsiderar apenas porque uma criança não partilha de tal crença - a explicação dada pelos alfaiates seria mais do que suficiente para que o episódio não constituisse qualquer problema.
Aquilo que me pareceria plausível, face a tal situação, é que todos aqueles que alegassem ver o fato do Rei o continuassem a fazer. Rir-se-iam um pouco das limitações da criança e o Rei continuaria o seu caminho - nu.
Nem o facto dos conselheiros e ministros verem cores e formas diferentes no fato tinha desmotivado a crença geral na beleza do mesmo. Não seria aquela criança que o faria.
E até tenho um bom exemplo: a religião.
O clero alega que existe um Deus que responde às orações, mas tudo indica que nenhum Deus responde a qualquer prece. Todos os efeitos que as pessoas alegam advir das orações poderiam acontecer sem as mesmas, e não acontecem com mais frequência com quem reza.
A verdade é essa: o cancro não poupa mais os crentes do que os ateus, nem nenhuma doença conhecida. Na verdade já se sabe que rezar por um doente não tem qualquer efeito na probabilidade deste se curar.
O mundo e a vida tem coisas maravilhosas e coisas terríveis, e para todas elas uma explicação natural mais convincente que qualquer explicação religiosa.
No entanto, mesmo que alguns ateus digam «estão a ver coisas que não existem e a enriquecer o clero inutilmente» - muitas pessoas encaram isso apenas como uma limitação dos ateus, que não conseguem ter acesso à «dimensão espiritual».
É como a limitação da criancinha que não conseguia ver o fato que não existia...
um artigo de João Vasco
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David Lynch: o cinema sem narrativa
Reparo que, a propósito do novo filme de David Lynch - INLAND EMPIRE - Jorge Leitão Ramos lança (*) a pergunta certa:
"Mas será que quando o cinema não é narrativo ainda é cinema?""
A pergunta fica no ar a conviver com a hipótese do cinema não narrativo ser já mais "instalação audio-visual" do que, propriamente, cinema. Mas o que um incondicional de Lynch não pode deixar de saudar é o modo particularmente feliz como JLR aborda/comenta/justifica a ausência da clássica narratividade:
"Eu acho que o cinema de Lynch não é feito para se perceber, no sentido narrativo. O cinema narrativo é o cinema em que uma coisa tem uma consequência, que depois dá origem a outra coisa. Este filme não tem nada disso. O que é curioso e interessante, neste filme, é que cada cena é legível, mas não cola com a anterior nem com a seguinte. O que não se compreende é o mosaico. Mas cada cena não só é legível como nos impele a olhar. Temos sempre vontade de saber para onde aquilo vai. Mas essa vontade é negada pelo filme, que nunca dá respostas. Não é por isso que o filme é mau. Nós já não nos preocupamos em entender a pintura em função do que lá está representado; a poesia já há muito que deixou de contar histórias ou de ser legível; a música, muito menos. O cinema é que está preso à sua matriz narrativa. E quando aparece alguma coisa que sai disso, essa coisa aparece como absolutamente estranha. O que eu gosto no filme é que não se percebendo nada, estamos sempre com vontade de perceber, de encontrar um fio."
É possível que a própria retórica se mostre, por vezes, também demasiado presa à matriz narrativa, porventura ainda a mais útil quando se trate de transferir uma ideia, mas nem sempre eficaz para fazer partilhar a emoção e o sentimento que António Damásio reconduz, como se sabe, à esfera da racionalidade. E depois, como diz Lynch:
"há muitas realidades. Há a realidade íntima das pessoas e há a realidade da superfície. O cinema pode mostrar todas elas. Se os filmes tiverem uma realidade de superfície, a experiência que as pessoas têm deles serão similares; mas se se forem tornando abstractos, as interpretações começam a multiplicar-se. O cinema pode ser abstracto e numa linguagem que entendemos muito mais do que dizemos entender." (*)
No cinema, como na retórica.
