segunda-feira, julho 31, 2006

Pinóquio

Estavam a Bela, o Monstro e o Pinóquio à entrada do quarto onde se encontrava o Espelho Mágico.
Diz a Bela:
- Vou entrar e perguntar ao Espelho qual é a pessoa mais bela do mundo.
A Bela entrou e pouco depois saiu com um enorme sorriso dizendo:
- Perguntei ao Espelho: Espelho meu, Espelho meu, existe alguém mais Bela do que eu? Ele respondeu que a pessoa mais bela do mundo era eu, pois claro! Quem mais haveria de ser?!!!
Entretanto o Monstro também entrou para perguntar ao Espelho se existia alguém mais feio e assustador do que ele. Passado pouco tempo também saiu muito contente e disse:
- Perguntei ao Espelho: Espelho meu, Espelho meu, existe alguém mais feio e assustador do que eu? O Espelho respondeu que claro que não, ele era o mais feio e assustador do mundo, afinal o Monstro era mesmo ele.
Então chega a vez do Pinóquio entrar, todo convencido, para saber se existia alguém mais mentiroso do que ele. Passado pouco tempo sai irritadíssimo, mesmo furioso e pergunta aos outros:
- É pá, alguém conhece um tal de Sócrates?

Colectivo das Mulheres por um Portugal sem futebol lança protesto contra o Mundial da Alemanha

(O Mundial já acabou, mas o futebol não!...)

Protesto contra o Mundial de Futebol da Alemanha

Os homens encontram-se profundamente perturbados, doentes mesmo.
Os homens ignoram-nos
Os homens estão mentalmente ausentes
Os homens pensam e falam mais em Ronaldo que nas mulheres
Os homens estão obcecados com a bola
Os homens dão ares que sabem tudo de futebol
As nossas noites são substituídas por uma gritaria sem sentido acerca de 22 homens e uma bola que não têm outro objectivo que andar de um lado para outro à força de pontapés e cabeçadas. E perguntámos nós: será isto que nos distingue dos restantes animais?
O colectivo «Mulheres por um Portugal sem futebol» pretende contribuir para acabar com este estado de coisas, que mostra cada vez mais a sua insensatez.Esta declaração é apenas um primeiro passo da nossa campanha contra o futebol.Há que acabar com esta paranóia, já!
Já basta o que sofremos com os campeonatos nacionais.Chegou-se, agora, a um extremo que é completamente intolerável.É a hora de sairmos em protesto e que nos escutem.Este colectivo representa apenas as mulheres que ousam e têm coragem de protestar.O colectivo visa reunir todas as mulheres que aspiram a mais respeito por parte do seu parceiro.O colectivo luta pelos direitos das mulheres que sofrem por causa desta paranóia colectiva do futebol que atingiu e contamina a população masculina, mas que, infelizmente, já começa a alastrar-se a outras mulheres, que se mostram indefesas face à agressividade e violência do vírus pestífero.A luta é longa e difícil, sabemos bem. Mas não desistiremos.Não estamos sós, e temos a razão pelo nosso lado.
Nunca estaremos fora do jogo.
Apenas reivindicamos que os homens se esqueçam das bolas, e passem a jogar connosco.De uma vez por todas: Não à paranóia do futebol-espectáculoAs nossas regras de jogo são:
1 – Nunca mais mundiais de futebol
2 – Nunca estaremos fora de jogo
3 – Por cada hora de futebol na Tv reivindicamos dois dias de curtição
4 – O colectivo está disposto a fazer tudo o que for necessário, desde manifestações, recolha de assinaturas e acções directas
5 – Cada golo será recompensado por uma semana de sonho
6 – Não permitiremos a entrada em casa dos escabrosos jornais desportivos atulhados de intrigas de bastidores e banalidades ocas que só estupificam os nossos homens
7 – A cada jogo no café reivindicamos o direito a um sóbrio e delicioso pequeno-almoço na cama
8 - Todos os aparelhos de televisão deveriam vir com a advertência que a televisão prejudica gravemente a saúde mental do tele-espectador e perturba irremediavelmente a vida do casal
9 - Depois de cada jogo de futebol todos os seus assistentes deveriam fazer uma corridinha para desenferrujar as pernas
10 – Os comandos à distância deveriam ser sempre partilhados e objecto de debate prévio, e deixarem de estar à mercê da publicidade e da propaganda mais intrusiva, enfim, da ditadura da programação por parte dos canais de televisão que tudo fazem para se instalarem dentro das nossas casas e... das nossas cabeças!!!Colectivo das Mulheres por um Portugal sem futebol:
Ana, Cristina, Ema, Graça, Luísa, Maria, Paula, Sara, Sílvia, Tânia

http://pimentanegra.blogspot.com/


AS DORES QUE NÃO PARAM O MUNDO

" (...) O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...) Mia Couto, in O fio das missangas , Editorial Caminho, Lisboa, 2004, 148 pgs., ISBN: 972-21-1611-8

http://resistir.info/

Internet tem 1 bilião de usuários

O número de internautas em todo o mundo chegou a um bilião, segundo estudo da empresa americana eMarketer.
A pesquisa também revela que 845 milhões acessam regularmente à internet e que um quarto dos internautas possui conexão de banda larga.
Entre os países com maior número de usuários, os Estados Unidos estão em primeiro lugar, com 175 milhões. A China vem em segundo lugar, com 111 milhões de internautas.
Na comparação entre as regiões do planeta, a Ásia é a que apresenta o maior número de usuários, com 315 milhões. Depois, vêm a Europa, com 233 milhões, e a América Latina, com 60 milhões.

http://info.abril.uol.com.br

Para onde vai o capitalismo?

Há duas semanas estava na Venezuela quando se realizava a assembleia da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e tive a oportunidade de acompanhar de perto os seus discursos inaugurais e as suas decisões finais. Nessa oportunidade pude observar a consolidação de um movimento empresarial que tem por fundamento os cartéis que dominam a economia mundial. A OPEP veio substituir o cartel das sete irmãs que controlaram a oferta mundial de petróleo até aos anos 70 do século passado. O seu sucesso é resultado do realismo económico em que baseia as suas acções. Num ambiente internacional dominado pela retórica do chamado “livre mercado”, a OPEP ajusta-se à prática efectiva do mercado mundial, predominante desde o final do século XIX. Da mesma forma, a sua condução actual associa esta prática com as práticas colonialistas que foram finalmente questionadas e só parcialmente superadas após a Segunda Guerra Mundial.
Do outro lado do mundo, o grande gigante do petróleo que não participa da OPEP mas que utiliza com muito gosto as consequências de preço e de poder geopolítico da sua existência e da sua prática. A Rússia de Putin rearticula­‑se com a economia mundial utilizando como arma principal a sua grande reserva petrolífera e de gás. Ao compreender finalmente que o livre mercado é um conceito armadilha para iludir os fracos, a equipa económica e estratégica de Putin prepara uma OPEP do gás ao aliar­‑se com os produtores de gás da região geopolítica da antiga União Soviética que a Rússia procura reorganizar sob a sua hegemonia.
É interessante notar como estes fenómenos fazem parte de um reordenamento estratégico mundial no qual pesa muito o aumento da procura chinesa e os seus movimentos para assegurar o abastecimento do seu espectacular crescimento económico. A cooperação entre a China e a Rússia é um dos elementos chaves desta nova fase do sistema económico mundial. Em boa hora a liderança russa percebeu dois dados fundamentais para entender a fase actual do sistema mundial.
Em primeiro lugar, após vários ensaios de aliança estratégica com os Estados Unidos, ficou claro que este país já não tem poder financeiro ao viver cada vez mais do capital externo, depois de se tornar no maior devedor do planeta. Sendo ao mesmo tempo cada vez mais dependente das importações ao atingir o estádio de parasitismo que caracteriza os poderes imperialistas. No meu livro de 1978, Imperialismo e Dependência, que se editará proximamente na Colecção Ayacucho de clássicos latino­‑americanos, eu chamava a atenção para a entrada definitiva dos Estados Unidos neste estádio económico que pudemos observar no auge colonial ibérico, holandês e sobretudo inglês, muito estudado por Hobson e por Lenin. Qualquer país que pretenda ter um papel importante na economia mundial tem que inter­actuar com os Estados Unidos como um poder hegemónico decadente. Sugiro aos leitores que procurem actualizar esta análise na colecção de 4 volumes sobre Hegemonia e Contra-hegemonia que organizei para a editorial da Universidade Católica do Rio de Janeiro e para as edições Loyola.
Em segundo lugar, a Rússia teve que disciplinar os interesses privados que foram criados a partir de um verdadeiro assalto ao Estado russo. Este processo ainda está em curso e o seu resultado será uma enorme revitalização do capitalismo de Estado que organizou quase sem contraste interno a sociedade soviética que a Rússia desfez. É interessante assinalar que o governo norte-americano actual já acusou esta situação com a intervenção directa do vice-presidente Cheney e uma estratégia de cerco sobre a Rússia que mostra uma vez mais que a contenção soviética inaugurada com a Guerra Fria não era uma estratégia ideológica mas geopolítica.

Poderão os Estados Unidos sem recursos financeiros próprios convencer o resto do mundo a financiar esta nova aventura de contenção do grande espaço euro-asiático que une a velha rota da seda que vai do mediterrâneo até à China?
Neste contexto, chamam a atenção duas sondagens. De um lado, o Pew Research Center mostra o estado de choque entre a política internacional dos Estados Unidos e a opinião pública mundial. Os países onde existe uma opinião favorável em relação aos Estados Unidos superior a 50% reduzem­‑se ao Japão (60%), à Nigéria (60%), à Grã-Bretanha (54%) e à Índia (58%). A China e a Rússia estão próximas dos 50%. A França e a Alemanha estão em torno dos 40%. A Indonésia, o Egipto, o Paquistão, a Espanha, a Jordânia e a Turquia estão abaixo dos 30%. Mais importante ainda é constatar que uma grande maioria de países entende que o mundo se tornou mais inseguro com a guerra contra o Iraque (International Herald Tribune, 14 de Junho de 2006)
Por fim, é interessante constatar os resultados do estudo da GlobeScan e da Universidade de Maryland sobre a aceitação da chamada livre empresa e do livre mercado como o regime ideal para construir o futuro. Depois da imensa propaganda do pensamento único, da vitória final do liberalismo e do fim da história, sé 36% por cento dos franceses dizem que o é, só 47% dos turcos o aceitam, 59% dos italianos, 63% dos espanhóis, 65% dos canadenses e alemães, 66% dos britânicos. Os índices de 70% ficam reservados para os Estados Unidos, a Índia e a China.
Aparentemente parece uma maioria forte, mas é impressionante que encontremos índices de rejeição tão fortes em vários países que estão sob o bombardeamento ideológico dos grandes meios de comunicação mundiais. Igualmente, se comparamos os dois dados, vemos pelo menos que se pensa num capitalismo que não aceita a hegemonia norte-americana.
Devemos aprofundar estas análises para acompanhar o desenvolvimento da subjectividade mundial que se afasta a passos largos da unanimidade do pensamento único. E é necessário pensar com cuidado na reacção desta subjectividade face à reorientação da distribuição de forças mundiais. Neste contexto, cresce o interesse pelo fenómeno dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) ao qual incorporamos a África do Sul que tem de liderar um continente que terá mais de mil milhões de habitantes nos próximos 30 anos.

Theotônio dos Santos
http://infoalternativa.org/mundo/mundo165.htm

domingo, julho 30, 2006

Devido à velocidade

Devido à velocidade da luz ser superior à do som,
algumas pessoas parecem inteligentes até falarem.

