sexta-feira, março 31, 2006

A OPA da Sonae sobre a PT-Telecom:O que é, porque razão foi possível, que consequências e objectivos?

Cerca de 74,2% do capital da PT já se encontra em mãos de estrangeiros. Para além disso, o grupo Estado, representado pela CGD e pelo Instituto de Participações Financeiras do Estado, possui apenas 7,02% do capital da PT. Esta situação, resultante de um processo de privatização em que a defesa dos interesses de desenvolvimento do País e de uma empresa estratégica estiveram totalmente ausentes, ligada ainda ao facto da dispersão do capital por múltiplas entidades que estão mais interessadas em ganhar dinheiro do que numa orientação estratégica que coloque esta grande empresa ao serviço do País, criou as condições que tornaram possível a OPA contra a PT.

Embora a OPA da Sonae ainda não se tenha concretizado, a PT já está a sofrer consequências, estando a sua gestão bloqueada em muitos aspectos. Assim, como consta do ponto 11 do anúncio da OPA, a Sonae, apoiando­‑se numa interpretação alargada do art.º 181 do Código de Valores Mobiliários, pretende que a administração apenas se limite à gestão corrente, dita “gestão normal”.

O desmembramento da PT, através da venda de alguns dos seus mais importantes activos (rede de cobre ou de cabo; venda de participações internacionais, fusão da TMN e Optimus, etc.), que faria a PT desaparecer, eventualmente até o nome, parece ser o grande objectivo da Sonae, pois assim eliminaria o seu concorrente mais importante na área das telecomunicações. Este desmembramento tornaria certamente inviáveis, sob o ponto de vista económico e financeiro, áreas importantes da empresa para o desenvolvimento do País e para a prestação de um serviço público, nomeadamente aquelas em que estão afectos mais trabalhadores (ex.: inovação, rede fixa). Este desmembramento, que se traduziria pela venda de activos importantes da PT, também seria imposta pela lógica financeira férrea, já que a Sonae com a concretização da OPA ficaria altamente endividada (mais de 15.000 milhões de euros), a que se juntariam as dívidas da PT de muitos milhões. E, para cumprir os compromissos resultantes de tais dívidas com aquela dimensão, a Sonae teria de vender activos importantes da PT.

Para além do serviço público que presta e da inovação que impulsiona, os trabalhadores também poderiam ser gravemente afectados pelo desmembramento da PT. E isto porque podia suceder que os novos proprietários, com o objectivo de “rentabilizar” áreas de negócio que hoje funcionam apoiadas nas áreas mais rentáveis, procedessem a elevados despedimentos, e que pudessem surgir dificuldades para pagar a dívida de cerca de 2.400 milhões de euros (480 milhões de contos) que a PT tem ao Fundo de Pensões, que assegura o pagamento de pensões aos seus trabalhadores, e garantir o financiamento do Plano de Saúde, pois as áreas com mais trabalhadores são as consideradas, sob o ponto de vista económico e financeiro, como as menos rentáveis. .

É ainda possível aos accionistas da PT e principalmente ao Estado impedir que a OPA avance, e defender esta empresa estratégica para o desenvolvimento do País . Para isso basta que não aprovem na Assembleia Geral a possibilidade que um accionista, exercendo actividades concorrentes com a PT como é a Sonae, possa ter mais de 10% do seu capital como permite o art.º 9 dos Estatutos da PT. Igualmente, de acordo com o art.º 14 dos mesmo Estatutos, o Estado, sozinho, pode impedir essa aprovação com base no poder que decorre das acções da categoria A, ou seja, da chamada golden share que possui.
Finalmente, há ainda um outro aspecto importante que tem passado despercebido à opinião pública e aos media. Alguns órgãos de comunicação divulgaram que se a OPA se concretizasse os principais accionistas actuais iriam obter uma mais­‑valia de 5.000 milhões de euros, ou seja, de 1.000 milhões de contos. O que ninguém ainda referiu é que, se isto for verdade, este “lucro” de 1.000 milhões de contos não pagará nada de impostos. É uma espécie de euromilhões multiplicado muitas vezes. E isto porque, de acordo a alínea a) do n.º 2 do art.º 10º do Código do IRS estão excluídas do pagamento de impostos «as mais­‑valias provenientes da venda de acções detidas pelos seus titulares mais de 12 meses». A injustiça fiscal que existe em Portugal é mais uma vez flagrante e chocante.


http://resistir.info/portugal/opa_pt_sonae.html

quinta-feira, março 30, 2006

A Palestina. Que Palestina?

Subtilmente mas imperceptivelmente, ao longo dos últimos anos vários dirigentes mas também órgãos de comunicação social europeus alteraram a forma de abordar o drama da Palestina e a solução do conflito israelo-palestiniano. Durante aquilo que foi chamado o processo de Oslo, era claro que a solução passaria por uma negociação de conjunto fundada numa retirada das tropas israelitas dos Territórios Ocupados em 1967, inclusive da parte oriental de Jerusalém, no estabelecimento de fronteiras duradouras entre o Estado palestiniano e Israel, e numa solução aceitável para os refugiados palestinianos. As negociações de Camp David de Julho de 2000, tal como as de Taba em Janeiro de 2001 incidiam sobre estes contenciosos.
Os últimos anos foram pontuados pela deflagração da Segunda Intifada, no fim de Setembro de 2000, pela sangrenta repressão posta em prática pelo exército israelita desde os primeiros dias uns meses antes dos primeiros atentados suicidas, pela escalada de violência, pela eleição de Ariel Sharon como primeiro­ministro, pela multiplicação dos atentados contra civis israelitas, e depois pela retomada do controlo total dos Territórios Ocupados pelo exército israelita. No entanto, do ponto de vista do direito internacional, e seja qual for a apreciação que se possa ter sobre a estratégia e a táctica da Autoridade Palestiniana, os problemas de base permanecem: a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental continuam a ser territórios ocupados, Israel continua a ser uma potência ocupante, e a criação de um Estado palestiniano independente continua a ser a chave para a paz.
Contudo, se se ler as declarações dos dirigentes europeus e se seguir a actualidade repercutida na comunicação social, constata-se uma inflexão de perspectiva: é doravante aos palestinianos, ou seja aos ocupados, que cabe provar a sua boa vontade. As referências da União Europeia às obrigações de um e de outro campo escondem mal a ligação à visão do primeiro-ministro israelita, quando afirmam que qualquer avanço no caminho para a paz depende da Autoridade Palestiniana, que é esta que deve reformar­se, liquidar os grupos armados e dar provas da sua vontade de coexistir com Israel. Esta ligação é também muito perceptível na comunicação social, que tende a apagar a realidade da política israelita no terreno, a subestimar o seu carácter repressivo e contrário ao direito internacional e a ocultar os crimes de guerra cometidos.
Em França, as violentas campanhas levadas acabo contra certos jornalistas e intelectuais, contribuíram para paralisar uma parte dos jornalistas: quem desejaria ser qualificado, mesmo erradamente, como anti-semita?
A evacuação da Faixa de Gaza durante o Verão de 2005 representou, deste ponto de vista, um outro exemplo edificante. Durante semanas, a comunicação social internacional incidiu os projectores sobre alguns milhares de colonos evacuados, detendo-se extensamente sobre o seu sofrimento e sobre as lágrimas dos soldados encarregados de os evacuar. Poucos jornalistas recordaram que a colonização representa, segundo as normas do Tribunal Penal Internacional, um crime de guerra. Que muitos destes Colonos são fanáticos prontos a disparar sobre os civis palestinianos. Que dezenas de milhares de palestinianos de Gaza foram deslocados durante as ultimas décadas sem que tal comovesse minimamente o Ocidente.
Pior ainda, a evacuação de Gaza foi apresentada como um gesto significativo de Ariel Sharon. Tal gesto permitiu­lhe reforçar o crédito de que dispunha nos Estados Unidos e na Europa, abrindo­lhe as portas a uma visita oficial, com grande pompa, em França. No entanto, como recordam as Nações Unidas, Gaza continua a ser um território ocupado, onde as tropas israelitas fazem numerosas incursões – o governo israelita acaba até de decidir instalar uma zona de segurança no território palestiniano, evacuando uma parte da população. A ameaça de cortar a electricidade em toda a Faixa de Gaza constitui também uma punição colectiva, contrária às Convenções de Genebra. A organização norte-americana Human Rights Watch assinalava, num comunicado de 23 de Dezembro de 2005, que uma tal medida representaria uma violação das leis da guerra, tal como o era o facto de Telavive ter proibido, entre 24 de Setembro e 12 de Novembro de 2005,
a entrada no seu território aos 5000 trabalhadores palestinianos, proibição essa que veio juntar-se aos padecimentos de uma população em que 68 por cento dos habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza.
A colonização está a avançar rapidamente. A população total dos colonos (...) é agora de 436.000, dos quais 190.000 em Jerusalém e 246.000 na Cisjordânia. Apenas 8.475 colonos ilegais, ou seja 2 por cento deste total evacuaram Gaza e a região de Jenine. Durante o mesmo período, a população dos colonatos da Cisjordânia aumentou maciçamente, tendo agora mais 15.800 colonos. As consequências da construção do muro de separação na cidade de Jerusalém são confirmadas por um relatório recente dos chefes de missão da União Europeia em Jerusalém Oriental.
Os cônsules europeus em Jerusalém sublinham que as acções de Israel em Jerusalém constituem uma violação dos compromissos assumidos com o Roteiro para a Paz e do direito internacional. Qual o resultado de tais constatações? A União Europeia decidiu, corajosamente, não publicar este relatório...
A vitória do Hamas nas eleições locais aconteceram em terreno fértil. As pessoas estão fartas das mentiras que acompanharam as suas vidas durante os treze últimos anos desde a assinatura dos Acordos de Oslo, a saber, que Oslo significa a paz, que a criação de uma Autoridade Palestiniana é uma vitória e um símbolo que abolirá todos os seus fracassos, que a Autoridade é um Estado.
O Hamas, no entanto não deve ser reabilitado pois a sua propaganda apoia-se, em três mentiras: o movimento islamita afirma que a Faixa de Gaza foi libertada, ao passo que isso resulta de uma decisão unilateral israelita; que esta evacuação resulta da luta armada, ao passo que os atentados suicidas apenas reforçaram o apoio da opinião pública israelita a todas as formas de tomada de controlo da Cisjordânia; que as eleições legislativas de Janeiro de 2006, nas quais o Hamas decidiu participar, são fundamentalmente diferentes das de 1996, ao passo que se desenrolam no mesmo quadro, o que foi fixado pelos Acordos de Oslo.
Os apelos à democratização da Autoridade Palestiniana parecem igualmente vazios de sentido. Durante a eleição presidencial de Janeiro de 2005, era claro que a União Europeia apenas queria um vencedor, Mahmud Abbas. As inúmeras pressões exercidas pela Fatah sobre a comissão eleitoral não foram, por isso, denunciadas pelos observadores internacionais nem difundidas pela comunicação social. Altos representantes da União Europeia para a Política Externa e de Segurança Comum ameaçam agora retirar à Autoridade Palestiniana o apoio de Bruxelas em caso de vitória do Hamas no escrutínio de Janeiro de 2006. Em suma, a Europa dos Vinte e Cinco aceita as eleições, desde que sejam eleitos os seus candidatos preferidos...
Como poderemos surpreender-nos, assim sendo, com o facto de a União Europeia estar a reforçar as relações com Israel, que esteja mais pronta a pressionar a Autoridade do que a aplicar as sanções previstas pelos Acordos em caso de violação dos direitos humanos, violações que são diárias nos Territórios Ocupados, ou a receber os dirigentes israelitas para os encorajar a prosseguirem na mesmo sentido, não obstante esse caminho conduzir directamente à anexação de uma grande parte da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.