(*) in Actual, Expresso, 31 de Março 2007
http://retorica-pt.blogspot.com/
"Mas será que quando o cinema não é narrativo ainda é cinema?""
A pergunta fica no ar a conviver com a hipótese do cinema não narrativo ser já mais "instalação audio-visual" do que, propriamente, cinema. Mas o que um incondicional de Lynch não pode deixar de saudar é o modo particularmente feliz como JLR aborda/comenta/justifica a ausência da clássica narratividade:
"Eu acho que o cinema de Lynch não é feito para se perceber, no sentido narrativo. O cinema narrativo é o cinema em que uma coisa tem uma consequência, que depois dá origem a outra coisa. Este filme não tem nada disso. O que é curioso e interessante, neste filme, é que cada cena é legível, mas não cola com a anterior nem com a seguinte. O que não se compreende é o mosaico. Mas cada cena não só é legível como nos impele a olhar. Temos sempre vontade de saber para onde aquilo vai. Mas essa vontade é negada pelo filme, que nunca dá respostas. Não é por isso que o filme é mau. Nós já não nos preocupamos em entender a pintura em função do que lá está representado; a poesia já há muito que deixou de contar histórias ou de ser legível; a música, muito menos. O cinema é que está preso à sua matriz narrativa. E quando aparece alguma coisa que sai disso, essa coisa aparece como absolutamente estranha. O que eu gosto no filme é que não se percebendo nada, estamos sempre com vontade de perceber, de encontrar um fio."
É possível que a própria retórica se mostre, por vezes, também demasiado presa à matriz narrativa, porventura ainda a mais útil quando se trate de transferir uma ideia, mas nem sempre eficaz para fazer partilhar a emoção e o sentimento que António Damásio reconduz, como se sabe, à esfera da racionalidade. E depois, como diz Lynch:
"há muitas realidades. Há a realidade íntima das pessoas e há a realidade da superfície. O cinema pode mostrar todas elas. Se os filmes tiverem uma realidade de superfície, a experiência que as pessoas têm deles serão similares; mas se se forem tornando abstractos, as interpretações começam a multiplicar-se. O cinema pode ser abstracto e numa linguagem que entendemos muito mais do que dizemos entender." (*)
No cinema, como na retórica.
(*) in Actual, Expresso, 31 de Março 2007
http://retorica-pt.blogspot.com/
Por que razão há filósofos?
Todas estas questões indescritivelmente esquisitas sobre números, propriedades, indivíduos, espaço, tempo, causalidade, mentes, possibilidade, probabilidade, necessidade, obrigação, razões, leis, Deus... Não só são as questões individualmente esquisitas, como em conjunto não formam mais do que um caos, desafiando qualquer tentativa de as reduzir a uma sequência racional. E para mais nenhuma das questões parece alguma vez chegar a ser finalmente respondida. É realmente uma cena perturbadora, quando nos afastamos e contemplamos o todo. O mais penoso é o contraste que apresenta relativamente à ciência, tomada como um todo. Na verdade, dificilmente é possível a alguém [...] não se perguntar por que razão há-de haver filósofos, de todo em todo; ou pelo menos perguntar-se por que razão há-de haver tantos, pagando-se a todos grandes quantidades de dinheiro retirando-o a outras pessoas mais úteis.