O projecto de diploma do governo sobre o subsídio de desemprego

Foi publicado na separata do Boletim de Trabalho e Emprego de 28 de Junho p.p., estando em apreciação pública durante 20 dias , o projecto de diploma do governo que visa alterar a legislação que regula a concessão do subsidio de desemprego. Neste estudo analisa-se apenas três consequências que nos parecem importantes desse projecto, a saber:
(1) Facilitar e promover despedimentos à custa da Segurança Social;
(2) Promover o emprego forçado e barato através da redução dos salários nominais;
(3) Reduzir o período de tempo a que o desempregado tem direito a receber o subsídio de desemprego.
Assim, de acordo com o art. 10º do projecto de diploma do governo, em cada triénio, as empresas até 250 trabalhadores poderiam despedir 25% do seu pessoal, e as com mais de 250 trabalhadores 20% do seu pessoal, e esses despedimentos seriam considerados “desemprego involuntário”, tendo os trabalhadores atingidos pelo despedimento direito a receberem o subsidio de desemprego. Desta forma, criar-se-iam condições que facilitariam às entidades patronais despedir trabalhadores, sendo os custos suportados pela Segurança Social (menos receitas de contribuições, e mais despesas com subsidio de desemprego).Por outro lado, segundo o art. 13º do mesmo projecto de diploma, o trabalhador desempregado seria obrigado a aceitar um emprego se o salário ilíquido fosse superior em 25% ao valor do subsidio de desemprego nos primeiros 6 meses após ter sido despedido e, a partir do 7º mês, se o salário ilíquido fosse superior apenas em 10% ao subsidio de desemprego. Isto significaria, em relação ao salário recebido pelo trabalhador antes de ser despedido, redução do salário nominal pelo menos de 18,8% e 28,5%, respectivamente Para além disso, os desempregados seriam também obrigados a suportar despesas com transportes até 10% do seu salário ilíquido, e o tempo gasto em transportes podia ir até 2 horas por dia. E se recusassem um emprego nestas condições perderiam o direito a receber subsídio de desemprego. Assim, estar-se-ia perante uma situação de promoção de emprego forçado e com redução do salário nominal.Finalmente, de acordo com o art. 37º do projecto de diploma, o período a que o desempregado teria direito a receber subsídio de desemprego passaria a depender também do número de anos que descontou para a Segurança Social. Mas não de toda a sua carreira contributiva. Apenas os anos de descontos para a Segurança Social contados a partir da última situação em que esteve desempregado e recebeu subsidio de desemprego. Isto significaria para muitos desempregados, cujo número aumentaria com o aumento da precariedade, uma redução de 6 meses no período de tempo que actualmente o desempregado tem direito a receber o subsídio.

Eugénio Rosa
http://resistir.info/

Empresários pela Inclusão Social

Empresários vão apoiar professores no combate ao abandono escolar João Rendeiro, do Banco Privado Português, explicou à saída do encontro com o Presidente da República que será criada uma associação sem fins lucrativos denominada Empresários pela Inclusão Social, que apoiará os docentes na melhoria da sua performance, de forma a combater o abandono escolar - in Público.Ora aqui está uma notícia verdadeiramente importante.E desde já não podemos deixar de a louvar e sugerir algumas medidas que esta associação poderá imediatamente desenvolver no sentido de combater a exclusão e o insucesso escolar (coisas que são diferentes mas que vão de braço dado pelos caminhos ínvios da nossa esotérica sociedade).Mas aí vão elas, as minhas sugestões, que com a maior honra e entusiasmo aqui envio aos Srs. empresários e que lhes garantocontribuirão de forma importante nesta luta que é de todos, portanto deles e minha e tua também:
medida1- sensibilizar os seus colegas empresários portugueses no sentido de permitirem aos seus funcionários, operários e outros faltar justificadamente (ou seja sem desconto nem nas férias nem nos ordenados) aos seus empregos, desde que e sempre que convocados pelos orgãos competentes das escolas que os seus educandos frequentam, para tratar de assuntos relacionados com a inclusão escolar dos mesmos;
medida 2- sensibilizar os seus colegas empresários portugueses no sentido de proporcionarem aos jovens estudantes pouco motivados com o percurso escolar "normal" a possibilidade de frequentarem formação nas empresas, formação essa que constituirá uma alternativa curricular a algumas das disciplinas do currículo "normal"
medida 3- sensibilizar os seus colegas empresários portugueses no sentido de flexibilizarem os horários de trabalho dos funcionários das empresas que comprovadamente façam prova provada de que são encarregados de educação, de forma a que seja possível a estes estarem em casa pelo menos 2 horas por dia em horário compatível com o dos seus educandos de forma a poderem interagir com eles contribuindo para a sua educação bem sucedida, não contando, obviamente, nestas duas horas o tempo em que ambos, mas em especial os educandos, já deverão estar na caminha para depois não irem a dormir para as aulas.
medida 4- sensibilizar os seus colegas empresários portugueses no sentido de, em situações de necessidade de ajuste no número de efectivos da empresa, considerarem como justa causa impeditiva de despedimento, o facto do funcionário ter a seu cargo a educação dum jovem, visto que um despedimento em tal situação, provoca uma enorme instabilidade familiar e é uma das principais causas do insucesso escolar e exclusão social.
medida 5- sensibilizar os seus colegas empresários portugueses no sentido de permitirem que os seus funcionários se façam acompanhar na empresa dos seus filhos menores em idade escolar, nos períodos em que não estejam em actividades escolares, possibilitando assim um primeiro contacto destes com o mundo do trabalho e evitando que "andem por aí em caminhos desviantes".
Para já, deixo aqui estas 5 medidas que são o meu contributo pensante para a nobre obra destes Srs empresários.De muitas mais por certo me alembrarei e aqui virei deixar nos exactos momentos em que delas me alembrar e se estiver então praí virado, porque cada um se vira para onde quer quando lhe apetece e lhe convém, como aliás é o caso que aconteceu com estes Srs empresários ao formarem a tal dita associação, que já antes poderiam ter formado mas agora é que prái se viraram até porque agora calha melhor porque está no "in" das políticas do Presidente e é sempre bom para um empresário mostrar ao Presidente que as palavras que ele o Presidente disse não caíram em saco roto, roto não, mesmo que a desfazer-se talvez, mas roto não. E assim o presidente vai poder dizer que mobiliza as forças vivas da sociedade e as forças ficam agradecidas até porque sabem que o Presidente agora fará tudo para as proteger dum governo que até podia ser terrível para essas forças por ser(?) socialista.
Mas....Terrível....Os tomates!

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sábado, julho 29, 2006

A propósito da paranóia que o Sócrates

A propósito da paranóia que o Sócrates tem pelas tecnologias internéticas que chega ao ponto de inaugurar um portal dia sim, dia também, recebi isto por mail. É um pouco de humor negro para nos animar:
Se estás de esperanças mas a maternidade fechou, VAI PARIR PARA A BANDA LARGA!
Se a escola fechou e o teu menino teria de ir estudar para longe, MANDA-O PELA BANDA LARGA!
Despediram-te, não tens trabalho? TRABALHA NA BANDA LARGA!
Em casa chove, o tecto está a cair? COBRE-TE COM A BANDA LARGA!
O dinheiro não chega para comprares comida? COME A BANDA LARGA!
Dói-te o dente, mas o teu centro de saúde não tem odontologista? ARRANCA O DENTE COM A BANDA LARGA!
A reforma é pouca e o dinheiro não chega, PAGA COM A BANDA LARGA!
E por fim, quando estiveres morto, descansa em paz ENVOLTO NA BANDA LARGA!
Sê agradecido, portanto. O teu governo pensa em ti. Faz tudo por ti!
ATÉ TE DEU A BANDA LARGA!!

http://www.blogotinha.blogspot.com/

Espanha campeã!

Não nos Mundiais de futebol, mas na exportação de munições para armas ligeiras na África subsaariana.
Segundo um relatório recente da Intermón Oxfam intitulado Munições: o combustível dos conflitos [1], o valor médio anual das exportações espanholas de munições é de 8,7 milhões de euros, muito acima do que é exportado por grandes potências como o Reino Unido, embora muito atrás dos Estados Unidos, que vendem em cada ano o equivalente a 110 milhões de euros. A Espanha vende munições à África subsaariana no valor de 1,2 milhões de euros, quase o dobro do que vende a França (670.000) e o triplo do que vendem os Estados Unidos (435.000).
O principal comprador de munições espanholas é o Gana, para onde, em 2004, se exportaram 37 milhões de cartuchos “para caça”, um conceito que a Intermón Oxfam vem pondo em dúvida em todos os seus relatórios. Estas exportações espanholas são significativas porque o Gana é membro da Comunidade Económica de África Ocidental que decretou em 1998 uma moratória sobre a importação, exportação, produção e distribuição de armas pequenas e ligeiras, bem como suas munições. Não cumpre os seus compromissos e Espanha aproveita­‑se disso.
O relatório da Intermón Oxfam coloca em destaque que a imensa maioria da produção de munições, 83%, está fora de controle, algo que mostra a evidente responsabilidade dos Estados no seu comércio ilegal, já que a produção de munições não costuma ser uma actividade privada nem carente de controle, mas exactamente o contrário. É lógico pensar, então, que são os próprios Estados que põem fora de controle a produção que se realiza, normal e logicamente, sob a sua estreita supervisão.
A magnitude desse comércio e do arsenal que existe no mundo fica patente num dado estarrecedor proporcionado pelo relatório: só na Ucrânia e na Bielorrúsia há 3 milhões de toneladas de balas.
No que se refere a Espanha, os dados não podem estranhar­‑nos, sabendo que nos últimos anos o nosso país tem incrementado enormemente os gastos dedicados à indústria e à investigação militar.
A investigação militar subiu nos orçamentos de 2006 cerca de 26,6%, relativamente a 2005. Ao todo, atingiu um volume de 1683,89 milhões de euros, só 200 milhões menos que o dedicado à educação [...] que só subiu 16,6% relativamente ao ano anterior.
Um dos problemas colocados pela produção armamentista espanhola destinada à exportação é que, na sua grande maioria, se destina a países que mantêm conflitos bélicos, guerras civis ou confrontos sanguinários, o que efectivamente obriga a qualificar Espanha como uma das fontes de combustível que avivam os conflitos e a violência no mundo, inclusive em lugares onde não se respeitam os códigos de conduta internacional. De facto, Espanha é, para nossa vergonha, uma das grandes fornecedoras de material anti­‑motim a países onde há ditaduras ou regimes repressores da sua população.
De facto, embora Espanha seja teoricamente obrigada a respeitar as normas internacionais sobre comércio de armas, os investigadores independentes demonstram que se produzem violações dessas normas numa terça parte das exportações espanholas, o que também nos leva a dizer que Espanha não só é fonte de violência mas que, além disso, em demasiadas ocasiões o faz passando por cima das leis internacionais.
Actualmente, quase 15% do orçamento do Estado espanhol é dedicado a gastos militares, uns 58,10 milhões de euros diários. Isso é mais do que gastam juntos os Ministérios do Trabalho e Assuntos Sociais, Educação e Cultura, Agricultura, Pesca e Alimentação e Meio Ambiente.
Espanha é hoje em dia o segundo país do mundo que mais proporção do seu PIB dedica ao investimento militar, atrás dos Estados Unidos, e o segundo da OCDE que menos gasta em relação ao PIB em I+D civil, o que contrasta com o constante apelo a incrementar os recursos dedicados à investigação e à inovação para modernizar a nossa estrutura produtiva e a tornar mais competitiva.
Se o governo de verdade quisesse impulsionar o potencial investigador e a inovação na economia espanhola não elaboraria orçamentos nos quais se dedica ao I+D militar 3 vezes mais dinheiro do que à investigação básica, 7 vezes mais do que o dedicado a projectos sanitários, 22 vezes mais do que à I+D agrária e 31 mais do que à oceanográfica e pesqueira.
O resultado do contínuo incremento do gasto é que apenas 5 empresas ligadas à indústria militar repartem entre si o dobro do que recebem todas as Universidades e o CSIC para I+D civil.
A Espanha tornou-se numa potência dentro da industrial militar mundial, numa campeã no que diz respeito a fabricar meios de destruição e morte. Uma estratégia que é muito rentável para as empresas implicadas nessa indústria, mas que é muito custosa e improdutiva para a economia espanhola: nem sequer gera mais emprego ou rendimentos que outras actividades, é inflacionista e obriga a que o Estado renuncie a gastos muito necessários no campo do bem-estar social.
E, sobretudo, uma estratégia moralmente muito pouco compatível com o discurso pacifista que quer impulsionar a aliança entre as civilizações. Não se pode apregoar a paz mundial e, ao mesmo tempo, dedicar cada vez mais dinheiro a fabricar instrumentos de agressão e meios para que se materialize a violência.

Juan Torres López

[1] Oxfam, Munições: o combustível dos conflitos (pdf, 265 KB), 15/06/2006.

http://infoalternativa.org/europa/e033.htm

Não estou de acordo com a subida de impostos

Em campanha eleitoral disse o Eng.º Sócrates:
“Não estou de acordo com a subida de impostos. A subida dos impostos já foi feita no passado e não produziu bons resultados.” (3 de Fevereiro de 2005 – Debate televisivo com Pedro Santana Lopes).
Já depois das eleições disse:
“Não, não vamos aumentar os impostos porque essa é a receita errada. Não vamos cometer os erros do passado. As prioridades são: aposta no crescimento económico, reduzir a despesa e combater a fraude e evasão fiscal.” (14 de Abril de 2005 – Entrevista a Judite de Sousa)


Chegaram os Socialistas ao governo e o que vêem os portugueses? Aumentos generalizados de impostos. O IVA já aumentou, penalizando as famílias mais pobres e prejudicando as empresas.