O processo de paz aberto pelos Acordos de Oslo está morto e enterrado. Pode pensar-se que ele teria podido representar uma via para a resolução do conflito, que não se aproveitaram as oportunidades. Seja como for, já não é possível voltar atrás. Será possível ter esperança na aplicação do Roteiro para a Paz depois das próximas eleições? Não, porque a equação permanece a mesma: os palestinianos continuam a viver sob ocupação, a sua vida quotidiana é insuportável, as suas aspirações de independência são ultrajadas. É ilusório pensar que se poderá assistir, num período próximo, a uma mudança de orientação do governo israelita sem pressões internacionais sustentadas no sentido de obrigar à aplicação do direito internacional, apenas o direito internacional, todo o direito internacional. A resistência dos palestinianos e a mobilização da fracção pacifista da opinião pública israelita devem ser apoiadas por sanções internacionais.
Mas esse momento ainda se encontra muito longínquo.


http://www.infoalternativa.org/moriente/mo037.htm

quarta-feira, março 29, 2006

Os franceses sabem protestar

A França está ao rubro com mani­festações contra uma lei que permite despedir jovens nos primeiros dois anos de trabalho, sem justifi­cação, até aos 26 anos de idade. É verdade que Ignacio Ramonet no texto Geração rasca diz que: “Há em França como que um ar de Maio de 68. De novo universidades em greve, estudantes a protestar, barricadas no Bairro Latino, confrontos com os guardas de assalto... Mas as aparências terminam aí. Ainda que as imagens sejam semelhantes, e muitos estudantes retomem alguns dos lemas míticos daquele Maio lendário – «Debaixo do paralelo, a praia» –, a história não se está a repetir.
Com um crescimento económico avassalador, a França era há quase 40 anos uma sociedade próspera, com tanta oferta de emprego que tinha de importar milhões de trabalhadores estrangeiros. Os que se sublevaram então não o fizeram por temor a não encontrar trabalho, mas – e aí reside todo o mistério simbólico daquela explosão – para protestar contra uma sociedade muito conservadora em matéria de costumes e cada vez mais consumista, que podia castrar os ideais de liberdade de toda uma geração.” A situação é diferente, a luta é diferente. Aí Ramonet tem razão: No entanto a luta é igualmente justa.
O Governo francês pensava que os estu­dantes, ocupados com a aproxima­ção dos exames, iam estar distraídos. Enganou-se. Os jovens foram para as ruas dizer o que pensam de uma lei que quer tratá-los como mercadoria. Cerca de 50 das 80 universidades estão fechadas, mostrando o apoio que os alunos têm dos professores e reitores. Trabalhadores e sindicatos estão também nas ruas. O povo francês não se deixa ficar: assim lutou já nas ruas há 200 anos. Ao contrário, os portugueses são umas ovelhas que seguem tudo o que lhes mandam. Veja-se o caso dos professores…
Os franceses fazendo jus à tradição, à sua tradição, não vão desistir. Ou o governo recua e retira a lei ou então o governo terá grandes hipóteses de ir ao fundo. É essa a minha aposta.
E é bom que assim seja. Porque senão muito brevemente teríamos o CPE (contrato do primeiro emprego) noutros países e nomeadamente em Portugal, muito provavelmente pela mão, não do próximo governo, mas já do governo pseudo socialista de Sócrates.
Pelos próximos tempos somos todos franceses!

terça-feira, março 28, 2006

Quando a imprensa serve o poder

As recentes notícias que indicam que cadeias de informação se mantiveram mudas no que respeita às prisões secretas americanas na Europa de Leste durante quase um ano, irromperam no meio do escândalo de espionagem da NSA, uma das agências de segurança do governo. Ambos os eventos reflectem o imenso poder do Estado; um poder para calar a imprensa quando lhes convém; e um poder para tranquilamente violar a Constituição dos Estados Unidos à vontade.
Hoje, a administração Bush ressuscitou uma velha ideia de Nixon: privilégio executivo; ou a noção de que o que quer que o Presidente faça é inerentemente constitucional. Esta não é a primeira vez que a Casa Branca matou, ou atrasou uma história; nem será a última. Nem é nova a ideia de que os presidentes procuram expandir o seu poder, sem consideração séria das cláusulas na constituição.
Presidentes, tanto republicanos como democratas, espiaram americanos, invadiram a sua privacidade, colocar escutas nos seus telefones e invadiram as suas casas. A este respeito, o FBI serviu como uma espécie de polícia presidencial, que espiou, escutou qualquer pessoa que o seu patrão na Casa Branca quisesse.
Os americanos foram criados com o dogma da Primeira Emenda, que garante entre outras coisas a liberdade de imprensa. O que é menos conhecido é quantas vezes a imprensa entregou essas liberdades à Casa Branca, ao FBI, à CIA ou a alguma outra entidade governamental.
Lembram-se da Baía dos Porcos? Esta era uma invasão apoiada pela CIA a Cuba, com exilados cubanos como testas­de-ferro. A invasão de 17 de Abril de 1961 foi esmagada pelo exército cubano. O New York Times soube da invasão e planeou denunciá-la editorialmente. O presidente Kennedy persuadiu o Times a não publicar a sua denúncia, alegando segurança nacional. O resto é história.
A CIA era dona de centenas de centros noticiosos, e assim empregou muitos jornalistas que não sabiam ou não queriam saber para quem trabalhavam. Usou os serviços de pelo menos 50 jornalistas tanto cá como no estrangeiro, entre eles escritores para vários
periódicos publicados em inglês em todo o mundo. Os casos são, muito literalmente, uma legião nos quais o governo mudou histórias, fez com que fossem transferidos repórteres ou fez com que outras histórias fossem mortas.
Mesmo agora, no meio do escândalo de espionagem da NSA de milhares de americanos, as elites políticas tomaram os jornalistas como alvo, mas não aqueles que cometeram a espionagem ilegal!
Existe uma razão pela qual a circulação na maioria dos jornais está a descer rapidamente; e enquanto a maioria aponta a falta de interesse entre os jovens, seguramente outro elemento é a desconfiança.
Só é preciso olhar para esta guerra e para o papel dos media como acompanhantes do poder imperial, para ver porque razão existe tanta desconfiança massiva.
A imprensa, demasiado frequentemente, reflecte o mundo dos poderosos, não o do povo. Começa observando os festins dos famosos e dos poderosos, e depois, através do poder dos media, torna-se num convidado do festim. Os interesses dos poderosos passam a ser os seus interesses, e a cobertura certamente o reflecte.
As maiores cadeias de notícias lançaram apresentadores e jornalistas que se tornaram personalidades ricas, a milhas de distância do melhor jornalismo, ou do jornalismo de rua que iniciou as suas carreiras. À medida que se afastavam cada vez mais das ruas, assim também o seu produto, que deveria agora ser chamado de escolha limitada.
Chamar a isto uma imprensa livre é simplesmente uma grandessíssima treta.


http://www.infoalternativa.org/midia/midia025.htm

domingo, março 26, 2006

O desemprego real poderá atingir 700.000 pessoas em 2007

A manter-se o actual ritmo de crescimento do desemprego, em 2006 o desemprego real poderá atingir 644.000 portugueses e, em 2007, 700.000. O desemprego é o problema mais grave que o País enfrenta neste momento, muito mais grave que o défice orçamental. Em Portugal, os números oficias do desemprego estão muito abaixo dos números reais do desemprego. De acordo com dados publicados pelo INE, no 4º trimestre de 2005, o desemprego oficial atingiu 447.300, mas o desemprego corrigido, que inclui os desempregados efectivos que não são considerados nos números oficiais de desemprego, alcançou 579.400. Em 2005, a taxa oficial de desemprego era de 8%, mas a taxa corrigida de desemprego era já de 10,4%.
Em 2005 verificou-se destruição líquida de emprego, sendo o volume de emprego no fim do ano de 2005 inferior ao de 2004. Por outro lado, a diferença entre a população activa e a população empregada aumentou, entre 2000 e 2005, de 194.500 para 447.800, o que significa que uma parte crescente da população activa que procura emprego não o consegue encontrar.
Se o ritmo de crescimento de desemprego registado nos últimos quatro anos se mantiver, consequência também da política centrada na obsessão pelo défice, 644.100 portugueses poderão estar no desemprego em 2006, e cerca de 700.000 em 2007.
Para além do aumento vertiginoso do desemprego também a população com emprego precário, que inclui os trabalhadores contratados a prazo e os chamados independentes, não pára de aumentar. Em 1995 eram 1.169.100; em 2004 já eram 1.466.000 e, em 2005, já atingiam 1.481.000. Assim, em 2005, quase 29 em cada 100 empregados tinham um emprego precário.
A economia existe para servir as pessoas, e quando não garante o direito ao trabalho, que é vital à sobrevivência nas sociedades modernas e à dignidade humana, deixa de servir os fins para que foi criada. Uma política económica avalia-se pelos seus resultados. E quando essa política económica, centrada na obsessão pelo défice, determina baixíssimas taxas de crescimento e mesmo estagnação económica; redução do investimento; aumento vertiginoso do desemprego; diminuição da competitividade; elevado défice externo e endividamento rápido das famílias, do País e das empresas, é porque está errada e deve ser alterada com urgência. E não será prometendo radiosos e falsos amanhãs em troca dos sacrifícios actuais ou, para utilizar a linguagem governamental, a resolução no futuro indeterminado, como por milagre, dos graves problemas que enfrenta o país em troca da consolidação orçamental, que conseguirá ocultar o carácter ruinoso da política que está a ser seguida e a necessidade de a alterar rapidamente.

sexta-feira, março 24, 2006

Técnicas para a manipulação da sociedade

1- A estratégia da diversão

Elemento primordial do controle social, a estratégia da diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e da mutações decididas pelas elites políticas e económicas, graças a um dilúvio contínuo de distracções e informações insignificantes.A estratégia da diversão é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar pelos conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia e noutros campos do conhecimento.

2- Criar problemas, depois oferecer soluções


Este método também é denominado problema-reacção-solução. Primeiro cria-se um problema, uma situação destinada a suscitar uma certa reacção do público, a fim de que seja ele próprio a exigir as medidas que se deseja fazê-lo aceitar. Exemplo: deixar desenvolver-se a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público passe a reivindicar leis securitárias em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para fazer como um mal necessário o recuo dos direitos sociais e desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia do esbatimento


Para fazer aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la progressivamente, de forma gradual, ao longo de 10 anos. Foi deste modo que condições socio-económicas radicalmente novas foram impostas durante os anos 1980 e 1990. Desemprego maciço, precariedade, flexibilidade, deslocalizações, salários que já não asseguram um rendimento decente, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas brutalmente.

4- A estratégia do diferimento

Outro modo de fazer aceitar uma decisão impopular é apresentá-la como dolorosa mas necessária, obtendo o acordo do público no presente para uma aplicação no futuro. É sempre mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro porque a dor não será sofrida de repente. A seguir, porque o público tem sempre a tendência de esperar ingenuamente que tudo irá melhor amanhã e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Finalmente, porque isto dá tempo ao público para se habituar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar o momento.

5- Dirigir-se ao público como se fossem crianças

A maior parte das publicidades destinadas ao grande público utilizam um discurso, argumentos, personagens e um tom particularmente infantilizado, muitas vezes próximos do debilitante, como se o espectador fosse uma criança pequena ou um débil mental. Se nos dirigimos a uma pessoa como se ela tivesse doze anos de idade, devido à sugestibilidade, ela terá, com uma certa probabilidade, uma resposta ou uma reacção tão destituída de sentido crítico como aquela de uma pessoa de 12 anos.

6- Apelar antes ao emocional do que à reflexão

Apelar ao emocional é uma técnica clássica para iludir a análise racional e, portanto, o sentido crítico dos indivíduos. Além disso, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para ali implantar ideias, desejos, medos, pulsões ou comportamentos...

7 – Manter o público na ignorância e na estupidez

Actuar de modo a que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para o seu controle e a sua escravidão. A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser da espécie mais pobre, de tal modo que o fosso da ignorância que isola as classes mais baixas das classes superiores seja e permaneça incompreensível pelas classes mais baixas.
8- Encorajar o público a comprazer-se na mediocridade

Encorajar o público a considerar fixe o facto de ser idiota, vulgar e inculto...

9- Substituir a revolta pela culpabilidade


Fazer crer ao indivíduo que ele é o único responsável pela sua infelicidade, devido à insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades ou dos seus esforços. Assim, ao invés de se revoltar contra o sistema económico, o indivíduo auto desvaloriza-se e auto culpabiliza-se, o que engendra um estado depressivo que tem como um dos efeitos a inibição da acção. E sem acção, não há revolução!...