A última questão é absolutamente irrespondível, na minha opinião. Mas a primeira penso que consigo responder. A pista vital para ter em mente é que as pessoas, incluindo os cientistas, são apenas pessoas, no final de contas: pobres criaturas cindidas e complicadas como o leitor. Tome-se o Professor AB, o nosso distinto geneticista, membro do tal-e-tal, que ganhou o prémio tal: que homem esperto ele deve ser! Bem, é verdade, de certo modo, mas ele não é uma essência vítrea de conhecimento genético; ele é também muitas outras coisas, e uma delas é que ele por acaso é um metodista cabeça de vento. Ou tome-se CD, um físico dos melhores; mas acontece que ele leva Yuri Geller a sério, ou acredita que a última física vindica a filosofia espiritualista de Berkeley. O Professor EF de matemática pura, à beira da reforma, começa a fazer os seus muito ocupados colegas perder a cabeça perguntando coisas como "Mas, no final de contas, o que raio é afinal um número?" GH acabou a sua carreira como economista mas a mola real da sua vida foi uma visão que ele apanhou de alguns filósofos do séc. XIX, de um paraíso no qual "as massas operárias" se emancipam. (Ele não se deu conta de que, onde ele vive, as massas deixaram à muito de ser operárias.) O Professor de História, IJ, nem sempre consegue calar as suas perplexidades sobre a inevitabilidade histórica, e dá consigo a perguntar, como os filósofos, quais são as condições de verdade de uma afirmação como "Hitler teria ganho a guerra se não tivesse atacado a Rússia". KL, o Professor de Medicina, ainda que nada mais o empurre nessa direcção, é levado pela sua nova tecnologia a enfrentar deliberações agonizantes sobre os deveres de um médico para com os seus doentes. E assim por diante. Por outras palavras, as pessoas inteligentes, entregues a si mesmas, acabarão por filosofar, mais tarde ou mais cedo, seja qual for o campo de trabalho intelectual a que se entreguem, ou mesmo que a nenhum se entreguem. O impulso para a filosofia é de facto tão natural e tão forte que nada se conhece, excepto o terror totalitarista, que consiga reprimi-lo em absoluto. Numa sociedade não totalitarista, pois, a filosofia será feita, e a única questão prática que resta é como haverá melhores hipóteses de ser bem feita, ou por quem.
E eis que chega o último facto. Há filósofos que pensaram durante mais tempo e melhor sobre a ética da medicina do que o professor de medicina alguma vez teve tempo de fazer. Há filósofos que pensaram durante mais tempo e melhor sobre a experiência das duas fendas do que os físicos. Há filósofos que pensaram mais tempo e melhor sobre os fundamentos da matemática do que alguma vez será provável que um matemático o faça. E assim por diante. Tenho consciência de que um filósofo não pode dizer isto da sua profissão sem trair uma certa arrogância. Contudo, é a verdade literal. E é uma justificação suficiente para a existência de uma classe de pessoas especialmente formadas em filosofia. Como classe, os filósofos nunca são bem vistos pelos seus colegas universitários. A acusação que nos lançavam costumava ser a de que andávamos perdidos em generalidades nebulosas. Hoje em dia a acusação é habitualmente ao contrário: que negligenciámos "as grandes questões" a favor de tecnicismos minuciosos e despropositados. Esta acusação é falsa, mas é inteiramente compreensível que a façam. O padrão de rigor em filosofia subiu imenso neste século, e este facto, só por si, é suficiente para explicar a fragmentação das grandes questões únicas em muitas questões mais pequenas, e o consequente abrandamento de todo o processo. A quem observa de fora, não podendo ver a floresta por causa das árvores, a coisa parece naturalmente como se jamais pudesse ter a mais remota conexão seja com o que for de interesse, de modo que um químico teórico, por exemplo, olhará provavelmente para nós pensando "Lá vai mais um maldito filósofo: para que é que os alimentamos?" Bom, estes pensamentos não são irracionais; mas estão errados. Ao mesmo tempo que nos desprezam, os nossos colegas têm também medo de nós. Também isto não é falho de fundamento racional! Em qualquer tipo de argumentação os filósofos são homens tenazes (alguns dos quais são mulheres), e a maior parte das pessoas não querem atravessar-se no nosso caminho mais do que uma ou duas vezes.