Estas declarações merecem ser repetidas até à exaustão para que os cidadãos na altura das decisões tomem consciência do que é ser um político profissional...

Palestina: Um silêncio repugnante

Por vezes o silêncio é ensurdecedor. Nestes dias o mutismo dos que se dizem defensores da democracia liberal, do mundo livre e da economia de mercado ressoa com estrépito. O regime genocida de Israel, herdeiro sinistro do seu verdugo nazi, está a perpetrar um crime inqualificável contra o povo palestino. Quando Bush caracterizou o governo do Hamas como "terrorista" a União Europeia avalizou essa infâmia, Tel Aviv sentiu-se respaldada e abriu as portas do inferno. O bombardeamento indiscriminado de populações civis indefesas, os atentados contra autoridades democraticamente eleitas da Palestina e a destruição de tudo o que encontraram na sua passagem foi a palavras de ordem do governo israelense. Os gabinetes dos principais ministérios foram destruídos, ministros, parlamentares e altos funcionários da Autoridade Palestina encarcerados, o abastecimento de electricidade para a metade do milhão e meio de habitantes que se apinham em Gaza foi inutilizado pela aviação israelense, paralisando escolas, hospitais, oficinas e lojas, deixando os lares sem esse recurso vital. Em mais uns poucos dias já não haverá água potável porque as estações de bombagem deixarão de funcionar. Caminhos intransitáveis, campos abandonados, a frágil infraestrutura de Gaza está a ser metodicamente arrasada perante a indiferença do mundo. Noite após noite a aviação israelense sobrevoa esse pequeno território lançando bombas de estrondo, e das outras. A ordem do valente e honrado primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, foi terminante: "Que ninguém durma em Gaza". O pretexto desta barbárie: a captura pela resistência palestina do cabo do exército israelense Gilad Shalit — captura, não sequestro, uma vez que Shalit era membro de um exército invasor e foi capturado em combate pelos seus inimigos. Perante isto, Tel Aviv negou-se a negociar com os seus captores um intercâmbio de prisioneiros políticos — há umas 900 crianças e adolescentes palestinos presos em Israel, e mais de 5000 adultos, todos qualificados como terroristas. Os cárceres de Israel, como os de Guantánamo, não recolhem seres humanos.Quando o presidente iraniano exortou a "apagar Israel do mapa" o mundo foi comovido por uma onda de justificada indignação. Mas quando o governo de Israel leva à prática essa ameaça e apaga literalmente do mapa a Palestina, os líderes das "nações democráticas" e os seus apaniguados — os Vargas Llosa, Montaner, Zoe Valdéz e companhia — guardam um repugnante silêncio. Sua duplicidade moral é ilimitada. Podem justificar o seu silêncio qualquer coisa: inclusive um genocídio como que está a praticar Israel na Palestina. Naturalmente, não duvidarão nem um instante em qualificar de "terroristas" as imperdoáveis palavras do presidente iraniano. Mas quando o terrorismo de Estado não é declarado num discurso insensato e sim sistematicamente praticado por um peão dos Estados Unidos como Israel, sua consciência moral padece de um súbito adormecimento.O propósito do governo israelense é bem claro: apoderar-se definitivamente de Gaza. Sitia-os, deixa-os sem água, pão, luz, trabalho. Priva-os de toda esperança e extermina-os pouco a pouco, com a cumplicidade dos grandes defensores da democracia e da liberdade, preocupados como estão pela ameaça que os foguetes nortecoreanos representam para a civilização.
Atilio Boron
http://resistir.info/

As escolas ao serviço das marcas

Pode não se perceber nada na superfície, mas nas profundezas o inferno está em chamas.
Y.B. Mangunwijaya, escritor indonésio,
Já em 1934, o publicitário James Rorty afirmava que «um sistema democrático de educação (...) é um dos meios mais seguros de criar e ampliar enormemente os mercados para bens de todos os tipos e especialmente aqueles bens em que a moda tem importância».Durante muito tempo, a escola foi um lugar onde a publicidade e as marcas não entravam de forma significativa. Rapazes e raparigas reuniam-se ali, estudavam, aprendiam, conversavam, formavam opinião, divertiam-se, mais influenciados pela cultura da sua escola e do seu meio social do que por qualquer outra cultura fabricada em gabinetes ou laboratórios de marketing e de opinião.Com a escola para todos, este reservatório de «almas brancas» tornou-se tremendamente apetecível, não só para os gestores de marketing das grandes marcas e da publicidade em geral, mas também para outras instituições, como as igrejas e ONGs, interessadas em angariar fieis de tenra idade.«Você concordará que o mercado jovem é um manancial inexplorado de novas receitas. Você também concordará que o mercado jovem passa a maior parte do seu dia na escola. Agora a questão é, como alcançar e controlar esse mercado?», afirmava e perguntava um folheto da «IV Conferencia Anual de Marketing do Poder Juvenil».Como alcançar e controlar esse mercado? A resposta foi sendo dada com plena eficácia, nos países mais desenvolvidos, a partir do inicio dos anos noventa.Com a queda do Muro de Berlim e o fim da disputa-concorrência entre o mundo capitalista e o de influência da ex-União Soviética, um pouco por todos os países ocidentais, decaíram as preocupações do Estado com a educação e acentuou-se a pobreza de recursos educacionais nas escolas. Neste quadro de capitalismo socialmente desleixado, as escolas foram então confrontadas com duas situações antagónicas. Por um lado, acentuava-se a diminuição de verbas para a educação, mas por outro, as escolas, solicitadas para o ensino de massas e para novas tarefas e respostas, eram pressionadas pelas opiniões públicas, domesticadas pelo marketing das empresas, a apetrecharem-se com tudo o que foi surgindo de mais moderno na área das tecnologias da informação. Ao mesmo tempo que as escolas estavam perante cortes orçamentais, os custos com a educação cresceram desmesuradamente obrigando muitas escolas, públicas e privadas, a procurar fontes alternativas de financiamento. Estava criado o clima que abria as escolas às empresas. Esta pressão e este clima, escancarou as portas das escolas, em países mais desenvolvidos, à publicidade e, em particular, às grandes marcas.Parcerias e acordos de patrocínio, com as grandes empresas, têm aparecido, a muitas escolas públicas, como a única alternativa para o seu equipamento em novas tecnologias. Se o preço a pagar para conseguir estes bens — da moda e promovendo a fé no sucesso educativo garantido — for submeter as escolas à publicidade, pensam alguns que nada mais podem fazer senão resignar-se.Dizem os gestores privados que «não há almoços grátis». Nenhum dá nada às escolas sem obter lucro, e lucro gordo, com as «doações». As grandes empresas, donas de grandes marcas, ao entrarem nas escolas, não levam apenas a sua marca para vender. Querem ir mais longe. Os gerentes das marcas querem que estas ocupem junto dos jovens o lugar principal. Não querem ser um apêndice, mas tema central da educação. Não se conformam em ser matéria optativa, querem ser tema obrigatório de estudo. Querem que os alunos aprendam, naturalmente, mas, se têm de ler, porque não ler sobre a sua empresa, ou escrever sobre a sua marca ou apresentar um projecto para a sua campanha publicitária? Levar os estudantes a identificarem-se e a adquirir uma consciência de marca, eis um dos objectivos fundamentais desta entrada das grandes empresas nas escolas.Ensinar os estudantes a construir uma consciência de marca foi o que o «Channel One», propriedade da «K-111 Comunications» e a sua parceira canadiana, a «Youth News Network», têm conseguido de forma exemplar.No começo da década, essas erradamente autodenominadas emissoras educativas, apresentaram uma proposta a directores de escolas da América do Norte. Eles propunham que abrissem as salas de aula a dois minutos de publicidade televisiva por dia, metidos no meio de vinte minutos de programação de assuntos do interesse dos adolescentes. Muitas escolas concordaram. As emissoras entraram no ar. Desligar a publicidade não era possível. A programação era obrigatória para os alunos. Os professores não tinham meios de ajustar o volume da emissora, especialmente durante os anúncios. Em troca, as escolas não recebiam receitas directamente das estações, mas podiam usar o equipamento nalgumas aulas e, nalguns casos, eram brindadas com alguns computadores.O «Channel One», entretanto, cobra alto o acesso à publicidade em sala de aula. Com um público obrigatório, seleccionado e sem possibilidade de mudanças de canal ou controle de volume, pode vangloriar-se do que nenhuma outra TV pode: «erosão de audiência zero». A estação já está instalada em 12.000 escolas, alcançando um público estimado em 8 milhões de estudantes.A entrada da publicidade nas escolas faz parte dos processos, variados e multifacetados, de privatização das escolas públicas. Conhecer tais processos é hoje uma questão essencial para entender os rumos das politicas educativas dominantes.
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4370

sexta-feira, julho 28, 2006

Uma empregada de limpeza do Tate Gallery

Uma empregada de limpeza do Tate Gallery, em Londres, deitou, por erro, para o lixo uma peça que integrava uma exposição de arte moderna.

Segundo a imprensa britânica desta sexta-feira, a obra de arte foi recuperada no contentor do lixo da galeria quando o conservador se deu conta do seu desaparecimento.A obra, intitulada «Nova criação da apresentação pública de uma arte auto-destrutiva», é da autoria do artista alemão Gustav Metzger, e data de1960.

A peça, colocada sobre uma mesa, consiste num caixote de lixo com resíduos diversos, entre os quais pedaços de cartão e jornais velhos.

A insuperável incapacidade da ministra da Educação

Não é a primeira vez que me interpelam questionando-me assim: mas será que não encontras uma só coisa positiva na actividade da ministra da Educação, de forma a que não digas sempre mal do que ela faz? A crónica de hoje é uma pequeníssima parte escrita do que respondi, em amena conversa, ao último interpelante, um amigo, velho militante do PS, economista, aterrorizado pelo eventual homicídio da República às mãos do défice, recém-convertido, por essa paranóia, ao neoliberalismo selvagem.
De facto, não encontro uma só coisa que me mereça aprovação, o que não significa que discorde, a montante, de todas as intervenções havidas. Como assim? É que as que em simples propositura me dariam bem, são, a jusante, irremediavelmente destruídas pelos processos escolhidos.
A ministra não tem, conceptualmente, estrutura para discursar sobre os problemas em que pretende intervir. É confrangedor verificar, sempre que procura argumentos, a inconsistência das opiniões que emite como se fossem factos. Do que vai dizendo, retira-se o desconhecimento constante dos conceitos a que alude. Mas, sobretudo, está possuída por um sentimento obsessivo, próximo do ódio aos professores, que dela exala de cada vez que se lhes refere. Superficializa ou generaliza indevidamente, estragando sempre tudo. É uma catástrofe! Vão alguns exemplos:
1. Centrar nos docentes de sala de aula, por forma reincidente e inequivocamente consciente, a responsabilidade pelos males do ensino, como se não coubesse aos políticos e à casta de pensadores e assessores em que se apoiam a definição das políticas e dos processos de as implementar, é uma de duas coisas: má-fé ou ignorância.
2. As "aulas de substituição", o prolongamento do tempo de permanência das crianças na escola, o fim dos trabalhos para casa, o aumento das cargas curriculares das disciplinas em que o fracasso é maior, etc. são medidas demagógicas, populistas e inadequadas, com que a ministra pretendeu contentar as necessidades imediatas de pais que não sabem o que fazer aos filhos enquanto trabalham.
Quando um professor falta, uma escola organizada pode e deve prover uma aula de substituição ou uma actividade de compensação. São coisas diferentes, que a ministra nunca entendeu. Não se pode fazer isso ludibriando as regras contratuais, como a ministra fez. Actividades desse tipo têm que ser úteis, não servindo as ocupações grosseiramente caricatas que se generalizaram, nem os processos arcaicos de encurralamento de docentes aos magotes em salas, à espera do acaso, sem critérios e aviltando a dignidade de todos. A ministra não percebeu que há escolas que não têm recursos para executar um programa desse tipo. A ministra ignora que, face à cultura organizacional vigente, de obediência cega aos papéis, a pressão posta pelos serviços e a ausência de directivas sensatas só poderia gerar bagunça. A ministra não conhece as escolas que tutela, as pessoas que comanda e, depois de ter a confusão exposta na praça pública, fingiu que a não via ou, pior ainda, não se deu conta dela.
As crianças passam na escola mais tempo do que os operários estão nas fábricas. Muitas escolas, demasiadas escolas, são inóspitas como, felizmente, já o não são a maioria das fábricas. A ministra passa olimpicamente a leste dessas realidades. A ministra não compreendeu que o problema do ajustamento social a um novo paradigma de vida é tarefa que não cabe à Escola só, muito menos pode ser cumprido pela maioria das escolas que tem.
A ministra é inconsistente quando diz que as crianças têm que "progredir sozinhas acompanhadas" (sic), para liquidar os trabalhos de casa e amarrá-las mais tempo à escola e aos professores. Desfechou, assim, mais uma machadada no valor do trabalho, reforçou o culto do facilitismo e ao "eduquês" somou o "sociologês", invocando que os trabalhos de casa acentuam clivagens entre os filhos de pais cultos e os filhos de pais menos letrados. Como se os pais de hoje fossem mais ignorantes do que eram ontem, ou a lógica dos trabalhos para casa se resumisse a esse deve/haver parental de culturas.
A ministra ilude-se quando pensa que combate o insucesso com mais horas do mesmo. A ministra terminará o mandato sem entender que o verdadeiro insucesso se combate com medidas adequadas de gestão, que aumentarão, irremediável e temporariamente, o insucesso que a preocupa, o estatístico. Aqui ficam, a mero título de exemplo, algumas dessas medidas indispensáveis, que ela jamais assumirá, por falta de coragem e de competência: intervenção profunda no modelo de gestão das escolas, autonomizando-as, responsabilizando-as e entregando a respectiva direcção aos mais competentes; radical mudança na estrutura orgânica dos serviços centrais do ministério, que deviam estar estritamente orientados para a definição de políticas assentes em estudos e dados, supervisão da qualidade, gestão orçamental e gestão dos desempenhos e inovação de processos e de recursos; reformulação de programas, marcada pela exigência e diminuição do número de disciplinas e de horas curriculares; recuperação da homogeneização das turmas; implicação séria das organizações locais e comunitárias nas actividades extracurriculares; radical alteração dos normativos disciplinares escolares com a devolução clara da autoridade ao professor e consequências evidentes para o tratamento rápido dos incidentes; imposição de exames nacionais em todos os fins de ciclo, com peso relevante na classificação dos alunos.
Santana Castilho
http://ns3.esas.pt/dfa/santana_castilho.htm