10- Conhecer os indivíduos melhor do que eles se conhecem a si próprios


No decurso dos últimos cinquenta anos, os progressos fulgurantes da ciência cavaram um fosso crescente entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dirigentes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o sistema chegou a um conhecimento avançado do ser humano, tanto física como psicologicamente. O sistema chegou a conhecer melhor o indivíduo médio do que este se conhece a si próprio. Isto significa que na maioria dos casos o sistema detém um maior controlo e um maior poder sobre os indivíduos do que os próprios indivíduos.

http://perso.wanadoo.fr/metasystems/Manipulations.html

segunda-feira, março 20, 2006

Carta Aberta


Caro João Freire director da Ideia


Saudações! Escrevo esta carta para levantar a seguinte questão:


Seria interessante, para não dizer imperioso, a revista A Ideia dedicar um seu número ou se não puder um artigo sobre a situação que não é original mas que levanta inúmeras reflexões com diversos enquadramentos sobre ter actualmente e já durante um ano um seu elemento ou ex-elemento - seria importante esse esclarecimento - nas fileiras do governo.
Trata-se da ministra da educação, autêntico cão de guarda do governo asocrático, e que se arrisca a ficar na história da deseducação em Portugal pelos piores motivos.

Uma mulher que foi durante um quarto de século anarquista, ou pelo menos como tal
se apresentava, esteve ligada a diversas iniciativas relacionadas com uma postura de vida e pensamento anarquista e agora ministra, elemento do aparelho ideológico dominante e disposta a pôr na ordem os professores esses incapazes de criar sucesso escolar, esses preguiçosos que trabalham meia dúzia de horas por semana...

Mais: Essa reflexão impõe-se como obrigatória! Que anarquistas reles são estes que logo à primeira oportunidade se vendem ao poder apesar de terem passado uma parte substancial a defenderem o fim desse mesmo poder!
Onde está o problema? Do poder que tudo vai conseguindo absorver ou dos anarquistas reles da treta que dão o salto para o outro lado da barricada quando essa oportunidade acontece?

Aguardando uma resposta à altura dos acontecimentos
Saudações proudhonianas (sempre)


Francisco Trindade

domingo, março 19, 2006

O consumismo como nova forma de exploração

As formas clássicas de exploração do homem pelo homem já denunciadas pelos principais pensadores do socialismo desde o século dezanove, ainda que perduram, uma vezes maquilhadas outras na sua expressão mais cruel, estão a ser complementadas por outras formas de exploração que se vêm desenvolvendo e se impõem fundamentalmente nas chamadas sociedades desenvolvidas.Refiro-me a essa nova forma de exploração do indivíduo e da sociedade que é representada pelo consumismo. Um nova forma de exploração que aparece no século XX e cujas consequências vão para além dos efeitos negativos e dolorosos que sempre teve e continua a ter a exploração dos trabalhadores sob o sistema capitalista de produção.
A Cimeira do Rio de Janeiro de 1992 alertou para que a modificação dos actuais níveis de consumo no mundo industrializado, isto é, a eliminação do consumismo, deveria ser uma das tarefas principais da humanidade para o próximo século, pois só assim se poderia salvar o planeta da catástrofe que se avizinha. Já se passaram catorze anos desde a realização daquela cimeira convocada pelas Nações Unidas, e descontando as centenas de discursos, o incumprimento de compromissos e as mil promessas dos governantes dos países ricos e industrializados, a verdade é que muito pouco se fez. Enquanto isso, a consciência do perigo mortal vai crescendo e os efeitos da deterioração ambiental multiplicam-se.
Ninguém duvida que as principais vítimas a sofrer com as consequências da grave deterioração do meio ambiente são os habitantes pobres dos países menos desenvolvidos. São os que não têm automóveis, nem aparelhos de ar condicionado, provavelmente nem sequer frigoríficos, ou seja, não são eles que contaminam a terra e, não obstante, é sobre eles que recai mais directamente os efeitos das emissões de dióxido de carbono causadoras do aquecimento do planeta e do efeito-estufa. Também são eles que, quando estão doentes, não têm hospitais, médicos nem medicamentos suficientes como os que existem na outra parte do planeta.Tão pouco podemos esquecer que a população mundial demorou dezenas de anos a atingir a soma de 1.000 milhões de habitantes, soma essa que foi alcançada por volta do ano de 1800. Acontece que só nos últimos 200 anos a população mundial atingiu a cifra superior aos 6.300 milhões de habitantes, e que as previsões apontam para que no ano 2050 se chegue aos 9.000 milhões.
Esta grande explosão demográfica, junto à acelerada degradação das condições naturais básicas para a sobrevivência da humanidade está a provocar uma enorme preocupação em muitos países, sobretudo nos menos desenvolvidos já que é nestes que se regista um maior crescimento da população.
.Há que perguntar aos dirigentes políticos dos países mais ricos e industrializados se vão continuar a mentir aos habitantes da Terra. Há que interrogá-los para saber se vão continuar a dizer que é necessário consumir cada vez mais a fim de garantir o nosso desenvolvimento e bem estar e, com isso, ajudar ao desenvolvimento dos países pobres.
Até quando esta mentira será repetida, uma vez que todos os estudos realizados por instituições prestigiadas demonstram que não é possível que todos ao habitantes do nosso planeta possam alcançar algum dia o nível do bem estar e de desenvolvimento que os habitantes dos países desenvolvidos usufruem, pois o planeta Terra não tem recursos suficientes para os 6.000 milhões de habitantes, quanto mais para os futuros 9.000 milhões poderem consumir e desperdiçar da mesma maneira como fazem os que vivem actualmente na parte privilegiada do planeta. Seriam precisos 3 planetas Terra para dispor de recursos necessários a 6.000 milhões de habitantes poderem viver com o mesmo nível de consumismo insustentável.
Esta é que a verdade, ainda que cruel, e por isso, os indivíduos, os consumidores dos países ricos e industrializados não podem fechar os olhos face a esta realidade, pois o certo é que para nós, os tais 20% da população mundial, podermos continuar a viver com este nível de consumismo e de desperdício de recursos naturais será necessário que os outros 80% continue a viver nas condições de pobreza que todos conhecemos. Ou seja, o funcionamento da economia dos países ricos apoia-se no consumismo e na existência dessas grandes desigualdades.
Globalizou-se a desigualdade e por isso é que há cada vez maiores diferenças entre os países ricos e pobres. Mas isto não é inevitável e há que afirmar que esta situação pode ser mudada, pois outro mundo é possível, outros sistemas são possíveis, e que é possível globalizar a cultura, a saúde, o respeito pelo meio ambiente, e sobretudo que é possível globalizar uma alimentação justa para todos os habitantes do planeta chamado Terra, mas isso só será possível se travarmos a corrida armamentista, o domínio de uns países sobre outros e a destruição dos recursos naturais.
Há que apostar por um consumo racional e sustentável numa sociedade justa e sustentável, e esses dois objectivos devem estar unidos.
.
O consumo sustentável significa a mudança do sistema
Há que dizer não a este novo sistema de exploração da humanidade que é representado pelo consumismo actual e contrapor a essa exploração um consumo sustentável.
O consumo sustentável ou consumo racional supõe muito mais que trocar um produto prejudicial para o meio ambiente ou para os seres humanos por outro menos nocivo. Nem significa apenas seleccionar os resíduos urbanos das nossas casas. Implica, acima de tudo, questionar o nosso sistema social, examinar o nosso papel face às desigualdades da economia mundial e exigir políticas que favoreçam uma real mudança no actual sistema de produção e consumo.Mas significa principalmente assumir que a manutenção do actual modo de vida das sociedades consumistas só poderá acontecer à custa da manutenção do actual modo de vida das populações dos países pobres, além de justificar guerras e invasões a fim dos recursos naturais dos países pobres serem apropriados por aqueles outros.
Podemos pois afirmar que o consumismo afecta de maneira negativa todos os cidadãos do mundo, independentemente do local onde habitem. Além disso, afecta-nos porque somos vítimas de uma dupla exploração.
A que sofremos como trabalhadores e a que sofremos como consumidores, provocando comportamentos generalizados de consumo irracional, quase compulsivo, com a ilusão de que quanto mais consumirmos mais felizes seremos, e mais nos aproximaremos dos patrões e dos conceitos de vida que nos impõem os poderosos que governam a terra.
Por outro lado, há a exploração dos habitantes dos países pobres que, em consequência do consumismo e da sobre exploração dos recursos do planeta, não podem sair da pobreza e do subdesenvolvimento em que vivem e que permitem o consumismo e o desperdício no mundo dos ricos.
Para além dos efeitos que o consumismo está a provocar com a destruição do meio ambiente pondo em causa a própria sobrevivência do planeta, há que assinalar os efeitos desse modelo de comportamento consumista para a qualidade de vida e para a própria situação económica.
Este aspecto é objecto de um manto de silêncio, o que não surpreende uma vez que se o conseguirmos romper a sociedade começara a interrogar-se sobre o estilo de vida que tem adoptado, para além de começar a colocar em questão a noção de que ter mais significa ser mais feliz e gozar de maior qualidade de vida.
Verificamos que os consumidores das economias industrializadas empenham-se em consumir cada vez mais bens de consumo. Sofrem quase que uma dependência paranóica deste tipo de bens e que servem de estímulo externo para compensar o défice interior, para além de servir para constituir um símbolo de estatuto social. As classes dominantes incarnam uma imagem de realização das possibilidades humanas: poder, segurança, comodidade, refinamento e cultura. As demais pessoas, ao quererem imitá-las, perdem a sua capacidade autónoma de definir aquilo que é digno de se possuir. A formação dos gostos e preferência fica subordinado aos valores de uns poucos de privilegiados. Toda esta análise constitui a chave para conhecermos a ideologia do consumismo.O consumo de bens satisfaz necessidades físico objectivas e, por consequência, tem sempre um ponto de saturação. O bem-estar ou a satisfação de bens relacionais ou de posição mede-se através da comparação com outros consumidores e outros momentos históricos, sem limites, já que a vontade de diferenciação é infinita.Esta situação está a levar os consumidores dos países com economias desenvolvidas a um sobre endividamento, isto é, a gastar acima do seu rendimento e, com isso, a tornarem-se reféns do sistema.
Sempre que pensamos em evitar ou limitar os danos ambientais gerados pela produção, distribuição e consumo de bens, aceitamos a necessidade de produtos e técnicas menos prejudiciais. O que não é fácil de aceitar é a redução da produção e do consumo.
Nesse sentido, a promoção do consumismo através da publicidade, da televisão e dos centros comerciais deve ser objecto de contestação dos consumidores. Uma forma de fazer com que o consumo seja a simples satisfação de necessidades passa por nos libertarmos dos automatismos que nos impõem o hábito de um consumismo exacerbado. No fundo, são automatismos que fazem infelizes por nunca conseguirmos imitar os padrões de felicidade que a publicidade nos vende.
Terminamos com uma afirmação sobre o futuro da sociedade de consumo: esta não é mais que uma etapa da história que será ultrapassada. O que não se pode ainda prever é quando é que tal se dará por via de uma mudança de mentalidades ou então por via de uma situação apocalíptica do capitalismo em consequência do esgotamento dos recursos e da destruição do meio ambiente.


http://pimentanegra.blogspot.com/2005/11/o-consumismo-uma-nova-forma-de.html

sábado, março 18, 2006

Ser crítico sendo asocrático

Executivo de Sócrates empregou mais de 2000 pessoas

O Governo liderado por José Sócrates nomeou num ano, mais de duas mil pessoas, sendo o Ministério das Finanças o que mais pessoas empregou, seguido dos ministérios da Saúde e dos Negócios Estrangeiros. Fazendo a consulta dos diários da república, chegamos facilmente à conclusão que o primeiro-ministro assinou duzentos e sessenta despachos conjuntos que, somando às suas próprias nomeações directas e às do conselho de ministros, perfazem quatrocentos e vinte e três indigitações.
Trata-se de uma autêntica chuva de boys. José Sócrates tem 15 secretárias pessoais, 18 assessores e 13 adjuntos no seu gabinete de primeiro-ministro.
Quanto aos ministérios, o das Finanças é o que mais pessoas admitiu, trezentas e vinte e duas, seguido do da Saúde com trezentas e nove e dos Negócios Estrangeiros com cento e cinquenta e seis. Em sentido oposto, o que menos nomeações realizou foi o ministério dos Assuntos Parlamentares com quinze e o da Defesa Nacional com cinquenta e duas.
Há nomes para todos os gostos e para todos os lugares: institutos, comissões, grupos e conselhos, direcções-gerais e chefias várias, empresas de capitais públicos ou participados pelo Estado, assessores adjuntos, secretárias, assistentes, auxiliares administrativos, consultores motoristas, governadores civis, gestores operacionais, coordenadores de unidades e representantes em órgãos internacionais…