David Stove
Tradução de Desidério Murcho
Originalmente publicado na revista Quadrant (Julho, 1985)
http://www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/leit_pqfilosofos.html
A última questão é absolutamente irrespondível, na minha opinião. Mas a primeira penso que consigo responder. A pista vital para ter em mente é que as pessoas, incluindo os cientistas, são apenas pessoas, no final de contas: pobres criaturas cindidas e complicadas como o leitor. Tome-se o Professor AB, o nosso distinto geneticista, membro do tal-e-tal, que ganhou o prémio tal: que homem esperto ele deve ser! Bem, é verdade, de certo modo, mas ele não é uma essência vítrea de conhecimento genético; ele é também muitas outras coisas, e uma delas é que ele por acaso é um metodista cabeça de vento. Ou tome-se CD, um físico dos melhores; mas acontece que ele leva Yuri Geller a sério, ou acredita que a última física vindica a filosofia espiritualista de Berkeley. O Professor EF de matemática pura, à beira da reforma, começa a fazer os seus muito ocupados colegas perder a cabeça perguntando coisas como "Mas, no final de contas, o que raio é afinal um número?" GH acabou a sua carreira como economista mas a mola real da sua vida foi uma visão que ele apanhou de alguns filósofos do séc. XIX, de um paraíso no qual "as massas operárias" se emancipam. (Ele não se deu conta de que, onde ele vive, as massas deixaram à muito de ser operárias.) O Professor de História, IJ, nem sempre consegue calar as suas perplexidades sobre a inevitabilidade histórica, e dá consigo a perguntar, como os filósofos, quais são as condições de verdade de uma afirmação como "Hitler teria ganho a guerra se não tivesse atacado a Rússia". KL, o Professor de Medicina, ainda que nada mais o empurre nessa direcção, é levado pela sua nova tecnologia a enfrentar deliberações agonizantes sobre os deveres de um médico para com os seus doentes. E assim por diante. Por outras palavras, as pessoas inteligentes, entregues a si mesmas, acabarão por filosofar, mais tarde ou mais cedo, seja qual for o campo de trabalho intelectual a que se entreguem, ou mesmo que a nenhum se entreguem. O impulso para a filosofia é de facto tão natural e tão forte que nada se conhece, excepto o terror totalitarista, que consiga reprimi-lo em absoluto. Numa sociedade não totalitarista, pois, a filosofia será feita, e a única questão prática que resta é como haverá melhores hipóteses de ser bem feita, ou por quem.
E eis que chega o último facto. Há filósofos que pensaram durante mais tempo e melhor sobre a ética da medicina do que o professor de medicina alguma vez teve tempo de fazer. Há filósofos que pensaram durante mais tempo e melhor sobre a experiência das duas fendas do que os físicos. Há filósofos que pensaram mais tempo e melhor sobre os fundamentos da matemática do que alguma vez será provável que um matemático o faça. E assim por diante. Tenho consciência de que um filósofo não pode dizer isto da sua profissão sem trair uma certa arrogância. Contudo, é a verdade literal. E é uma justificação suficiente para a existência de uma classe de pessoas especialmente formadas em filosofia. Como classe, os filósofos nunca são bem vistos pelos seus colegas universitários. A acusação que nos lançavam costumava ser a de que andávamos perdidos em generalidades nebulosas. Hoje em dia a acusação é habitualmente ao contrário: que negligenciámos "as grandes questões" a favor de tecnicismos minuciosos e despropositados. Esta acusação é falsa, mas é inteiramente compreensível que a façam. O padrão de rigor em filosofia subiu imenso neste século, e este facto, só por si, é suficiente para explicar a fragmentação das grandes questões únicas em muitas questões mais pequenas, e o consequente abrandamento de todo o processo. A quem observa de fora, não podendo ver a floresta por causa das árvores, a coisa parece naturalmente como se jamais pudesse ter a mais remota conexão seja com o que for de interesse, de modo que um químico teórico, por exemplo, olhará provavelmente para nós pensando "Lá vai mais um maldito filósofo: para que é que os alimentamos?" Bom, estes pensamentos não são irracionais; mas estão errados. Ao mesmo tempo que nos desprezam, os nossos colegas têm também medo de nós. Também isto não é falho de fundamento racional! Em qualquer tipo de argumentação os filósofos são homens tenazes (alguns dos quais são mulheres), e a maior parte das pessoas não querem atravessar-se no nosso caminho mais do que uma ou duas vezes.