As hierarquias no Médio Oriente

O ataque militar maciço de Israel ao Líbano já dura há mais de uma semana, o que tem circunstanciado uma vasta exibição do que se entende por “objectividade informativa” nos três canais generalistas de televisão a operar em Portugal.
Todos sem excepção – e seguindo, aliás, o exemplo da generalidade dos jornais – tratam de hierarquizar os acontecimentos de modo a salvaguardar, em primeiro lugar, as posições de Israel, sugerindo ou, mesmo, explicitando a sua posição de “vítima” e remetendo para segundo lugar tudo o que diga respeito aos palestinianos e aos árabes em geral, onde os elementos são deliberadamente misturados, numa amálgama que em si mesma menoriza tudo o que diga respeito a esse lado do conflito.
Os exemplos abundam e são diários, mas basta recordar um ou outro.
Logo no início todos os canais noticiaram, com a apresentação das mesmas imagens vindas directamente da cidade israelita de Haifa e enviadas para as redacções de todo o mundo pelas grandes agências norte­‑americanas, um morto e alguns feridos israelitas na sequência de um bombardeamento desta cidade do Norte de Israel por morteiros lançados pelo Hezzbollah. Viam-se ambulâncias, macas com letras hebraicas transportando pessoas, uma azáfama ordenada e eficiente de serviços médicos civis em acção enquanto por cima disto, em voz off, se explicava que “aquelas vítimas israelitas civis foram atingidas por morteiros lançados pelo Hezzbollah contra a cidade israelita mais tolerante”, supondo-se que esta informação pretenderia demonstrar que o Hezzbollah era tão malvado, que não lhe bastava atacar civis, tinha também de atingir “civis tolerantes”. A notícia prosseguia com afirmações de um ministro israelita garantindo que «a ofensiva prosseguirá até serem libertados, incondicionalmente, os dois soldados israelitas capturados», alguns pormenores sobre as diligências feitas na ONU para se ultrapassar o conflito, referindo finalmente que «o Sul do Líbano tinha sido bombardeado pela aviação israelita, provocando 22 mortos palestinianos», isto sempre com as imagens das vítimas israelitas em Haifa e já sem imagem nenhuma, a não ser a dos pivots dos telejornais, quando foi dada a informação, como remate e quase de passagem, dos 22 mortos palestinianos, certamente uma bagatela, para merecer tão displicente lugar na notícia...

EM NOME DA «AUTO-DEFESA»

Em televisão, como se sabe, a imagem é fundamental, não sendo por isso indiferente – e muito menos inocente – quer as imagens que se filmam, quer as que se mostram e, ainda, as que se escolhem nas sequências da montagem.
Também aqui os três canais afinam pelo mesmo diapasão, no que toca à actual crise no Médio Oriente.
Sem excepção, as imagens pormenorizadas e imediatas vêm sempre de Israel, mostrando com minúcia e nitidez qualquer estrago infligido, a perturbação nas ruas, a aflição das pessoas, as declarações dos cidadãos, os feridos a serem transportados, as declarações dos políticos israelitas, tudo fornecido na hora, com relevo e precisão e a partir do território israelita. Trata-se de um ponto de vista total: a partir do local e tomando indisfarçavelmente partido pelos locais...
Quando se fala das consequências no outro lado as imagens são genéricas, com registos à distância, muitas vezes intercalando filmagens de explosões fornecidas pelos próprios aviões israelitas durante os bombardeamentos, à semelhança do que faz o exército norte-americano nas “reportagens” do Iraque.

De fora, ou seja sem uma única imagem a testemunhar os acontecimentos, ficam os já 250 mortos civis palestinianos e libaneses em sete dias, chacinados pelos bombardeamentos israelitas sobre o Líbano e a sua capital, Beirute, assassinados indiscriminadamente e contando entre eles numerosas mulheres e crianças.
Paralelamente a isto, os mesmos três canais generalistas portugueses, todos à uma, continuam muito tranquilamente, sem um distanciamento ou uma nota crítica que seja, a difundir as declarações dos responsáveis políticos israelitas chamando “terroristas” aos adversários que assassinam à bomba e reclamando o direito de bombardear civis inocentes onde quer que seja e em nome do que chamam o seu “direito à auto-defesa”...

Henrique Custódio
http://infoalternativa.org/midia/midia040.htm

Portugal: um país em crise e cada vez mais endividado, mas...

Portugal: um país em crise e cada vez mais endividado, mas os lucros da banca cresceram 71,5% em 2005, certamente o maior aumento na UE

Em 2005, o endividamento das famílias e das empresas não financeiras portuguesas aumentou significativamente, o que determinou que os níveis de endividamento no nosso País sejam muito mais elevados do que os verificados na generalidade dos países da União Europeia, facto esse associado a lucros insólitos obtidos pela banca.
Assim, de acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira – 2005 do Banco de Portugal, entre 2004 e em 2005, o nível de endividamento das famílias portuguesas aumentou de 78% para 84,2% do PIB, quando a média dos países da área do euro, a que Portugal também pertence, era em 2005 apenas de 55% do PIB. E o nível de endividamento das empresas não financeiras portuguesas cresceu, entre 2004 e em 2005, de 97% para 100% do PIB quando, em 2004, a média nos países da área do euro, correspondia apenas a 65,9% do PIB.
Assim, enquanto as famílias e as empresas portuguesas enfrentam um estrangulamento financeiro crescente devido ao aumento do endividamento, a banca portuguesa nunca teve lucros tão elevados. Entre 2004 e 2005, os lucros líquidos da banca passaram de 1.284 milhões de euros para 2.202 milhões de euros, ou seja, aumentaram 71,5%. Estes elevadíssimos lucros são conseguidos também à custa do pagamento de reduzidos impostos ao Estado e da redução das despesas com os trabalhadores. Assim, em 2005, os impostos sobre rendimento pagos pela banca representaram apenas 13,5% dos seus lucros antes dos impostos quando a taxa legal de IRC é de 25%. Se a banca, no lugar de ter pago taxas como esta, tivesse pago a taxa legal de IRC (25%), ou seja, a taxa que qualquer PME é obrigada a pagar, o Estado teria arrecadado em dois anos – 2004 e 2005 – mais 553,75 milhões de euros do que recebeu, o que aplicado num Fundo contribuiria para garantir a sustentabilidade da Segurança Social a longo prazo. Os elevados lucros obtidos pela banca também foram à custa dos seus trabalhadores pois, entre 2004 e 2005, os custos de pessoal na banca «diminuíram 10%» (pág. 38), o que determinou que baixassem de 40,8% para 36,2% do VAB.
De acordo com o próprio Banco de Portugal, o crescente endividamento das famílias determinado pela política comercial agressiva da banca, com o objectivo de aumentar os lucros, está a promover «níveis de despesa que se poderão revelar não sustentáveis». E o aumento do endividamento das empresas não é determinado pelo crescimento do investimento pois, como consta do próprio Relatório do Banco de Portugal, «o financiamento do investimento […] terá, em 2005, induzido uma retracção da procura de empréstimos, em contraste com o observado na área do euro». Este endividamento interno tem sido acompanhado por um crescimento muito elevado da dívida do País ao estrangeiro, tendo atingido, em 2005, 95 mil milhões de euros, e cabendo à banca 60% deste total.
É evidente o carácter parasitário da banca portuguesa que, por um lado, incentiva o endividamento das famílias com o objectivo de multiplicar os lucros a qualquer preço e, por outro lado, não revela qualquer interesse em apoiar o investimento produtivo e em bens transaccionáveis porque o risco é maior e, para fazer isso, endivida-se muito ao estrangeiro. Desta forma, a política de crédito seguida pela banca em Portugal torna ainda mais difícil a saída da profunda e grave crise económica e social que o País enfrenta actualmente, o que é agravado pela política do governo centrada na obsessão do défice. O próprio Banco de Portugal reconhece no seu Relatório esse facto, pela primeira vez, ao escrever o seguinte: «A necessidade de prosseguir a consolidação orçamental aponta para que continue a observar-se uma divergência entre o crescimento da economia portuguesa e o conjunto da área do euro» (pág. 30 do Relatório). Tardiamente, o próprio Vítor Constâncio veio afirmar o mesmo que sempre tínhamos dito, mas que ele antes sempre negara. Na intervenção que fez num almoço organizado pela Câmara de Comércio Luso-Espanhola disse o seguinte (Diário de Notícias, Economia, 30.6.2006): «Em 2006, o esforço de consolidação orçamental vai retirar 0,6 pontos percentuais à taxa de crescimento do PIB» (este valor parece estar claramente subestimado). E «Portugal viu­‑se forçado a reduzir fortemente o investimento público». O que Vítor Constâncio ainda não reconheceu são as consequências graves no futuro de se ter “reduzido fortemente o investimento público”, o que, por arrastamento, tem contribuído para uma redução muito grande do investimento privado desde 2001.
Eugénio Rosa
http://infoalternativa.org/autores/eugrosa/eugrosa085.htm

quinta-feira, julho 27, 2006

napoleão versus socrates

Napoleão Bonaparte, durante as suas batalhas usava sempre uma camisa de cor vermelha. Para ele era importante porque, se fosse ferido, na sua camisa vermelha não se notaria o sangue e os seus soldados não se preocupariam e também não deixariam de lutar.
Toda uma prova de honra e valor.

Duzentos anos mais tarde, José Sócrates usa sempre calças castanhas.

Gazeta ao exame...