Sócrates ficou impressionado com sistema de ensino finlandês
Sócrates ficou impressionado com sistema de ensino finlandês e teceu vários comentários a esse propósito. Mas o mais importante e interessante para uma reflexão que se impunha, isso não foi considerado pelo dito cujo. Vejamos:
Sócrates foi visitar uma escola básica. A Escola Básica de Ressu, assim se chama a dita escola tem 400 alunos, com idades compreendidas entre os sete e os dezasseis anos, e trinta e sete professores no quadro. Isto dá um ratio professor/aluno dequase 1 para 10. E cá? Por cá a média é de 1 para 25/30. A autarquia lá do sítio suporta todos os custos de funcionamento, incluindo livros e outros materiais escolares. Por cá, ainda estamos no percurso inverso. Os livros escolares aumentam 10% ao ano. Será para manter? O primeiro-ministro quis saber se os alunos com maiores dificuldades de aprendizagem são ajudados com aulas extra, mas os responsáveis da escola explicaram-lhe que esse tempo lectivo suplementar era considerado desnecessário. Por cá, as aulas de substituição estão na moda. É para manter? Enquanto o show-off junto da opinião pública continuar não tenho dúvidas…
Depois de ler uma história em inglês, o professor pediu às crianças paraabrirem os respectivos computadores e seleccionarem um programa informático de aritmética, apelo que foi cumprido imediatamente.
Em banda larga ou estreita, o ratio de computadores/aluno é de um para um. Por cá é de
1 para oito/dez. Para alterar? Tenho dúvidas…
Nas conversas que teve na escola, José Sócrates ficou ainda mais espantado quando ouviu que na Finlândia os melhores alunos "querem ser professores"."Não é por causa do salário, que não é muito elevado. Ser professorsignifica respeitabilidade social", explicou uma das directoras da EscolaBásica de Ressu. E por cá, como se tem tratado a respeitabilidade dosprofessores? Não basta ficar impressionado, é preciso perceber porquê ...

O ministro e a Segurança Social

O ministro das Finanças afirmou que daqui a 10 anos, portanto em 2015, poderia já não haver dinheiro para pagar as pensões. Esta afirmação, para além de ser irresponsável e alarmista, não corresponde à verdade. Ela só poderá ter como objectivo a preparação da opinião pública para medidas que o governo tenciona tomar agora contra os trabalhadores do sector privado e promove, objectivamente, os fundos de pensões privados porque gera medo e falta de confiança na Segurança Social pública.A Segurança Social está a suportar as consequências da estagnação económica prolongada devido à política do governo centrada na redução do défice, e não no crescimento económico e no aumento do emprego. Devido ao elevado número de desempregados – 550.000 – prevê-se que a Segurança Social, em 2006, tenha despesas superiores a 1.800 milhões com subsídios de desemprego e perca receitas de contribuições avaliadas em mais de 2.200 milhões de euros. Apesar de tudo isto, em 2006, de acordo com o Orçamento que foi aprovado pela Assembleia da República, a Segurança Social não terá qualquer défice. Se a política do governo mudar, e a economia e o emprego aumentarem a situação melhorará significativamente.Para além disso, a Segurança Social tem um fundo de reserva, chamada Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, que tem mais de 5.000 milhões de euros (1.000 milhões de contos), para fazer face a qualquer dificuldade. Esta reserva, por um lado, garante que a curto prazo a Segurança Social não terá problemas e, por outro lado, dá tempo suficiente para que possam ser tomadas medidas que assegurem a sustentabilidade financeira da Segurança Social a médio e longo prazo.Um dos argumentos utilizados pelo ministro das Finanças é o envelhecimento da população, que está a determinar que o número de activos por reformado diminua. No entanto, o ministro esqueceu-se, por ignorância ou intencionalmente, que um trabalhador neste momento produz muito mais riqueza que no passado. Por ex., entre 1975 e 2004, o número de activos por pensionista baixou de 3,78 para 1,63, portanto diminuiu 2,3 vezes, mas a riqueza criada por trabalhador aumentou 41 vezes.Por outro lado, se o governo afectasse mais meios ao combate à evasão e à fraude, as receitas da Segurança Social aumentariam muito. Basta dizer o seguinte: em 2005, a recuperação das dívidas atingiu 200 milhões de euros segundo o governo. Apesar disto as dívidas à Segurança Social aumentaram, nesse mesmo ano, em 500 milhões de euros, portanto mais do dobro, e o valor recuperado representa apenas um décimo da receita que a Segurança Social perdeu nesse mesmo ano devido à evasão à fraude, a isenções e a taxas reduzidas. É necessário também alterar o sistema de cálculo das contribuições para a Segurança Social. Estas são calculadas com base nas remunerações que representam apenas 40% da riqueza criada pelas empresas. Se as contribuições das empresas passassem a ser calculadas com base na totalidade da riqueza criada pelas empresas, alargar-se-ia a base de cálculo, podia-se reduzir a taxa de contribuição das empresas para cerca de metade, acabar-se-ia com a concorrência desleal entre as empresas, e garantir-se-ia a médio e a longo prazo a sustentabilidade financeira da Segurança Social.De acordo com a União Europeia, as despesas com pensões em Portugal (11,9% do PIB) são inferiores à média da U.E. (12,6% do PIB). Para além disso, o valor das pensões em Portugal é muito baixo. Em 2006, cerca de 1.100.000 reformados vão receber pensões inferiores a 300 euros, que é o limiar da pobreza; a pensão média do Regime Geral também em 2006, que abrange mais de 2.100.000 reformados é a seguinte: velhice apenas 480 euros; invalidez 320 euros e a de sobrevivência 180 euros. E é para a redução destas prestações, já tão baixas, que o ministro das Finanças pretendeu preparar a opinião pública.


http://resistir.info/portugal/minfin_manipula.html

A maior desigualdade entre ricos e pobres

Portugal é o país da União Europeia onde há mais desigualdade entre ricos e pobres. Portugal é de longe o país da União Europeia onde os ricos são os mais ricos e os mais pobres são os mais pobres. As 100 maiores fortunas portuguesas representam 17 por cento do Produto Interno Bruto e 20 por cento dos mais ricos controlam 45,9 por cento do rendimento nacional. Estes dados mostram que Portugal necessita de uma política redistributiva e de encarar de frente o problema da desigualdade. Que política distributiva? Todo o discurso político, da comunicação social e da sociedade civil é em relação ao crescimento económico e à redução do défice público. Desta forma só se abrange 80 por cento dos mais ricos, esquecendo os 20 por cento dos mais pobres. As estatísticas indicam que um em cada cinco portugueses vive no limiar da pobreza. Mas a realidade da pobreza é pior. Porque pobreza não é meramente falta de dinheiro, é também falta de acesso às necessidades que conferem dignidade na vida portuguesa. Num inquérito recente, 40 por cento das mulheres disse não terem satisfeitas as necessidades básicas, o que demonstra que a percepção da pobreza pelos pobres é diferente das estatísticas oficiais. E a questão da corrupção no meio disto tudo? Em rigor, trata-se mesmo de saque e não apenas de corrupção. Quero eu dizer na minha que aquilo que, efectivamente, se passa neste nosso infeliz País se aproxima mais do conceito de saque que da banalizada imagem da corrupção administrativa.Num sentido tradicional, o assalto selvagem que a burguesia neoliberal está movendo contra o Estado – visando, em última análise, a sua destruição... a apropriação dos bens patrimoniais colectivos... a dilapidação dos fundos públicos em proveito próprio – configura a licenciosidade concedida à tropa invasora quando assalta e conquista cidades inimigas ou quando os piratas procedem a pilhagem dos navios capturados. Isso mesmo está acontecendo, isto é, temos vindo a assistir a cenas de pilhagem da riqueza e dos bens nacionais protagonizadas por políticos burgueses, cujo comportamento é o de verdadeiros inimigos do Estado, de predadores insaciáveis e sem escrúpulos. Aliás, tornou-se corrente ouvir, nas mais variadas circunstâncias, a sentença "O País está a saque". Deve notar-se que a sentença assim expressa é de gravidade ético/política bastante superior à comum constatação da existência da corrupção... descrita como um vírus, uma chaga, um cancro, uma espécie de doença endémica que está corroendo a sociedade portuguesa. A burguesia capitalista, nas suas infinitas metamorfoses de sobrevivência já absorveu há muito a corrupção no seu código genético. Na realidade, o fenómeno da corrupção já aparece discutido no diálogo platónico da República, vai para 2.500 anos, donde se poderia concluir que a corrupção é componente orgânico, universal, do poder, mormente, quando exercido por classes e indivíduos cujo objectivo primacial é a satisfação dos interesses próprios e da classe a que pertencem. Nos tempos modernos, o dogma do fatalismo da corrupção está integrado na religião capitalista liberal, tendo-se tornado fenómeno quotidiano, encarado com naturalidade, sem pudor ou vergonha.Em Portugal, a corrupção banalizou-se ao fim de 30 anos de democracia constitucional, acompanhada da tolerância e impunidade de que gozam os seus mais exímios executantes. Esta realidade histórica, embora nos custe admitir, representa um formidável trunfo ideológico da classe burguesa capitalista, que assim entra triunfante neste século XXI da era cristã.Entretanto, admitindo como um dado adquirido a acção corruptora nas sociedades democráticas do Ocidente cristão é altura de reconhecer e identificar a variante terrorista do saque – puro e duro, sem restrições – que se encontra em pleno desenvolvimento, designadamente, nos países pobres do chamado Terceiro Mundo e nas débeis economias periféricas, cuja esperança de progresso reside na invasão turística e num duvidoso investimento estrangeiro. Nesta última categoria está, evidentemente, o nosso País. Todavia os boys & girls do carreirismo partidário burguês, em vagas sucessivas, querem sempre mais. Entram famintos pelos corredores e antecâmaras da governança, exigindo tachos reclamando privilégios e favorecimentos ilícitos. Há que procurar novas pastagens, inventar truques para ladear restrições legais e, principalmente, orçamentais, multiplicar as comissões, missões, altos-comissários, os contratos especiais, assaltar os remanescentes redutos da independência estatutária profissional e, finalmente, preparar a Grande Operação de Saque contra o Estado/Nação, destinada a desmantelá-lo para melhor partilhar, partidarizar, privatizar os restos e lançá-los à voragem das clientelas e lobbies. Os argumentos economicistas que tentam justificar os ataques à administração pública convertem-se em motivo de escárnio geral quando cotejados com os escândalos vindos a lume quase diariamente.Funcionários públicos em excesso? Mas é notório e sabido que cada novo governo mal é empossado começa a destacar hordas de apaniguados para ocuparem o aparelho de Estado! Em poucos meses são milhares. Não só na administração central, mas ainda mais nas direcções regionais dos vários sectores, nas empresas públicas e municipais, institutos, etc. A cada nova vaga de arrivistas e assaltantes correspondem outros tantos milhares de funcionários desalojados. São os excedentes. Outro método muito usado de criar excedentes consiste nas consultorias externas. Escritórios e empresas privadas são contratados para realizar trabalhos desde sempre da competência dos quadros orgânicos. Estes ficam desocupados... acusados de baixa produtividade. Os privados contratados acabam amiúde admitidos na função pública.São infinitas as manigâncias inventadas por esta gente dos partidos para sofismar as restrições legais em particular, as orçamentais. Seria necessário um Livro Negro de milhares de páginas para se fazer uma ideia aproximada. Podemos apenas imaginá-las a partir de alguns casos ocasionalmente mencionados pela informação de massas.Um exemplo, recentíssimo: o assalto ao Tribunal de Contas. A manobra, aliás, foi iniciada em 2004 pela então ministra das Finanças do anterior governo quando contratou um tal Paulo Macedo para director-geral das Contribuições e Impostos pelo ordenado milionário de 16.000 euros por mês, mais extras, entre os quais o pagamento de mais 3.700 euros por mês para o fundo privado de pensões de Sua Excelência! Tudo isto ao arrepio das normas vigentes na administração pública. Novo governo agora socialista e o milionário Macedo permanece inamovível. Até ao presente, o Estado já pagou ao sujeito 275.000 euros... só em vencimentos. Sócrates finaliza a manobra: neste mês de Setembro nomeia quatro novos directores gerais da área das Finanças; e anuncia a designação para presidente do Tribunal de Contas de um quadro proeminente do PS, Oliveira Martins. Depois de Salazar, o governo passa a controlar totalmente a alavanca fundamental do poder: as Finanças e seus fiscais. O cacique Alberto João apressou-se a aplaudir a manobra: o modelo madeirense, da democracia totalitária, impunha-se no continente. Só imaginar podemos quantas centenas de boys & girls, de camisolinha rosa vestida vão engrossar as fileiras do monstro burocrático nas belas e rendosas funções de fiscais das contas do Estado... incluindo as do partido a que ficam devendo o tacho.Nas três maiores empresas do Estado – Caixa Geral dos Depósitos, Galp e Telecom – o assalto está consumado... e quase esquecido e absorvido. Com retoques e requintes de rara fineza: a Telecom ofereceu tachos aos filhos dos políticos mais dedicados à causa do bem público – entre vários outros, Guterres, Marcelo Rebelo de Sousa e, para que haja moralidade, os filhos do dr. Jorge Sampaio. Também sem aflições de desemprego continuam Cavaco Silva, com 9.000 euros de pensões e honorários; Ferro Rodrigues, feito embaixador à pressão, com outros 9.000; e correligionários avulso, depois de breve estágio em virtuais assessorias, nomeados apesar da interdição ética solenemente proclamada por Sócrates. Nestes últimos dias veio a lume o escândalo do contrato de António Vitorino, deputado do PS, como advogado particular da Galp. Descobre-se que Vitorino é sócio de um escritório de advogados acabado de comprar pela Iberdola... empresa com negócios importantes na área dos combustíveis, cujo representante em Portugal é Pina Moura, militante e antigo ministro do PS. É o saque, puro e duro, sem restrições nem pudor!A nau do Estado navega acossada por barcos piratas hasteando bandeiras partidárias. Estará a tripulação da nau do Estado em condições de repelir o assalto e o saque das barcaças piratas? É lícito duvidar-se, visto ser sabido que a tripulação está altamente desmoralizada e, em grande parte, infiltrada por elementos piratas. E o que é o Estado a não ser isso mesmo?
http://dn.sapo.pt/2005/10/17/sociedade/
fosso_entre_ricos_e_pobres_acentuase.html