David Stove
Tradução de Desidério Murcho
Originalmente publicado na revista Quadrant (Julho, 1985)
http://www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/leit_pqfilosofos.html
Claro que sim
"A forma como fui tratado na Independente foi impecável"
José Sócrates
E foi. Sobre isso não resta hoje qualquer dúvida.
http://retorica-pt.blogspot.com/
José Sócrates
E foi. Sobre isso não resta hoje qualquer dúvida.
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PUB
Ser engenheiro é fácil... É como encontrar um trevo na tromba de um elefante.
http://www.lobi-do-cha.blogspot.com/
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Há vida para além do canudo
Há dias, penso que passou despercebida a intenção do ministro da Saúde de privatizar a gestão da ADSE. Deste ministro famoso pelas suas posições liberais não é surpresa uma proposta deste tipo.
Relembre-se que os funcionários públicos aumentaram a sua comparticipação para a ADSE este ano em 0,5% o que fez diminuir o ridículo "aumento" de 1,5% nos vencimentos para apenas 1%.
Lembre-se também que entraram recentemente em vigor as novas taxas "moderadoras para internamentos e cirurgias. (É sabido como os portugueses se pelam por uma boa cirurgia e por uma prolongado internamento!!!).
É bom relembrar que há mais vida em Portugal para além do percurso académico de Sócrates. E não esquecer as "marcas" liberais do governo "socialista" que nos desgoverna.
http://edutica.blogspot.com/
Relembre-se que os funcionários públicos aumentaram a sua comparticipação para a ADSE este ano em 0,5% o que fez diminuir o ridículo "aumento" de 1,5% nos vencimentos para apenas 1%.
Lembre-se também que entraram recentemente em vigor as novas taxas "moderadoras para internamentos e cirurgias. (É sabido como os portugueses se pelam por uma boa cirurgia e por uma prolongado internamento!!!).
É bom relembrar que há mais vida em Portugal para além do percurso académico de Sócrates. E não esquecer as "marcas" liberais do governo "socialista" que nos desgoverna.
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Toda a Razão - 1
No Prós e Contras de ontem a discussão extravasou felizmente do epifenómeno - significativo de uma grave tendência, mas ainda assim epifenómeno - da situação da Universidade Independente.
Graças a um conjunto de intervenções desassonbradas (perdoe-se-me o lugar-comum) de José Tribolet, foram abordadas questões que, essas sim, tocam pontos essenciais gravdes do nosso sistema de ensino superior. Entre outros, que só vi cerca de uma hora de programa:
1. O problema da qualidade do ensino superior, sendo eventualmente mais grave em parte do seu sector privado, também se estende a muitas instituições do ensino público e a responsabilidade por isso é, em última (primeira?) instância do Estado, que se demitiu de um papel de efectiva regulação e fiscalização do sistema, para além de umas inspecções rotineiras.
2. A avaliação realizada por diversas comissões e grupos de trabalho é de fraca qualidade e é transformada normalmente em relatórios vagos e inócuos nas rcomendações ou então são perfeitamente esquecidos até ao despoletar de uma qualquer crise ocasional, de onde saem da poeira das gavetas.
3. O clima geral de cumplicidade e silêncio em todo este processo “fechado”, resultante (acrescento eu) de todos conhecerem todos e afinal ninguém querer verdadeiramente incomodar ninguém para também não ser futuramente incomodado, é responsável pelo agravamento de situações de desregulação do sistema e de manutenção ou degradação das condições de funcionamento (administrativo, pedagógico) das instituições. A regra de ouro é dar ligeiros puxões de orelhas, mas deixar tudo na mesma, varrendo para debaixo da carpete o que incomoda mais notoriamente, na esperança que ninguém note muito e o tempo passe.