História verídica, ocorrida numa Faculdade do Porto:

Uma professora universitária, acabava de dar as últimas orientações aos alunos, acerca do exame, que se realizaria, daí a uma semana.Finalizou, chamando a atenção de que, não haveria desculpas para a falta.Nenhum aluno deveria deixar de estar presente, salvo motivo muito grave,como acidente, doença ou morte, do próprio ou de parente próximo...!Um engraçadinho, que estava sentado no fundo da sala, perguntou com aquele ar matreiro, de cinismo parvo e arrogante, se um "extremo cansaço" por manifesto excesso, de actividade sexual, poderia ser incluído, na lista de justificativos!?!A turma explodiu em gargalhadas, com a professora a aguardar pacientemente que o silêncio fosse restabelecido. Logo, que isso aconteceu, ela olhou para o palhaço e respondeu:"Isso não é um motivo justificado. " - e continuou, serenamente..."Como o exame será de escolha múltipla, você pode vir para a sala e escrever com a outra mão... ou, se não se puder sentar, pode responder de pé! "

Como os media cobrem Israel

Se a sua fonte de notícias é apenas a televisão, você não terá nenhuma ideia das raízes do conflito do Médio Oriente, ou que os palestinos são vítimas de uma ocupação militar ilegal.Em Maio, o Glasgow University Media Group, notável pela sua análise pioneira dos media, publicou um estudo das reportagens do conflito israelense-palestino. Ele deveria ser uma leitura obrigatória nas salas de redacção e nas escolas de comunicação. A investigação mostrou que a falta de entendimento do público em relação ao conflito e sua origens foi preparada pelos relatos noticiosos, especialmente da televisão.Aos espectadores, afirma o estudo, raramente lhes é dito que os palestinos são vítimas de uma ocupação militar ilegal. A expressão "territórios ocupados" quase nunca é explicada. Na verdade, apenas 9 por cento dos jovens entrevistados sabiam que os israelenses eram os ocupantes que os "colonizadores" ("settlers") eram israelenses. A utilização selectiva da linguagem é importante. O estudo descobriu que palavras tais como "assassínio", "atrocidade", "linchamento" e "matança selvagem a sangue frio" eram utilizadas apenas para descrever mortes israelenses. "A extensão com que algum jornalismo assume a perspectiva israelense", escreveu o Professor Greg Philo, "pode ser vista se as declarações forem 'revertidas' e apresentadas como acções palestinas. Não encontrámos quaisquer relatos [noticiosos] a declarar que 'Os ataques palestinos foram em retaliação pelo assassínio daqueles que resistem à ocupação israelense ilegal' ".Uma vez que a verdade central do conflito é habitualmente obscurecida, nada disto é surpreendente. Noticiários e programas de assuntos actuais raramente, se é que alguma vez, recordam aos espectadores que Israel foi estabelecido em grande medida pela força sobre 78 por cento da Palestina histórica e, desde 1967, tem ocupado ilegalmente e imposto várias formas de governo militar sobre os 22 por cento remanescentes. A "cobertura" dos media há muito reverteu os papeis do opressor e da vítima. Israelenses jamais são chamados de terroristas. Os correspondentes que quebram este tabú são muitas vezes intimidados com o estigma do anti-semitismo — uma ironia lúgubre, pois os palestinos também são semitas.Tendo há muito reconhecido o "direito" de Israel a mais de dois terços do seu país, a liderança palestina tem-se contorcido a fim de acomodar um labirinto de planos, sobretudo americanos, concebidos para negar verdadeira independência e assegurar poder e controle duradouro a Israel. Até recentemente, isto era relatado acriticamente como "o processo de paz". Quando palestinos comuns gritaram "basta!" e levantaram-se na segunda intifada, armados principalmente com fisgas, eles foram abatidos por atiradores de elite (snipers) com armas de alta velocidade e com tanques e helicópteros Apache, fornecidos pelos Estados Unidos.E agora, no seu desespero, pois alguns estão a voltar-se para ataques suicidas, os palestinos aparecem nos noticiários apenas como bombistas e desordeiros, o que, como destaca o estudo de Glascow, "é, naturalmente, a visão do governo israelense". O mais recente eufemismo, "incursão", é do vocabulário das mentiras cunhadas no Vietnam. Isto significa assaltar seres humanos com tanques e aviões. "Ciclo de violência" é semelhante. Sugere, na melhor da hipóteses, dois lados iguais, nunca que os palestinos estão a resistir à opressão violenta com violência. Um Channel 4 Dispatches recentemente "equilibrou" o assalto israelense ao campo de refugiados de Jenin com um ataque palestino a um "colonato". Não houve qualquer explicação de que estes não são de modo algum colonatos e sim fortalezas armadas e ilegais que são peça central para uma política de impor controle estratégico e militar.Em 9 de Junho, a série Correspondent da BBC Television difundiu uma reportagem acerca do recente sítio à Igreja da Natividade em Belém. Aquilo foi um caso exemplar dos problemas identificados na investigação de Glascow. Foi, com efeito, um filme de propaganda da ocupação israelense apresentado pela BBC. Foi feito em co-produção com um canal americano, e os créditos listavam o produtor como Israel Goldvicht, que dirige uma companhia produtora israelense. Teria sido bonito se os autores do filme tivessem feito qualquer tentativa para desafiar os militares israelenses com quem se congraçaram. "Os israelenses estavam determinados a não danificar os edifícios", começou o narrador. "A imprensa internacional fora afastadas da Praça da Manjedoura, mas foi-nos permitido permanecer e observar a operação israelense..." Com este "acesso único" não explicado aos espectadores, o filme apresentou um Coronel Lior como o rapaz da boa estrela, garantindo "tratamento médico para qualquer ferido", dizendo um carinhoso alô num telefone móvel a um amigo em Oxford Street e, tal como qualquer oficial colonial, falando sobre e em nome dos palestinos."Assassinos", como foram descritos pelo coronel sem serem desafiados pela equipe BBC/Israel Goldvicht. Eles eram "terroristas" e "pistoleiros", não aqueles que resistiam à invasão da sua pátria. O direito de Israel a "prender" protestatários pacifistas estrangeiros não provocou interrogações da BBC. Nem um único palestino foi entrevistado. Como o sol brilhava sobre o seu fino perfil, a última palavra foi para o bom coronel. As questões entre israelenses e palestinos, disse ele, "eram pontos de vista pessoais".Bem, não são. A brutal subjugação dos palestinos é, sob qualquer interpretação do direito, uma enorme injustiça, um crime no qual o coronel desempenha uma parte destacada. A BBC sempre proporcionou o melhor e mais refinado serviço de propaganda do mundo, porque assuntos de justiça e injustiça, certo e errado são simplesmente escamoteados tanto pelo "equilíbrio" como pela sofística liberal, alguém é ou "pro-israelense" ou "pro-palestino". Fiona Murch, a produtora executiva de Correspondent, contou-me que a Israel Goldvicht Productions não teria ganho a "confiança" do exército israelense se o produtor perguntasse questões jornalísticas reais. Foi uma cândida admissão. "Era romper um estereótipo", disse ela. "Era acerca de um homem bom e decente" (o coronel). Ela disse que devia ter visto uma série anterior de Correspondente, na qual apareciam palestinos.Penso que ela tentava apresentar aquilo como "equilíbrio" para "O sítio de Belém" — um filme que pode ser descartado como RP barata, não fosse pela sua cumplicidade com um regime que utiliza a diferença étnica para negar direitos humanos, aprisionar pessoas sem acusação ou processo, e assassina e tortura "sistematicamente", afirma a Amnistia.
Goebbels teria aprovado.
John Pilger
http://resistir.info/

A resposta do Hezbollah revela meses de planeamento

Será chamado o massacre de Marwaheen. Todos os civis mortos pelos israelitas tinham recebido ordem dos próprios israelitas para abandonarem as suas casas nessa povoação fronteiriça umas horas antes. Vão-se embora, disseram-lhes pelos alto-falantes, e assim o fizeram, 20 deles num comboio de automóveis civis. Foi então que chegaram os caças israelitas para bombardeá-los, matando 20 libaneses, pelo menos nove deles crianças. A brigada local de bombeiros não pôde apagar os fogos que ardiam naquele inferno. Outro alvo “terrorista” tinha sido eliminado.
Ontem, os israelitas até produziram mais alvos “terroristas” – postos de gasolina do vale de Bekaa, por todo o caminho até à cidade fronteiriça de Hermel, no norte do Líbano, e outra série de pontes numa das poucas rotas de escape para Damasco, desta vez entre Chtaura e a povoação fronteiriça de Masnaa. O Líbano, como de costume, pagava o preço pelo conflito Hezbollah-Israel – como o Hezbollah sem dúvida calculou que pagaria quando cruzou a fronteira israelita na quarta-feira e capturou dois soldados israelitas perto de Marwaheen.
Mas quem está realmente a ganhar a guerra? Não o Líbano, pode-se dizer, com os seus mais de 90 civis mortos e a sua infra-estrutura destruída incessantemente em centenas de ataques aéreos israelitas. Mas está Israel a ganhar? O ataque com míssil de sexta­‑feira à noite a um navio de guerra israelita, frente à costa libanesa, sugere outra coisa. Quatro marinheiros israelitas foram mortos, dois deles lançados ao mar quando um míssil teleguiado de fabrico iraniano embateu na sua canhoneira Hetz frente a Beirute, ao anoitecer. Os libaneses que tinham suportado o fogo de canhoneiras israelitas ao longo de muitos anos estavam eufóricos. Podiam não ter simpatizado com o Hezbollah – mas detestavam os israelitas.
Só agora, no entanto, começa a emergir um quadro mais autêntico da batalha pelo Sul do Líbano, e é uma história fascinante e assustadora. O cruzamento de fronteira inicial, a captura dos dois soldados e a morte de outros três foram planejados, de acordo com Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah que escapou ao assassinato pelos israelitas na sexta-feira à noite, há mais de cinco meses. E o ataque de sexta-feira com míssil à canhoneira israelita não foi a inspiração de último minuto de um membro do Hezbollah que acabasse de ver o navio de guerra.
Agora parece claro que os líderes do Hezbollah – Nasrallah era o comandante militar da organização no sul do Líbano – avaliaram com cuidado os efeitos do seu cruzamento de fronteira, confiando na crueldade da resposta de Israel para aplacar qualquer crítica à sua acção no interior do Líbano. Estavam certos no seu planeamento. A retaliação israelita foi ainda mais cruel do que imaginavam alguns líderes do Hezbollah, e os libaneses rapidamente silenciaram toda a crítica ao movimento guerrilheiro.
O Hezbollah tinha presumido que os israelitas entrariam no Líbano após a captura dos dois soldados e rebentaram o primeiro tanque Merkava israelita quando se tinha adentrado apenas 10 metros no país. Todos os quatro tripulantes israelitas foram mortos e o exército israelita não avançou mais. Os mísseis de longo alcance, de fabrico iraniano, que mais tarde explodiram em Haifa, tinham sido precedidos há apenas algumas semanas atrás por um avião não tripulado do Hezbollah, o qual vistoriou o norte de Israel e depois voltou para aterrar no leste do Líbano após ter tirado fotografias durante o seu voo. Estas fotografias não só sugeriram uma rota de voo para os foguetes do Hezbollah contra Haifa; também identificaram o centro de controlo aéreo militar ultra­‑secreto de Israel em Miron.

O ataque seguinte – ocultado pelos censores israelitas – foi dirigido contra essa instalação. De nome de código “Apolo”, cientistas militares israelitas trabalham bem no interior de grutas e bunkers na montanha em Miron, resguardados por torres de observação, cães de protecção e arame farpado, supervisionando todo o tráfico aéreo que entra ou sai de Beirute, Damasco, Amã e outras cidades árabes. A montanha está encimada por nichos de antenas que o Hezbollah rapidamente identificou como um centro de rastreamento militar. Assim, antes de lançarem foguetes contra Haifa, enviaram um punhado de mísseis para Miron. As grutas são intocáveis, mas o ataque a um local tão secreto por parte do Hezbollah chocou profundamente os planificadores militares israelitas. O “centro do terror mundial” – ou o que eles imaginem que é o Líbano – não só podia violar a sua fronteira e capturar os seus soldados, mas atacar o centro nevrálgico do comando militar israelita do norte.
Depois vieram os mísseis contra Haifa e o ataque à canhoneira. Está agora claro que esta operação militar bem sucedida – tão desdenhosos do seu inimigo estavam os israelitas que, embora o seu navio de guerra estivesse equipado com um canhão e uma metralhadora Vulcan, nem sequer tinham dotado o navio de capacidade anti­‑míssil – também foi planeada há meses. Logo que apareceram os barcos de classe Hetz, o Hezbollah posicionou uma equipa de lançamento de mísseis na costa de Beirute ocidental, não longe de Jnah, uma equipa treinada durante muitas semanas precisamente para um tal ataque. Levou menos de 30 segundos para que o míssil de fabrico iraniano saísse de Beirute e atingisse o navio em cheio, incendiando-o e matando os marinheiros.
Ironicamente, os próprios israelitas tinham convidado jornalistas para uma viagem “incorporada” na sua marinha apenas umas horas antes – foi­‑lhes permitido filmar as armas dos navios a disparar sobre o Líbano – e, no momento em que o Hezbollah atingiu o navio de guerra, na sexta-feira, a estação de televisão do Hezbollah, Al­‑Manar, começou a mostrar as imagens “incorporadas”. Foi uma astuta peça de propaganda.
Os israelitas proclamavam ontem o facto de o míssil ser de fabrico iraniano como prova da participação do Irão na guerra do Líbano. Foi um estranho raciocínio. Como quase todos os mísseis usados para matar os civis do Líbano nos últimos quatro dias foram fabricados em Seattle, Duluth e Miami nos Estados Unidos, o seu emprego sugere já a milhões de libaneses que os Estados Unidos estão por trás do bombardeamento do seu país.
Robert Fisk

http://infoalternativa.org/autores/fisk/fisk085.htm

Os nomes da barbárie

Em 1934, Bertolt Brecht escreveu sobre o carácter nada inocente das nossas escolhas conceituais. Mais de 70 anos depois, a reflexão permanece actual. Nas últimas semanas, foram divulgados novos estudos que advertem sobre o colapso ambiental e social no planeta. Que nome devemos dar a esse quadro?