Foi neste candidato que uma parte do povo português votou

Basta conhecer um pouco a história dele para ficar com arrepios a pensar que este senhor foi eleito presidente de Portugal durante os próximos cinco anos. Basta ver a manipulação da imprensa e da imagem deste candidato para temer aquilo que vem atrás dele. Para um homem que afirma que não é político tem um passado muito suspeito: Ministro das Finanças e do Plano (1980-1981), Primeiro-Ministro (1985-1995) e agora, candidatou-se para a Presidência pela segunda vez. Imaginem se fosse político! Mas é precisamente esse tipo de afirmação que demonstra a farsa, o cinismo o lado escuro e tudo que ele representa. Numa altura em que o Partido Socialista parece certo a ficar no governo durante alguns anos, aparece o senhor Silva outra vez para defender os interesses da direita e dos seus defensores, que levaram Portugal ao lastimável estado em que está e que ninguém queria nas eleições legislativas em Fevereiro passado. Mas estão aí todos atrás da candidatura dele. Quantos daqueles que dizem que votaram no candidato sabem quem está na sua comissão política e são seus apoiantes? Figuras odiadas, que foram corridas da vida política em Portugal há pouco tempo, como a Manuela Ferreira Leite, Leonor Beleza, Paulo Portas, Bagão Felix, etc. O candidato afirma que vai levar longe a cultura e língua portuguesa no mundo de hoje – uma afirmação absurda para quem, quando primeiro-ministro, nem sabia quantos cânticos tinham Os Lusíadas. Conhecendo as principais razões pelas quais a maioria dos seus apoiantes afirmam que vão votar no candidato, sente-se uma profunda tristeza e angústia pelo futuro deste País. Diz-se que é sério e honesto. Claro que sim como noventa e nove por cento da população portuguesa. Então vamos todos votar no Zé da Esquina porque é sério, é honesto e gosta do seu país. Estas não são razões, são desculpas levantadas por quem não tem qualquer esperança na liderança política do país e está desiludido com o rumo que Portugal tem tomado nos últimos anos e por isso opta pelo candidato que soube melhor manipular a imagem e a imprensa. Mais: foi o candidato quando era primeiro ministro o inventor e ideólogo das propinas, das taxas moderadoras nos Hospitais, Centros de Saúde e nos exames médicos, aumentou a idade da reforma das mulheres dos 62 para os 65 anos. Perguntem ao agora presidente onde estão as melhores empresas nacionais ? Como por exemplo: Sorefame , Fundição de Oeiras que fabricava dos melhores electrodomésticos a nível europeu a fábrica de limas Tomé Feiteira considerados as melhores do mundo, a fábrica Hipólito de Torres Vedras as fábricas de fogões Portugal e Olavo as indústrias Oliva, a fábrica de motores eléctricos Rabor, as indústrias de Cerâmica esfumaram-se, as indústrias Tramagal, a Siderurgia Nacional, a Lisnave, as indústrias de papel, estamos a levar a nossa madeira para Espanha enquanto algumas das nossas fábricas encerram etc . Perguntem ao presidente que foi feito da nossa agricultura? Para onde foram as vinte e cinco fábricas de tomate que existiam? Hoje a nossa produção nem cobre o consumo interno. Que foi feito da nossa produção de azeite? Dos cerca de trinta mil hectares de olival restam 15 mil! Pagou com fundos comunitários para arrancarem as oliveiras. A produção de arroz, estamos a comprá-lo ao Paraguai um país do terceiro mundo e de outros cereais, foi reduzida drasticamente e a que preços estamos a produzi-los? A nossa produção de leite? As pescas, que foi feito desse sector? A nossa frota de pesca foi quase extinta. Hoje os espanhóis têm plena liberdade de pescar nas nossas águas. São contas que o presidente devia prestar aos portugueses. Porque enquanto foi Primeiro-Ministro ao contrário de se preocupar a defender estes e outros sectores estratégicos da nossa economia, o que fez?Todos os dias vinha à televisão apresentar empresas estrangeiras , as multinacionais salvadoras, deu-lhes quanto dinheiro pediam, privatizou as melhores empresas públicas mandando milhares de trabalhadores com quarenta anos ou pouco mais, para a reforma antecipada . Temos aí o resultado dessa governação.
As multinacionais estão a fugir, deixando centenas de milhares de Portugueses no desemprego na miséria e no desespero, a nossa produção de bens caiu a todos os níveis. Já importamos mais de oitenta por cento daquilo que consumimos e a nossa Segurança Social passa por dificuldades. O que vai valendo ainda a este país é o turismo embora com dificuldades patentes.
Foi este o legado que o senhor Silva nos deixou. Notaram quantas fotografias do candidato Silva são tiradas de baixo para cima, enaltecendo a estatura da figura, com aquela mensagem sem qualquer sentido de Portugal Maior atrás dele? Notaram qual é o candidato que teve mais tempo de antena na televisão? Notam como são filmados pelos canais de televisão os participantes nos comícios, aproveitando o maior ângulo de concentração da assistência para assim parecer que é a candidatura com mais apoiantes?Notaram que na altura em que as intenções de voto no candidato Aníbal C. Silva começam a cair a pique, perdendo entre cinco e seis por cento em apenas cinco dias, começa a ser empurrada para trás a história das eleições presidenciais a uma semana da eleição e o tempo de antena nos principais noticiários e nas primeiras páginas dos jornais ocupou-se com o Procurador Geral da Republica as escutas telefónicas? Que o candidato Aníbal Silva é um homem íntegro, um bom pai de família, sério, honesto e bem intencionado, não hajam quaisquer dúvidas o mesmo se diz de todos os outros candidatos. Por isso não são razões válidas para votar. São qualidades básicas de qualquer ser humano.A candidatura baseada numa campanha em que evita ao máximo falar porque se abre a boca pode tudo estragar, que evita comer em público e que aposta tudo na aura de suposta competência deste candidato. A competência do candidato agora presidente vê-se no Portugal de hoje e na sua lamentável posição na cauda da Europa. Quando é que Portugal entrou na Comunidade Europeia? 1983. Quem foi o Primeiro-Ministro entre 1985 e 1995, quando o verdadeiro peso dos fundos comunitários jorrava pelas fronteiras dentro? O agora presidente. Em que ombros jaz a responsabilidade pelo sensato investimento destes milhares de milhões para construir o futuro do país? O agora presidente. Afinal, é ele que vai tirar Portugal desta lamúria, ou foi ele o responsável por Portugal aí estar? Vamos então examinar a posição de Portugal hoje uma década depois deste senhor deixar o poder e do legado que deixou.
Vamos então analisar a posição de Portugal hoje, que é o legado do Cavaquismo, utilizando os dados da EUROSTAT, serviço de estatística da União Europeia. Não vamos comparar Portugal com os gigantes da Europa, mas sim com outros países da mesma dimensão, ou menores. No último trimestre de 2005, Portugal foi o único país, de acordo com a EUROSTAT, a registar um crescimento negativo de PIB, de - 0,9%. A Estónia, por exemplo, registou um crescimento positivo de 2,6%. O consumo doméstico caiu 1,4%, reflectindo a nefasta influência do desenfreado monetarismo defendido por esse candidato nos inocentes cidadãos portugueses, enquanto na Lituânia, por exemplo, aumentou por 3,3%. Portugal teve a maior queda nas exportações (menos -0,6%), enquanto na Eslováquia aumentaram 8,1% e Portugal foi o único país a verificar uma queda nas importações, reflectindo o estado da economia nacional – 0,7%, comparado com o incremento de 10,8% na Grécia. Produto Interno Bruto menor. Produtividade e Competitividade menor. Desemprego maior. Encomendas para a construção menor (1%), comparado com o aumento de 7,1% na Finlândia. Taxa de utilização de capacidade nacional: menos que na Hungria e Eslovénia. Registo de novos automóveis: 77,3 comparado com a média europeia de 99. Poupança como percentagem de rendimento: menos 5,4% comparado com os 10,2% da Áustria, 6,5% da Finlândia e 6,9% da Bélgica. Balanço Comercial: 572 milhões de Euros negativos. Taxa de privação 70% dos portugueses são classificados como pobres ou sofrendo de qualquer tipo de privação, no relatório da U.E. no EUROSTAT; onde se afirma que “As taxas de privação são superiores aos níveis de risco de pobreza”. 61% não podem tirar uma semana de férias, comparado com 33% em Chipre; 5% não conseguem pagar a totalidade das despesas mensais, um nível semelhante ao da Bulgária; 3% não têm dinheiro para uma refeição com carne, peixe ou ave de dois em dois dias, semelhante às taxas de Malta.
É uma vergonha para um país que está na Europa há duas décadas; 58% não conseguem aquecer a casa ao nível pretendido, comparado com os 56% da Lituânia; 4% dos que querem ainda não têm telefone, 17% não têm carro. 63% da habitação tem algum tipo de deficiência, como falta abastecimento de água potável e electricidade, esgotos , arruamentos, acessos, infiltrações de água , famílias inteiras a viverem em espaços exíguos, etc. E o senhor Silva é o candidato a reparar esses males? Foi ele, não só ele é claro mas ele é um dos grandes responsáveis até pelo tempo disponível que exerceu o poder, o responsável por os criar! Quem é o pai do monetarismo em Portugal? Quem governava no tempo das descargas policiais contra os operários na Marinha Grande? Na Ponte 25 de Abril? Quem afirmava que os portugueses tinham pouco civismo? Quem investiu mal os milhões da Europa? Quem não preparou o país para conseguir, nas palavras do próprio, “O progresso do povo português no espaço económico europeu”? A direita, que o candidato agora presidente senhor Silva representa, e que apoiou a eleição desse senhor, em nada serviu os interesses da maioria dos portugueses, como se vê claramente nos exemplos concretos e indesmentíveis acima referidas.