Como Tribolet afirmou, e cito de forma não necessariamente fiel, «toda a gente se cala para ver se também se safa». Se não foi assim, foi algo muito parecido. E é tristemente verdade. As universidade públicas e privadas - e também o subsector do politécnico, nunca o esqueçamos - funcionam na base de “capelinhas”. Nas maiores instituições, normalmente públicas, há espaço para várias dessas capelinhas com os respectivos fiéis. Nas privadas, em geral, esse espaço é menor e quando faltam as cadeiras dão-se lutas acesas e sangrentas pelo poder. E lá se descobrem os “podres”.
Mas, com a actual retracção da procura por razões demográficas, do ensino superior a crise é quase generalizada e a instabbilidade é muita. Curiosamente, este deveria ser o momento ideal para se fazer a selecção natural - se é verdade que acreditam no liberalismo - entre as instituições que têm condições ou não para sobreviver, já que os anscimentos eguiram a lógica da geração espontânea.
Mas o que me parece é que isso implicaria verdadeira coragem política. E isso parece que escasseia quando se trata de colocar em ordem os patronatos e clientelas que se instalaram no Ensino Superior, em especial naqueles projectos privados que nasceram em tornos de “interesses” e se preocuparam em recrutar ao longo do tempo figuras com potencial valor político.
http://educar.wordpress.com/
Graças a um conjunto de intervenções desassonbradas (perdoe-se-me o lugar-comum) de José Tribolet, foram abordadas questões que, essas sim, tocam pontos essenciais gravdes do nosso sistema de ensino superior. Entre outros, que só vi cerca de uma hora de programa:
1. O problema da qualidade do ensino superior, sendo eventualmente mais grave em parte do seu sector privado, também se estende a muitas instituições do ensino público e a responsabilidade por isso é, em última (primeira?) instância do Estado, que se demitiu de um papel de efectiva regulação e fiscalização do sistema, para além de umas inspecções rotineiras.
2. A avaliação realizada por diversas comissões e grupos de trabalho é de fraca qualidade e é transformada normalmente em relatórios vagos e inócuos nas rcomendações ou então são perfeitamente esquecidos até ao despoletar de uma qualquer crise ocasional, de onde saem da poeira das gavetas.
3. O clima geral de cumplicidade e silêncio em todo este processo “fechado”, resultante (acrescento eu) de todos conhecerem todos e afinal ninguém querer verdadeiramente incomodar ninguém para também não ser futuramente incomodado, é responsável pelo agravamento de situações de desregulação do sistema e de manutenção ou degradação das condições de funcionamento (administrativo, pedagógico) das instituições. A regra de ouro é dar ligeiros puxões de orelhas, mas deixar tudo na mesma, varrendo para debaixo da carpete o que incomoda mais notoriamente, na esperança que ninguém note muito e o tempo passe.
Como Tribolet afirmou, e cito de forma não necessariamente fiel, «toda a gente se cala para ver se também se safa». Se não foi assim, foi algo muito parecido. E é tristemente verdade. As universidade públicas e privadas - e também o subsector do politécnico, nunca o esqueçamos - funcionam na base de “capelinhas”. Nas maiores instituições, normalmente públicas, há espaço para várias dessas capelinhas com os respectivos fiéis. Nas privadas, em geral, esse espaço é menor e quando faltam as cadeiras dão-se lutas acesas e sangrentas pelo poder. E lá se descobrem os “podres”.
Mas, com a actual retracção da procura por razões demográficas, do ensino superior a crise é quase generalizada e a instabbilidade é muita. Curiosamente, este deveria ser o momento ideal para se fazer a selecção natural - se é verdade que acreditam no liberalismo - entre as instituições que têm condições ou não para sobreviver, já que os anscimentos eguiram a lógica da geração espontânea.
Mas o que me parece é que isso implicaria verdadeira coragem política. E isso parece que escasseia quando se trata de colocar em ordem os patronatos e clientelas que se instalaram no Ensino Superior, em especial naqueles projectos privados que nasceram em tornos de “interesses” e se preocuparam em recrutar ao longo do tempo figuras com potencial valor político.
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