«Na nossa época, aquele que em vez de ‘povo’, diz ‘população’, e em lugar de ‘terra’, fala de ‘latifúndio’, evita já muitas mentiras, limpando as palavras da sua magia de pacotilha. A palavra ‘povo’ exprime uma certa unidade e sugere interesses comuns; a ‘população’ de um território tem interesses diferentes e opostos. Da mesma forma, aquele que fala em ‘terra’ e evoca a visão pastoral e o perfume dos campos favorece as mentiras dos poderosos, porque não fala do preço do trabalho e das sementes, nem no lucro que vai parar aos bolsos dos ricaços das cidades e não aos dos camponeses que se matam a tornar fértil o ‘paraíso’. ‘Latifúndio’ é a expressão justa: torna a aldrabice menos fácil. Nos lugares onde reina a opressão, deve-se escolher, em vez de ‘disciplina’, a palavra ‘obediência’, já que mesmo sem amos e chefes a disciplina é possível, e caracteriza­‑se portanto por algo de mais nobre que a obediência. Do mesmo modo, ‘dignidade humana’ vale mais do que ‘honra’: com a primeira expressão o indivíduo não desaparece tão facilmente do campo visual; por outro lado, conhece-se de ginjeira o género de canalha que costuma apresentar-se para defender a honra de um povo, e com que prodigalidade os gordos desonrados distribuem ‘honrarias’ pelos famélicos que os engordam.»
Essas palavras foram escritas pelo escritor e dramaturgo alemão, Bertolt Brecht, em 1934, num artigo intitulado “As cinco dificuldades para escrever a verdade” [1]. A reflexão sobre o carácter nada inocente das escolhas conceituais que fazemos todos os dias para falar sobre o que nos cerca é mais actual do que nunca. O mundo em que vivemos hoje já foi descrito como a sociedade da informação. De facto, nunca, na história da humanidade, circulou tanta informação como hoje. E a uma velocidade cada vez mais rápida. No entanto, aparentemente, isso não nos tornou mais sábios. Pelo contrário, as toneladas de informações (se é que elas têm peso) que circulam diariamente parecem andar de mãos dadas com uma espécie de anestesia colectiva. Uma anestesia que tem, como um dos seus efeitos colaterais, o exercício quotidiano de uma maquilhagem para tentar ocultar ou minimizar o que vem ocorrendo no mundo. Nas últimas semanas, a imprensa divulgou o resultado de várias pesquisas que parecem exigir a retomada da reflexão de Brecht: os problemas sociais e ambientais que vivemos hoje não caracterizam propriamente uma “crise” global, mas indicam que já estamos a viver uma situação de “barbárie”. Senão, vejamos que nome dar ao conjunto dos seguintes fenómenos.

FOME: 100 MIL MORTES POR DIA

A ordem económica mundial mata 100 mil pessoas de fome por dia, apesar de o mundo ter hoje a capacidade de alimentar 12 mil milhões de seres humanos, o dobro de sua população actual, denunciou, no dia 21 de Junho deste ano, o relator da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler. Falando em nome próprio, e não como relator da ONU, «para ter mais liberdade», Ziegler fez um duro discurso no 2° Fórum Mundial das Migrações, que reuniu 3.600 pessoas de 86 países, em Rivas Vaciamadrid, Espanha. Segundo ele, a cada sete segundos uma criança menor de 10 anos morre por problemas ligados à desnutrição, e a cada quatro minutos uma criança fica cega por falta de vitamina A. «A ordem mundial económica e capitalista não é só assassina, mas absurda, porque mata sem necessidade. Há riquezas para alimentar 12 mil milhões de pessoas, o dobro da humanidade», afirmou o relator das Nações Unidas.
Ele disse ainda que a situação geral da fome é «especialmente dramática na África, um continente onde 36% da população é subnutrida, 186 milhões de africanos sofrem de fome grave e, em 20 anos, o número de famintos passou de 91 para 186 milhões». Para Ziegler, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio são organizações mercenárias das grandes oligarquias e do capital financeiro, que anulam os progressos obtidos pelas 22 agências humanitárias e de desenvolvimento da ONU. Ele também criticou a política de subsídios agrícolas praticada pela União Europeia, apontando-a como um factor que prejudica o desenvolvimento dos países mais pobres. Os países que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), gastaram 279,8 mil milhões de dólares em subsídios agrícolas em 2005, valor praticamente igual ao do ano anterior. A OCDE reúne 30 países, 24 dos quais definidos como de alta renda pelo Banco Mundial.
Esse valor representa 29% da renda dos agricultores desses países. Em alguns casos, a proporção dos subsídios públicos na receita dos produtores ultrapassa 50%, como são os casos da Suíça (68%), Noruega (64%), Coreia do Sul (63%) e Japão (56%). No Brasil, os subsídios representam apenas 3% da renda dos agricultores. Segundo dados da própria OCDE, quase três quintos (59%) dos subsídios que os países ricos concedem aos seus agricultores acabam elevando artificialmente o preço dos produtos agrícolas. Conforme avaliação da OCDE, o Brasil concede «relativamente pouco» subsídio aos seus agricultores. Os subsídios aos produtores brasileiros somaram cerca de 3% do valor bruto das receitas agrícolas entre 2002 e 2004, um índice abaixo de países como a Austrália (4%) e muito aquém da média dos países da OCDE, que está na casa dos 30%. Essa realidade repete-se na imensa maioria dos países pobres e em desenvolvimento, cujas economias sofrem restrições em função das políticas proteccionistas dos países ricos.

INDÚSTRIA DA GUERRA: 1,12 BILIÕES DE DÓLARES EM 2005

Outro desequilíbrio gritante manifesta-se nos gastos com a indústria armamentista e com a guerra. Os gastos dos EUA no Iraque e no Afeganistão ajudaram a aumentar as despesas militares no mundo em 3,5 por cento, alcançando 1,12 biliões de dólares em 2005, segundo levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa para a Paz Internacional de Estocolmo, no seu último anuário. De acordo com o instituto sueco, os EUA são responsáveis por 48% dos gastos mundiais em armamentos, seguidos à distância por Inglaterra, França, Japão e China, que investem de 4 a 5% cada um. Esses cinco países totalizam, portanto, 68% dos gastos mundiais com armas, ficando os restantes 32% para a soma de todos os demais países do mundo. Os gastos com armas representaram, em 2005, cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto Mundial, uma média de despesas de 173 dólares per capita. Países como a Rússia e a Arábia Saudita beneficiaram do aumento nos preços de minerais e combustíveis para impulsionar os seus gastos com a indústria armamentista. A China e a Índia também aumentaram os seus gastos.

APOCALIPSE AMBIENTAL?

No terreno ambiental, as notícias não são melhores. A matéria de capa da revista Veja, esta semana, fala sobre os sinais do apocalipse que já estariam entre nós: o apocalipse ambiental. A revista, que não é exactamente uma crítica do actual modelo económico global, afirma: «Já começou a catástrofe causada pelo aquecimento global, que se esperava para daqui a trinta ou quarenta anos. A ciência não sabe como reverter os seus efeitos. A saída para a geração que quase destruiu a espaçonave Terra é adaptar-se a furacões, secas, inundações e incêndios florestais. Nas últimas três décadas, o total de terras atingidas por secas severas dobrou em decorrência do aquecimento global. Na China, segundo o mais recente estudo da ONU, todos os anos 10.000 quilómetros quadrados em média – o equivalente a metade do estado de Sergipe – transformam­‑se em deserto. Na Etiópia, secas anuais condenam 6 milhões de pessoas à fome. Na Turquia, 160.000 quilómetros quadrados de terras cultiváveis sofrem com a desertificação gradativa e a consequente erosão do solo».
Outros sinais do “apocalipse ambiental”, segundo a mesma matéria: «O aquecimento global fez diminuir em 20% a calota polar árctica nas últimas três décadas, reduzindo o território de caça dos ursos­‑polares. Muitos deles ficaram sem alimento. A mudança radical do seu habitat provocada pelo homem está a custar caro aos ursos. Recentemente, no Mar de Beaufort, no Alasca, investigadores americanos que há 24 anos estudam a região identificaram um caso inédito de canibalismo na espécie: duas fêmeas, um macho jovem e um filhote foram atacados e comidos por um grupo de machos. Estimativas apontam que os ursos-polares podem desaparecer em vinte anos». «No Oceano Atlântico, a temperatura da água está meio grau mais alta do que há vinte anos. Esse calor a mais altera o padrão de circulação dos ventos, provocando deslocamento de massas de ar seco para a região amazónica. A mudança impede a formação de nuvens, causando a escassez de chuvas. Em 2005, o fenómeno provocou a maior seca dos últimos quarenta anos na Amazónia. O Rio Amazonas baixou 2 metros».

BIODIVERSIDADE: PERDA DE 75% DAS VARIEDADES AGRÍCOLAS

Além disso, a diversidade das culturas está a reduzir­‑se nos terrenos agrícolas de todo o mundo a um ritmo galopante, conforme advertência feita pela FAO. Segundo a organização, ao longo dos últimos cem anos, perderam-se 75% das variedades agrícolas. A erosão deste património significa uma menor capacidade humana de resistência e adaptação às doenças e às mudanças climáticas. Esses dados foram divulgados na semana passada, em Madrid, numa reunião promovida pela FAO para discutir e avaliar a aplicação do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos que entrou em vigor em 2004. Constatou-se que a agricultura mecanizada e as exigências do mercado estão na raiz da redução da biodiversidade. Notou­‑se que historicamente o ser humano utilizou entre 7 mil e 10 mil espécies, ao passo que hoje só se cultivam tão somente 150 espécies, doze das quais representam 75% do consumo alimentar humano. E desses, só quatro espécies são responsáveis pela metade dos nossos alimentos.

É MAIS FÁCIL IMAGINAR O FIM DO MUNDO?