O Presidente da Republica foi eleito com os votos de 31,09% dos eleitores



Resultados oficiais da eleição presidencial quando faltavam apurar duas freguesias que fizeram boicote:

Abstenção: 37,39% Cavaco: 31,09% Alegre: 12,73% Soares: 8,81% Jerónimo: 5,28% Louça: 3,32% Garcia: 0,26%
Conclusão: menos de um terço dos eleitores inscritos escolheram Cavaco para Presidente. No entanto vão dizer que é o «escolhido pela maioria» dos portugueses «sem margens para dúvidas» como aliás já é costume.


Inscritos: 8830706 100%
Votantes: 5529118 62,61%
Brancos: 58868 1,06%
Nulos: 43406 0,79%


Total no País

Cavaco Silva 2745523 votos 50,49 %
Manuel Alegre 1124671 votos 20,72 %
Mário Soares 778395 votos 14,34%
Jerónimo Sousa 466422 votos 8,59%
Francisco Louça 288216 votos 5,31%
Garcia Pereira 23617 votos 0,44%


http://port.pravda.ru/editorial/2006/01/15/9758.html

Os que mandam no mundo

Com a autonomização da economia e o enfraquecimento dos estados nação é ilusório pensar que os presidentes eleitos sejam os que têm o comando sobre o país. Quem decide os destinos reais do povo não é o Presidente. Ele é refém do Ministro das Finanças e do Presidente do Banco Central que por sua vez são reféns do sistema económico-financeiro mundial a cuja lógica se submetem. Quando o Presidente Bush fala à nação muitos seguramente o escutam. Mas quando fala o presidente do Federal Reserve a nação inteira pára. O que ele tem a dizer significa a vida ou a morte de muitos empregos e do destino de empresas.
Os donos do mundo estão sentados atrás dos bancos, são os que controlam os mercados financeiros, as taxas de juros, as vias de comunicação, as tecnologias biogenéticas e as indústrias de informação.
Imensos conglomerados privados actuam a nível planetário. Sem perguntar a ninguém e sem qualquer controle dilapidam o património comum da humanidade em benefício próprio. Desflorestaram em poucos anos centenas de milhares de hectares das ilhas de Bornéu, Java e Sumatra. Os incêndios projectaram fumos do tamanho de meio continente. Esses mesmos grupos actuam há já algum tempo na floresta amazónica. As leis de protecção ambiental quando existem são inoperantes a maior parte das vezes face à fúria de desflorestar liquidar a biodiversidade, homogeneizar a produção em escala.
Esta lógica funciona no sistema globalizado mundial, criando desigualdades e devastações ecológicas onde se implanta. Os especialistas lá nos vão avisando que já em 2010 prevê-se que as florestas tenham diminuído em 40%. Em 2040 o aumento dos gases de efeito estufa podem provocar um aquecimento entre 1ºC a 2ºC elevando o nível das águas oceânicas a 0,5 a 1,5 metros afectando milhares de cidades costeiras. Seis milhões de hectares de terras férteis desaparecem por ano sob o efeito da desertificação.
As doenças infecciosas de todo o tipo viajam à velocidade dos mercados. A SIDA é uma pandemia na África. A expectativa de vida da África subsaariana diminuiu já sete anos e em outros países como Uganda, Zimbabwe, Zâmbia recuou dez anos. No ano passado a produção económica do Quénia, por causa da SIDA, caiu 14,5%. A África é um continente abandonado à sua própria desgraça, já nem sequer merece ser explorado.
Bastaria que se retirasse apenas 4% das 225 maiores fortunas do mundo para dar comida, água, saúde e educação a toda a humanidade. Estes são dados da ONU de 2004. Enquanto isso dezenas de milhões morrem de fome todos os anos e dois mil milhões são anémicos.
Não sei se uma leve esperança se anuncia um pouco em todas as partes do mundo, em Seattle, em Génova, em Porto Alegre e nos Fóruns Sociais Mundiais. Tenho dúvidas sinceras que esse anti poder seja capaz de impor outras regras que pedem uma nova justiça planetária.
A introdução de taxas significativas dos capitais especulativos, parece-me tão irreal porque contrária aos interesses mais profundos do capitalismo, a aplicação rigorosa duma ética da precaução e do cuidado em questões ambientais.
Mas é urgente insistir. O capitalismo está podre e algo de radicalmente novo é imperioso que surja. Para já são só esperanças. Ainda não passa de esperanças. Até ver. Alguma semente deverá frutificar. Para quando? Vamos esperar.


http://www.lainsignia.org/2006/enero/int_014.htm

A ciência económica numa perspectiva capitalista

O crescimento é encarado de um modo geral como a panaceia para todos os grandes males económicos do mundo moderno. Pobreza? Basta fazer com que a economia cresça isto é, aumente a produção de bens e serviço e estimule os gastos do consumidor e observe a riqueza continuamente a pingar. Não tente redistribuir a riqueza dos ricos para os pobres, porque isto arrefece o crescimento. Desemprego? Aumente a procura por bens e serviços através do abaixamento das taxas de juro sobre empréstimos e do estímulo ao investimento, o qual conduz a mais empregos e a mais crescimento. Super população? Basta promover o crescimento económico e confiar na resultante transição demográfica para reduzir as taxas de nascimento, tal como o fizeram os países industriais durante o século XX. Degradação ambiental? Somente confiar na relação empírica que mostra que prosseguindo o crescimento do produto interno bruto, a poluição a princípio aumenta mas a seguir atinge um máximo e declina.Confiar no crescimento desta maneira poderia ser óptimo se a economia global existisse num vazio, mas isto não acontece. Ela é, antes, um subsistema da biosfera finita que a suporta. Quando a expansão da economia ultrapassa demasiado os limites do ecossistema que a rodeia, começaremos a sacrificar o capital natural tais como a pesca, os minerais e os combustíveis fósseis que é mais valioso do que o capital fabricado pelo homem tais como estradas, fábricas e aparelhos acrescentado pelo crescimento. Teremos então aquilo que podemos chamar crescimento a produzir males mais rapidamente do que bens — tornando-nos mais pobres e não mais ricos. Uma vez ultrapassada a escala óptima, o crescimento torna-se estúpido no curto prazo e de manutenção impossível no longo prazo. A evidência sugere que os EUA podem já ter entrado nessa fase de crescimento invertido.Não é fácil reconhecer e evitar esse crescimento. Um dos problemas é que há beneficiários dele e estes não querem mudar. Além disso, as contabilidades nacionais não registam explicitamente os custos de crescimento, por isso não os vemos claramente. A humanidade precisa fazer a transição para uma economia sustentável — que respeite os limites físicos inerentes ao ecossistema mundial e garanta que este continue a funcionar no futuro. Se não fizermos tal transição, poderemos ser punidos não apenas com crescimento invertido, mas com uma catástrofe ecológica que reduziria sensivelmente o nosso padrão de vida.A maioria dos economistas contemporâneos discorda de que alguns países caminhem nesse rumo. Muitos ignoram a questão da sustentabilidade e confiam que, como já fomos tão longe com crescimento, poderemos continuar assim para todo o sempre. A preocupação com a sustentabilidade, porém, tem longa história, remontando a textos de John Stuart Mill na década de 1840. A abordagem contemporânea baseia-se em estudos realizados nas décadas de 1960 e 1970 por diversos autores. Essa tradição é continuada pelos denominados economistas ecológicos e em certa medida por subdivisões da corrente económica principal chamada economia de recursos e ambiental. De um modo geral, contudo, a tendência dominante, os economistas neoclássicos, considera a sustentabilidade um modismo e defende o crescimento.Mas há factos evidentes e incontestáveis: a biosfera é finita, não cresce, é fechada com excepção do constante afluxo de energia solar e obrigada a funcionar de acordo com as leis da termodinâmica. Qualquer subsistema, como a economia, em algum momento deverá necessariamente cessar de crescer e adaptar-se a um equilíbrio dinâmico, algo semelhante a um estado estacionário. As taxas de nascimento devem ser iguais às de mortalidade, e as de produção de mercadorias devem igualar as de obsolescência.Durante o último meio século a população humana triplicou, e o número de objectos fabricados cresceu muito mais. O total de energia e material necessário para manter e substituir os artefactos humanos na Terra também aumentou enormemente. À medida que o mundo se torna repleto com seres humanos e com os seus objectos, esvazia-se daquilo que continha antes. Na microeconomia, as pessoas e as empresas percebem claramente quando devem cessar a expansão de uma actividade. Quando se expande atinge um ponto em que ocupa o lugar de outros empreendimentos, e essa substituição é contabilizada como custo. As pessoas param no ponto em que o custo marginal é igualado pelo benefício marginal. Ou seja, não vale a pena gastar um euro a mais num gelado quando esse dá menos satisfação do que o equivalente a um euro de outra coisa. A macroeconomia, porém, não dispõe de uma regra análoga que avise a hora de parar. Uma das forças motrizes do crescimento insustentável tem sido o axioma da insaciabilidade: as pessoas serão sempre mais felizes consumindo mais. Entretanto, pesquisas de economistas experimentais e psicólogos levam à rejeição desse axioma. Cada vez mais evidências, como trabalhos recentes da Universidade da Califórnia, sugerem que o crescimento nem sempre incrementa a felicidade nem a utilidade ou o bem-estar. Ao invés disso, a correlação entre o rendimento absoluto e a felicidade é válida apenas até um limiar de suficiência; além desse ponto, apenas o status relativo influencia a auto percepção de felicidade. Como a manutenção de uma economia sustentável repousa numa enorme mudança racional e emocional por parte de técnicos, políticos e eleitores, poderíamos ser tentados a afirmar que tal projecto é impossível. Mas a alternativa a uma economia sustentável, que mantenha permanente crescimento, é bio fisicamente impossível. Ao escolher entre enfrentar uma impossibilidade política e uma impossibilidade biofísica, eu escolheria a primeira opção. E será que a impossibilidade política será assim tão impossível?
http://resistir.info/ecologia/sustentabilidade.html