Considerados conjuntamente, esses dados apontam para uma série de desequilíbrios estruturais e distorções que têm consequências directas (entre elas, a morte) e indirectas para milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, a ideia de qualificar esse quadro como uma situação de barbárie parece ser um exagero. Porquê? Na introdução ao livro Um mapa da ideologia (Editora Contraponto), o filósofo esloveno Slavoj Zizek lembra uma reflexão de Fredric Jameson que pode ajudar a reflectir sobre esse tema. «Hoje, ninguém mais considera seriamente as possíveis alternativas ao capitalismo, enquanto a imaginação popular é assombrada pelas visões do futuro colapso da natureza, da eliminação de toda a vida sobre a Terra. Parece mais fácil imaginar o fim do mundo que uma mudança muito mais modesta no modo de produção, como se o capitalismo liberal fosse o real que de algum modo sobreviverá, mesmo na eventualidade de uma catástrofe ecológica global».
Haveria, portanto, um sentimento dominante de naturalização desses desequilíbrios e da sua inevitabilidade, só restando a nós a tarefa da adaptação a furacões, secas e enchentes, como afirma a matéria da revista Veja. Segundo esse sentimento, não há alternativa possível, as que foram tentadas resultaram em fracasso e só resta a lógica do salve-se quem puder. É sintomático que cresça na nossa sociedade um comportamento de isolamento, de atomização e deterioração dos laços sociais. A recente explosão de violência em São Paulo expôs esse tipo comportamento de variadas formas. Multiplicaram-se as vozes exigindo mais segurança. O sistema prisional brasileiro é uma sucursal do inferno onde não cabe mais ninguém. E o Estado não tem dinheiro para construir novas prisões. O que fazer? Morte aos criminosos, gritaram muitos, sem julgamento, execução pura e simples. Quem tem património busca aumentar a altura dos seus muros. Quem não tem, vai vivendo do jeito que dá. Que nome dar a esse conjunto de situações?
Retomando a reflexão inicial de Brecht sobre o carácter nada inocente do uso de conceitos, temos escolhas a fazer aqui e agora. O conceito de “barbárie” define-se, entre outras coisas, pela oposição ao conceito de “civilização”. Se é verdade que, do ponto de vista ambiental, atingimos um ponto de não­‑retorno, como vêm defendendo um número crescente de cientistas, se é verdade que o fosso entre países ricos e pobres continua aumentando e se é verdade que o mundo permanece gastando muito mais em armas do que no combate à fome e à miséria, qual o conceito adequado para designar o actual estágio que estamos a viver? Se é mais fácil imaginar o fim do mundo do que uma alternativa ao actual modelo político­‑económico, então parece razoável pensar que estamos a atravessar a fronteira entre esses dois conceitos. Ou, dito de outro modo, já estamos com um pé (ou talvez os dois) no território da barbárie. Pior ainda: não parecemos muito incomodados com isso. Impotentes e atomizados, vamos ficando cada vez mais fechados nas nossas trincheiras, preparando­‑nos para assistir, pela televisão, aos próximos capítulos deste espectáculo. E talvez tenhamos aí, uma nova face da barbárie: trancados nas nossas casas, ficaremos imaginando como será o fim do mundo.

Marco Aurélio Weissheimer
http://infoalternativa.org/mundo/mundo162.htm

quarta-feira, julho 26, 2006

Mind ...

Galileo: great mind
Einstein: genius mind
Newton: extraordinary mind
Lavoisier: brilliant mind
José Sócrates: never mind

Telemarketing

Você tem recebido com frequência chamadas de operadoras de telemarketing para tentar vender assinaturas de jornais, planos de saúde, cartões decrédito, abertura de conta em bancos, livros, etc.Já está cansado dessas chamadas?Eis aqui meios para "atormentar" a pessoa que está do outro lado da linha.
1) Quando a pessoa lhe perguntar "como vai?", responda:"Estou tão feliz por me estar a perguntar isso! Hoje em dia, ninguém se preocupa comigo e preciso tanto de conversar com alguém... A minha artrite está a matar-me e meu cão faleceu ontem. O pior, é o meu médico que me disse...".
2) Quando a pessoa disser "Bom dia, o meu nome é Secim da empresa X",peça-lhe para soletrar o nome, o apelido e o nome da empresa. Faça-o repetir. Pergunte a morada, faça-o soletrar o nome da rua, a localidade,etc. E faça-o repetir novamente. Faça pausas longas como se estivesse a escrever tudo num papel. Continue a fazer perguntas durante o tempo que for necessário.
3) Quando a pessoa se apresentar (ex: "eu sou a Júlia"), dê um grito:"Júlia!... Olá, querida! És mesmo, a Júlia?! Há tanto tempo que não tenho notícias tuas! Como é que correu a faculdade? Não te lembras de mim???!!!"
4) Se uma empresa de telefones ligar para lhe oferecer descontos naschamadas interurbanas, responda com voz sinistra: "Não tenho amigos. Ninguém quer ser meu amigo. Ninguém quer falar comigo. Quer ser meu amigo? Eu poderia ligar-lhe... Qual é o seu número de telefone?".Se nenhuma das técnicas anteriores adiantar, tente:Dizer à pessoa que está muito ocupado no momento, mas que lhe dê o seunúmero de casa que lhe ligará mais tarde. A pessoa evidentemente não vai querer dar-lhe o número. Responda então: "Eu imagino que não queira ser importunado na sua casa... Eu também não..."

O estranho mundo da pedofilia segundo o SIS

Morte em Veneza, uma das obras-primas do Prémio Nobel da Literatura de 1929 Thomas Mann, que descreve a fixação estética de um maestro de meia--idade por um adolescente (adaptada ao cinema por Luchino Visconti, no filme do mesmo nome, com Dirk Bogarde e a música de Mahler como protagonistas), assim como dois livros do escritor português Possidónio Cachapa - Materna Doçura e Viagem ao Coração dos Pássaros -, estão entre as obras citadas por um relatório do Serviço de Informações e Segurança (SIS) como fazendo parte de "uma cultura pedófila".No relatório, que é datado de 2000 e foi na segunda-feira citado por uma testemunha numa sessão do julgamento do caso Casa Pia, lê-se: "Cumpre assinalar a existência de uma 'cultura pedófila', ou, se se quiser, de um 'ambiente cultural' de pedofilia, sustentado e mantido não só através de literatura e textos justificativos, como ainda por uma simbologia cuidada." Em seguida, os analistas do SIS referem alguns autores de obras literárias e ensaios que consideram"de referência no ambiente cultural da pedofilia"."Onde é que vão buscar isso?"Viagem ao Coração dos Pássaros, um dos livros de Possidónio Cachapa referenciados pelo SIS, tem como protagonista Kika, ou Joaquina, uma criança com poderes mágicos que ao longo da obra se transforma em mulher. Lido de fio a pavio, o livro, publicado em 1999, não revela a chave da inclusão, pelo relatório do SIS do ano seguinte, numa alegada "cultura pedófila". Uma perplexidade que o seu autor assume com alguma exasperação: "Onde é que essas pessoas vão buscar essas coisas?" Embora Cachapa, de 40 anos, admita que "em literatura muitas vezes se vai por caminhos ínvios e na obra de qualquer autor pode-se encontrar o que se quiser", confessa não conseguir perceber o que é que poderia relacionar a obra com pedofilia (atracção sexual por crianças) ou com abuso sexual de menores. "Não percebo a razão de ser disso. Na minha opinião e na de todas as pessoas que conheço, não se pode tirar qualquer ilação desse género." E, entre o riso e a indignação, desfia o absurdo: "Será porque a protagonista é , no início do livro, uma criança? Será porque tem uma relação com um anjo?" Por essa ordem de ideias, porém, todos os livros que falam de crianças que têm relações especiais com adultos, e vice-versa, seriam parte da tal cultura, ou ambiente cultural. Toda a obra de J. D. Salinger, o autor de O Apanhador no Feno (Catcher in the Rye), por exemplo, entraria nessa classificação. Talvez mesmo O Principezinho, de Saint-Exupéry, com a sua narrativa da sedução entre um menino e uma raposa (adulta?), pudesse entrar nesta espécie de "index de parapedófilos" em relação ao qual Cachapa comenta "ser só o que faltava estar incluído"."E esqueceram-se do 'Lolita'?"Para não falar, é claro, de Lolita, o célebre romance de Nabokov - que, curioso, não está na lista. "É estranho que tenham esquecido esse", ironiza o escritor português, que conclui: "Claro que, quando se escreve um livro, o leitor se apossa dele, procurando coisas que lhe interessam. E isso não é controlável."De acordo com o jurista Rui Pereira, director do SIS quando o relatório em causa foi elaborado, terá sido essa mesma "incontrolável" apropriação a determinar a composição da lista. Assim, explica o actual coordenador da Unidade de Missão para a Reforma Penal, que confessa ter Morte em Veneza entre os seus livros favoritos, "as referências não resultam de um preconceito de carácter cultural, mas de uma razão apenas documental: esses autores e títulos terão sido encontrados em sítios da Internet relacionados com a pesquisa que estava a ser levada a cabo". Pesquisa que Rui Pereira ordenou na sequência de casos como o de Dutroux e que tinha como objectivos essenciais averiguar da existência de indícios de tráfico de crianças e da sua utilização em filmes porno. O relatório citado é o segundo que o SIS efectuou sobre a matéria, sendo o primeiro de 1998.

Fernanda Câncio
http://dn.sapo.pt/2006/07/12/sociedade/
o_estranho_mundo_pedofilia_segundo_o.html

Uma carta ao director para dois prémios Nobel

Hoje, 21 de Julho, o diário El País publica um texto [1] assinado por dois prémios Nobel da Literatura, José Saramago e Harold Pinter. Junto a eles, os escritores de prestígio internacional John Berger e Noam Chomsky. O escrito titula-se “Em defesa do povo palestiniano” e só mereceu a consideração de uma Carta ao director por parte dos responsáveis do diário.
Em pleno massacre de um povo, de uma guerra regional que afecta vários países e toda a região, da crise no Conselho de Segurança da ONU, e milhares de cidadãos manifestando­‑se nas ruas, o pronunciamento de quatro escritores de prestígio internacional, dois deles prémios Nobel de Literatura, só cabe como Carta ao Director se se posicionam ao lado dos fracos, os palestinianos.
Foi muito diferente no ano de 2003, quando Saramago escreveu umas breves linhas criticando umas condenações à morte em Cuba. Então mereceu um privilegiado espaço como artigo de opinião no diário madrileno, foi recolhido ademais em todos os meios e agências. Hoje não; uma carta ao director, como a dessa senhora que escreve ao jornal para se queixar dos ruídos nocturnos do camião municipal do lixo.
Os grandes meios decidem hoje que opiniões merecem ser conhecidas e quais são silenciadas. Não importa que a voz seja de prémios Nobel, a denúncia de um genocídio e as pessoas manifestando­‑se aos milhares na rua; se não lhes agrada, restará apenas um espaço em Cartas ao Director.
Mas ter-se-ão enganado diários como El País, só conseguirão afundar­‑se no desprestigio. Porque muitos cidadãos compreenderão a miséria dos seus critérios de publicação e porque milhares de meios de comunicação alternativos darão o lugar que merecem às vozes honestas para que possam chegar onde os grandes meios de comunicação não queriam que chegassem. E assim, miséria a miséria, patranha a patranha, ir-se-ão ficando esses meios de comunicação cada vez mais isolados, mal acompanhados pelos seus accionistas bancários e financeiros, os seus anunciantes de automóveis e de telecomunicações, e pelos gabinetes de imprensa dos partidos políticos que ainda acreditem que o que acontece no mundo é o que se diz nesses meios de comunicação.
Pascual Serrano

[1] John Berger, Noam Chomsky, Harold Pinter e José Saramago, Em defesa do povo palestiniano
http://infoalternativa.org/midia/midia041.htm

Em defesa do povo palestiniano

O último capítulo do conflito entre Israel e Palestina começou quando as tropas israelitas colheram [as vidas] de dois civis, um médico e seu irmão, em Gaza. Um incidente escassamente relatado, excepto na imprensa turca. No dia seguinte, os palestinianos tomaram como prisioneiro um soldado israelita – e propuseram negociar uma troca com prisioneiros tomados pelos israelitas: há aproximadamente 10.000 em prisões israelitas.
Que este sequestro seja considerado um ultraje, enquanto a ocupação militar ilegal da Cisjordânia e a apropriação sistemática dos seus recursos naturais – principalmente, a água – pelas Forças de Defesa (!) israelitas seja considerado como um facto lamentável mas real, é típico do duplo barómetro empregado repetidamente pelo Ocidente quanto ao que acontece aos palestinianos nos territórios que lhes foram atribuídos por acordos internacionais durante os últimos 70 anos.
Hoje um ultraje sucede-se a outro; mísseis improvisados cruzam-se com outros sofisticados. Estes últimos, geralmente encontram o seu alvo situado onde os pobres vivem deserdados e amontoados, esperando o que em tempos se chamou Justiça. Os dois tipos de mísseis dilaceram corpos horrivelmente; como podem os chefes militares esquecer isto por um só instante?
Cada provocação e contra-provocação é respondida e alardeada. Mas as discussões subsequentes, as acusações e as promessas, todas elas, servem como uma perturbação para distrair a atenção mundial de uma longa prática militar, económica e geográfica cuja intenção política é nada menos que a liquidação da nação palestiniana.
Há que dizer isto alto e claro já que esta prática, declarada a meias e a meias encoberta, avança rapidamente nestes dias, e, na nossa opinião, é preciso resistir e reconhecê­‑lo constantemente e a todo momento.