A escola como instrumento de controlo e coerção

O que se espera das escolas, é que sejam instituições dedicadas à doutrinação e à imposição de obediência. Longe de criarem pensadores independentes, ao longo da história as escolas sempre tiveram um papel institucional num sistema de controle e coerção. E, uma vez convenientemente educado, o indivíduo foi socializado de um modo que dá suporte à estrutura de poder que, por seu lado, o recompensa generosamente. Vejamos o exemplo das Faculdades de Ciências. Aí os estudantes não se limitam a aprender matemática. Aprendem também o que é esperado de um graduado no que diz respeito ao seu comportamento e ao tipo de perguntas que nunca se devem fazer. Aprendem as subtilezas das recepções, as formas de se vestir mais adequadas e como falar com sotaque…E isto independente de haver instituições mais ou menos fechadas…Mas estão sempre subjugadas a um papel institucional de evitar uma boa parte da verdade acerca do mundo e da sociedade. Como não ensinam a verdade sobre o mundo, as escolas têm que martelar na cabeça dos estudantes até lhes impingir a propaganda sobre a democracia. Se as escolas fossem realmente democráticas, não seria necessário bombardear os estudantes com banalidades acerca da democracia. Estes agiriam e comportar-se-iam de uma forma simplesmente democrática, e nós sabemos que isso não acontece. Habitualmente, quanto maior é a necessidade de falar sobre os ideais da democracia, menos democrático é o sistema.A doutrinação é necessária porque as escolas são, de um modo geral, concebidas para apoiar os interesses do segmento dominante da sociedade, das pessoas detentoras da riqueza e do poder. Numa fase inicial da educação, as pessoas são socializadas de modo a compreenderem a necessidade de apoiar a estrutura do poder, com as corporações em primeiro plano – a classe empresarial. A lição aprendida na socialização através da educação é que se não se apoiar os interesses dos detentores da riqueza e do poder, não se sobrevive por muito tempo. É-se excluído do sistema ou marginalizado. E as escolas são bem sucedidas na "doutrinação da juventude" ao operarem num enquadramento propagandístico que consegue distorcer ou reprimir ideias e informações indesejáveis.A pretensão da objectividade enquanto meio de distorção e desinformação a serviço do sistema doutrinal deve ser firmemente condenada. Essa atitude intelectual é muito mais facilmente mantida nas ciências sociais, porque os constrangimentos impostos aos investigadores pelo mundo exterior são muito mais fracos. A compreensão é muito mais superficial e os problemas a analisar são muito mais obscuros e complexos. O resultado é que é muito mais fácil ignorar simplesmente coisas que não se quer ouvir. Existe uma diferença marcada entre as ciências naturais e as ciências sociais. Nas ciências naturais, os factos da natureza não deixam o investigador ignorar com tanta facilidade coisas que entrem em conflito com crenças favorecidas e é mais difícil perpetuar erros. Uma vez que nas ciências naturais as experiências são replicadas, é mais fácil expor os erros. Existe uma disciplina interna que orienta as diligências intelectuais. Ainda assim, não existe uma garantia clara de que mesmo a mais séria pesquisa conduza à verdade. Regressemos ao ponto inicial: as escolas evitam verdades importantes. É da responsabilidade intelectual dos professores – e de qualquer indivíduo honesto – procurar dizer a verdade. Isto não é, certamente, controverso. É um imperativo moral procurar e dizer a verdade, na medida das possibilidades, acerca de coisas relevantes, ao público certo. É uma perda de tempo dizer a verdade ao poder, no sentido literal das palavras, e o esforço de o fazer pode frequentemente ser uma forma de auto-complacência. Se e quando as pessoas que exercem o poder nas respectivas funções institucionais se dissociam do ambiente institucional e se tornam seres humanos, agentes morais, nessa altura podem juntar-se ao resto das pessoas. Mas não vale a pena dialogar com eles no seu papel de indivíduos detentores de poder. É um desperdício de tempo. Vale tanto a pena dizer a verdade ao poder quanto ao pior e mais criminoso dos tiranos, que também será um ser humano, independentemente de quão terríveis sejam as suas acções. Dizer a verdade ao poder não é uma vocação particularmente honrosa. Deve-se procurar um público que interesse. Para os professores, esse público são os estudantes. Estes não devem ser vistos como uma mera audiência, mas como fazendo parte de uma comunidade de interesse partilhado, na qual esperamos poder participar de um modo construtivo. Não devemos falar para, mas com. Isso é algo que já se tornou uma segunda natureza em qualquer bom professor, e também o deveria ser em qualquer escritor ou intelectual. Um bom professor sabe que a melhor maneira de ajudar os alunos a aprender é deixá-los descobrir a verdade por eles próprios. Os estudantes não aprendem por mera transferência de conhecimento através da memorização mecânica e posterior regurgitação. O verdadeiro conhecimento vem através da descoberta da verdade e não através da imposição de uma verdade oficial. Isso nunca conduz ao desenvolvimento do pensamento crítico e independente. Todos os professores têm a obrigação de ajudar os estudantes a descobrir a verdade e não suprimir informação e conhecimentos que possam ser embaraçosos para as pessoas ricas e poderosas que criam, concebem e fazem as políticas das escolas. A classe instruída tem sido denominada uma classe especializada, um pequeno grupo de pessoas que analisam, executam, tomam decisões e gerem as coisas nos sistemas político, económico e ideológico. A classe especializada é geralmente composta por uma pequena percentagem da população; eles têm de ser protegidos do grosso da população, a quem já chamaram de rebanho desnorteado. Esta classe especializada leva a cabo as funções executivas, o que significa que são eles que pensam, planejam e percebem os interesses comuns, que para eles são os interesses da classe empresarial. A grande maioria das pessoas, o rebanho desnorteado, devem funcionar na nossa democracia como espectadores, não como participantes na acção, de acordo com as crenças liberais democráticas. Na nossa democracia, de vez em quando é permitido aos membros do rebanho desnorteado participar na aprovação de um líder através daquilo a que chamamos eleição. Mas, uma vez confirmado um ou outro membro da classe especializada, devem retirar-se e voltar a ser espectadores. Quando o rebanho desnorteado tenta ser mais do que simples espectadores, quando as pessoas tentam tomar-se participantes nas acções democráticas, a classe especializada reage àquilo que chama crise de democracia. E por isso que existiu tanto ódio entre as elites dos anos 1960, quando grupos de pessoas que historicamente sempre foram marginalizadas se começaram a organizar e a interferir com as políticas da classe especializada. Uma das formas de controlar o rebanho desnorteado é seguir a concepção das escolas enquanto instituições responsáveis pela doutrinação dos jovens. Os membros do rebanho desnorteado devem ser profundamente doutrinados nos valores e interesses corporativos privados e controlados pelo Estado. Aqueles que são bem sucedidos em instruir-se nos valores da ideologia dominante e que provam a sua lealdade ao sistema doutrinal podem tornar-se parte da classe especializada. O resto do rebanho desnorteado deve ser mantido na linha, longe de problemas e mantendo-se sempre, quando muito, espectadores da acção e distraídos das verdadeiras questões que interessam. A classe instruída considera-os demasiado estúpidos para gerirem os seus próprios assuntos, e por isso precisam da classe especializada para se assegurarem de que não terão a oportunidade de agir com base nos seus equívocos. Para proteger o rebanho desnorteado de si próprio e dos seus equívocos, numa sociedade aberta a classe especializada precisa de se virar cada vez mais para a técnica da propaganda, para a qual se usa o eufemismo relações públicas. Por outro lado, em estados totalitários o rebanho desnorteado é mantido no lugar por um martelo que paira sobre as suas cabeças, e se alguém se desvia, tem a sua cabeça esmagada. Uma sociedade democrática não se pode apoiar na força bruta para controlar a população. Por isso, é preciso confiar mais na propaganda como forma de controlar a mente pública. A classe instruída toma-se indispensável na diligência de controlo da mente e as escolas têm um papel importante neste processo.Aquilo que se chama de auto censura começa em muito tenra idade, através de um processo de socialização que é também uma forma de doutrinação que funciona contra o pensamento independente, em favor da obediência. As escolas funcionam como um mecanismo para essa socialização. O objectivo é evitar que as pessoas façam as perguntas que interessam acerca de questões importantes que as afectam directamente, a elas e a outros. Nas escolas não se aprendem apenas conteúdos. Como já mencionei, se quiser tornar-se um professor de matemática, não basta aprender muita matemática. Adicionalmente é preciso aprender como se comportar, como se vestir de um modo apropriado, que tipos de questões podem ser levantadas, como encaixar ou seja, como se adaptar, etc. Se mostrar demasiada independência e questionar o código da sua profissão com demasiada frequência, o mais provável é ser excluído do sistema de privilégios. Assim, rapidamente aprende que, para ter êxito, tem que servir os interesses do sistema doutrinal. Tem que ficar calado e instilar nos seus estudantes as crenças e doutrinas que servirão os interesses daqueles que detêm o verdadeiro poder. A classe empresarial e os seus interesses privados são representados pelo elo estado - empresa. Mas as escolas estão longe de ser o único instrumento de doutrinação. Outras instituições se conjugam para reforçar o processo de doutrinação. Vejamos aquilo que nos impingem pela televisão. Pedem-nos para assistirmos a um conjunto de programas vazios, concebidos como entretenimento, mas desenhados para desviar a atenção das pessoas dos seus verdadeiros problemas ou de identificarem as fontes dos seus problemas. Assim, esses programas vazios socializam o espectador, para que se torne num consumidor passivo. Uma das formas de gerir uma vida frustrada é comprar cada vez mais coisas. Os programas exploram as necessidades emocionais das pessoas e mantêm-nas desligadas das necessidades dos outros. A medida que os espaços públicos se desintegram, as escolas e os poucos espaços públicos que restam trabalham para tornar as pessoas boas consumidoras.Esta forma vazia de entretenimento encoraja as pessoas a submeterem-se e deixarem-se guiar essencialmente pela emoção e pelo impulso. O impulso é consumir mais, ser um bom consumidor. Nesse sentido, os meios de comunicação social, as escolas e a cultura popular dividem-se entre aqueles que possuem racionalidade, e são os que planejam e tomam as decisões na sociedade, e o resto das pessoas. E para terem sucesso, aqueles que possuem racionalidade e se juntam à classe especializada têm que criar ilusões necessárias e maniqueísmos emocionalmente potentes, de acordo com as palavras de alguns, para proteger o rebanho desnorteado da importunação da complexidade dos problemas reais, que de qualquer modo não conseguiriam resolver.
O objectivo é manter as pessoas isoladas das verdadeiras questões e umas das outras. Qualquer tentativa de organizar ou estabelecer ligações com o colectivo tem de ser esmagada. Tal como nos estados totalitários, a censura é muito real nas sociedades abertas, apesar de assumir formas diferentes. Perguntas que são ofensivas ou embaraçosas para o sistema doutrinal são interditadas. As informações inconvenientes são suprimidas. Não é preciso ir muito longe para se chegar a esta conclusão, basta analisar de uma forma honesta aquilo que é noticiado nos meios de comunicação social e aquilo que é deixado de fora; tentar entender honestamente qual a informação permitida nas escolas e qual a proibida. Qualquer pessoa com uma inteligência média consegue perceber como os meios de comunicação social manipulam e censuram a informação que consideram inconveniente. Pode dar algum trabalho descobrir as distorções e a ocultação da informação. Mas a única coisa que é preciso é o desejo de conhecer a verdade. Para isso basta a vontade de utilizar a mesma inteligência e bom senso que utilizam ao analisar e dissecar as atrocidades cometidas pelos outros potenciais inimigos. Se as escolas estivessem ao serviço do público em geral, estariam fornecendo às pessoas técnicas de auto-defesa, mas isso significaria ensinar a verdade acerca do mundo e da sociedade. Iriam dedicar-se com mais energia e aplicação exactamente ao tipo de coisas que estamos discutindo, de modo que as pessoas que cresceram numa sociedade aberta e democrática desenvolveriam técnicas de auto-defesa, não só contra o aparelho propagandístico das sociedades totalitárias controladas pelo Estado, mas também contra o sistema privatizado de propaganda, que inclui as escolas, os meios de comunicação social, a imprensa que determina o que está na ordem do dia e as revistas intelectuais, que essencialmente controlam o empreendimento educativo. Aqueles que exercem o controle sobre o aparelho educativo deveriam ser referidos como uma classe de comissários. Comissários são os intelectuais que trabalham em primeira linha para a reprodução, legitimação e manutenção da ordem social dominante, da qual colhem benefícios. Os verdadeiros intelectuais têm a obrigação de buscar e dizer a verdade acerca de coisas que são importantes, coisas significativas. Qualquer escola que tenha de impor o ensino da democracia já é suspeita. Quanto menos democrática é uma escola, mais necessidade tem de ensinar ideias democráticas. Se as escolas fossem realmente democráticas, no sentido de oferecerem às crianças as oportunidades de terem a experiência da democracia na prática, não sentiriam a necessidade de as doutrinar com lugares-comuns sobre a democracia. O verdadeiro ensino democrático não gira em torno da instilação do patriotismo ou da memorização mecânica dos ideais da democracia. Nós sabemos que os estudantes não aprendem dessa maneira. A verdadeira aprendizagem ocorre quando os estudantes são convidados a descobrir por eles próprios a natureza da democracia e o seu funcionamento. A melhor maneira de descobrir como funciona uma democracia funcional é praticá-la. Uma boa medida do funcionamento de uma democracia nas escolas e na sociedade é o grau de aproximação entre a teoria e a realidade, e é sabido que tanto nas escolas como na sociedade existe um grande abismo entre as duas. Em teoria, numa democracia todos os indivíduos podem participar em decisões que têm a ver com as suas vidas, determinando como são obtidos e utilizados os recursos públicos, que política externa a sociedade deveria seguir e assim por diante. Um teste simples mostrará o abismo entre a teoria, que diz que todos os indivíduos podem participar nas decisões que envolvem as suas vidas, e a prática, em que o poder concentrado pelo governo funciona como um limitador da capacidade dos indivíduos e grupos de gerirem os seus próprios assuntos ou, por exemplo, de determinarem a forma da política externa que querem adoptar. As histórias oficiais raramente transmitem uma imagem exacta do que está a acontecer. As histórias oficiais também não criarão as estruturas para desvendar a verdade. Uma educação que busca um mundo democrático deveria fornecer aos estudantes as ferramentas críticas para fazer as ligações que desvendariam as mentiras e os enganos. Em vez de doutrinar os estudantes com mitos democráticos, as escolas deveriam envolvê-los na prática da democracia.O mito de que vivemos numa sociedade sem classes é uma farsa, mas um em que a maioria das pessoas acredita. O próprio discurso académico aponta para a ausência de consciência de classe. Apesar de nos meios de comunicação social se encontrar o termo classe trabalhadora e também classe média nunca se vê mencionada uma classe dominante ou classe alta. As escolas sempre estiveram ao serviço da manutenção deste mito.

http://www.resistir.info/varios/chomsky_educacao.html

Rotular como forma de arte

A forma predominante de dominação ideológica já não é o encobrir dos factos, um estratagema bastante primitivo, usado pelas ditaduras. Hoje, a dominação faz-se muito mais pela capacidade de nomear. As pessoas não pensam nas coisas, pensam nos rótulos. Boa parte do jornalismo contemporâneo tornou-se uma grosseira arte de rotular.À lei que define que os recursos públicos devem ser prioritariamente usados para pagar juros ao sistema financeiro, em detrimento de todos os demais gastos do Estado, rotula-se "lei de responsabilidade fiscal". À prática de cortar gastos essenciais, para sustentar esses mesmos pagamentos, chama-se "disciplina" ou "austeridade", necessárias para formar um "superávit" metafísico (denominado, inteligentemente, "superávit primário"). Ao desmenbramento dos mecanismos de defesa de uma economia periférica e frágil rotula-se "abertura". Aos efeitos do desvio de finalidade das contribuições sociais – recolhidas pelo Estado, conforme a Constituição, para financiar o sistema de Segurança Social – rotula-se "déficit da Previdência".Os meios de comunicação difundem esses chavões e, pela repetição, incorporam-nos na linguagem comum. Feito isso, não há mais debate possível. Quem pode ser contra "responsabilidade", "disciplina", "austeridade", "abertura", "superávit", coisas evidentemente tão boas? Quem se habilita a defender, a sério, "irresponsabilidade", "indisciplina", "gasta", "fechamento" e "défice"?Em plena vigência de um regime político que garante liberdade de imprensa, paradoxalmente, quase ninguém tem acesso aos conteúdos das questões. Tudo fica paralisado nos rótulos, usados para bloquear sistematicamente o pensamento.Essa prestidigitação semântica, que sustenta a ideologia económica dominante, é imensamente frágil. Poderia desfazer-se por meio de um simples acto de renomear. Os pontos de vista seriam automaticamente modificados, por exemplo, se trocássemos o nome da "lei de responsabilidade fiscal" para "lei que define que pagar juros ao sistema financeiro é mais importante do que investir em serviços essenciais". Os exemplos poderiam multiplicar-se.Só quem controla os meios de comunicação pode nomear e renomear de forma eficaz. O esforço de pensamento, voltado para ultrapassar a rotulagem e penetrar no conteúdo das questões, torna-se a obrigação de quem rema contra a maré. É muito mais fácil navegar no bom senso dos rótulos. Um dos princípios da lógica de Leibniz é o da unidade dos indiscerníveis: se não podemos estabelecer diferenças entre duas coisas quaisquer, devemos admitir que elas são uma só. A luta política que se trava hoje em Portugal e desde há uma geração é apenas uma guerra de grupos pelo controle de verbas e nomeações, que motivam os negócios. O projecto para o país é o mesmo.

http://resistir.info/brasil/arte_de_rotular.html

O Livro Digital

A rápida expansão das novas tecnologias de informação e de comunicação e a passagem para uma sociedade de informação, digital ou de rede, em que a Internet e a world wide web assumem uma especial importância, têm levantado diversas questões sobre a natureza e funções do livro tal como tradicionalmente o temos conhecido e mesmo sobre o seu eventual desaparecimento. Neste quadro, há autores que têm vindo a insistir em que, muito embora situações aparentemente semelhantes sejam recorrentes na história do livro e dos meios de comunicação, o momento em que nos encontramos configura uma “revolução” mais radical do que todas as anteriores por abranger, pela primeira vez em simultâneo, um conjunto de mutações que até agora tinham ocorrido em separado. Na verdade, argumenta-se muitas das categorias através das quais nos temos relacionado com a cultura escrita estão a alterar-se, pois assistimos a mudanças nas técnicas de reprodução do texto, na forma ou suporte do texto e ainda nas práticas de leitura. Ora, no passado, isso nunca sucedeu: a invenção do códice no Ocidente não modificou os meios de reprodução dos textos ou dos manuscritos. A invenção de Gutenberg não modificou a forma do livro. As revoluções nas práticas de leitura ocorreram no contexto de uma certa estabilidade quer nas técnicas de reprodução dos textos quer na forma e materialidade do objecto. Mas hoje estas três revoluções – técnica, morfológica e material – estão perfeitamente interligadas. Essa singularidade leva a que enfrentemos uma crise nas categorias que têm permitido a nossa ligação com o livro e com a sua cultura. Por exemplo as que dizem respeito à propriedade e ao copyright, que se cristalizaram durante o século XVIII, encontram agora diversas dificuldades face às características do texto electrónico. Mas o mesmo se passa com a noção da identidade do livro, identidade que é simultaneamente textual e material. Até agora, os géneros textuais podiam distinguir-se imediatamente pela sua materialidade específica. Todos sabemos que um livro não é um jornal, que por sua vez também não é uma carta... Mas no mundo dos textos electrónicos esta diferença tende a desaparecer. A ordem do livro que tem sido a nossa e que conformava um campo simultaneamente cognitivo, cultural e político em torno do qual o objecto livro ocupava a posição central, encontra-se já em plena reconfiguração. Mais ainda, essa cultura do livro, ou seja, uma certa maneira de produzir saber, sentido e sociabilidade vai pouco a pouco desvanecendo-se. Sendo inegável que o livro, a leitura e as suas práticas ou os modos de apropriação dos textos, bem como a nossa relação com a escrita, se encontram num momento de rápida transformação, impõe-se reflectir sobre como se traduzem essas mudanças na “ordem do livro” que referimos. Na verdade, encontramo-nos num campo de turbulência, em que se assiste cada vez mais a experiências no âmbito da edição electrónica e ao aparecimento de obras para leitura em ecrã, de dispositivos portáteis de leitura de textos digitalizados, à multiplicação de publicações em diversos formatos e linguagens e ao desenvolvimento de software para potenciar condições dessa nova leitura.O que está realmente a acontecer é ainda mais complexo do que a emergência de novos canais de comercialização de livros ou de um novo tipo de dispositivo electrónico de consumo. “O que está em jogo é muito mais fundamental: como vamos pensar os livros no mundo digital e como irão estes comportar-se? De que modo vai usá-los, partilhá-lhos e em que termos nos vamos referir a eles? Em particular, quais são as nossas expectativas sobre a persistência e permanência da comunicação humana com base nos livros, à medida em que entramos no «brave new digital world»? Continuará o nosso pensamento a ser dominado pelas convenções e modelos de negócio da edição impressa (...) e pelas nossas práticas culturais, expectativas de consumidor, quadros legais e normas sociais ligadas aos livros ou irão essas tradições desaparecer, talvez a favor de práticas em desenvolvimento em indústrias como a música? Salientam-se então três temas cruciais na transição para o mundo digital e que a agitação em torno dos e-books pode ocultar: a natureza do livro no mundo digital como forma de comunicação; o controlo dos livros nesse mesmo mundo, incluindo as relações entre autores, consumidores/leitores e editores e, por extensão, o modo como viremos a gerir a nossa herança cultural e o nosso passado intelectual; e a reestruturação das economias da autoria e edição. A edição electrónica apresenta então características específicas que vão desde a sua enorme capacidade de armazenamento de dados até à rapidez da sua produção e disseminação, facilidade de actualização e correcção ou potencialidades colaborativas e interactivas. Nessa medida, os produtos por ela gerados apresentam óbvias vantagens em relação à edição tradicional no que se refere à disponibilidade do conteúdo (tempo e local de entrega e dimensão da informação), à transparência e interactividade do conteúdo (interactividade, possibilidade de integração de conteúdos e serviços e instrumentos de pesquisa), e ao formato do conteúdo (hiper texto e multimédia). É claro que os livros tal como os conhecemos desde Gutenberg vão continuar a ser escritos, publicados, comercializados e lidos. E muito provavelmente o número de títulos em formatos tradicionais vai aumentar nos tempos mais próximos. A literatura destinada ao prazer e à consolação irão continuar, num futuro previsível, a aparecer no seu modo tradicional. Apesar disso, não nos devemos deixar iludir, pois tal não impede que o livro tenha perdido, no oceano textual, a sua hegemonia e a sua centralidade simbólica e que a leitura e as suas práticas, bem como a nossa relação com a escrita, se encontrem igualmente num processo de clara transformação. Na verdade, tem-se previsto amiúde quer “a morte do livro” quer “a morte do leitor”, referindo-se argumentos estatísticos sobre o declínio dos hábitos de leitura, os crescentes problemas que a edição tradicional enfrenta ou ainda o inevitável triunfo da cultura do ecrã. Os dados resultantes de diversos estudos e inquéritos apontam para tendências dificilmente questionáveis, como a explosão do universo do audiovisual e do multimédia, a generalização da diversificação das práticas culturais favorecida pelo uso do telecomando e do rato, a diminuição do número de leitores ou a transferência dos jovens leitores para o segmento das revistas, livros práticos ou profissionais. As novas materialidades que suportam a escrita não anunciam o fim do livro ou a morte do leitor. Existirá como sempre, coexistência e sobrevivência estrutural de modelos passados no momento em que a génese faz surgir novas possibilidades. Mas essas novas materialidades pressupõem que os papéis vão ser redistribuídos, implicando uma competição mas também certamente uma persistente complementaridade entre os vários suportes do discurso, levando ao aparecimento de novas relações com o universo textual, à convivência de todas as modalidades de produção, reprodução e distribuição do livro e a complexas configurações entre diferentes hierarquias e tipologias de leitura e entre diversas formas de literacia. Para concluir, trata-se de reconhecer que é uma nova realidade que se estabelece. Uma nova realidade que faz coexistir de um modo dinâmico uma multiplicidade de modelos, de modos de arquivo e de acumulação. E que isso é, desde sempre, a história do livro.
Nesta sequência de ideias tenho o privilégio de informar que nasceu um novo site/editora, destinado à divulgação e venda de livros. Este site foi criado a pensar nos autores que já publicaram livros e que agora queiram reeditá-los em formato digital, ou que nunca publicaram e queiram editá-los por este meio. Conscientes de que o mercado tradicional editorial se encontra cada vez mais fechado aos novos talentos, praticando uma política de massificação e homogeneização, criou-se a oportunidade de divulgar, aqui, autores de todos os géneros literários, no campo das ciências sociais, exactas e humanas, ou publicar, simplesmente o que escreve….Para tal, a visita da seguinte página: http://www.editoradigital.net torna-se importante ficando a aguardar o seu contacto, e as suas obras! Descontentes com o mundo editorial e seus lobbies, interesses, desejo de lucro fácil em detrimento da cultura, desprezo aos novos autores por serem desconhecidos, o que implica manter eterno desse status, 3 amigos, no qual me incluo, criaram a http://www.editoradigital.net. Este novo serviço é um espaço aberto a todos os escritores que desejem comercializar os seus livros em forma digitais. Estamos a falar tanto de novos autores, como de consagrados que queiram reeditar obras antigas ou adiram a esta forma alternativa de venda. Em Portugal escreve-se bastante, para surpresa de muitos mas muitas obras têm como destino a gaveta e o esquecimento. Queremos dar voz a todos. Para chegarmos ao maior número dessas pessoas e de potenciais clientes, divulgação é a palavra-chave. Todos temos um número apreciável de contactos e, o que se pede, é que usem esses mesmos contactos para divulgar o nosso serviço, passando esta informação. E não se esqueçam de nos visitar...!

http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/afurtado/index.htm