John Berger, Noam Chomsky, Harold Pinter e José Saramago
http://infoalternativa.org/apelo/apelo005.htm

Manuel Alegre reformado com três mil euros por três meses na RDP

O deputado do PS Manuel Alegre foi reformado este mês com 3219,95 euros mensais por ter desempenhado, segundo o próprio, durante “pouco tempo”, funções de “coordenador de programas de texto” da RDP (Rádio Difusão de Portugal), segundo a lista dos aposentados e reformados divulgada pela Caixa Geral de Aposentações (CGA). O “Correio da Manhã” de hoje avança que o vice-presidente da Assembleia da República esteve apenas três meses como director dos Serviços Criativo e Culturais da RDP.
Apesar de garantir ao “Correio da Manhã” que sempre descontou por esse cargo na RDP, Manuel Alegre confessa que “se não fossem eles [CGA] a escrever” uma carta a informá-lo da reforma “nem teria dado por isso”.O candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais afirma que vai optar por receber o ordenado como deputado e um terço da reforma que agora lhe foi concedida.Manuel Alegre entrou para a RDP logo depois de ter regressado do exílio em Argel, pouco depois do 25 de Abril. Mas assim que foi eleito deputado do PS, nas primeiras eleições democráticas para a Assembleia Constituinte, em Abril de 1975, nunca mais desempenhou trabalho efectivo no cargo para o qual fora designado. Alegre revela, no entanto que, caso alguma vez não tivesse sido eleito, “teria regressado para a RDP”.Quando questionado pelo “Correio da Manhã” sobre o tempo de trabalho efectivo na RDP e o valor da reforma agora divulgado, Manuel Alegre fez questão de sublinhar que tudo “é legal”.Sobre o facto de este cargo não ser referido na sua biografia do Parlamento, o deputado do PS confessa que houve “uma lacuna” que não é da sua responsabilidade.
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1265170&idCanal=21

"OPTEI PELO ORDENADO E UM TERÇO DA REFORMA"
(Manuel Alegre, vice-presidente da Assembleia da República)
Correio da Manhã – É verdade que vai receber 3 219,95 euros de reforma da rádio?
Manuel Alegre – Vou receber um terço. Como deputado não posso acumular o vencimento com a reforma. Optei pelo ordenado e um terço da reforma.
– Quanto tempo tem de RDP?– Fui colocado quando regressei no 25 de Abril. Em 75 fui eleito deputado e tenho sido sempre reeleito. Nunca mais lá trabalhei, mas descontei sempre.
– O cargo não consta na sua biografia do Parlamento.
– É uma lacuna, mas não da minha responsabilidade. Também é verdade que eu já não me lembrava. Eles [Caixa Geral de Aposentações] é que me escreveram uma carta por ter feito 70 anos. Eu não pedi nada.
– Não parece mal uma reforma por tão pouco tempo?
– Só posso sublinhar que é legal. Se não me enviassem a carta nem dava por isso. O Presidente da República também não recebe duas ou três reformas do Estado, além do vencimento? Mas eu nem questiono isso, que ele é uma pessoa séria.
http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=209303&idselect= 181&idCanal=181&p=0

Nota:
“É uma mentira e uma infâmia” respondeu Manue Alegre durante o dia de ontem.Pensei num comentário a adicionar aos dois textos anteriores. Resolvi não escrever. A situação óbvia que ontem foi revelada e a inteligência dos leitores não necessitam de mais observações adicionais.

terça-feira, julho 25, 2006

ALERTA! INFORMAÇÃO IMPORTANTE

O Banco Central Europeu e a Organização Mundial de Saúde, revelaram que as notas de 500 euros contêm uma substância altamente cancerígena.
O Governo de Sócrates diz que os trabalhadores Portugueses estão totalmente fora de perigo.

Fenprof entrega providência cautelar contra ministério

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) entregou no Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa, uma providência cautelar contra o despacho nº 13 599/ 2006, de 28 de Julho, do Ministério da Educação (ME) que define as regras de organização do próximo ano lectivo de 2006/2007.Segundo a Fenprof, o despacho, assinado pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, "está ferido de graves ilegalidades", por estabelecer regras relativas ao novo ano lectivo, quando estas ainda estão a ser negociadas com os sindicatos no âmbito da revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD).O processo negocial relativo às alterações que o ministério quer implementar no ECD só deverá estar concluído no final de Outubro, mas o despacho da ministra começa a ser aplicado, na prática, no próximo ano lectivo, que tem início já em Setembro.Para a Fenprof, isto significa que o ministério está a pedir aos conselhos executivos das escolas e agrupamentos que " ajam ilegalmente", sobrepondo um despacho ao ECD ainda em vigor.Em causa estão regras relativas a "horários de trabalho, conteúdos funcionais das componentes lectiva e não lectiva e regime de faltas" que, recorda a Fenprof , "por lei [Lei n.º 23/98, de 26 de Maio], são matérias de negociação obrigatória com os sindicatos".
Além da providência cautelar destinada a "suspender e obter a declaração de ilegalidade" do despacho, a Fenprof anunciou que irá apresentar também uma queixa na Organização Internacional do Trabalho, a terceira contra o Governo português, que acusa de ter "comportamentos antinegociais continuados e procedimentos ilegais".As propostas de alteração ao ECD têm sido duramente criticadas pelos sindicatos, em particular pela Fenprof, que rejeita medidas como a avaliação dos professores pelos pais e a reorganização da carreira em dois níveis: professor e professor-titular.O braço-de-ferro já motivou uma grevedos professores, em Junho, com a participação de vários sindicatos. Para os próximos meses estão previstas "várias medidas de luta", que não excluem o regresso à greve em Outubro.
http://dn.sapo.pt/2006/07/18/sociedade/
fenprof_entrega_providencia_cautelar.html

"O ataque dos Hezbollah? Foi o único acto de solidariedade com Gaza"

Foi a ofensiva israelense contra Gaza que desencadeou a nova guerra ao Líbano. Desde que Israel se havia retirado do Líbano, em 2000, os Hezbollah haviam evitado cuidadosamente afrontar o exército israelense no território de Israel (limitando-se a enfrentamentos na zona de Shebaa, no Líbano, que o Estado hebreu continua a ocupar). O momento escolhido pelos guerrilheiros xiitas para o primeiro ataque, e a retórica que se seguiu, indica que sua intenção era reduzir a pressão sobre os palestinos abrindo uma nova frente. Sua acção pode portanto ser encarada como o primeiro acto militar no mundo árabe de solidariedade com os palestinos. Seja o que for que se pense do que fez o Hezbollah, é importante compreender a natureza da guerra de Israel contra os palestinos em Gaza.A ofensiva das forças armadas israelenses na Faixa de Gaza não se refere ao soldado prisioneiro. O exército preparava um ataque desde há meses e fazia pressão para passar à acção, com o objectivo de destruir a infraestrutura do Hamas e do seu governo. Foi por isso que elas desencadearam a escalada de 8 de Junho, quando assassinaram Abu Samhadana, membro do governo do Hamas, e intensificaram os bombardeamentos contra os civis na Faixa de Gaza. Desde 12 de Junho, já, o governo havia autorizado uma acção ampla, adiada contudo por causa das reacções internacionais suscitadas pelo assassinato de civis palestinos nos bombardeamentos aéreos do dia seguinte. A captura do soldados serviu para "remover a segurança": a operação começou a 28 de Junho com a destruição de infraestruturas em Gaza e a detenção em massa de dirigentes do Hamas na Cisjordânia, outra acção que fora planificada com várias semanas de antecedência.No discurso público israelense, Israel pôs fim à ocupação de Gaza quando evacuou seus colonos da Faixa, e o comportamento dos palestinos seria portanto o de "ingratos". Mas nada está mais longe da realidade do que esta descrição. Na realidade, como estava previsto no Plano de Retirada, Gaza permaneceu sob o controle militar total de Israel, a partir do exterior. Israel impediu a independência económica da Faixa, e nunca aplicou nem uma única das cláusulas dos acordos sobre as passagens nas fronteiras de Novembro de 2005. Simplesmente substituiu a ocupação custosa de Gaza por uma ocupação mais económica que, do seu ponto de vista, isenta o ocupante da responsabilidade de garantir a sobrevivência de um milhão e meio de residentes na Faixa de Gaza, tal como está previsto na carta da Convenção de Genebra. Israel não tem necessidade deste pedaço de terra, um dos mais densamente povoados do mundo e desprovido de recursos naturais.O problema é que não pode abandonar Gaza se quiser manter a Cisjordânia. Um terço dos palestinos sob a ocupação vive na Faixa de Gaza. Se ficarem livres, tornar-se-ão o centro da luta de libertação palestina, com um acesso livre ao mundo árabe e ao ocidente. Para controlar a Cisjordânia, Israel tem necessidade do controle completo de Gaza. E a nova forma de submissão que imaginou é transformar toda a Faixa num campo de detenção isolado do mundo. Pessoas ocupadas e sitiadas, sem nada a esperar, e nenhum meio alternativo de luta política, procurarão sempre combater seu opressor. Os palestinos prisioneiros em Gaza encontraram um meio de perturbar a vida dos israelense nos arredores da Faixa lançando mísseis artesanais Qassam sobre a cidades israelenses que contornam a Faixa. Estes mísseis rudimentares não a precisão necessária para atingir um objectivo, e raramente fizeram vítimas israelenses. Eles provocam no entanto desgaste físico e psicológicos, desarranjando a vida dos quarteirões israelenses sobre os quais se abatem. Aos olhos de numerosos palestinos, os Qassam são uma resposta à guerra que Israel lhe declarou. Como disse um estudante de Gaza ao New York Times: "Por que deveríamos nós sermos os únicos a viver no medo? Com estes mísseis, Israel também tem medo. Devemos viver em paz em conjunto, ou no medo em conjunto" (09/Julho/2006).O exército mais poderoso do Médio Oriente não tem respostas militares para estes mísseis feitos em casa. Uma resposta possível é aquela que o Hamas sempre propôs e que o seu primeiro ministro Haniyeh repetiu esta semana: um cessar fogo geral. Durante os 17 meses que decorreram desde que anunciou sua decisão de abandonar a luta armada em favor da luta política, e declarou um cessar fogo unilateral (tadhiya, calma), o Hamas não participou mais no lançamento dos Qassam, salvo sob grave provocação israelense como a escalada de Junho. O Hamas em contrapartida continua a lutar contra a ocupação de Gaza e da Cisjordânia. Do ponto de vista de Israel, o resultados das eleições palestinas é um desastre, porque, pela primeira vez, eles têm dirigentes que querem representar os interesses palestinos ao invés de se limitar a colaborar com as exigências israelenses. Como cessar a ocupação é uma coisa que Israel não quer considerar, a opção seguida pelo exército é desfazer os palestinos em migalhas com uma força devastadora. Eles devem ser esfaimados, bombardeados, aterrorizados por motores ensurdecedores durante meses, até compreenderem que se rebelar é fútil e que aceitar a prisão perpétua é sua única esperança de vida. Seu sistema político eleito, suas instituições, sua polícia devem ser destruídos. Para Israel, Gaza deveria ser governada por gangs que colaborassem com os carcereiros da prisão.O exército israelense tem sede da guerra . Ele não se deixará deter por preocupações referentes aos soldados capturados. Desde 2002, os militares sustentam que uma operação do tipo "Escudo defensivo", como em Jenin, é necessária também em Gaza. Há exactamente um ano, a 15 de Julho (antes da Retirada de Gaza), o exército havia concentrado suas forças na fronteira da Faixa para proceder uma ofensiva deste tipo em Gaza. Mas os Estados Unidos opuseram o seu veto. A secretária de Estado Rice chega em visita de urgência, descrita como acrimoniosa e tempestuosa, e o exército foi obrigado a retirar-se. Agora, sua hora finalmente chegou. Com uma islamofobia que está no seu ponto culminante na administração Bush, parece que os EUA estão prestes a autorizar a operação, com a condição de que isso não provoque a opinião pública internacional por ataques demasiado mediatizados contra civis (acerca da posição actual dos EUA, ver Odi Nir, "Us Seen Backing Israeli Moves to Topple Hamas", The Forward, 07/Julho/2006, www.forward.com/articles/8063 ). Uma vez recebida a autorização para sua ofensiva, a única preocupação do exército é sua imagem pública. Fishman recordou terça-feira passada que para o exército "o que provoca o risco de fazer descarrilar este imponente esforço militar e diplomático" são as informações de crises humanitárias em Gaza. É necessário alimentar os palestinos para que seja possível continuar imperturbavelmente a matá-los.
Tanya Reinhart
http://resistir.info